Capítulo 53 - Parece um dejavu, mas não é.
Três dias depois daquele, Daren apareceu na Ilha do Homem Bravo e pediu, não, implorou a Jane para que deixasse ele juntar-se a escassa tripulação de seu navio. Dizia que estava cansado da monotonia daquelas águas e aventuras piratas fariam bem para seu ânimo e vigor e o tornariam um bom homem. Ele havia trago consigo uma carta com a marca do próprio Mizuki permitindo a partida do rapaz caso a capitã o aceitasse. Jane o aceitou, não só pela falta de gente, mas pelo olhar audacioso que Daren carregava. Claro, além disso, Jane o fez tagarelar minutos a fio sobre Lantis.
Daren sabia pouco, depois que eles saíram de lá houve o velório às pressas para Anne Maud no Império Leste, muitas promessas de acabar com o Alma Negra pelo pai e tio da dama, e Benjair e Markus alojaram-se no Fúria do Diabo desde então. Deixaram de confiar em Mizuki e o velho dono da Ilha do Peixe Azul fez pouco caso de reestabelecer a confiança. O que Daren sabia, com certeza, é que o Fúria do Diabo partiria logo, e o sereia estaria com eles pois o rapaz havia levado comida para o homem-peixe duas vezes em sua cela.
O olhar de Jane era transparente e claro.
— Ele parece bem, minha senhora, abatido, mas bem.
Daren podia dizer o mesmo dela, a capitã tinha os olhos fundos e os cabelos desgrenhados, quase não havia cor em suas bochechas.
Thomas rodeava Jane o tempo todo, buscando conforta-la com seus modos graciosos e educados. De fato, estava muito preocupado com a situação de todo o Alma Negra e tudo o que estava ao seu alcance para ajudar ele o fazia. No entanto, também como capitão de um navio ele tinha responsabilidades a cumprir e o seu tempo precisava ser igualmente dividido entre seu próprio navio, seus cachorros barulhentos e Jane. Jane jamais seria ingrata com Thomas, ainda mais depois dos acontecimentos recentes em que ele cedeu todos os seus esforços para ajudá-la. Sem a ajuda dele, seus homens e seu navio seria quase impossível ir ao encontro de Lantis na Ilha do Peixe Azul. Dali, a amizade que nutriam um pelo outro tornou a crescer e fortalecida como um tronco de baobá duraria toda as suas vidas.
Na manhã do dia seguinte a chegada de Daren, Jane estava com Simon no convés do Alma Negra, os dois falavam sobre a próxima rota depois de resgatarem Lantis. Jane havia não havia deixado de chorar uma noite depois daquela, mas durante o dia todos os seus esforços eram voltados para organizar as coisas. As vezes alguém a via socando uma parede ou quebrando alguma coisa, mas logo ela se recompunha e voltava a pensar sobre o que faria.
— Sim, com certeza iremos para lá. – Jane tinha o cabelo preso num rabo de cavalo alto que balançava com o soprar do vento. O suor descia por sua nuca, no entanto não era apenas pelo calor da estação. — Vamos precisar de um tempo para colocar o navio em dia e lá será perfeito para isso. – Ela via o rosto de Simon um pouco turvo. Tentou não pensar sobre isso e não deixar que o amigo percebesse também. — E claro, vamos encontrar Ana e Sâmela antes que sua saudade e a de Pyra deixem vocês doentes. – Ela forçou um sorriso.
Simon ficou feliz em ouvir os planos, seu rosto iluminou-se de uma só vez, apesar de quem o visse pela primeira vez achar que ele estava tão apático como sempre.
— Agora que temos o Alma Negra de volta, as coisas vão voltar ao eixo.
Jane sorriu amargo.
— Você quer dizer que nem tudo foi em vão? – Ela olhava para ele ainda tentando firmar a vista. — Tudo foi para salvar Lantis e ele ainda continua lá, e agora vai ser ainda mais duro para ele, tenho certeza que Markus...
— Pare com isso. Não fique pensando coisas que vão te machucar mais. Nós vamos atras desse seu sereia e vamos acabar com Markus. Não tem como ele te chantagear mais.
Era engraçado para os homens verem Jane e Simon conversando, ele falava bem mais quando estava com ela já que entre os homens eles só o ouviam dizer as ordens do dia e responder com grunhir de garganta.
Enquanto os dois terminavam a conversa, veio do Império Oeste uma mensagem para Jane.
Como Jane e Romualdo tinham um enlace por conta de Theodora, sempre que precisava receber ou enviar alguma mensagem importante era para a Ilha do Homem Bravo que Jane se dirigia já que nos locais oficiais não eram permitidos piratas para o envio de cartas e receber mensagens em alto mar era como encontrar uma agulha num palheiro.
A Carta não possuía remetente, mas havia um desenho familiar no envelope.
— Algum problema? – Simon perguntou a ela.
— Minha mãe está no Império Oeste, disse que nossa casa foi invadida e ela e Clara foram se refugiar com um tio por lá. – Ela fez uma pequena pausa antes de continuar. Seu olhar se levantou para o rosto de Simon, ela estava pálida feito casca de ovo. — Mas eles levaram meu pai.
O capitão do Cão Voador voltou a alto mar com seu navio, insistiu para permanecer com Jane, mas ela sabia que os negócios dele não podiam esperar. Não queria, além de tudo, prejudicar mais um amigo.
A despedida foi rápida com Thomas prometendo que faria o possível para descobrir onde o pai de Jane estava. Haviam muitas prisões para onde a Marinha e o Exército Imperial levavam aqueles que encobertavam piratas e com o título de corsário ele poderia descobrir alguma informação.
Os latidos dos cães podiam ser ouvidos mesmo depois que navio estava longe.
— Já foi tarde. – Will não perdeu a oportunidade. — Cara folgado!
— Quantas vezes já lhe disse para tomar conta da própria vida? – Victhor estava logo atrás dele, ambos no convés do Alma Negra levando para o porão caixas e sacos de estopa com batatas e cebolas.
— Ah, já perdi as contas. – Foi o que Will respondeu, sorria para Victhor como uma criança que vê seu doce preferido servido sob a mesa.
Alguns homens vieram do mar a mando de Romualdo para compor o mínimo para manter de pé o Alma Negra, foi oferecido a eles uma recompensa após a campanha de acabar com a vida de Markus. Ao contrário do que Jane esperava, o dono da Ilha do Homem Bravo não a xingou por mantê-lo ainda respirando, Romualdo entendia a situação em que Jane estava e apesar de não satisfeito, não iria ficar contra ela.
Também seu humor estava voltando, Pyra que não saia ao lado de Theodora o informava todos os dias sobre o estado da filha e a melhora evidente da moça o fazia ser mais receptivo a outras informações menos felizes. Como, por exemplo, saber que mesmo suprindo o Alma Negra a sua capitã não tinha uma moeda para compensa-lo de volta.
— Um dia eu irei lhe pagar. – Jane disse a ele quanto o último carregamento foi colocado no navio.
— Eu sei que vai. – E ele iria mesmo cobrar por isso.
— E o tal Tartaruga? – Jane franziu a testa e resolveu perguntar já que tocavam em assuntos de dívidas. — Ele não apareceu naquele dia.
— Aquele maldito safado! – O semblante de Romualdo era frio e seco, mas não mal humorado. – Mas ele ainda virá, ele não deixa dívidas para trás, só não tem compromisso com a hora certa de aparecer.
— Entendo.
Já era noite nesse dia e o vento soprava ar fresco, mas o suor ainda caia sobre a costas de Jane, e as vezes suas mãos tremiam e ela mal podia segurar um talher para comer.
Os dias seguiram arrastados com Jane contando as horas para chegar o momento de reencontrar Lantis. De vez enquanto algum moleque da Ilha do Peixe Azul aparecia e informava como estavam as coisas por lá, na maioria das vezes não havia nenhuma novidade sobre os planos de Markus, apenas diziam que eles ainda estavam nos arredores de lá e que o Fúria do Diabo recebia frequentemente embarcações menores vindas do Império Leste.
O plano que Jane e Simon haviam formado não era algo mirabolante ou impassível de erros, na verdade era bem tosco, e por isso poderia dar certo. A capitã contava com uma cartada final que desde que cortara a mão sob as águas vinha mostrando sua sombra abaixo do navio. Embora a ansiedade fosse grande, Jane sabia que agora Markus a esperava. Não teriam mais o ataque surpresa como um trunfo e certamente Markus estaria melhor preparado do que um bando de homens encharcados com bebida e cansados de farrear.
Na manhã do décimo dia veio a notícia.
— Capitã! – Daren veio gritando pela ponte que ligava a Ilha do Homem Bravo até o Alma Negra. Simon e Pyra estava na cabine de Jane.
— Vai ter uma festa! – Daren chegou gritando pela porta.
Simon o olhou como se fosse possível arrancar-lhe a língua com os olhos, Pyra fez "Shh" para ele e Jane virou a cabeça para seu lado, com muito esforço. Os olhos semi-fechados, o corpo coberto de suor, a pele branca como se houvessem roubado todo sangue de suas veias.
Daren ameaçou dar um passo para trás, mas ela fez sinal com a mão para que ele se aproximasse.
— Diga, o que aconteceu. – A respiração de Jane era cansada e sôfrega.
Simon voltou a olhar Jane, então Pyra autorizou o rapaz a falar, daquele ponto em diante não haveria outra escolha.
— Vai haver uma festa em alto mar daqui duas noites, - Daren ia andando olhando de Simon para Pyra e deles para Jane. — Dizem que foi tudo organizado por Markus e Benjair, será num dos navios nobres do Leste e muita gente importante vai estar lá. – Ele disse tudo de uma vez sem tomar um gole de ar. — E vão tentar vender o seu sereia na festa, estão anunciando para todos.
Ninguém ficou surpreso realmente, além de Daren, todos continuavam com as mesmas caras. Jane olhou de um lado para o outro como se pensasse em algo.
— Vai ser perfeito.
Ele tentou sentar-se na cama, mas Simon a impediu. O pouco que ela levantou custou a ela grande esforço e eles puderam ver como estava molhado o local de sua costas.
Ninguém mencionou o que pensava de fato, mas o caso de Jane parecia muito sério. Pyra tinha experiencia com suturas, extrações de balas, retiradas de anzóis de pernas e braços, mas não tinha conhecimento suficiente para dizer o que a capitã tinha. Nem mesmo o médico que Romualdo mandara chamar conseguiu diagnosticar o que era.
— Vão dizer a Romualdo o que Daren nos disse. – Ela tremia e suava cada vez mais. — Peçam que ele apronte o navio para mim.
— O que vai fazer, Jane? – Pyra perguntou mesmo já sabendo a resposta.
— Não é obvio? – Ela fechou os olhos. — Fomos convidados para uma festa de gala, temos que estar à altura.
Daren e Pyra deixaram Simon e Jane a sós.
— Espero que tudo o que está fazendo valha a pena, Jane.
Ele não esperava que ela respondesse, ele já sabia que seria "Sim". Simon ficou um bom tempo depois que ela dormiu e se retirou da cabine da capitã quando Pyra o obrigou. A luz da lua clareava um pouco o céu, a noite seguiu silenciosa, as águas do mar calmas até demais.
"É aqui?"
Passos leves fora da cabine da capitã vinham acompanhados de sussurros e risadinhas.
"Onde ele está?"
Jane se remexeu na cama, podia ouvir os passos leves e os respiros, mas não entendia o que estavam falando, seu corpo estava tão fraco que mal tinha forças para abrir os olhos.
"Deve ser aqui."
Os passinhos e os sussurros pararam frente a cabine da capitã e a maçaneta se mexeu. Jane sentiu que alguém se aproximava.
— Quem está ai? – Ela se esforçou em perguntar.
Ouviu risinhos se agacharem ao seu lado na cama. Talvez fossem cinco ou seis.
"Fale com ela."
Jane ouvia pequenas ondas do mar se quebrando ao lado de sua cama.
— Onde ele está? – Uma das vozes perguntou. Parecia uma garota entre treze e quatorze anos.
— Fala pra gente cadê ele. – Outra.
Jane manteve o silêncio, o cheiro de mar invadiu suas narinas junto ao cheiro adocicado e som de bolhas e água.
— Vocês são sereias. – Não foi uma pergunta.
As meninas ficaram em silêncio por meia respiração e logo desandaram a rir baixinho.
— Você adivinhou!
— Agora, diga-nos moribunda, onde está aquele tritão que vive neste navio?
— Tritão? – Jane perguntou por nunca ter ouvido a palavra antes.
— Sim! Aquele lindo tritão que vimos nesse navio há algum tempo atrás.
Jane não sabia que elas eram do grupo de sereias que fugiram do "Corrente das Águas" e haviam visto Lantis no Alma Negra. Mas sabia que elas não o encontrariam ali.
— Vamos, diga alguma coisa! – Uma das sereias subiu na cama pulando no colchão. – Hmm – Ela aspirou o ar. — Essas coisas tem o cheiro dele! – Ela segurava os lençóis na mão. — Ah, já entendi! – E olhando para as outras meninas ela deu uma piscadinha. — Vocês estavam apaixonados, não é? – As sereias subiram na cama rindo e levando a mão a boca como fazem as adolescentes quando querem parecer tímidas.
— Então onde ele está? – Uma outra deitou-se ao lado de Jane. — Queremos apenas dizer "oi"!
— Sim, moribunda, diga pra gente! – Ela observava o corte profundo no rosto de Jane e fazia uma careta apontando e mostrando para as outras que cochicharam.
— Não me chame assim. – Jane juntou forças para dizer com a voz mais firme que pôde. Seus batimentos tão rápidos que podiam ser ouvidos se houvesse silêncio.
As sereias riram.
— Por que não? – Uma das sereias descobriu o corpo de Jane. Ela estava em uma poça de suor e suas veias arroxeavam sua pele como raízes de uma árvore lutando para saírem da terra. — Logo você vai morrer.
Jane esforçou, ela queria levar a mão ao rosto e cobri-lo, mas não conseguiu.
— Eu não posso morrer. – Ela sussurrou. As sereias aproximaram mais para ouvir. — Eu não posso morrer ainda, não sem antes completar a minha tarefa. Sem antes salvar Lantis, sem salvar Ellyn.
As sereias que mantinham em suas bocas um sorriso impudicos enrijeceram os ombros e calaram-se ao ouvirem o nome da Imperatriz das Águas. Elas sentaram comportadas sob a cama e tocaram a pele de Jane, cada uma num ponto de seu corpo. Olhos azuis encarando olhos azuis e por fim elas resolveram.
— Então é você. – Uma delas que estava sentada próximo ao lado esquerdo disse, ela tinha os cabelos compridos cor de palha, encaracolados da raiz até as pontas. — Prove que é você.
— Nossa mãe nos disse que havia uma mulher. – Outra sentada aos pés de Jane. Sua pele brilhava como nácar e suas unhas eram compridas como conchas asas de anjo. — Que ela havia salvado uma mulher quando ela se afogou no mar...
— E que esta mulher prometeu libertar as sereias que são escravas dos homens. – Outra completou a frase.
— Esta mulher é você? – Aquela que havia deita-se ao lado de Jane disse. Ela passou a ponta dos dedos sob os lábios de Jane. — Diga.
Jane não disse nada, mantinha sua força concentrada em manter as lágrimas presas aos olhos. Juntou o que havia sobrado de energia em seu corpo e apontou para a caixinha de madeira, ao lado dela estava o cordão com a chave.
Uma das sereias levantou-se da cama e trouxe os dois objetos, abriu-os e seus olhos brilharam em contato com as pérolas de Ellyn que reluziam com a presença das sereias.
A sereia que havia pegado a caixa a pôs exatamente no mesmo lugar.
— Mas como ela vai salvar as sereias se está morrendo? – Uma delas disse, parecia ser a mais nova delas, mas era só aparência pois todas tinham a mesma idade. Esta tinha pintinhas por todo o rosto.
As sereias olharam entre si.
— É por isso que ele está lá embaixo rodeando o navio...
— Aquele lá sabe que ela está morrendo... – Apontou seu dedo fino para Jane.
— Por isso nos deixou entrar sem tentar nos comer... – A que tinha as unhas compridas disse.
Houve um minuto de silêncio, Jane sentou-se de supetão, tossiu mesmo tentando segurar, tossiu e tossiu de novo. As sereias olharam sem nenhuma reação até que sangue manchou o lençol.
A que estava deitada ao lado de Jane sentou também, todas as outras olharam para ela.
— Vamos salva-la. – Ela disse sem sorrir.
— Mas não viemos aqui para isso. Se alguma das outras descobrirem...
— Shh... Ninguém vai ficar sabendo.
— Se Hília descobrir...
— Fique quieta!
As sereias despiram todo o corpo de Jane, apoiaram-na nos ombros e tiraram-na da cama. Mesmo se quisesse reagir, o que não era o caso, ela não conseguiria.
— Só a gente vai ser suficiente? – A com pintinhas questionou.
— Se estivermos na água, sim. – Aquela dos cabelos mais compridos pegou um dos pés de Jane e o suspendeu.
As sereias chegaram até a amurada do navio e sentaram Jane ali, com uma delas apoiando seu corpo as outras pularam na água. Estava escuro, Jane só as viu quando voltaram já transformadas até a superfície.
— Vocês são tão lindas. – Ela disse com o suor escorrendo pelo pescoço.
— Você também é. – A sereia abraçou o corpo de Jane por trás e impulsionou o corpo dela para frente, as duas indo abraçadas em direção a água.
Jane manteve os olhos fechados enquanto seu corpo seguia na direção para baixo.
"Se meus olhos permanecerem fechados, eu posso ver o rosto dele." – Pensava.
Com o contato com a água, a sereia que segurava o corpo de Jane soltou-se dela por um instante, Jane abriu os olhos devagar e mesmo com pouca luminosidade conseguiu ver quando as pernas delas deram lugar a uma cauda muito parecida com a de Lantis. Ela sentiu vontade de chorar ao pensar que poderia nunca mais vê-lo em sua forma de sereia... tritão novamente. Logo mãos tocavam a pele gelada de Jane, sem conseguir respirar e sem forças para voltar a superfície, ela deixou que seu corpo fosse levado para baixo pelas sereias. Elas nadavam e sorriam levando o corpo de Jane cada vez mais para baixo, suas caudas empurravam a água e iam deixando o navio para trás. Algo que rodeava o navio acompanhou as sereias até um ponto bem profundo e depois voltou para perto do navio quando as meninas sereias sumiram com Jane mar a dentro.
Pela manhã, Jane estava nua em sua cama, sem nenhum sintoma de qualquer doença que fosse.
— Minha cabeça está doendo... – Ela disse a si mesma quando conseguiu sentar-se. Levou a mão ao rosto, a cicatriz ainda estava lá. Ela sorriu, as sereias haviam se esforçado muito para levar o que ela sentia embora, jamais iria pedir mais do que isso.
— Dá próxima vez que as vir, vou perguntar o nome delas.
Levantou com as pernas um pouco trêmulas, foi até a caixinha com as pérolas e as viu lá dentro.
— Não se preocupe Ellyn, logo vou conseguir todas. – Tocou uma das pérolas com a ponta dos dedos. — Só preciso resolver uma coisa primeiro.
Seu corpo exigiu dela que se alimentasse, para sua sorte estava só na cabine ou ficaria vermelha de vergonha com o barulho que seu estomago fez.
Os homens que viram Jane ser carregada por Simon para dentro da cabine praticamente morta ficaram espantados quando a viram caminhando pela Ilha do Homem Bravo com todo vigor. E mesmo que nem todos acreditassem nas histórias que ouviram falar sobre ela, aquele acontecimento deveria ser noticiado para se juntar as outras fofocas sobre Jane. Há que se constar que o número daqueles que faziam o sinal da deusa depois que ela passava aumentou.
— Precisamos estar prontos para hoje à noite. – Ela disse a Simon e Victhor, ambos numa das salas de negócios de Romualdo.
Como Jane chegou sem dizer nada antes, alguns dos que estavam lá ficaram um pouco espantados quando a viram. Os dois do Alma Negra mais Romualdo praticamente não tiveram nenhuma reação. Não eram fáceis de impressionar.
— Estávamos falando justamente disso, capitã. – Victhor sorria enquanto Jane se aproximava da mesa com um mapa aberto.
— Se seguirmos o plano será difícil algo dar errado. – Ela disse.
— Vai ser arriscado, eles não vão dar só uma festinha, vai ter gente armada até os dentes lá. – Romualdo tinha um palito na mão e levava aos dentes. — Esse negócio precisa valer a pena.
— Se for mesmo como disseram, vai valer pra todos nós. – Victhor quem afirmou. — Uma festa em Alto Mar não é algo fácil de bancar, para este tipo de evento eles devem ter convidado somente gente grã-fina. – Ele retirou uma mecha do cabelo que incomodava seu olho entrando pelo óculos.
Jane ficou olhando para ele por um instante e sorriu como se soubesse de algo que ele ainda não houvesse dito.
— Vamos repassar mais uma vez e terminar de arrumar as coisas nos navios. – Simon tomou a palavra já que percebeu que Victhor houvera ficado um pouco desconsertado.
O plano foi repassado como tinha de ser, mais uma vez. Logo as pessoas da sala tomaram seus lugares e os navios estavam no mar.
Theodora já estava boa o suficiente para falar e já conseguia ficar de pé sem ajuda de Pyra para escorara-la em seus ombros. A morena insistiu em participar da campanha, mas o pai foi extremamente contra assim como a capitã do Alma Negra, mas Jane prometeu que dessa vez ele só sairia de lá com a cabeça de Markus nas mãos o que fez Theodora sorrir e voltar a descansar.
Jane estava em sua cabine olhando as pérolas, seus braços pareciam um pouco doloridos e ela pensava sobre o que poderia ter sido aquilo que ela sentiu. Foi um pouco parecido com o que aconteceu com Daniel...
Ela suspirou fundo ao lembrar-se do antigo capitão do Alma Negra, todos ainda diziam que ela o havia matado a sangue frio.
— Eu vi quando a levaram. – Simon entrou na cabine e ficou algum tempo olhando para ela até que resolveu dizer.
— Do que está falando?
— Não precisa dizer nada... estou feliz que esteja bem, eu fiquei preocupado que você... bem...
— Vamos resgatar Lantis logo e ir ver Ana, acho que todos precisamos desse tempo.
A festa seria num dos navios cargueiros que eram preparados para esse tipo de evento, ele era grande o suficiente para alocar a quantidade de pessoas que a frequentariam, e aqueles que fariam a segurança. A maioria eram Homens Livres que receberiam uma boa quantia mais tarde. Esse tipo de evento acontecia com frequência como uma forma de divertimento para os nobres.
A festa em si foi organizada pelos nobres conhecidos de Benjair que convencera Markus a vender Lantis para arcar com as despesas depois de tudo que perderam. No início o homem negou, queria levar Lantis para sua fazenda e fazer todo tipo de coisa com ele lá, ameaçava deixa-lo em um tanque para que os homens pudessem se divertir o tanto que quisessem, mas olhar para a cara do sereia lhe causava tanto mal estar e ódio que resolveu não o querer mais, seu estomago revirava cada vez que aquele par de olhos azuis o encarava. Markus queria arranca-los, mas Benjair disse que vende-lo daria mais lucro. Vê-lo ali lembrava-lhe do acordo feito com Jane, de como na cara dela estava a dor de deixar o sereia para trás, de saber que era ele do outro lado de uma cela e não ela em sua fazenda. Naquele momento em que estavam Markus sabia que seria difícil ter os dois, ele queria, mas sabia que matar o sereia na frente de Jane sentenciaria sua morte na Ilha do Peixe Azul, visto que seus homens levavam a pior ele seria morto se Jane não saísse viva de lá e se ele não tivesse uma pistola na cabeça do sereia. Ver o sereia era como olhar a própria derrota e nenhum homem gosta de ser lembrado da sua fragilidade. Quando o Alma Negra saiu da Ilha, ele socou Bejnair, os homens tiveram que intervir e custou para que Markus se acalmasse. Ele gritava dizendo que a culpa era do velho por embebedar os homens enquanto festejavam, mas Benjair gritava de volta dizendo que Markus que era burro por causa de mulher.
— Isso não vai levar nenhum de nós para lugar nenhum! – O velho gritou.
— Eu vou arrancar sua língua! – Markus gritou de volta.
— Vamos vender o sereia, dividir o lucro e seguir com nossas vidas, como era pra ter sido desde antes. – Benjair tentava arrumar as roupas e o cabelo que ficaram bagunçados.
Markus estava ofegante de raiva.
— Você volta para sua fazenda e depois pode ir atras dessa mulher que te deu um pé na bunda, só me de minha parte e eu fico fora do seu caminho.
Benjair estava certo, Markus não queria admitir, mas o velho estava certo. Ele venderia o sereia e depois iria atras de Lidia, ou melhor Jane. E foi assim que ele aceitou estar numa festa e se livrar de Lantis. Claro que ele também esperava que Jane fosse aparecer, mas ao mesmo tempo não imaginava que ela teria alguma força pra isso.
As pessoas tem essa vantagem – ou desvantagem, depende do que for, elas podem mudar de idéia, opinião e resolver o que bem entendem sobre as coisas que lhe dizem respeito. Markus não devia satisfação a ninguém e nenhum dos seus estranhou quando ele mandou anunciar a venda de um sereia macho legitimo aos nobres da região. E saber que era uma Maud que o queria havia deixado o preço dele ainda mais alto já que os Mauds eram podres de ricos e tinham o nome na boca de toda alta sociedade no Império Leste, Sul e Oeste. E, claro, seu dinheiro e sua fama não eram frutos de trabalho honesto, mas sim de contrabandos, tráficos e todo tipo de negócio sujo. Não era atoa que conheciam Benjair de longa data.
Após o horário do almoço o navio já estava com a decoração festiva e já recebia os primeiros convidados ricos e exibidos no Porto do Império Leste. Há que dizer que este não era o porto principal visto que muitos dos nobres que estravam ali não queriam ser associados com Benjair pelo fato do velho ser considerado um mal elemento. No entanto, deixar de frequentar qualquer festa que fosse era quase inviável. Cada vez que uma família nobre adentrava o salão principal do navio era anunciado seu nome por um homem e outro os conduzia até o salão a fim de inteirarem-se das conversações, pratos variados e bebidas aos montes. Olhos curiosos caiam sobre as belas vestimentas das damas e elas faziam questão de serem elogiadas pelos cavalheiros do salão.
De todos os convidados não havia um sequer que não apresentava uma sereia como dama de companhia – nas palavras deles. Todas sereias fêmeas, com adornos brilhantes sob as cabeças, colares que vinham até o ventre e peças de tecidos finos e transparentes pelo corpo, organzas, sedas, . Todas andavam descalças e de olhares baixos. Alguns tinham o rosto pintado com maquilagem em tons azuis, rosas, verdes, aquelas que tinham os cabelos compridos vinham com penteados extravagantes e cheios de pomposos enfeites. Cada um exibia a sua sereia o mais que podia vestindo-as com tecidos púrpuras, rosas, lilases, azuis, esverdeados, de forma que ficassem luxuosamente exorbitantes e desejáveis. A maioria das sereias, para não dizer todas, tinham o seio nu ou apenas cobertas pelos tecidos finos, o que mostrava tudo da mesma forma.
Markus e Benjair bebiam juntos à alguns senhores enquanto suas damas alegravam-se com as companhias umas das outras. A conversa fluía animada em ambos os grupos, até que as senhoras se sentiram na necessidade de consultar os anfitriões sobre o sereia macho que seria vendido mais tarde.
— Então, ele é bonito mesmo? – Uma delas com a voz aveludada perguntou a Markus, a música ressoava pelo salão e as bebidas eram servidas em abundancia.
A cara de Markus não podia ser pior, a noite toda teve que desviar de elogios feitos por Benjair ao sereia. Claro que o velho o exultava para o vender mais caro, mas seria tolice negar o que ele dizia, de fato Lantis era lindo e não haveria qualquer pessoa no mundo sob as águas que o pudesse negar.
— Se meu marido permitir – Dizia uma das senhoras entrelaçando os braços ao redor do pescoço do marido que estava sentado ao grupo. — Eu gostaria de ter este sereia.
Ela foi a primeira a dizer em voz alta o que as outras que também eram casadas pensavam, as solteiras já se haviam pronunciado bem antes.
— E para que a senhora o quer? – O marido sorriu de maneira travessa.
Sua esposa cobriu a boca com a mão e riu baixinho, depois aproximou dele e cochichou algo em seu ouvido. O sorriso do marido tornou-se largo, ele levou a bebida até a boca e bebeu enquanto a mulher ainda dizia algo a ele.
— E então? – Ela manteve-se ao seu lado, e quando ele disse "Será seu!" ela pulou em seu colo e o beijou deixando a marca do batom em sua boca.
Alguns poderão dizer que esse comportamento não seria adequado, mas hão de convir que ali nada seria considerado rude ou vulgar demais. Era para isso que essas festas serviam, para que os senhores e senhoras pudicas em público pudessem extravasar em particular com os seus.
Do lado de fora da festa, a tarde começava a pintar o céu de laranja, não havia ameaça de chuva e o navio com os convidados ilustres já havia partido do porto para o mar afim de iniciar com as festividades mais privadas, para que pudessem ocorrer sem qualquer interferência.
Os guardas e vigias do navio mantiveram-se alerta quase o tempo todo, no entanto, era difícil que alguém ousasse invadir então a certa hora eles relaxaram. Assim como quaisquer outros, eles fumavam seus cigarros e permitiam-se bebericar dos sabores servidos na festa, era escondido dos nobres lá de dentro, mas a verdade é que todos sabiam que isso acontecia. Não era nada demais.
O clima da festa não havia mudado, houvera sim esquentado. As bebidas mais ludibriantes e fortes passaram a ser servidas depois de deixarem o porto e a vista dos oficiais do Império Leste, as comidas exóticas passaram a ser servidas em abundância para a alegria de Benjair e o desespero de Markus.
Eram ensopados de rãs trazidos em panelas de ferro fumegantes, pernas fritas de escorpião com molheiras coloridas cheias de geleias picantes com texturas macias, havia cascavéis empanadas sob a mesa decoradas com vegetais e cerejas brilhantes, cabeças de coelhos cozidas ao molho de romãs, pênis de boi assado em travessas de prata onde podia-se ver o próprio reflexo e mais uma variedade que deixou o ambiente tomado pelo cheiro de temperos, licores de frutas raras e vinhos de cobra servidos em taças de cristais.
Homens e mulheres esbanjavam-se na mesa com toda a comilança, Benjair comia feito um esfomeado e toda a educação mínima que tinha foi deixada de lado para saborear os pratos requintados da festa. Talvez, esperasse-se que os nobres o julgassem pelos modos rústicos, no entanto, foram encorajados por ele a prosseguirem da mesma forma e assim o fizeram. Markus teve a impressão de ver porcos a mesa, e sua visão não estava exagerada.
O homem continuou com sua taça de vinho de uva, ora ou outra experimentava algum outro que os garçons o serviam, mas sempre perguntava a procedência, claro, e se tratando de apenas outras frutas, como maçã e cereja, ele aproveitou a degustação. De seu lugar, via as sereias aguardando enquanto os donos enchiam o estomago, Markus as olhava sem nenhuma admiração, via suas peles luzentes em contraste com os tecidos, os olhares mórbidos sem estarem realmente olhando para lugar nenhum com suas írises coloridas de azul, e comparava a beleza delas as das estatuas nos museus. Para ele não significavam nada mais do que um punhado de dinheiro desfilando de um lado para o outro.
Do lado de fora os vigias começaram a ouvir um barulho estranho e entraram em estado de alerta, havia algo batendo contra o casco do navio e fazia vários "toc toc toc" em ambos os lados.
— Você viu alguma coisa? – Um deles perguntou
— Nada. – O outro com uma lanterna de óleo de baleia dizia. — Espere! – Ele levou o braço mais a frente e iluminou um pouco mais a água. — O que é aquilo?
Outros vigias aproximaram da borda para olhar a água, apertaram os olhos e colocaram a mão sob a arma na cintura, havia algo ali, na verdade havia mais de um.
Ouviu-se uma risada vinda de cima, todos levaram suas cabeças para a direção.
— São apenas tartarugas. – Markus fumava um cigarro e soprava a fumaça para baixo, ela mal ia descendo quando o vento já a empurrava de volta.
Os homens um pouco constrangidos pela seriedade que deram a tartarugas voltaram cada um para o seu lugar. Markus com o cigarro entre os dedos continuava a olhar os animais emergirem e depois submergirem próximos ao navio, o casco delas chocava-se com o material do casco do navio e por isso fazia tanto barulho.
— A pergunta é: o que vocês fazem aqui? – Markus perguntou a elas.
Acontece que aquele tipo de tartaruga não pertencia mesmo aquelas regiões de águas mais frias, principalmente naquela época do ano elas deviam estar em suas próprias ilhas aproveitando o calor do dia e o mormaço da noite.
No entanto, Markus estava entediado demais de olhar tartarugas para pensar sob o estilo de vida delas e resolveu que era hora de voltar a festa quando ouviu o grito das mulheres lá dentro.
— Aproximem-se madames! – Benjair dizia de cima do palco onde antes havia boa música e agora ressoava a sua voz grasna. — Como vocês devem saber, – Ele reclinou o corpo numa reverência exagerada. — Eu sou Benjair Bollevair e estou aqui para servi-los!
Markus sentou-se em sua mesa, o preço da mercadoria já havia sido discutida antes e ele não participaria daquela presepada que o velho adorava fazer.
— Senhores, - Markus dizia aos homens que ainda compunham a mesa. — Não vão querer ver de perto?
A expressão tediosa dos homens respondeu por eles, Markus sorriu com o desprezo que o grupo nutria pelo sereia, ergueu a taça com o líquido amarelado e tomou tudo num gole só.
— Ele foi trazido direto da selvageria do mar, – Com as mãos Benjair alisava o ar, fazia contorno enquanto falava e sua voz aumentava e diminuía nos momentos enfáticos. — Criado em lares nobres e requintados, capturado por piratas e novamente entregue a civilidade e bons costumes para o deleite das senhoras e – Ele deu uma piscadinha para um grupo por ali. — Senhores!
Ele fez sinal com as mãos e dois homens trouxeram Lantis pelo meio das mulheres. O sereia sentiu como na primeira vez na ilha liberdade, mas com certa diferença que dessa vez ele não recebia chutes ou golpes.
O grito das mulheres pôde ser ouvido de fora do navio.
— Ele é lindo demais!
— Olhem aqueles músculos!
— Que cabelos lindos!
— Que cheiro maravilhoso!
— Eu o quero no meio das minhas pernas!
Lantis teve cada parte do seu corpo tocada, alisada e apertada por mãos cheias de anéis e pulseiras. Ele havia recebido o direito de ficar calado ou sofreria as consequências mais tarde.
— Este sereia, minhas amadas senhoras, é um legítimo sereia macho! Com mãe e pai sereias, foi trazido do mar quando ainda era um filhote e agora está aqui com todo vigor e virilidade que as senhoras e senhores puderem experimentar por um ótimo preço, claro.
Lantis mantinha os olhos para baixo enquanto era colocado ao lado de Benjair no palco, seu rosto fora apertado por Benjair levando-o pelo queixo para que as senhoras pudessem ver as íris azuis dele, por pouco elas não o devoraram ali mesmo.
— Eu ouvi dizer que ele não foi levado até as bruxas, – Uma delas disse. – É verdade?
Benjair sentiu vontade de socar alguém que houvera espalhado o verdadeiro boato. Não foi necessário que ele respondesse, Lantis teve o impulso de erguer a cabeça e olhar a mulher nos olhos como se a desafiasse. Ela por sua vez levou a mão ao coração e deixou o corpo tombar para que uma amiga a amparasse.
— Oh – Ela disse. — Ele é muito mais intenso assim!
Satisfeito pela boa aceitação das presentes, Benjair ordenou que o sereia fosse preso a um cabo que caia do teto até a altura de sua cabeça e as mãos de Lantis foram presas ali, assim de modo mais fácil Benjair terminou de exibir o corpo de Lantis para elas, mostrou todas as partes com detalhes tocando em cada uma com bastante audácia.
O sereia, assim como as outras, tinha o corpo exposto e enfeitado, um manto fino e transparente em tom de azul claro caia-lhe sob os ombros, os cabelos numa trança espinha de peixe colocados cuidadosamente ao lado do corpo para que fosse visto, havia uma pigmentação também azul sob as pálpebras e uma cor preta cobria a linha d'água nos olhos, a boca brilhava com aspecto um pouco pegajoso e haviam passado perfume e óleo em toda sua pele. Não havia joias caras, já que ele ainda não tinha um dono, mas não havia como negar que ele estava lindo contudo, Lantis sentia-se sujo, imundo e cheio de vontade de livrar-se de tudo aquilo. Ele sentia-se como aquele dia na ilha, olhos por todo seu corpo, preso por amarras, armas miradas em sua cabeça, no entanto, não havia uma capitã pirata a quem ele pudesse depositar suas esperanças, não havia aquele olhar audaz que o perseguia e parecia faze-lo ser capaz de qualquer coisa. Jane não estava ali.
— Me solte! – Ele disse aos homens que o seguravam. — Me soltem! – Ele gritou.
As mulheres pareciam ter sido picadas por abelhas, gritos ainda mais altos ressoavam.
— Que voz linda! – Elas disseram.
— Eu não sou de nenhuma de vocês! Eu não vou a nenhum lugar com vocês. Eu prefiro morrer do que me deitar com alguma de vocês! – A voz de Lantis não tinha nada de excitante ou amorosa, a realidade era que ele estava com muita raiva e tudo em seu corpo transparecia assim. Mas as mulheres e os homens não se importavam em como ele se sentia e continuavam a sorrir e a deseja-lo.
Benjair e Markus não podiam estar mais satisfeitos com o rumo que as coisas iam, as mulheres ficavam cada vez mais entusiasmadas enquanto viam a virilidade de Lantis.
— Que comecem os lances! – Benjair gritou com os braços levantados. — Quem dá m...
A palavra ficou sem final, uma faca arremessada perfurou sua garganta e o líquido vermelho jorrou manchando o chão e um pouco da roupa de Lantis.
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