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Capítulo 50 - Contradições II

Algumas semanas atrás...

Jane estava numa situação complicada sem seu navio e sem uma tripulação, ela também não tinha nenhum crédito para oferecer aos investidores que apenas riram na cara dela caso ela pedisse algum dinheiro. Na verdade, não havia sobrado nem muito dela mesma para oferecer, a palidez e os vômitos constantes deixaram a capitã do Alma Negra com uma aparência lastimável, além disso havia aquela marca profunda e horrível em seu rosto, lembrando a todos e a ela mesma que Markus havia levado a melhor daquela luta.

Na pirataria existem aqueles que emprestam, que investem nos navios e principalmente nos capitães, eles fornecem o dinheiro, alguns fornecem canhões e armas e depois recebem o pagamento combinado com juros altos o suficiente para fazer o risco valer a pena. Normalmente eram mercantes ricos, donos dos Mercados Flutuantes ou até mesmo algum fazendeiro com o suficiente para apostar. O caso não era legal, mas a maioria não se importava, eram poucos os oficiais que não aceitavam propina e mesmo sem o Selo Imperial alguns navios em Campanhas particulares financiados por ricaços navegavam pelos mares. O oceano Uno era imenso, e cabia todo tipo de transação nele.

Da boca de todos os piratas na Ilha Flutuante do Homem Bravo, Jane ouvia sobre aquele dia da luta contra Markus e Benjair e se todos já tinham medo deles antes, não era ao lado dela que perdeu para os dois que eles iriam ficar. Thomas havia adiado sua partida para ficar com Jane, além de prestar os primeiros cuidados aos sobreviventes do Alma Negra, ele ainda ofereceu o Cão Voador para a campanha de recuperação do navio de Jane, porque ele sabia que Jane não iria deixar o tão precioso navio dela nas mãos de Markus.

Um navio era de muita importância para o capitão, era seu alicerce, sua segurança, parte importante da sua alma e pode-se dizer que era vital como o coração é para o restante do corpo, e a tripulação, era o que os unia, era como um lar, uma família problemática, como os dedos de uma mão e Jane os havia perdido naquele dia.

Romualdo inicialmente os acolhera com muita satisfação, mas depois que viu Theodora sair da cabine carregada ainda desacordada, a raiva lhe subiu à cabeça. Theodora era sua única e amada filha e vê-la naquela situação fez o sangue ferver.

No início culpou Jane, deu-lhe uma bofetada sobre a face e o ferimento feito por Markus voltou a sangrar. Ela não reagiu, sabia que a dor de Romualdo era terrível.

— Quando você veio até aqui e chamou Theodora para ir com você para aquele inferno de navio você me prometeu que ela voltaria viva! – Ele apontava o indicador bem na cara da capitã. — Você me prometeu isso Jane e você falhou miseravelmente na única coisa que eu lhe pedi!

Ela mantinha os olhos nos dele, não abaixou a cabeça, não deixou que uma única lágrima se derramasse e manteve para si a dor em sua pele.

— Eu lhe dei meus melhores homens naquele dia, canhões... quantas armas você já pegou aqui? – Ele levantou a mão para bater nela mais uma vez, mas deteve-se. — Olhe para você, não tem nada e ainda me encara com esses olhos.

Desde a primeira vez que esteve ali, Jane sempre manteve a cabeça erguida, mesmo quando ia com Daniel e não passava de uma franguinha descabelada, ela nunca deixou que vissem o medo percorrer sua pele, bem, não era prepotência ou arrogância como muitos julgavam, o antigo capitão do Alma Negra sempre lhe dizia para não sangrar num tanque de tubarões, e era o que ela fazia. Para o homem que comandava aquele lugar, coragem era a melhor e a pior das qualidades, forçava você a avançar e não deixava você racionar na hora certa de parar.

A Ilha do Homem Bravo era feita de muito metal, haviam lanças, tridentes e para raios em cada canto e quando chovia o lugar parecia um vagalume em alto mar, não era pra fazer sentido, era pra botar medo. Esta Ilha tinha um diferencial, ficava atracada numa bancada de areia e ali se expandia dormitórios e barracões com todo tipo de material pesado para os piratas. Romualdo era conhecido por praticamente todos os donos de ilhas flutuantes e era respeitado ou temido pela maioria.

Ele fizera seu nome com bravura, apesar de ser considerado um pirata por não seguir as leis dos oficiais ele era um homem valente e justo. Pagava o que devia e cobrava com juros, não levava desaforo pra casa e poucas vezes perdeu uma briga corpo a corpo. Aliás, foi com ele que Theodora aprendeu a lutar. Desde criança vivia com o pai na Ilha e desde sempre lutava com os meninos e meninas dali, crescera cercada de cuidado, mas foi ensinada a se proteger e a defender quem ela amava.

— Eu perdi tudo naquele dia. – Jane disse, o sangue escorria por sua bochecha e já iniciava uma poça no chão. — Perdi meu navio, meus homens, meu sereia...

— Foda-se! – Romualdo esbravejou. — Não me importo com nenhum desses! Só me importa a minha Theodora, que está naquela cama há três dias ardendo de febre...

Jane o olhava, o homem forte e já de certa idade andava de um lado para o outro sem saber que rumo tomar.

— E você acha o que hein, Romualdo? – Ela parou no caminho que ele fazia, interrompendo que ele desse mais uma volta entorno de si. — Acha mesmo que eu estava adorando? Que eu via meus homens serem mortos e sorria? Que eu olhava meu navio sendo destruído e gargalhava?

O estado de Jane era tão lamentável, hematomas, desidratação, lábios rachados, olhos fundos... Romualdo os tinha visto antes, mas reparou neles agora.

— Eu vi espadas serem enfiadas nos homens que confiaram suas vidas a mim, eram quase duzentos homens em meu navio, Romualdo, quase duzentos, e agora não enchemos nem a porra de um escaler pequeno!

Romualdo finalmente destravou os dentes, se fosse ele quem tivesse perdido tudo, o que ele faria?

— O que vai fazer agora Jane? – Ele queria saber.

— Não é óbvio? – Ela avançou um pouco mais o corpo próximo a ele. — Eu vou matar Markus e recuperar o Alma Negra. – Ela não mencionou Lantis para Romualdo, mas não era preciso que o fizesse. — Vou pegar de volta tudo o que é meu e fazer aquele ordinário filho de uma puta pagar pelas vidas que me tirou! Eu posso ser várias coisas, Romulado. Posso ter vários nomes nas bocas imundas que falam por ai, mas eu não sou uma desistente. Eu não vou deixar tudo para trás porque perdi mais uma vez, enquanto eu tiver vida eu vou lutar pelo que eu acredito, foi por isso que deixou Theodora ir comigo daquela vez, porque você sabia que ela lutaria ao lado de alguém que tem coragem e eu sei que é isso o que você mais preza em alguém. Daniel também via assim e foi ele quem me ensinou a nadar a favor da maré e não contra ela. Se as ondas, se o mar esta agitado, então eu vou fazer um caos no mar e ai daquele que estiver no meu caminho, eu vou passar por cima de tudo o que estiver na minha frente.

Romualdo olhou para Jane um tempo, ela ainda era uma novata e ainda tinha muito o que aprender, a arrogância dela ainda a faria sangrar mais do que agora e muitos outros poderiam morrer em suas mãos. Mas depois disso, depois algo iria acontecer, Romualdo sabia identificar aquele brilho que via em Jane e aquele brilho a levaria longe. O líder da Ilha do Homem Bravo estendeu a mão para ela e ela apertou com uma expressão séria no rosto. Jane não tinha nada, nem mesmo medo.

— Estou contando com isso. – Romualdo era pouco menor do que Simon, tinha tantos músculos quanto ele e a paciência dos dois não daria nenhuma dose de rum. — Por que se ele não morrer nas suas mãos, é você quem vai morrer nas dele, Jane, e eu não espero levar meu pessoal pra ver sua vergonha.

Depois disso Romualdo enviou mensagens para todos os conhecidos seus, pedia a localização de Markus e do navio Alma Negra, e foi assim que Mizuki ficou sabendo que ele os procurava e mandou Daren os avisar. Romualdo e Mizuki faziam negócios a anos e tinham pleno conhecimento das capacidades de luta um do outro, Mizuki não se oporia a Romualdo por causa de Markus ou Benjair, esses dois não valiam tanto assim.

Um grupo foi formando na Ilha do Homem Bravo, Thomas continuava lá com seu navio e seus homens, Romualdo conseguiu que dois de seus navios menores voltassem das entregas, os outros estavam longe demais com a maioria de seus homens em missões. Dos que eram preciso para manter a Ilha e dos que poderiam ir com eles, o número não era ainda satisfatório.

Numa das salas principais da Ilha eles discutiam o que fazer.

— Não temos muitos aqui, – Thomas dizia com o olhar fixo em Jane. — Mesmo se juntarmos nossos homens, eles ainda terão mais.

— Do Alma Negra só sobrou a gente. – Victhor disse o que todos pensaram. — Pyra não vai lutar, ela vai ficar aqui com Theodora.

— Temos armas, isso que importa. – Jane recebeu a confirmação de Romualdo que os encarava.

Sob grande mesa de madeira haviam mapas e formas entalhadas na madeira.

— Mizuki não vai ficar do lado deles, ele vai cooperar com a gente, isso é certeza. – Darren ainda estava lá e garantiu a parte da Ilha do Peixe Azul quando Romualdo os mencionou.

A discussão seguia com Victhor calculando o que seria preciso, Simon apontando falhas na defesa e Jane insistindo em atacarem logo. As horas passavam e nenhuma decisão era tomada, não seria fácil atacar Markus, os piratas a sua ordem lutavam como o próprio diabo, os Maud não estavam lá sem nenhuma proteção, havia mais um navio as ordens de Benjair que não sairia da Ilha e eles aguardavam a Marinha Imperial para entregar o Alma Negra.

— Precisamos de mais homens. – A mulher bateu na mesa. – Merda! Markus tem muito dinheiro e influência, esses homens que estão ao lado dele querem pegar o pagamento e cada dia que passa o numero deles aumenta.

Romualdo deu a impressão de estar pensando em algo, pediu a Jane que lhe desse cinco minutos e mandou chamar um dos seus. O rapaz forte e alto entrou na sala como se houvesse chegado ao final de uma corrida, Romualdo lhe entregou um papel escrito e selado com cera vermelha e a marca de seu anel.

— Diga ao Tartaruga que chegou a hora dele pagar o que me deve.

Logo garantiu que teriam homens suficientes para invadir a Ilha do Peixe Azul, Daren ficaria por ali mais um pouco para ter certeza que nada de perigoso seria tramado contra seu líder, apenas uma garantia, já que Romualdo e Jane não tinham nenhuma intenção de prejudicar o velho homem.

Simon e Victhor ajeitavam os preparativos, Will pôde juntar-se a eles, a contra gosto de Simon que ainda tinha dificuldades em tolerar a falação do loiro.

A Ilha do Homem Bravo ficava recostada sob uma bancada de areia que servia como base de apoio para os negócios de Romualdo, ali ao lado dos barracões que serviam também de dormitório, haviam os barracões das armas sempre muito bem vigiados, só passava por ali quem estivesse na companhia de Romualdo ou no mínimo com alguém da confiança dele. Os homens de caras emburradas, facas e pistolas nas mãos encaravam feio qualquer um que pisasse por aqueles lados, mesmo que fosse tão grande e com a cara tão feia quanto Simon tinha.

— Não precisa se preocupar com eles. – Romualdo dizia. — Eles olham assim pra qualquer um que venha aqui.

As veias nas mãos de Simon deram uma pequena relaxada, coisa mínima. Ele não respondeu nada, continuou andando ao lado do dono do local. Não era necessário ser um bom observador para notar o quanto Simon e Romualdo se pareciam, não só fisicamente, mas também no modo de agir. Como uma dupla de bisões selvagens e prontos para qualquer embate a qualquer hora. O queixo duro, as palavras sem muita medida, o modo grosso de andar e a falta de paciência. Ninguém se atreveria a dizer, mas muitos queriam estar num combate ao lado dos dois.

Há muito tempo atrás, quando o falecido capitão Daniel apareceu na Ilha pela primeira vez com Simon, Romualdo tentou persuadi-lo a deixar o garoto lá. Daniel disse que não cederia seu melhor pirata, mas que ficaria a cargo de Simon escolher. Não havia rancor em Romualdo por ele ter decidido permanecer com Daniel, pelo contrário, ele gostava de gente leal, depois disso sempre que passavam por ali Romualdo e Simon lutavam em treinos árduos, bebiam e trocavam algumas palavras um com o outro. Para quem visse poderia achar estranho e até pensar que eles não se davam bem, mas ao seu grosso modo havia uma irmandade entre eles.

Quando passaram por todos os galpões e finalmente chegaram ao das armas, o líder do lugar destrancou o enorme cadeado de ferro, as portas barulhentas se abriram e levariam semanas para quantificar o número de armas que tinha por ali. Haviam pistolas, rifles, munições, alguns canhões, facas, espadas, porretes, machados e mais tantas outras coisas que de algumas Simon não sabia o nome.

Eles entraram no local e a pouca luz foi deixando Simon meio desconfiado, não havia motivo realmente, mas um bom pirata nunca abaixa sua guarda.

Vislumbrando todo seu arsenal, Romualdo deixou os lábios se esticarem num meio sorriso. Claro que o homem era orgulhoso de seu tesouro.

— Escolha uma para você, me disseram que se não fosse por você a minha menina estaria morta. – Romualdo tocou-lhe o ombro. Estavam de frente para o outro e os olhos gratos dele fizeram Simon assentir.

O pirata do Alma Negra andou um pouco pelo local, as armas foram colocadas ali propositalmente para parecerem ameaçadoras ao mesmo tempo que serem vistas como troféus. Romualdo poderia contar a história de como conseguiu cada uma delas e algumas foram tiradas dos corpos frios de seus antigos donos. Romualdo dificilmente perdia uma luta e armas eram seus troféus. Simon não teve nenhuma dificuldade em encontrar a arma ideal para o seu tipo: um sabre de mão dupla, uma arma de estocada e de corte, com a lâmina de aço tão longa quanto seu braço e tendencialmente curva. Uma arma para atacar que Simon sabia muito bem manusear.

— Boa escolha. – Romualdo teria escolhido a mesma.

Haviam muitos machados de dois cortes que Simon também poderia escolher, mas Ana tinha medo deles e aquele sabre era tão bonito que até mesmo ela que não gostava de armas poderia admirar a sua beleza.

— Obrigado. – Simon agradeceu sem sorrir. — Vamos começar. – Simon tirou do bolso um papel com a letra de Victhor, e seguindo aquelas instruções, mais seu conhecimento e com a autorização de Romualdo caixas e caixas foram colocadas pelos homens dele para o lado de fora do galpão de armas. O estoque estava ficando pronto.

Tudo seguia conforme o planejado, Theodora recebia cuidados excelentes e a melhora da moça era evidente, Pyra auxiliava o médico da Ilha e aprendia novas técnicas com ele. O dono do lugar ficou extremamente aliviado e no dia que Theo abriu os olhos ele permaneceu todo tempo ao lado dela. Jane e Simon resolviam os pormenores junto com Thomas que ficava o tempo todo junto de Jane.

Will muitas vezes observava o movimentos do dois pela Ilha. Iam de um lado para o outro juntos e Jane sorria com o belo rapaz e o seu cachorrinho vira-lata. Victhor já o havia respondido muitas vezes que os dois eram bons amigos e que ele parasse de fofoca, mas Will não sabia o que era ter limites.

— Pra mim ela está se deitando com ele. – Will tinha uma caixa de pólvora nas mãos.

Victhor estalou a língua pela milionésima vez aquele dia.

— Já disse para parar com isso. – Ele apontava no interior do navio onde as caixas deveriam ficar. Estavam no Cão Voador. — Cuide da sua vida Will.

— Mas é sério, Vic! – O apelido pegou afinal. — Olha como eles ficam de conversinhas por ai. Estão sempre juntos e o tal do capitão Thomas fica de risadinha com ela o tempo todo.

Victhor pensou que Will poderia muito bem estar falando dele próprio, mas resolveu manter a opinião só para si.

— Ah, pra mim, ali tem coisa. – A caixa estava no chão e Will esticava os braços para frente. — Mais quantas?

— Mais cinco dessas.

_Cinco? – Ele falou mais alto. — Desse jeito meus braços vão cair!

— Não seja dramático Willian. Faça seu trabalho sem reclamar.

Will franziu a testa, logo sorriu com a boca cheia e tocou a própria clavícula com cara de piedade.

— Pobre de mim, sou usado todos os dias para estes trabalhos tão pesados. – Sua voz era de dar pena. — Aposto que poderia trabalhar muito mais e melhor se ganhasse uma massagem depois de tanto esforço.

Victhor mantinha os olhos no caderno de anotações, havia um outro caderno menor em seu bolso, era o novo para palavras desconhecidas.

Will pigarreou e falou um pouco mais alto.

— Ai, ai! – Tocava o próprio abdome. — Como doem os meus músculos. – Levantou a camisa até a altura do queixo na esperança de chamar atenção de Victhor. Ele nada fez além de pegar o caderno menor e anotar algo ali.

— Talvez se alguém esfregasse um pouco de óleo a dor pudesse passar, acho que vi um tanto de arnica que seria ótima para a dor. Minha coxas também doem, sabe, as minha coxas sempre foram muito elogiadas por todas as mulheres com quem eu me deitei.

Victhor continuava movimentando os lábios e o lápis em sua mão, lábios finos e levemente ressecados, que ficariam inchados se fossem mordiscados na medida certa.

— Ei, Victhor! – Ele disse por fim, com brabeza. — Dá pra me dar alguma atenção? Eu estou me esforçando aqui.

Victhor bufou e passou a mão pelos cabelos que há dias precisavam ser lavados. Os fios caiam para os lados, um tanto bagunçados e até mesmo suas unhas estavam mais compridas que o normal. Will achou estranho reparar todas essas coisas, mas sempre que estava com Victhor ele tinha pensamentos estranhos. Talvez fosse porque Victhor era uma das poucas pessoas em sua vida que realmente o escutava e sorria com sinceridade para ele.

— Me desculpe, eu não estou conseguindo pensar muito bem.

Ora, para Victhor não conseguir pensar muito bem é porque algo sério o perturbava.

— Pela deusa, Vic! – E esquecendo as suas falsas dores Will chegou bem perto de Victhor e tocou a testa dele com o dorso de sua mão. — O que foi? Está doente? Precisa de alguma coisa?

— Sim, preciso. – Sua expressão era séria, sua voz calma e macia. Ele olhava fixamente para os olhos verdes do loiro a sua frente.

Will sentiu sua boca secar, engoliu o nada, os olhos castanhos o absorviam como areia movediça e eram sempre tão intensos que Will mal conseguia não corar quando Victhor o olhava assim.

— Então me diga. – Soou tão baixo que pareceu um sussurro e sem perceber deu um passo em direção ao rapaz de óculos a sua frente.

— Preciso que você para com essa ladainha e termine logo com essas caixas aqui.

Will sentiu-se traído por si mesmo, desolado, chateado, grunhiu algo e saiu do compartimento das cargas com a cabeça baixa.

Victhor ajeitou o óculos e secou uma gota de suor que escorreu por sua nuca, olhou pelo caminho que Will fez e viu que o loiro já havia saído. Victhor passou a língua no lábios inferior e teve alguns pensamentos com óleos e peles levemente douradas de sol.

— Que calor está fazendo hoje...

Meio dia depois que a resposta do Tartaruga chegou para Romualdo dois navios partiram da Ilha do Homem Bravo em direção a Ilha do Peixe Azul.

Jane estava no Cão Voador, na amurada do navio ela e Simon olhavam o mar a sua volta, cada um tinha os próprios pensamentos.

— Você precisa resolver sobre isso Jane. – Simon questionou. — Se você precisar escolher entre o sereia e ser capturada, qual deles você vai escolher?

Para Jane a resposta era óbvia, ela sorriu, os cotovelos sob a madeira, os últimos raios de sol tocando seu rosto. Simon passou o cigarro para ela depois de deixar a fumaça sair pelas narinas.

Jane via o movimento das águas, o azul escuro do mar, lembrou de quando viu Lantis se transformar pela primeira vez e do quanto desejou que aquela cena se repetisse muitas vezes mais.

— Eu vou levar os dois. – Ela soprou a fumaça e devolveu. — Meu navio e meu sereia precisam estar seguros, comigo eu não me preocupo.

O Alma Negra havia sido o lar de Simon e de Jane desde muito tempo, era mais do que apenas madeira que flutuava sob o mar, era tudo pra eles.

— Aquele Markus não vai facilitar nada, ele deve estar pensando em como capturar você de qualquer maneira. – Simon tentou manter a voz o mais calma possível, mas suas veias do pescoço saltaram assim que Jane terminou a frase.

— Ele quer me ver sofrer, ele mesmo já disse isso.

— Então você já sabe que deve sair de lá, não dá pra conseguir um navio com uma sereia. Vamos pegar o Alma Negra e nos preparar longe de lá.

Jane sorriu olhando para o mar.

— Eu não vou deixar meu sereia para trás. – Ela levantou a cabeça e esticou os braços doloridos para cima. Havia carregado caixas o dia todo junto com os homens e seus músculos estavam cansados. — Eu decidi, eu fico no lugar de Lantis e você leva o navio e o sereia para um local seguro se for preciso.

Simon olhou para Jane com espanto.

— Mas que merda você está dizendo?

— Eu sou a capitã, o navio e o sereia são minhas responsabilidades, Markus não vai me matar, para me ver sofrer ele tem que me manter viva, então você vai ter que ir me resgatar mais uma vez. Conto com você.

Simon jogou a guimba do cigarro na água fitando o horizonte.

— Você já tinha pensando nisso.

— Markus com certeza pensou nisso também, ele vai dar um jeito de me encurralar e dessa vez ele sabe quem eu sou, não vai ser tão fácil como comprar uma prostituta num palanque.

Simon cruzou os braços ao redor do peito encarando Jane que também passou a olhar para ele.

— Isso é loucura, você está indo sabendo que não vai voltar.

— Não, eu estou indo contando que vamos sair juntos de lá, mas não vou ser imprudente, precisamos ser realistas e avaliar as possibilidades e eu só posso contar com você.

— E se eu disser que não concordo e que não vou deixar você ir para esta armadilha?

— Bem, - Ela aproximou-se de Simon e desfez os braços cruzados dele envolvendo o corpo dele com os seus próprios braços. — Então eu serei muito desobediente, grandão, e farei exatamente o que for preciso para ver vocês longe das garras de Markus.

A cabeça de Jane batia abaixo do peito de Simon, ele tocou os ombros dela e afastou o corpo dela um pouco para que pudesse ver seu rosto.

— Se eu tiver que escolher, o sereia, o navio ou você, não espere que eu siga seus planos.

— Não seja teimoso, - Ela sorriu. — Não me escolha, leve o sereia e o navio com você e depois volte para me buscar.

Ele bufou enquanto apertou um pouco o corpo de Jane contra o seu.

— Torça para que a escolha não seja minha então, porque enquanto for, eu sempre vou escolher você Jane.

— Você prometeu para Ana que iria me obedecer, não me faça ter que falar mal de você para ela quando a encontrarmos.

Simon olhou o sol se pondo, o laranja tocando o mar e pensou na cor dos cabelos loiros que balançavam sob o vento quando eles estavam na Ilha Esmeralda.

— Você sente muita falta dela, não é?

Simon apertou ainda mais o corpo de Jane, era como envolver um passarinho frágil e ele tinha que ser gentil para não apertar demais.

— Eu sempre vou escolher você. Não tenha medo, eu não vou deixar ele machucar você de novo. Ele não vai encostar em você mais nenhuma vez.

Simon sentiu algo molhar sua camisa e abafou os soluços de Jane para que ninguém a ouvisse chorar.

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