Capítulo 42 - Uma voz na Água.
Em algumas partes das águas do Oceano Uno o calor permanecia retido por mais tempo, mesmo em grandes profundidades, e isso fazia com que as temperaturas continuassem altas durante mais tempo durante o dia e um grande período da noite, porque o resfriamento do calor retido durante todo o restante do dia acontecia de forma gradativa. Justamente por sofrer as influências do mar, o clima no era quente e seco, e o tinha temperaturas mais agradáveis e com ocorrências de chuvas que duram entre três e quatro meses. Antes de Azah inundar tudo com as águas do mar não era assim, mas ninguém se lembrava mais como era antes e anotações sobre o clima e suas mudanças passaram a ser importantes somente para quem navegava nessas águas e para alguns estudiosos que gostavam de saber de todos os detalhes sobre o mundo de antes. O que era bastante negligente já que agora o mar comandava tudo o que acontecia em terra, maremotos, inundações constantes, subidas e descidas de mares mexiam com o cotidiano de todos que moravam próximo as praias e até mesmo longe delas.
Na região em que navegava o Alma Negra os dias eram muito quentes e a noite amena, a água entre três e quatro metros de profundidade mantinha o aquecimento do sol e depois disso era muito, muito frio. Os seres que ficavam por ali saiam mais a noite quando a água da parte de cima e a do fundo ficavam em temperaturas parecidas. Os piratas já estavam acostumados a ver animais estranhos na flor dágua e não ligavam mais para os cardumes esquisitos e coloridos que cruzavam o navio. Numa noite Will, Victhor e Simon estavam fumando na proa do navio, Will falava sobre a irmã e foi uma das poucas vezes que Simon não perdeu a paciência com ele e mandou que ele calasse a boca. Nessa noite passou por eles um punhado de borboletas, bem era o que eles pensaram que fosse, mas essas borboletas eram três vezes maiores do que uma borboleta comum e tinham um brilho púrpura nas asas. Mas como eles sempre se deparavam com coisas estranhas, ninguém ligou muito. Will achou engraçado o modo como elas voavam e mergulhavam bem fundo na água como se estivessem procurando por alguma coisa ou alguém.
— Minha irmã amava borboletas. – Will disse sorrindo. — Ela gostava de comprar aqueles livros ilustrados com vários tipos de borboletas e ficava tentando desenha-las por todo canto. – Ele riu e percebeu que Simon o olhava. — Ela não era nada boa, mas eu sempre dizia que os seus desenhos eram melhores que os livros e mesmo sabendo que eu mentia ela sorria e não desistia. – Ele encarou uma das borboletas que curiosa veio ouvir sua conversa. — Fico pensando se ela teria ficado realmente boa em desenho se ainda estivesse viva.
— Ela seria a melhor. – Victhor disse olhando seriamente para Will. Ele tragou o cigarro e a fumaça foi em direção a borboleta curiosa. — Oh, sinto muito por isso.
Will continuou olhando a borboleta que voltava até as outra, mas logo ele intertia com a risada de Victhor ou o modo como o cigarro pendia em sua boca e se esquecia das borboletas que rodopiavam ao redor do navio. Jane continuava a mesma, dava instruções aos piratas no navio e seguia com a rotina, para quem não a conhecia, poderia dizer que estava tudo bem. No treino de espadas pela manhã ela melhorava, na leitura dos mapas ela melhorava, na navegação do navio ao leme ela estava mais precisa, tudo fluía conforme tinha que ser. No entanto, Simon e Victhor, principalmente, sabiam que aquele sorriso não durava muito tempo. A capitã sorria com os outros, bebia e conversava normalmente, mas quando estava sozinha os pensamentos iam direto para o fundo do mar. Jane não sabia se haviam passados semanas ou meses, mas a falta de Lantis não diminuía com passar do tempo. Ela ficava na amurada do navio olhando para o mar, as vezes a noite ela ia até a proa e observava o movimento das águas vivas lá embaixo, via cardumes de peixes coloridos e ficava pensando se um dia ouviria Lantis contando sobre o que havia visto lá embaixo. Nesses dias Jane pensava sobre as conversas que havia tido com o sereia, foram tantas oportunidades deixadas para trás, eles poderiam ter se entendido a muito mais tempo. Simon havia retirado as garrafas de sua estante, mas ela queria muito ter uma boa quantidade de rum agora.
— Acho que é isso. – Ela disse ao vento. — É provável que ele não volte mais. Enfim conseguiu a liberdade que tanto queria.
O vento soprou forte como se tivesse escutado o que disse a capitã, a caricia sobre seu rosto doeu um pouco e um sentimento amargo subiu por sua garganta.
— Você poderia ter ao menos me dito adeus. Que babaca! – Ela socou a amurada.
Uma onda bateu forte contra o casco do navio e um barulho seco atingiu a madeira do convés.
— Não é nada bonito xingar as pessoas pelas costas, sabia?
Ela não virou o corpo, permaneceu parada como se tivesse sido atingida por um raio.
— Vocês podiam ter ido um pouco mais devagar, foi difícil encontrar o navio. – Ela ouviu som de passos em sua direção, sensações passaram por seu corpo e suas pernas por pouco não fraquejaram. — Elas estão bem, as sereias, demorou bem menos tempo do que da última vez. Provavelmente ficaram um bom tempo sem ir às bruxas, como foi comigo.
Ele estava bem próximo dela, ela podia sentir seus pelos se arrepiarem, gotas de chuva começaram a cair sobre seu rosto e o vento bagunçou seus cabelos.
— Jane, vai continuar de costas para mim? – Ele aproximou-se um pouco mais, tocou os ombros dela que se enrijeceram, deslizou as palmas até mais embaixo e envolveu seu corpo num abraço. — Eu senti tanta falta de você. – O sereia afundou o rosto no pescoço de Jane. — Estou de volta, eu demorei muito dessa vez, mas agora eu estou de volta.
Havia muita coisa passando pela cabeça dela agora, muitos pensamentos, muitos sentimentos, muitos quereres. Mas antes de tudo explodir em seu coração algumas coisas precisavam ser ditas.
— Então você não está morto.
— Não. – Ele suspirou um pouco alto segurando a vontade de rir. — Não esperava que a primeira coisa que fosse me dizer seria isso. – Olhando para ela que estava com o corpo tenso, ele se deu conta de algo que se poderia esperar. — Me desculpe, eu fiz você se preocupar.
Ela ficou em silencio, é claro que ela estava preocupada. Desde aquele dia Jane recolhia jornais quando via os barcos Pengornis passando, vez ou outra parava em alguma Ilha Flutuante e perguntava se viram um sereia macho por lá e uma vez quase pulou na água no meio de vários tubarões achando que havia visto Lantis sendo devorado por um. A preocupação era enorme e no meio de um navio pirata ela ficava presa bem no peito da capitã.
— Você está com raiva de mim, capitã?
— Estou. – Ela respondeu rápido demais. — Mas estou mais ainda comigo, porque provavelmente essa raiva não vai durar o suficiente para brigar com você.
Ele reparou que ela segurava a bainha da espada, ela já havia apontado aquela lâmina pra ele uma vez. Ou talvez mais de uma vez, ele não se lembrava desses detalhes agora.
— Não vamos lutar agora, não hoje, amanhã posso te mostrar as coisas que aprendi.
— Você aprendeu muitas coisas enquanto estava longe daqui?
— Algumas coisas.
Ela deixou os ombros penderem um pouco, o vento um pouco úmido soprou entre os dois.
— Isso é bom.
— Imaginei que você também fosse gostar que eu soubesse novas coisas, tivesse outras experiencias. Mas eu estava ansioso para voltar.
— Você não me mandou nenhuma mensagem, nenhum sinal, nenhum nada... Eu... eu esperei por isso.
— Eu não podia, se fizesse alguma coisa e você viesse me procurar... bem, eu só não podia deixar que você se colocasse ainda mais em perigo por causa de mim.
— Mas devia. – Ela disse num tom um pouco áspero. — Você devia ter me deixado saber que estava bem, que sua cabeça ainda estava no lugar, que não tinha sido comido por nenhum tubarão, ou sequestrado por algum humano idiota. Você devia ter pensado que eu morreria se algo acontecesse com você.
— Não vai acontecer de novo. Eu prometo que sempre vou deixar você saber tudo sobre mim.
— Nem sempre eu preciso saber de tudo, só preciso saber que você está bem e se posso esperar que você volte. Se você for ir embora, me diga de uma vez, diga em alto e bom som bem na minha frente, não me faça criar hipóteses malucas sobre isso.
A voz de Jane era dura e fria, mas o seu coração estava quente, saber que Lantis estava bem era muito mais um alivio do que um motivo para brigar.
— Eu posso dizer agora? – Ele pigarreou para que as palavras saíssem com mais clareza. — Eu SEMPRE vou voltar para você. Não importa para onde eu vá, você SEMPRE vai ser minha casa. - A voz dele era tão... tão...ah, ela não tinha mais palavras para ele. Palavras não bastam mais, palavras são só palavras e ele... ele era uma sereia.
— Pensei que você não fosse mais voltar, que iria embora com as sereias. – Não é que ela fosse insensível àquelas palavras, mas havia tanta coisa rondando em sua mente que ser vista como "casa" de Lantis não pareceu fazer sentido agora.
— O que? Mas por que eu faria isso?
— Porque na água é o seu lugar, onde você pertence e não em um navio pirata cercado de humanos o tempo todo.
— Oh, entendo. – Ele aproximou os lábios do ouvido dela e amenizou o tom de sua voz. — Você quer que eu vá embora? É isso que deseja?
Jane tocou as mãos dele envolta de si, fechou os olhos e sentiu a respiração quente de Lantis em seu pescoço.
— O que você acha?
— Não responda minha pergunta com outra, capitã.
— Eu não quero que você vá. Mas só quero que fique se essa for realmente a sua escolha.
— Ótimo, então estamos de acordo e acho que podemos encerrar esse assunto. – Ele beijou o pescoço dela e virou o corpo dela devagar para si. — Finalmente está olhando para mim, capitã. – Lantis tocou o rosto dela deslizando devagar pela pele quente. — Eu estava com tanta saudade de você. — Ele aproximou os lábios de Jane e deixou que eles se tocassem sem pressa, deslizou a língua pela boca dela e sentiu Jane apertar seu corpo contra o dela, as mãos da capitã chegaram até seus cabelos e entrelaçaram os fios em sua nuca. — Eu estou volta, estou em casa. — Ele não se referia ao navio. Seus lábios abriram-se juntos e o beijo tornou-se molhado, misturando vontade com gotas de chuva.
— Por que demorou tanto? – Ela desfez o beijo, sua voz soando ressentida. — Jane deitou a cabeça nos ombros dele, os cabelos de Lantis estavam maiores e tinham um cheiro muito gostoso.
A sensação de Jane em seu pescoço causava arrepios em Lantis, ele segurou a cintura de Jane e apertou a pele com um pouco de força.
— Precisamos conversar. – Ele disse bem próximo ao ouvido dela.
— Eu fiquei preocupada, eu pensei tantas coisas...
— Podemos ir lá pra dentro?
A chuva aumentou a intensidade e Jane o levou para sua cabine, ninguém os viu e ela trancou a porta, queria conversar com ele sem nenhum incomodo. Lantis viu que a cabine estava do mesmo jeito, nada havia mudado ali, a não ser pelas várias garrafas que ficavam na estante.
— Não tenho nada para servir. – Ela respirou fundo fazendo cara feia, o cheiro de Lantis já preenchendo todo o lugar, ele tinha o peito nu e seus novos músculos eram bem evidentes. — Não me olhe assim, Simon tirou tudo desde que você foi embora.
— Eu não fui embora. – Ele disse já sentando na cadeira de frente para onde ela sentou-se também. — Você me viu ir com as sereias, eu só fui deixa-las em um local seguro como foi da outra vez. – Ele passou a mão pelo cabelo. — Eu tive uns imprevistos, é sobre o que precisamos conversar.
Jane se perdeu um pouco naquele movimento, os cabelos de Lantis pareciam maiores e o loiro estava diferente, até seus braços pareciam mais cheios, mais fortes e algo no seu modo de olhar para ela fazia seu coração acelerar ainda mais.
— Seu coração está disparado. – Ele olhou para ela com um sorriso arteiro. — Você está se sentindo bem?
— Já disse para não fazer isso. – Ela tentou disfarçar, mas a garganta estava seca e a voz quase não saiu, havia um sorriso que ela tentou disfarçar. — Eu quero saber o que aconteceu. Primeiro.
— Certo, e depois... – Ele olhou para ela, ela olhou para ele, Lantis sorriu daquele jeito de novo, um jeito diferente de antes e que fazia Jane perder os ar dos pulmões.
— Vá em frente. – Ela disse sem saber para qual das opções.
Lantis queria amaldiçoar Simon por tirar as bebidas daquele lugar.
— O mar está mudando. – Ele dizia devagar. — As correntes do mar estão mudando, as criaturas do mar estão sentindo essa mudança e as sereias...
— São as sereias que estão mudando o mar.
— Sim. Há alguém nos chamando, Jane, eu posso ouvir a voz de alguém nas ondas do mar, na correnteza das águas.
— De quem?
— Nós ainda não sabemos ao certo, mas acho que sabemos de quem é.
— Nós?
— Sim, minhas irmãs e meus irmãos na água.
Jane assentiu e estava surpresa, será que ela também poderia saber de quem era aquela voz? E se fosse de... Não, não poderia ser dela, ela ainda não tinha forças suficientes para isso. Bem, Jane achava que não, mas a verdade só as sereias poderiam dizer e se a voz fosse daquela sereia, então Jane saberia que seus objetivos seriam alcançados mais cedo do que ela pensava.
Ela saiu de seus devaneio quando a voz de Lantis alcançou de novo seus ouvidos.
— Essa voz na água guia as sereias para um só lugar, foi a primeira vez que eu fui até lá.
— Por isso você demorou?
— Por isso também. – Ele sorriu, ainda teria de contar a Jane a segunda parte. — Nós podemos ouvir essa voz, ela canta, Jane, uma sereia sabe cantar desde que nasce e agora nós sabemos disso.
Jane pensou em como seria o canto de uma sereia e faltaram palavras para que ela pudesse perguntar a Lantis qual som o canto de uma sereia teria.
— Se a seguimos o canto chegamos lá, Jane nós chegamos ao Império das Águas, chegamos ao antigo lar das sereias.
A empolgação na voz de Lantis era estimulante, Jane não parecia surpresa pelo destino das sereias, se elas fossem para algum lugar o mais provável seria sua antiga morada. Mas também seria o lugar onde os humanos iriam para captura-las.
— Sua casa.
Ele abriu a boca e pegou a mão de Jane por cima da mesa.
— O lar das sereias. – Ele acariciou as mãos dela.
— Eu sinto muito, Lantis. Os humanos saquearam o lugar, destruíram tudo, as coisas das sereias, seus tesouros foram espalhados por aí.
— Não sinta, eles destruíram somente aquilo que podiam ver, existe muito mais debaixo da água e muito mais dentro de cada sereia. Nós vamos reconstruir tudo.
Ela sorriu, ficou aliviada e feliz com a empolgação na voz de Lantis.
— E se algum dos homens que capturam as sereias verem vocês lá? É perigoso.
— Gostaria de ver eles tentarem. – O jeito como o semblante de Lantis fechou, o modo como suas palavras saíram sombrias fez um sorriso brotar nos lábios de Jane. As sereias estariam reagindo então?
— Muitas sereias estão chegando, elas vêm de vários lugares, algumas nunca foram a Ilha das Bruxas e as que ficaram sem ir por muito tempo e de alguma forma conseguiram fugir para o mar chegam lá desnorteadas.
Jane pensou um pouco.
— Essas sereias passaram por mãos humanas, elas se lembram do que aconteceu, assim como você?
— Sim, não esquecemos. Mesmo depois de passar pelas bruxas, tudo o que passamos com os humanos nós lembramos. Quando a maldição das bruxas vai embora tudo fica ainda mais nítido.
— Não sei se isso é bom ou ruim. Perder uma parte de sua história seria algo terrível, mas se lembrar de tanto sofrimento deve ser avassalador.
— Nem eu sei o quanto isso ainda nos afeta.
— Se as sereias quisessem se vingar dos humanos, não acho que poderia culpá-las.
— Não queremos. Bem, pelo menos a maioria de nós não quer.
Ele não havia desviado o olhar de Jane nem um minuto e percebeu que ela mudou o semblante depois de ouvi-lo, ela sabia que a possibilidade de um grupo de sereias querer se vingar era grande e era preocupante.
— Uma vingança só iria gerar mais uma guerra e já estamos fartos das consequências de uma guerra.
Jane assentiu.
— Muitas sereias ainda estão em mãos humanas, muitas ainda sofrem com as coleiras de ouro. – Ela disse encarando o sereia.
— Não será assim por muito mais tempo, acredite.
— Eu acredito, é por isso que eu luto todo esse tempo, por isso eu quero juntar as pérolas.
— Bem, sobre isso... – Lantis soltou a mão de Jane e abriu a sua palma. Num instante ela estava fazia e noutro havia uma pérola ali.
— Você não devolveu da última vez? – Jane olhou para a caixinha na estante, tinha certeza que Lantis havia devolvido a pérola.
— Sim, eu vim até o navio e deixei a pérola aqui, não queria que você pensasse que eu tinha levado ela embora.
— Essa é outra.
— Sim, foi por ela que eu também demorei um pouco mais.
— Lantis, como você?
— Se você soubesse onde eu estava, se soubesse o que eu estava fazendo, você teria vindo atras de mim. Eu não podia te dizer o que estava acontecendo, mas você se preocupou comigo e se sentiu mal. Me desculpe por isso, Jane.
— Onde você conseguiu a pérola?
— Em Kandramar.
— O que? Isso não faz sentido.
— Só não faz sentido porque você ainda não ouviu a história. Kandramar não é o que todos pensam, existem seres lá, muitos seres e eles estão esperando.
— O que quer dizer com isso?
— Eles estão esperando por alguém, foi o que Ella me disse.
— Ella?
— Sim, ela não é a rainha deles, mas é alguém que os guia.
— Eu preciso muito de uma bebida.
Lantis sorriu e abraçou Jane, ele estava mais alto e seu queixo ultrapassou a cabeça dela. Jane afastou-o devagar e tocou as pontas do cabelo dele que pendiam no ombro.
— Você está diferente.
— Eu sei. – Ele tocou o rosto dela. — As sereias que estão na água também estão assim. Parece que estamos voltando para o que realmente somos, essa é a nossa aparência de verdade. Pelo menos das sereias que são filhas de Ellyn.
Jane pareceu não entender o que ele havia dito, Lantis mostrou a mão para ela e indicou os dedos.
— As sereias tem muito em comum com os humanos, nós não somos todos iguais. Eu conheci outras sereias, sereias que são diferentes e elas também ouviram a voz cantando na água. Elas nos chamaram de Filhos e Filhas de Ellyn e disseram que são Filhos e Filhas de Azah.
— Azah!
— Exatamente, e assim como Azah elas têm os cabelos negros como o fundo do mar.
Jane estava encantada. Nunca havia ouvido dizer que existiam outras sereias que não fossem parecidas com Lantis.
— Elas também nos disseram que existem outras sereias e até mesmo sereias que mergulham e nadam, mas não possuem caudas. Jane nós somos muitos e estamos em muitos lugares, não só neste continente, estamos em todos os lugares.
Jane levantou-se da cabeira e foi até Lantis, tocou o queixo dele com a ponta dos dedos e ele direcionou a cabeça para ela, Jane tocou as maçãs do rosto dele, suas orelhas e suas sobrancelhas e ficou olhando para ele com um sorriso.
— Eu estou tão feliz por você e também estou muito orgulhosa de você. Você teve tantas experiências por conta própria, você está mesmo diferente agora.
— Eu também estou. – O polegar de Jane deslizou pelo lábio de Lantis enquanto ele falava. — Eu também estou muito feliz por ter visto tudo aquilo.
— Você mudou. – Os olhos da capitã corriam por Lantis, iam devagar de um ponto ao outro admirando cada pedacinho dele. O sereia quase podia sentir sua pele queimar por onde ela passava e assim como o olhar dela percorria o corpo dele, assim ela também fazia com as mãos e Lantis precisou segurar – de leve, o pulso dela quando ela chegou um pouco acima de sua calça.
— Faz cocegas. – Ele riu.
Os cabelos loiros desbotados agora eram quase prateados cor de lua e os cílios acompanhavam, os olhos eram azuis e intensos, a pele branca era viçosa e macia, os lábios carnudos e muito sedutores. O rosto de Lantis era simétrico e seus ombros eram largos com músculos evidentes por todo corpo. A beleza das sereias era utópica, irreal, como as histórias das fadas que as mães contavam para as crianças. Mas as fadas tinham sido extintas a muito tempo e as sereias permaneciam entre os homens.
— Você não gosta?
— Isso seria impos...
Ela não pode terminar a palavra, ele puxou-a para seu colo e sua boca foi tomada pelo beijo de Lantis. As mãos de Jane passearam por suas costas e a pele do sereia estava quente, os cabelos de Lantis tocavam as pontas de seus dedos e ela gostava da sensação. Jane arfou quando ele segurou em sua nuca e de alguma forma tentou traze-la mais para perto.
— Vou terminar a história mais tarde.
Lantis ainda segurava Jane, os olhos dela pareciam molhados, suas bochechas estavam coradas e sua respiração muito ofegante, os lábios dela entreabertos avermelhados pelo beijo. Ela desviou o olhar da boca dele para os olhos e Lantis sentiu seu corpo arder e arrepiar ao mesmo tempo. Ele era uma sereia, mas sentiu-se como um lobo frente a uma ovelha.
Lantis levantou-se da cadeira, as pernas de Jane entrelaçadas ao redor de sua cintura e o beijo não parou até que chegou a cama, ele sentou-se ali com ela ainda em suas pernas. Lantis tirou o casaco que Jane usava e ainda estava úmido pela chuva, desabotoou os botões da camisa dela e erguendo o tecido a deixou sem ele. Embora Lantis ainda fosse o mesmo de sempre, suas ações tinham mais coragem e mais urgência e entre beijos e suspiros Jane ficou nua em seu colo. Ele deixou pequenas marcas de dentes em seus ombros, elas não ardiam, mas estavam pegando fogo em sua pele, Lantis beijou seu pescoço e desceu até seu colo demorando um tanto de tempo naquela parte.
— Seus seios são macios.
Jane não teve tempo de responder já que sua boca foi novamente preenchida com a língua quente de Lantis, o beijo do sereia nunca foi tímido e agora mais do que antes era muito excitante. Intensamente excitante e Jane queimava de dentro pra fora e sentia o mesmo calor vindo do sereia.
— Por que você ainda está com essa calça idiota? – Ela disse segurando o cós da calça dele.
Lantis sorriu na boca dela e no minuto seguinte já tinha se livrado daquele pedaço de pano ridículo. Jane ajudou-o um pouco e logo estava de volta ao mesmo lugar, afundou o rosto no pescoço dele e sentiu o cheiro do sereia. Ele tinha um perfume natural, parecia com sândalo e mar e fazia o coração de Jane saltar as batidas.
— Eu gosto de ouvir seu coração disparar.
Ela encarou o par de olhos azuis, desistiu de brigar com ele sobre isso.
— Pois se acostume, sempre acontece quando estou com você.
— É música para meus ouvidos. – Lantis mordeu devagar o lábio inferior da capitã.
Ele ajeitou Jane em seu colo e ouvia a capitã suspirar, ele próprio arquejou algumas vezes, suas bocas não conseguiam ficar muito tempo separadas e logo estavam se beijando outra vez, os intervalos entre os beijos eram apenas para os sons provocantes saírem molhados de suas bocas. Jane deslizou as mãos pelos braços dele, seguindo dos ombros até os pulsos e entrelaçou seus dedos.
— Você está mais forte.
— Estou, percorri muitos quilômetros no mar, nadar me deixa mais forte. – Ele dizia enquanto descia beijos da boca até o pescoço de Jane.
— Sei...
Ela apertou os dedos nos dele quando num movimento ele levantou um pouco mais o corpo dela, com a outra mão apoiando as costas de Jane, Lantis trouxe o corpo dela mais perto do seu antes de seguir com mais vigor. Ela apertou os lábios, sem forças para reagir ela seguia guiada pelo sereia. Lantis ocasionalmente abria os olhos para ver Jane, como lenha na fogueira ela o ascendia ainda mais e o jeito como ele se movia torna-se cada vez mais profundo. A noite não durou tempo suficiente e os dois só saíram da cabine no outro dia quando o sol estava alto no céu.
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