Capítulo 41 - Realmente a verdade doí II
Phillip era divertido, inteligente, bonito onde destacavam-se os olhos fugazes e a voz sóbria. Priyanka o conhecera quando Priya entrou em sua vida e ela não sabia lidar com nada que dizia respeito a sereias além do que as pessoas a sua volta já faziam que era acorrentar seus pulsos e adorna-las com coleiras de ouro e pedras preciosas. O estudioso rapaz foi apresentado a ela pelo falecido Sr. Cordel um dos membros da Aliança do Leste que assim como a Imperatriz era um homem que apoiava a ciência e a verdade. Com objetivos próximos tanto Priyanka como Phillip afeiçoaram a ideia de cooperarem nos estudos sobre as sereias e com o tempo surgiu entre eles uma amizade saudável e sólida. O rapaz visitava o Império Leste com mais frequência do que o Oeste, onde nascera, e nenhuma vez deixou de passar pelo Palácio de Cristal mesmo que não tivesse novas informações para a Imperatriz. Algumas más línguas poderiam dizer que os dois tinham um caso, outros poderiam dizer que Phillip aproveitava o status maior de Priyanka, e tantas outras maldades que as línguas afiadas gostam de inventar, mas a verdade é que eles eram bons amigos e Phillip não tinha interesse em nenhum outro ser que não fossem as sereias.
O rapaz disse a Priyanka, enquanto tomavam chá naquele dia, que sua viagem ao Império Leste era por um motivo a mais do que ela supunha e a sua pequena sereia estava inclusa nele.
Desde o início Phillip sabia que Priya nunca seria levada a Ilha das Bruxas e a própria Priyanka pediu a ele várias vezes que lhe ajudasse com a sereia no início de seus impulsos violentos. Phillip sempre interessado nos desafios lógicos e racionais pesquisou dia e noite e nada havia encontrado para sanar de vez a hostilidade da pequenina, até que um dia numa das cartas que recebeu de Priyanka estava escrito o quanto a pequena estava mudada "de um dia para o outro". A Imperatriz dizia-se absurdamente feliz e realizada e contava como Priya era carente de carinho e atenção, como ela sempre sorria e estava sempre disposta a fazer as coisas que Priyanka mais gostava. Phillip achou aquilo extraordinário e viajou dias entusiasmadíssimo para ver de perto o progresso da pequena sereia, queria saber tudo pelo que ela havia passado, todas as coisas "sereísticas" que ela poderia acrescentar em suas pesquisas e o sorriso largo do rapaz poderia facilmente tomar toda sua face tamanha sua excitação. Pois ficou foi frustrado quando chegou até o Palácio e viu uma sereiazinha linda, sorridente, muda, subserviente e usando uma roupa cara como todas as que ele já tivera visto antes nas casas dos nobres que visitava.
De certo ele esperava que uma sereia que aceitou viver entre os humanos por conta própria fosse mais enérgica, que contasse a ele sobre seus sentimentos reais, que lhe dissesse coisas sobre o mundo das sereias que ele nunca houvera pensado – as tais coisas sereísticas e ele esperava preencher um caderno inteiro com várias anotações sobre ela. Ora, ele havia até mesmo criado uma nova palavra só para este momento. Desanimadamente, ele não escreveu nem mesmo meia dúzia de palavras até o final da visita.
Com o passar dos anos Phillip aprendeu muitas outras coisas sobre as sereias e seu comportamento, e entre tudo o que mais achava estranho era Priya não proferir nenhuma palavra, exatamente como as sereias que haviam sido levadas as bruxas o faziam. Era uma coincidência muito peculiar que ele amontoava junto das outras que havia percebido. Ora, ela não era muda de nascença já que antes dessa "milagrosa transformação" ela gritava em alto e bom som e não havia nenhuma sereia sequer que fosse muda por alguma patologia já que sereias não adoeciam, então por que ela não falava? Dentre muitas dúvidas essa era a que mais o intrigava. Conhecia algumas sereias selvagens que foram capturadas por piratas e caçadores e todas elas eram capazes de gritar com eles não sendo nada passivas. Na verdade, os relatos dos caçadores sempre deixavam Phillip bastante interessado já que dificilmente ele encontrava-se com sereias que não houvessem passado pelas bruxas. Os caçadores diziam que as sereias gritavam como se suas gargantas fossem estourar e apesar de fazerem somente isso, ainda assim era algo aterrorizador que exigia deles grande concentração na tarefa ou começavam a gritar e chorar junto com as sereias. Isso algumas vezes acontecia e esses caçadores nunca mais eram os mesmos.
Então aconteceu de ele estar na Ilha Liberdade naquela noite em que conheceu Jane e viu o modo como Lantis agiu com ela, soube depois que este sereia havia passado pelas bruxas há muito tempo e que o efeito do feitiço podia estar dizimando e ficou muito interessado em tudo relacionado a ele. O modo como aquele sereia agiu naquela noite era o mínimo esperado por ele de uma sereia que não houvesse passado pelas bruxas, com alguma vontade própria. Certamente depois de muito pesquisar ele havia chegado à terrível e já esperada conclusão que disse a Priyanka e que ela achou tão absurda: sua sereia havia sido enfeitiçada pelas bruxas.
A Imperatriz ficava longe do palácio duas vezes por ano no mínimo e era um período longo considerando a viagem de ida e volta, um dos servos poderia pegar a sereia e leva-la a Ilha nesse intervalo de tempo. Afinal nenhum deles aguentava mais os gritos da pequena e as dores estampadas no rosto de Priyanka que sofria por desolação. Phillip pensava nessa e noutra possibilidade e de nenhuma das duas a Imperatriz iria gostar.
E foi o que aconteceu. Priyanka quase esqueceu-se da amizade que os unia, Phillip nunca a viu tão irada como na primeira vez que ele mencionou a possibilidade, o semblante calmo e pacifico da Imperatriz foi transformado em feições coléricas.
— Retire o que disse. – Ela ordenou depois de coloca-la sobre o carrinho. A xícara perolada com ilustrações de garças em pleno voo tilintou ao contado com o pires.
— Mas, minha senhora, pense junto comigo, sei que a sua inteligência não é mediana e que alguma vez já deve...
— Sr. Kurthler, – Foi nessa hora que o rosto dela pareceu tomado por algum espírito vingativo tamanha era a impossibilidade das palavras que o rapaz proferia. — Retire o que disse ou nunca mais terá permissão de entrar neste palácio ou de dirigir qualquer palavra a mim novamente. O que o senhor está alegando é uma ofensa as normas de família que foram estabelecidas entre mim e meu amado marido. Nós prezamos pela sinceridade, honestidade e confiança e Khan jamais permitiria que Priya fosse levada para longe de seus olhos tampouco ele mesmo agiria com tanta brutalidade, imoralidade e desamor por mim como o senhor pode estar insinuando. Se o senhor convive com pessoas de má índole em quem não pode confiar, eu lhe peço que não nos misture no mesmo balaio pois aqui neste palácio, em nossa família, as relações que prezamos são baseadas na certeza que temos um no outro. Ele vive por mim assim como eu vivo por ele, nós somos um e não há nada que ele faça pela nossa família que me desagradaria. – Apesar da voz de Priyanka manter-se calma em toda conversa havia algo em seus olhos que denunciava o espírito da Imperatriz. Diziam que Priyanka era como um lago calmo e sereno, mas Phillip pode ver o que aconteceria se o lago ficasse agitado demais. — Tire esta hipótese da cabeça ou não será mais meu amigo.
Depois desse dia o assunto não mais fez parte das pautas de conversas entre os dois, mas Phillip era um cientista e como todo estudioso não iria deixar um hipótese morrer à mercê das vontades alheias, ainda que fosse a vontade de uma Imperatriz. O cadernos com as anotações sobre Priya começou a ser preenchido com tudo o que ele poderia utilizar em seus estudos e a hora de provar a verdade a Priyanka com certeza iria chegar. Seja a verdade que fosse, ele iria descobrir o que fazia Priya ser igual as outras e ao mesmo tempo ser tratada como se fosse diferente.
Até que ele encontrou o momento certo.
— Minha querida e bondosa Imperatriz. – Foi o que Phillip lhe disse no dia anterior a viagem para Império Norte junto do Rainha do Mar. Ele estava para subir a bordo do navio e despedia-se de Priyanka com a possibilidade de ser para sempre. — Eu não trabalho com sentimentalismo barato e nem com hipóteses fantasiosas. – Sua expressão era calma, não havia sorriso em seus lábios, mas sim alguma tristeza no tom que usava. O receio pela atitude de Priyanka era real, mas ele não deixaria de expor a verdade por isso. — Veja bem, – Ele mostrou a Priyanka anotações em um caderno de capa branca totalmente dedicado as anotações sobre Priya. — Desde sempre eu venho aqui e examino a pequena todas as vezes e posso garantir que ela é uma sereia comum como todas as que eu já examinei em todos esses anos, mesmo que pra você ela seja única e especial se comparada as outras ela é ordinariamente normal. Nesses anos venho comparando as reações dela com as das outras sereias que também sou chamado a examina e estudar, – Priyanka o olhava com tranquilidade, ele estava seguro de suas palavras. — A senhora sabe que muitos donos de sereias me comparam aos médicos das pessoas e diariamente casos e mais casos brotam em minhas anotações. E de todos os casos que já presenciei o único que me chamou a atenção foi aquele do sereia macho na Ilha dos piratas que já mencionei, por este motivo foi que pedi prudência quando se trata dos assuntos relacionados ao Alma Negra e sua capitã. Tendo colocado este ponto, minha queria amiga Priyanka, – Ele tocou-lhe os ombros rígidos numa aproximação que era estranha aos outros, mas comum entre eles. — Sejamos francos e por favor não zombe da minha inteligência como eu não zombo da sua: acha mesmo que a pequena sereia passou a amar a senhora de um dia para o outro sem que nada houvesse interferido? Que toda aquela raiva que ela mostrava se foi como num piscar de olhos? Não acha estranho esse sentimento tão repentino? Não passou pela sua cabeça nenhuma vez sequer que há algo de errado nessa história? Por que para mim há, e não creio que não tenha pensado nisso pelo menos uma vez nesses anos todos.
Um dos marinheiros avisou Phillip que o navio estava prestes a partir, ele não deixou de manter contato visual com Priyanka em nenhum momento depois de dizer aquelas palavras. Ela não lhe disse nada.
— Não peço nada demais, apenas faça perguntas. – Phillip disse a ela. — Aquelas que você sempre faz e já sabe as respostas. Tenho certeza que estas respostas sairão como se fossem ensaiadas e ordene, pois, sei que ela não ferirá nenhuma ordem sua, comande para que ela não minta e no final pergunte a ela o que realmente quer saber, se eu estou um pouco certo em minhas ideias, ela não será capaz de dizer que foi levada, as sereias não conseguem dizer isso e eu ainda não entendo o motivo, mas a senhora saberá que ela mente. Eu sei que há um modo com que vocês duas se comunicam, use este método e tire suas próprias conclusões.
— Isso é absurdo.
— Então faça com que eu realmente acredite que é um absurdo e me mande uma carta dizendo que eu estou errado e que nunca mais serei bem-vindo ao Leste, meu coração terá alegria misturado a tristeza por não ser mais bem vindo a sua casa, mas também em saber que sua sereia a ama de todo o coração e que aqueles belos sorrisos não são frutos de ensaios teatrais.
Ambos ficaram em silêncio e Phillip novamente foi chamado a subir a bordo, dessa vez havia urgência no chamado, o navio iria partir com ou sem ele.
— Com licença, Imperatriz Priyanka. – Ele curvou levemente o corpo para frente em sinal de respeito e foi embora. Fosse ou não ainda considerado como amigo dela, ao menos ele havia dito o que era necessário e isso para ele era considerado como um ato de amizade.
Sinceramente, Priyanka detestava toda aquela situação, ao voltar para o palácio de Cristal refletiu sobre o que Phillip havia lhe dito e ainda que o amigo parecesse muito sensato ela não poderia acreditar em nada contrário do que Khan havia lhe dito. Sua pequena sereia era única e especial porque era uma sereia que vivia entre os humanos por livre vontade e não cheia de amarras como Phillip podia supor. Ao chegar ordenou que desmarcassem todos os seus compromissos para aquele dia e deixou claro que não receberia ninguém, o dia do lado de fora passou rápido demais e Priyanka não parou de pensar sobre tudo aquilo. Foi então que ela se encontrou com Priya e tudo aconteceu. Depois que Priya respondeu o "não" com os olhos arregalados e a boca ficando assustadoramente aberta como se quisesse gritar a verdade, Priyanka a abraçou e segurou o choro. Pediu que a colaboradora ficasse com a sereia e se retirou para seu quarto, precisava retomar os pensamentos sem que sentimentos tomassem mais posse de sua inteligência do que já houvera feito. Na hora do chá juntou-se a família feliz, Priya e Khan foram os últimos que ela viu antes de se retirar para seu gabinete particular e ficou lá até a noite chegar, pouco comeu e menos ainda falou, reparando em como Priya agia com ela e com Khan. Ela era linda e fofa como uma boneca de porcelana, exatamente como uma marionete linda cheia de fios sendo guiada pelos atos e falas de alguém que a comandava. Os colaboradores apenas serviam chá em seu gabinete e logo saiam do ambiente deixando a Imperatriz com sua mesa repleta de anotações com a letra de Phillip, ela não conseguia sequer olhar para seus colaboradores, eles eram pessoas que ela confiava e algum deles havia feito algo terrível a sua queria Priya.
Ela lia tudo o que o amigo lhe deixara e cada vez mais uma cortina se desfazia de seus olhos, ela estava tão cansada, seus olhos ardiam e ela não aguentava mais. Como ela diria tudo isso a Khan? Como acusaria um de seus colaboradores de algo tão violento? Priyanka estava decepcionada consigo por não falar logo com Khan sobre isso, mas ela precisava ter mais do que idéias antes de possivelmente enviar alguém à forca, porque era claro que Khan não suportaria viver no mesmo mundo com alguém que fizera tão mal à sua filha! E Priyanka não poderia negar a ele essa justiça, era o feito para defender sua família, para defender Priya e ela mesma, para que as pessoas soubessem que a família Imperial não tolera mentiras em seu meio. Por fim ela não aguentava mais, precisava ir descansar, tocou o sino dourado e uma das moças apareceu, seus olhos estavam um pouco inchados e ainda úmidos.
— Não farei a refeição da noite na sala de jantar, peça que preparem algo leve e deixe no meu quarto antes de ir dormir.
A colaboradora era uma jovem de pele morena, era muito parecida com as demais meninas do Império, ao menos de uma parte dele já que ela não tinha os olhos "puxadinhos". A jovem abaixou a cabeça e com as mãos junto ao corpo se retirou do gabinete, pouco tempo depois outra moça de igual idade disse que a ceia a aguardava em seu quarto. Priyanka agradeceu, mas seu rosto estava endurecido como um mármore e a moça saiu tão triste quanto a anterior. A Imperatriz não demorou muito para sair, no entanto, antes de Priyanka se retirar para seu quarto uma das colaboradoras passou um bilhete por debaixo da porta. Ela estava em sua mesa quando ouviu batidas na porta e viu o papel sendo empurrado para dentro do cômodo, ela recolheu o papel e abriu a porta, logo o corredor estava vazio de novo. Priyanka franziu a testa, a letra parecia tremia como se a pessoa estivesse com muito medo, na frente dizia "Leia quando estiver sozinha." Bem, ela já estava sozinha, mas o que aquilo queria dizer? Que ela não poderia abrir o papel perto de outros colaboradores? Priyanka pensou que alguém estaria delatando um dos amigos, alguém deveria ter percebido pelo que ela estava passando, pelo que ela estava procurando saber e lhe contaria quem era o responsável. Talvez fosse a colaboradora que cuidava de Priya, ela era a mais próxima deles... mas Priyanka não iria pensar sobre quem escreveu o bilhete agora, o mais importante deveria ser seu conteúdo. Ela voltou a sua mesa e respirou fundo depois de sentar, abriu o bilhete com cuidado e as letras trêmulas de fora eram iguais a de dentro, no bilhete estava escrito "Olhe dentro da moça com a cesta". Priyanka achou aquilo muito estranho e seu coração disparou mais uma vez. Mas a Imperatriz não esperava mesmo receber um nome de imediato, afinal, aquelas palavras poderiam levar alguém a morte. Demorou apenas alguns segundos para ela se lembrar de um quadro que ficava no gabinete particular de Khan, a pintura era de uma garota de uns dezesseis anos segurando uma cesta com várias frutas do Império Leste, não era nada demais, o quadro houvera sido presente e Priyanka nem se lembrava de quem.
Priyanka foi até o gabinete de Khan e parou em frente ao quadro encarando a menina de olhos castanhos a sua frente. O quadro olhava-a como a peça vulgar que era, a Imperatriz deu alguns passos em direção a ele e segurando-o com as duas mãos o retirou do lugar. Não foi nenhuma surpresa ter um cofre ali, na verdade era o esperado. Contudo Priyanka não se lembrava de Khan tê-lo mencionado.
— O que ele poderia guardar aqui sem que pudesse me dizer? – Ela sussurrou pensando falar apenas consigo, no entanto Khan estava parado no batente da porta.
Ele aproximou-se e ela virou em sua direção quando ouviu o som de seus passos. Os dois se olharam por um instante.
— Meu querido esposo, – Ela disse com apatia. — Abra este cofre pois quero ver o que tem dentro dele.
Não havia nada que ele pudesse dizer, ambos sabiam que Priyanka não sairia dali sem que o cofre estivesse aberto e o que quer que ali estivesse fosse exposto.
Poderiam ser joias, mapas, documentos diversos e nada faria com que Priyanka ficasse triste ou magoada com ele. Isso era verdade, Priyanka entenderia qualquer coisa que fosse.
Khan retirou uma chave feia de dentro da roupa, o lugar era bem escondido como esperado da chave de um cofre. Quando a porta foi aberta havia somente uma caixinha dentro do cofre, era bonita e delicada.
— Priyanka...
A Imperatriz fez uma cara de dúvida e retirou a caixinha do cofre, pôs por cima da mesa de trabalho de Khan.
— O que está esperando, meu amado, abra.
— Eu só espero que saiba que tudo o que fiz foi por meu amor a você.
Priyanka estava tão confusa que estava tremendo, seus dedos estavam frios e ela os apertou dentro das mãos. O que aquilo tudo tinha haver com sua procura sobre a verdade em Priya? Bem, poderia ser que não houvesse nada e que a colaboradora houvesse se enganado, mas então, por que o coração de Priyanka batia tão desesperado?
Havia uma tranca que logo foi aberta. Não que Khan quisesse ter feito isso, mas naquele momento não havia outra alternativa. Ela não iria aceitar nada que não fosse isso.
Ela tirou da caixinha o único objeto que tinha ali dentro: uma tornozeleira argolinhas de ouro penduradas.
Priyanka sentiu o chão sumir de seus pés, ela pôs o objeto de volta como se ele a enojasse e teve realmente que conter o impulso de vomitar. Uma onda de pensamentos invadiram sua mente e ela não podia suportar, os dias que havia passado ao lado de sua família eram uma mentira tão grande que Priyanka sentiu a cabeça rachar.
— Saia daqui... – Ela disse. — Saia agora.
Khan tentou dizer alguma coisa que foi cortada ao meio.
— Saia! – Dessa vez ela gritou. Talvez fosse a primeira vez que gritava com ele.
Ela viu a costas de Khan sair pela porta do gabinete, deu a volta na mesa e sentou na cadeira que compunha o luxuoso conjunto de moveis. Encarou a caixinha aberta e sentiu as lágrimas rolarem quentes por seu rosto.
O sentimento fazia doer os seus ossos. Uma das maiores certezas que ela tinha havia sido debulhada e jogada ao vento. A confiança e o amor que sentia por Khan foram arrebatados de seu coração, ela sentia raiva, remorso e solidão, sim porque acreditava que Khan compartilhava com ela o repúdio pela Ilha das Bruxas e o que era feito com as sereias, mas agora sabia que ele havia levado a filha até lá. Não haveria desculpas, Khan poderia fazer uma lista de motivos que o levaram a cometer o que a Imperatriz considerava um crime e ela não iria perdoa-lo.
Foram anos compartilhando sorrisos e momentos de felicidades que agora ela sabia eram falsos. Tantas memórias dos sorrisos de Priya que poderiam ser facilmente substituídos por choros e lamentos da pequena sereia presa numa casca feliz imposta para satisfazer a sua vontade.
Priyanka não saberia dizer quanto tempo ficou ali com suas lágrimas lhe fazendo companhia, levantou-se da cadeira quando o cheiro de Khan pelo ambiente tornou-se insuportavelmente enjoativo. Ela foi para seu quarto individual e levou consigo a caixinha dourada.
As colaboradoras ajudaram-na a pôr a roupa de dormir, não disseram nada sobre a nuvem sombria que pairava sob a Imperatriz. Priyanka as encarava pensando se fora uma delas que lhe alertou sobre o quadro.
— Ha quanto tempo sabiam que Priya era levada a Ilha das Bruxas? – A Imperatriz inquiriu enquanto as jovens meninas arrumavam sua cama.
As três pararam de repente, não ousaram levantar o rosto em direção a ela, mas seus olhos de caranguejo passeavam pelos rostos umas das outras.
— Parece que apenas eu não sabia. – Constatou. — Saiam, me deixem sozinha.
As meninas não ousaram desobedecer e mesmo o serviço não tendo sido concluído elas correram até a porta. Antes de fechar uma delas parou no batente.
— Nós... – Sua voz era abafada, medo, culpa e um bom tanto de vergonha. — Nós queríamos dizer, mas ele nos ameaçou. Disse que cada um desse palácio pagaria muito caro se a senhora soubesse... Nós tivemos medo senhora e sentimos muito pela nossa covardia.
Priyanka não disse nada embora soubesse de quem era aquela voz. Uma garota jovem que fora apresentada por um dos reis do Leste, ela vinha de boa família e embora não fossem pobres ainda viviam de favores. A Imperatriz sabia que o poder de seu marido podia ser bastante cruel com o povo que não seguisse sua cartilha e se arrependeu e ter dado a ele tanta autoridade.
Priyanka deitou sobre a cama, não haviam mais lágrimas em seu rosto, havia muito o que pensar e não tinha tempo para mais desolamentos. O que havia chorado no gabinete de Khan deveria bastar para consolar seu coração, agora haviam decisões a serem tomadas e o lamento deveria esperar mais um pouco.
Não passou muito tempo quando Priya apareceu batendo na porta querendo entrar como um animalzinho a procura do dono. Priyanka não era capaz de dar-lhe atenção agora, mas menos ainda a deixaria passar a noite na soleira da porta do quarto.
— Meu amor, – Priyanka disse ao encarar o rosto sorridente da menina, um sorriso teatral e impecável que antes regozijava o coração da imperatriz. — Hoje estou muito cansada. Vá dormir em seu quarto, está bem?
E como o animal bem adestrado que era a pequena sereia sorriu e caminhou para o cômodo que lhe pertencia.
Priyanka fechou a porta devagar qualquer movimento custando o dobro de seu esforço. A cama convidativa aconchegou seu corpo e a luz foi apagada com um sopro.
Naquela noite houveram apenas pesadelos, em seu sono uma sereiazinha segurava em seus pés, outra em seus braços, mais duas em seus cabelos e a puxavam para dentro do mar enchendo seus pulmões de água pesando seu coração de culpa, ela não reagia e deixava seu corpo afundar nas profundezas de um mar azul.
Olá <3
Enfim Priyanka descobriu o motivo que fazia sua pequena sereia ser tão obdiente e docil a ela! Será que foi surpresa para alguém?
Espero que tenham gostado!
Logo teremos mais Alma Negra por aqui ... ou o que sobrar dele ;D
Beijoooooossss
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