Capítulo 4 - Mais uma tempestade no mar
Durante anos havia apenas tempestades no céu e ninguém sabia onde Ellyn estava, a irmã de Azah havia afundado junto ao Império da Água. As sereias pereciam desoladas, outras eram capturadas e trancadas em celas e muitas eram mortas e jogadas de volta ao mar.
Em terra a dor das mães era inconsolável, elas gritavam com os corpos dos filhos nos braços, viúvas e órfãos vagavam sem rumo deixando um rastro de lástima por onde passavam, o céu escuro estava sempre lá, anunciando água por todos os lados.
O sol estava quente naqueles dias, o verão impiedoso castigava os piratas que pingavam suor e esfregavam o convés do navio, eles distraiam-se cantando sobre mulheres de seios fartos e corpo volumoso, sobre suas casas e os homens que haviam matado. A cantoria alegrava o ambiente e mesmo os carrancudos participavam. Entre uma música e outra, eles gostavam de fazer fofoca e a chegada do sereia deixava grande abertura para especulações e opiniões sem fundamento. Eles diziam sobre a cor de seus olhos, descrevendo-o como "dois abismos que levam ao demônio" ou sobre o tamanho de suas genitais, desafiando um ou outro a ir dar uma olhada. O sereia era motivo de chacota entre eles que preferiam julgar o desconhecido e deleitar-se em suposições e apostas que ninguém ganhava. Vira e mexe tinha algum pirata frente a cela do sereia, era insuportável como eles não conseguiam deixar de ir para olha-lo e implicar com ele. E lá estavam os piratas, na cela do sereia mais uma vez.
— Vejam só! - Dizia um deles após um tempo em que o liquido escorria pela pele do sereia. - O corte não está fechando dessa vez!
— Mas que merda, Edgar! Vocês não disseram que ele iria se curar rápido? - Outro vociferava enquanto segurava os braços do sereia atrás de seu corpo.
— Foi o que eu soube! - O tal Edgar estava com a navalha na mão.
— Que se foda! - O pirata soltou os braços do sereia empurrando-o contra o chão.
A aposta era ver quanto tempo demoraria para ver o corte fechar, e quem perdesse esvaziava as latrinas aquela semana, mas eles gostavam de vê-lo sentir dor, de estar no controle. O sereia não gritava, não chorava, não reagia contra eles, ele franzia o cenho e comprimia os lábios suportando a dor. O corte dessa vez era bem profundo, o sague descia vermelho em seu braço e pingava no chão. Eles saíram da cela sem realmente se importar e esqueceram da aposta.
— Se Simon vir essa merda a gente... – Edgar dizia ao subir os degraus para o convés.
— Ele está pouco interessado com o sereia, ele pergunta se ele está vivo e parece que só isso importa. – O outro vinha atrás. – Mas se der problema a gente fala que foi ele mesmo que se cortou. Essas merdas de peixe não pensam mesmo.
Nenhum daqueles piratas iria suspeitar que o corpo do sereia estava fraco demais para recuperar-se sozinho, era custoso para ele até manter-se de pé. Haviam as vertigens e as náuseas que o incomodavam e a cada passo que descia a escada seu coração errava uma batida, sempre pensando que eram mais piratas que vinham judiar dele. No entanto, ainda que demorasse mais, o corpo de uma sereia ainda era o corpo de uma sereia e no outro dia de manhã o corte estava fechado e ninguém saberia sobre aquela noite, ou as demais que seguiam.
Naquela cela ele podia contar os dias, havia uma escotilha de onde ele via o céu e as ondas do mar. O anseio por aquelas águas ardia em seu coração, mas a cada vez que se imaginava dentro do mar uma dor forte e aguda latejava em seu cabeça e o que era para ser um pensamento bom acabava se transformando em tormento. O sereia imaginava que isso era coisa das bruxas.
— Vejam só quem está bem disposto hoje! - O sorriso de Will era de orelha a orelha, um contraste com a cara de insatisfação do sereia. — Você devia tentar melhorar esse humor, não fez bem pra pele ficar todo amargurado assim.
O sereia grunhiu em resposta e virou de costas para ele, as omoplatas bem esculpidas e a cintura curvilínea chamaram a atenção de Will.
— Me diz uma coisa, - Ele segurou a barra de ferro da cela aproximando-se o rosto mais que podia. — Isso que você faz é de propósito?
O sereia não estava entendo o que ele queria dizer e tão pouco estava disposto a querer faze-lo.
— Não que eu me sinta atraído por você, de qualquer maneira, - Passou a mão pelos cabelos loiros. — Eu gosto mesmo é de mulher. Mas eu tenho ouvido uns comentários lá em cima de que você faz isso de proposito e eu queria entender.
E como o sereia continuou em silêncio.
— Entendi, entendi. Você deve ser do tipo que não fala muito. Simon vai gostar de você. - E riu. — Mas se eu puder te dar um conselho, eu diria para tentar controlar essa "coisa" que você tem, é uma péssima personalidade. Você podia tentar ser mais dócil, mais gentil e não cheirar assim tão bem. Os caras não estão sabendo lidar com isso, acho que é por causa desse cheiro que eles fazem essas coisas com você.
O sereia virou-se para ele com olhar raivoso.
— Está dizendo que a culpa por todas essas moléstias é minha?
— Não, não! - Will balançou as mãos frente ao corpo. — Claro que não. Só estou dizendo que se você conseguisse controlar isso um pouco, talvez esses ataques pudessem diminuir.
Aquele dentro da cela olhou pela escotilha e viu o mar azul lá fora, enquanto Will abria a cela e colocava um prato com algo de comer e beber ao alcance das mãos do sereia.
— Eu não sei se é algo que eu possa controlar.
Will acreditou no que ele dizia.
— Entendo. - Ele sorriu grande mais uma vez. — Bem, não se leva em conta as críticas de quem não se aceita conselhos. Você pode só ignorar tudo o que eu disse. - E ia saindo da cela depois de trancar com o cadeado.
— Mas, - O sereia continuou depois de pensar com atenção sobre algo que o loiro havia dito. — Eu também não sei se quero ser mais dócil ou gentil. Eu sempre fui obrigado a ser essas coisas, eu não sei se é isso que eu quero pra mim.
Will ficou olhando para ele de longe, era como ver um passarinho que ainda não sabia como voar e estava na beirada do ninho olhando lá para baixo tremendo de medo.
— Acho que você pode pensar por si a partir de agora e descobrir como deseja ser verdadeiramente. Não precisa se forçar, tome seu tempo. - Ele disse essas palavras com seriedade e logo voltou a sorrir. — Você não tem para onde ir mesmo.
O sereia poderia levar aquilo como um insulto, mas aquilo era tanta verdade que não havia motivo para ficar irritado. A verdade sendo dita e levantada bem a sua frente, descortinando a fumaça que embaçava seu modo de ver as coisas ao seu redor e ver a si. Era disso que ele precisava, da verdade, de saber quem ele era e de entender o seu próprio modo de fazer as coisas.
Os passos de Will subindo as escadas foi ficando mais fraco à medida que ele se afastava, a mente do sereia pareceu ficar confusa e uma voz feminina começou a sussurrar coisas em seus ouvidos. Ele não entendia nada, sua cabeça começou a doer e ele pressionou os ouvidos com as duas mãos. Seu rosto retorcia como se uma dor aguda perfurasse seu coração, como um vidro que trinca e esta prestes a estilhaçar. A voz feminina não estava só, haviam mais vozes e ele começou a achar que iria enlouquecer com aqueles sons.
— Malditas! - Ele gritou. — Saiam da minha cabeça! Saiam, suas bruxas! Saiam!
Não saberia dizer por quanto tempo sua cabeça doeu, o sereia desmaiou de dor sob a madeira fria do navio e só acordou quando o céu estava escuro pela noite.
— Aí, minha cabeça ainda doí. - Ele dizia a ninguém.
Ficou de pé com dificuldade, suas pernas estavam bambas, ele alcançou a comida e a bebida que Will havia deixado ali. Sorte sua ter despertado antes que os ratos tivessem terminado com tudo.
— Pestes! - Ele gritou com dois que saíram correndo em direção oposta. Ora, em um navio haveria de ter ratos, não tem jeito.
O sereia sentou-se ao chão com o prato no meio das pernas, sua mente divagou até antes de estar ali. Antes de ter sido entregue a Markus. Ele vivia em uma casa enorme, não lhe faltavam boas comidas, vestes limpas e caras e seu corpo era coberto com pedras preciosas, brincos em argolas de ouro e suas unhas eram pintadas de lilás. Eles prendiam até arranjos em seu cabelo e lavavam seu corpo em óleo perfumado...
— Droga! - A comida teimou em ficar no estomago e tudo saiu.
A verdade, como Will havia lhe dito bem, era algo que não se podia negar. Estava bem em sua cara, estampada em cada centímetro de sua pele já recomposta de tantas surras: ele preferia mil vezes estar ali jogado naquela cela e saber que era um prisioneiro no navio, do que estar naquela casa mais uma vez. Ali, a incerteza também podia lhe dar alguma esperança, naquele lugar horrível e frio, cheio de ratos ainda havia alguém que vinha perguntar algo sobre ele, mas naquela casa cheia de pompa as pessoas só queriam lhe usar e mostrar aos convidados o quanto elas tinham poder, dinheiro, exibindo-o como se fosse um prêmio caro coberto de joias mais caras ainda. Não, ele preferia entender quem ele era e viver naquela cela daquele navio a ter que voltar a ser um fantoche coberto de ouro em qualquer outro lugar. No entanto, cada vez que pensava esse tipo de coisa a sua cabeça voltava a doer, temendo pela dor excruciante que sentiu, o sereia deixou esses pensamentos de lado e concentrou-se em comer o que ainda havia no prato e manter o que pudesse dentro de seu estomago. Precisava melhor seu estado se quisesse ter forças para suportar aquela dor.
O sol queimava o convés, Victhor ensinava algumas coisas básicas á Will. O primeiro se divertia com a confusão que o outro causava, embolando as cordas em suas próprias mãos. Desde o dia na Ilha, os dois passavam a maior parte do tempo juntos, já que Victhor havia sido encarregado de inserir Will na vida pirata e Simon não tinha paciência para tipos que perguntavam demais, riam demais...
— Então você não tem família? - Willian tinha a franja caindo por cima dos olhos esverdeados.
— É como eu já te disse - Victhor fazia alguns nós e mostrava a ele. Ele era rápido. - Minha mãe morreu cedo e meu pai não tinha muito tempo para desperdiçar com uma criança pequena.
— Você disse que foi um resfriado, não é?
— Que evoluiu para uma pneumonia. – Victhor não demonstrou tristeza ou saudade e Willian pareceu incomodado com isso.
— E você não teve irmãos? - As tentativas com os nós eram falhas, todas elas. Ele podia ser habilidoso com contas, como havia dito antes quando o ajudou com os barris no deposito de cargas, mas com certeza não era bom com coisas manuais.
— Tive quatro. Três homens e uma irmã caçula. - Victhor tinha um sorriso meio de lado, era um sorriso pequeno, mas não era fingido. — Mas eu sou o único vivo.
— Como eu. – Havia amargura nas palavras de Will.
Victhor soube, pelo tom, que aquele era um assunto delicado e lembrou-se do que Markus disse aquele dia quando Will o atacou na taverna. Resolveu mudar o rumo da prosa e começou a tagarelar sobre nós e seus tipos. Will dava-lhe atenção e sorria simpático.
— Como a maioria dos comandos feitos em um navio é manual, é muito importante que você tenha o mínimo conhecimento a respeito deles – os nós.
Will assentiu e o outro continuou com as cordas nas mãos mostrando uma habilidade de dar inveja a qualquer marinheiro.
— Existe um nó que você precisa saber, e que sem dúvida usará muitas vezes aqui no Alma Negra, - Ele fazia movimentos com a corda. - É o nó de cunho, que é usado para amarrar o chicote de um cabo a um cunho. – E num instante o nó estava feito. — Mesmo sendo importante, muitos iniciantes não o fazem da maneira correta, trançando o cabo sem dar muita atenção. - Ele ajeitou os óculos com o pulso já que suas mãos estavam ocupadas. - Mas este, – Ele mostrava. - É o jeito certo de fazer o nó.
— Entendi. – Will tomou um pedaço de corda nas mãos e revirou as pontas, passou de um lado para o outro e no fim, não fez nó nenhum. – Mas que merda!
Victhor sorriu alto.
— Você é muito ruim!
Will sentiu a vergonha nas maçãs de seu rosto, ficou satisfeito pelo sol estar bastante forte e ter a desculpa de ser o calor a corar seu rosto. Com a corda ainda nas mãos de Will, Victhor ajeitou as pontas da corda, esticou e passou uma ponta pela outra, um laço e pronto, o nó estava perfeito. Victhor estava concentrado nos movimentos, para ensinar de forma fácil o novato que observava com muita atenção bastante outras coisas além das cordas que formavam o nó.
—Você tem mãos finas para quem é pirata. - O loiro observava as próprias mãos. - Até as minhas possuem mais calos.
Victhor ajeitou os óculos que estavam na ponta do nariz mais uma vez e olhou as próprias mãos.
— Nem sempre eu fui um, você sabe, um pirata. - Aquele mesmo sorriso nos lábios finos de Victhor, um sorriso por educação. — Mas não costumo fazer os serviços mais pesados. Deve ser isso.
— Deve ser ótimo com as mulheres. - O sorriso de Will era largo e mostrava os caninos. — As minhas viviam reclamando que minha mão era áspera demais e machucava quando eu apalpava.
Victhor se deteve um instante enquanto o outro continuava a falar de suas aventuras românticas, sobre curvas, pelos, línguas e coxas.
Os óculos teimavam em escorregar, Victhor suava com o calor e ouvia o que Will dizia enquanto a corda ainda sem forma remexia nas mãos do loiro que estava empolgado. Então Victhor saiu, deixando-o pouco confuso com os nós em suas mãos.
Não havia mais sorriso no rosto de Victhor.
À tarde veio a tempestade. Ela despontou no céu com suas nuvens cinzas e logo não havia para onde olhar, tudo estava escuro. Os relâmpagos refletiam no mar e os trovões estremeciam o céu. Piratas eram acostumados com tempestades, passavam por muitas durante sua vida no meio das águas. A tempestade aumentava de tamanho as ondas do mar e o navio subia e descia, mergulhava a popa na água e se os pés não fossem ágeis e firmes o homem ou mulher podia ser levado para o fundo do mar. Theodora estava junto a um grupo cuidando das velas, conseguiu com bastante custo chegar até a proa, mas não foi nada fácil já que tanto a amurada de barlavento quanto a de sotavento mergulhavam o tempo todo na água. No timão Pyra também lutava contra a força das ondas tendo Simon ao seu lado para auxiliar quando a sua própria força não dava conta. Um trabalho de uma equipe bem unida mantinha o navio acima do mar e não dentro dele.
— Pyra, o navio está adernado demais! - Theodora vinha gritando protegendo os olhos da chuva forte.
— Estou tentando! - Pyra estava ciente disso e fazia o seu melhor para estabilizar o navio.
De longe eles ouviram o som, um relâmpago caiu muito próximo deles.
— Droga! Fiquem longe do nosso navio! - Theodora gritou ao céu.
— Segurem-se todos, vou virar com tudo a estibordo! - Pyra gritou a quem estava mais próximo e fez a manobra necessária ao navio. As ondas ainda estavam bastante altas e a tentativa de sair da tempestade era mais do que necessária.
— Abram as velas agora! - Theodora gritou para os piratas que já estavam em posição, os cabelos emaranhados no rosto e o vento cortante em sua direção. — Vamos Rupert, faça depressa!
Rupert estava atento a tudo o que Theodora fazia e mesmo antes que a segunda frase saísse de sua boca ele já estava pronto. Os piratas já estavam prontos.
O navio teve as velas negras abertas, todas elas, inclusive as auxiliares e dessa forma ganhava muita velocidade. A intenção de usar o vento a favor do Alma Negra estava funcionando, ou iria funcionar se o mastro aguentasse.
— O mastro central vai romper desse jeito! - Um dos homens gritou lá de baixo.
— Ele não pode romper, ele precisa aguentar! Estiquem essas merdas dessas cordas! - Theodora ficaria rouca mais tarde de tanto que gritava. — Vocês são um bando de galinhas ou são homens?
Rupert riu alto no meio dos homens e fazia bastante força enquanto lidava com as cordas. Ao lado dele estava Will que imitava os gestos na tentativa de ajudar. Era bom ver um novato competente e Rupert dava ordens a ele de modo que Will foi de bastante ajuda durante toda a correria. No alto do navio a bandeira pirata já ascendida pela adriça ondulava ao vento e todos abaixo dela estavam mergulhados no mesmo sentimento de manterem-se vivos sob a madeira do Alma Negra que permanecia intacta mesmo após a tempestade.
O navio havia passado por mais uma tempestade, o convés estava encharcado e havia muito trabalho a ser feito agora. Todos iam de um lado para o outro e torciam suas roupas, Victhor apareceu de dentro da cabine com o rosto preocupado.
— Estão todos bem? - Ele perguntou ao primeiro que viu, que calhou de ser Rupert.
— Estamos sim, segundo contramestre. - Ruperto sorria. — Aquele seu amigo novato foi muito bem. Você o treinou bem. - E depois de dizer o que Victhor queria ouvir o velho homem continuou o que estava fazendo, indo em direção a Theodora para elogiar também o desempenho da pirata em meio ao quase caos.
Victhor continuou seu caminho na busca do loiro e o encontrou observando os nós que haviam feito mais cedo.
— Então é pra isso que eles servem, afinal. - Will disse a si sem perceber que Victhor estava parado bem perto dele.
— E para o que mais poderia ser? - A voz de Victhor tinha aquele timbre calmo e honesto, que se dito no ambiente certo poderia arrepiar os pelos da nuca de qualquer pessoa. Will diria que era o vento pós tempestade que fez isso com os dele.
— Onde você estava?
— Com Jane. - Victhor respondeu aproximando-se de Will e afastou uma mecha molhada que caia por cima dos olhos esverdeados dele. — Ouvi dizer que você foi bem para sua primeira tempestade. Muito bem, continue sendo útil assim e - Deu dois tapinhas no ombro dele e saiu depois de dizer. — Quem sabe não receba alguma recompensa.
Will ficou parado no mesmo lugar em que estava vendo as costas de Victhor indo mais para longe. Mas não pôde ficar assim durante muito tempo já que Simon passou por ele e quase o derrubou no chão.
— Não fique no caminho, novato, vá procurar algo de útil para fazer. - Disse indo em direção a cabine onde Jane estava.
Will torceu o nariz e fez uma careta para as costas largas do grandão. Mas Simon estava certo e ele foi atras de alguém a quem pudesse ajudar. Claro que ele foi atras de Victhor.
Na cabine, Jane ainda estava deitada sob a cama, estava evidente a sua preocupação.
— Esta tudo bem, não aconteceu nada com o navio. - Simon sentou-se próximo a cama dela.
— É claro que está, ele já passou por coisas bem piores que essa. - Ela sorriu e ele sorriu de volta. Alguém que não o conhecia diria que ele manteve a mesma cara, mas Jane sabia ver o sorriso ali. — E como ele está?
Simon continuou sem falar nada.
— Simon, como o sereia está?
— Vou mandar alguém averiguar.
— Simon!
— Eu não estou acostumado a ter uma sereia no navio.
— Isso quer dizer que durante toda a tempestade ninguém foi vê-lo?
— Provavelmente.
— E se ele tiver fugido, Simon? E se aconteceu alguma coisa com ele? - Jane ameaçou a sair da cama, mas as mãos grandes e fortes de Simon a detiveram no lugar.
— Eu mesmo vou lá. Fique aqui e descanse, sua ferida ainda não está completamente curada.
— Sabe que eu não vou ficar aqui muito tempo.
— Estou contando com isso, Jane.
Simon levantou-se de onde estava e saiu pela porta da cabine, Jane estava preocupada e com razão. Durante uma tempestade muitas coisas acontecem em um navio e para que algo tivesse acontecido ao sereia não custaria muito. Por sorte, quando Simon desceu as escadas ele estava no mesmo lugar. Havia entrado bastante água do mar ali embaixo e todo seu corpo estava molhado. As guelras de seus braços e pernas estavam expostas e a abertura de seu pescoço também. Ele tinha uma expressão de desconforto no rosto e ver Simon parado frente a sua cela só deixou isso mais evidente.
O grandão ficou parado no mesmo lugar correndo os olhos pelo corpo do sereia e após constatar que não havia nada fora do lugar voltou até Jane para dizer a ela que o tal permanecia inteiro.
— Inteiro?
— Sim.
— Inteiro não quer dizer bem, Simon.
— Jane, vou lhe dizer isso de uma forma que você possa entender. - Ele parecia frustrado. — Eu desci até lá e vi o sereia com todos os seus membros no lugar, inclusive sua cabeça parecia perfeitamente bem colada ao pescoço. O que mais você queria que eu olhasse?
Jane estalou a língua e balançou a cabeça.
— Simon, Simon... você nunca vai mudar, não é?
Ele não disse nada.
— Está bem, inteiro é melhor do que "sem sereia". - Ela passou a mão pelos cabelos jogando as mechas para trás. — Quando eu estiver melhor, eu mesma verifico como ele está.
— Faça isso. - Ele ficou de pé pronto para sair da cabine mais uma vez.
— Simon. - Jane chamou.
Ele virou o rosto para trás.
— Obrigada.
Lá fora ainda podia-se ver o arco-íris cortando o céu após a tempestade, Simon chegou até a amurada do navio e aspirou o ar úmido que vinha do mar. Victhor e Theodora riam de alguma besteira que Will havia falado mais uma vez e Rupert dava bronca em Edgar que vinha do compartimento de cargas com a cara cheia de culpa. Lá embaixo o sereia também via aquele mesmo arco-íris, seu pescoço ardia um pouco com a membrana que voltava a se fechar mantendo as delicadas brânquias protegidas, com as guelras acontecia o mesmo e seus cabelos pingavam um pouco diminuindo cada vez mais a frequência.
Logo a noite iria chegar e depois um outro dia iria nascer para o sereia e os piratas do Alma Negra.
Nota: Vamos todos fingir que eu conheço todos os termos nauticos muito bem e não que eu dei um "Google" rápido. Obrigada. m(' ___')m
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro