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Capítulo 38 - No final uma noite tranquila.

Oi gente! Como vocês estão? Ufa! Estamos caminhando! Tivemos bastante doses de Alma Negra nestes ultimos capítulos, né? Será que estão gostando? Hmm...

Queria dizer à vocês que tenho bastante dificuldade em colocar títulos nos capítulos ahahahah oh Deus! Não me julguem pelos títulos piegas, por favor!

Beijos e muito obrigada por chegarem até aqui! Não se esqueçam de comentar e deixar sua estrelinha ;D

Foram dias difíceis. Não que outros também tenham sido fáceis, mas esses dias que passaram deixaram os piratas do Alma Negra cansados. Acontece que depois da notícia ter se espalhado, vários navios menores e caçadores de recompensas começaram a aparecer a procura do navio onde Jane era a capitã, eram navios fáceis de lidar e as batalhas duravam menos que meio dia. As manhãs e as tardes passaram a ser agitadas com disparos de canhão, embates com espadas e tiros para todos os lados, coisa normal na vida de pirata e os homens gostavam da adrenalina. Depois das lutas eles riam e se divertiam contando os casos, inventavam feitos e exibiam o que puderam roubar. As cantorias enquanto limpavam o convés eram altas e enfáticas, o suor escorria nos bigodes sorridentes e as fofocas sobre o paradeiro do sereia eram intercalados com sangue e tripas. Mas foi ficando problemático quando eles começaram a aparecer do nada feito gafanhotos se espalhando nas plantações. Os piratas mal podiam sentar para comer e já ouviam o disparo de um canhão, mal podiam usar as latrinas e já tinham que sair com espadas na mão enquanto subiam as calças. Cansativos, persistentes demais. Vários Zé Ninguéns empunhavam as espadas e faziam discursos sobre como acabariam com Jane, como levariam os escravizados de volta - se eles existissem de fato, como seus nomes seriam conhecidos pelo Oceano Uno. E logo morriam com a garganta jorrando para todos os lados e olheiras arroxeados brotavam abaixo dos olhos piratas.

— O navio está começando a precisar de reparos mais sérios. – Victhor tinha uma prancheta em mãos, o lápis com a ponta gasta.

— As balas de canhão também estão contadas. -Will vinha ao seu lado com uma folha amarelada e uma letra bonita. Ele passou a mão desajeitadamente nos cabelos deixando as mexas confusas em sua cabeça.

— Esses bostas deviam se cansar logo. – Os óculos estava em suas mãos, a flanela limpava a lente sendo esfregada como se houvesse cometido algum crime.

— Você já tinha pensado nesse negócio de sereias antes?

— Huh?

— Antes de vir para este navio, - O loiro estava parado a sua frente, o corpo recostado na madeira do navio. — Eu nunca havia pensado sobre isso antes. Sobre ser errado, sabe?

— Eu acho que entendo. – Ele olhou as lentes do óculos e com uma careta continuou esfregando as lentes. — Meu... meu... p-pai era alguém que lidava com gente de dinheiro, meus irmãos frequentavam os bailes nobres e sempre falavam das sereias que viam com as damas e nas casas das pessoas. Eu não sabia muito bem o que elas eram, sempre achei que fossem um tipo de cachorro ou gato, - Will achou aquilo fofo, imaginou um Victhor criança com pensamentos bobos e sorriu sem perceber. — Só percebi que elas não eram animais de verdade quando vi uma pela primeira vez. Não consegui entender muito bem como os humanos conseguiam olhar para as sereias e não perceber que somos tão parecidos. O que muda entre elas e nós é tão pouco que se uma não estiver usando coleira poderia se passar por humana com tranquilidade.

— Oh, isso é verdade. – Will pensou um pouco. — Mas elas tem aquilo no pescoço, aquilo por onde respiram, e nos braços também.

— Sim, mas veja em Lantis, por exemplo, essas guelras ficam por baixo da pele e só saem quando ele esta na água do mar, quando ele usa roupa de verdade e não só aquelas bermudas rasgadas, ele poderia ser um homem no meio de nós.

— Um homem bastante atraente no meio de nós!

— Lá vem você dizendo tolices mais uma vez! – Finalmente ele colocou os óculos no rosto.

— Qualquer um pode concordar comigo Vic, mas não se preocupe você ainda é meu preferido. – Will deu uma piscadinha e riu.

Victhor bufou, seu andar estava cansado, em seus dedos longos alguns calos e sua pele parecia mais pálida que o normal. Os dois voltaram a olhar as caixas no deposito de cargas, Victhor sussurrava números e fazia contas, enquanto Will colocava as caixas no lugar que ele indicava. O suor escorria pelo pescoço de Victhor, ele estava sempre com aquelas roupas pesadas.

— Você tem se alimentado direito? – Will havia reparado tudo isso nele e ainda havia mais. — Esses dias seus ombros pareciam tão mais magros.

— Meu ombros? – Victhor achou estranho já que seu corpo estava sempre coberto. — Quando você viu meus ombros?

— Ah. – Will pareceu se dar conta de algo. A verdade era que ele havia visto enquanto Victhor trocava de roupa, a parte de cima sem nenhum tecido, uma pele tão branquinha que ficaria facilmente rosada se fosse apertada um pouco. Sua cintura era realmente fina e seus ombros tinham uma camada de pele cobrindo os ossos, era sutil e parecia muito frágil. Will se pegou pensando se marcas de dentes ficariam evidentes naqueles ombros coquetes. — Hum! – Ele limpou a garganta um pouco incomodado.

— É só que aconteceu de eu ver, não me lembro quando.

Victhor olhava para ele ainda sem entender.

— Veja, - Will pegou os pulsos de Victhor e os erguei um pouco. — Que magreza severa! Você vai ficar doente se continuar assim.

Will olhou para aquela mão segurando seu pequeno pulso. Sim, ele era magro e sua composição corporal podia ser comparada com um garoto de vinte anos. Embora ele se esforçasse desde sempre para comer quantidades grandes de comida, ainda assim ele permanecia com uma cintura de dar inveja as damas da corte.

— Pode me soltar?

— Não.

A resposta o pegou de surpresa. O polegar de Will deslizou um pouco sobre a pele dele, franzindo a sobrancelha o loiro parecia ainda mais confuso com os próprios pensamentos do que Victhor.

— Você quer pegar nas minhas bolas também?

A pergunta de Victhor era para ser uma piada, uma coisa boba que ele ouvia entre os piratas do navio "Pega nas minhas bolas" eles diziam, riam e os risos podiam ser ouvidos de longe. Ele nunca tinha dito isso antes e ao dizer percebeu que fez bastante errado.

— Não, espere. – Ele sentiu as bochechas arderem um pouco e suas orelhas provavelmente ficaram vermelhas. — Não era para soar assim estranho, eu só estava...

Aquilo ficava mais estranho a cada minuto.

— Por que você... – As palavras de Victhor morreram em sua boca quando ele olhou um pouco mais abaixo em Will. — O que foi? Está sentindo dor aí? – Victhor pareceu preocupado ao ver o outro com as mãos nas partes baixas, o rosto do loiro estava diferente como se estivesse pensando em outras coisas que Victhor não sabia.

— Não, é só que, eu ... eu me lembrei de uma coisa.

— Uma coisa haver com pinto?

— Eu preciso ir. – Will saiu andando com as pernas meio bambas, seus pensamentos o haviam traído mais uma vez e ele não conseguiria explicar o motivo, afinal nem ele mesmo sabia porque estava reagindo assim. Victhor estranhou.

— Será que ele quer mijar? – Perguntou a ninguém.

No início da noite os homens ainda limpavam o convés, era um esfrega-esfrega que ninguém aguentava mais e vestígios de sangue acabavam ficando grudados na madeira do navio, o cheiro ferroso estava forte. Simon andava para um lado e para o outro, sua cara estava ainda mais amarrada que o habitual e seus passos eram pesados. Embora ainda estivessem em tempo hábil esses embates acabavam por atrasar a rota do navio e a cada dia perdido era um dia a mais sem ver Ana, só este motivo já era o bastante para deixa-lo de mal humor, mas também havia ela.

— Vai ficar aqui fora até quando?

— Oh, é você. – Jane estava sentada na amurada olhando para as ondas lá embaixo. Sua mão segurava numa corda e estava vermelha pelo tempo que estava ali. — Não te ouvi chegar.

Simon respirou fundo tentando manter a calma e não gritar com ela. Queria dizer para aquela pessoa esquecer o maldito sereia, deixar que ele fosse embora de uma vez de sua vida e que ela voltasse a rir por ai despreocupada.

— O que foi? Não vai dizer nada.

— Não.

— Sei. – Ela voltou a olhar para a água.

Simon apertou os punhos com força, deu um passo a frente e tocou por cima da cabeça dela esfregando seus cabelos como fazia desde que ela era uma adolescente.

— Ele vai voltar.

— Não sei.

— Não foi uma pergunta, Jane. Ele vai voltar, só um tolo deixaria alguém como você esperando para sempre.

Ela riu.

— Ele não é um tolo, é uma sereia.

— E você confia nele ao ponto de ficar aqui todos os dias esperando que ele volte. – A boca de Jane abriu e logo voltou a fechar. — Então ele vai voltar.

— Desde quando você acredita em Lantis assim?

— Eu? Nunca. – Ele afastou a mão da cabeça dela, segurou o queixo da capitã e a fez olhar bem para seu rosto. — Eu confio em você, minha capitã e se você está esperando por ele, então ele vai voltar.

Jane sentiu seus olhos arderem, Simon passou os dedos ásperos em sua bochecha e beijou sua testa como fazia quando ela ficava chateada por ter perdido uma luta ou quando Daniel brigava feio com ela.

— Você sabe que eu queria mesmo era matar ele por te fazer ficar assim, não é?

Os lábios de Jane tremiam, suas mãos tremiam e sua voz estava presa dentro da garganta, ela respirou fundo buscando o controle sobre suas emoções. De longe ela viu alguém se aproximar, o rapaz de óculos tinha o rosto compassivo, um sorriso carinhoso e chegou abraçando Jane com força.

— Eu me sinto uma tola, Victhor. – Ela abraçou de volta. — Tola e vulnerável.

Ele afagou os cabelos de Jane e a abraçou apertado como em outra vez ela havia feito com ele.

— Está tudo bem se sentir assim, é normal quando estamos apaixonados. – Jane apertou o corpo dele, aquelas palavras foram ditas com tanta franqueza que ela não conseguiu negá-las. — Nós estamos aqui.

— Eu sei, sou muito agradecida por ter vocês. – Ela estendeu a mão e Simon a segurou.

— Ele vai voltar, Jane. – Victhor repetiu o que Simon havia dito. — Ele vai.

— Se ele houvesse pelo menos me dito adeus eu podia encerrar isso de uma vez, mas ele só foi, ele só seguiu para o mar e eu não sei se ele ainda esta vivo ou se alguma coisa ruim aconteceu com ele. Não ter notícias de Lantis é muito doloroso.

— Não acho que ele tenha feito de propósito.

Victhor e Jane levantaram a cabeça, ninguém podia acreditar que Simon diria palavras que supostamente defenderiam Lantis.

— Pelo que eu pude observar nesse tempo todo em que ele esteve aqui, ele não te magoaria de propósito. Não mais.

— Então o que?

— Você vai ter que perguntar a ele quando o encontrar.

— Desculpem incomodar vocês. – A voz veio de trás de Simon, Theodora tinha uma garrafa quebrada nas mãos, a ponta cheia de sangue.

— O que foi Theo? – Jane terminou de limpar o rosto e ficou de pé.

— Dois homens estão arrumando confusão no depósito de cargas. Não se preocupe, não é Will. – Ela esclareceu já que Victhor arregalou os olhos.

— Eu cuido deles, descanse um pouco. – Simon estalou os dedos, precisava mesmo colocar pra fora sua raiva.

Jane e Victhor ficaram, o rapaz sentou ao lado dela e os dois viram Simon e Theodora irem, ela contava o que havia acontecido, parece que um dos homens estava acusando o outro de roubar uma pulseira de ouro de suas coisas, já o outro dizia que aquela pulseira pertencia a ele de um dos roubos que eles haviam feito algumas semanas atras. Todos sabiam qual era a regra número 2 em um navio pirata:

Regra número 2. Seja esperto - não roube de piratas.

"Todos os homens serão contemplados justamente com os prêmios. Mas se defraudarem a companhia, mesmo que em apenas uma moeda de prata, joias ou dinheiro, eles serão abandonados. Se qualquer homem roubar o outro, ele terá seu nariz e orelhas arrancados e será abandonado onde, com certeza, encontrará dificuldades"

Quando viram Simon os olhos ficaram tão abertos que poderiam escapar de suas cabeças, aqueles dois sempre causavam burburinho por provocações patéticas um com o outro, agora haviam chegado ao limite, um dos dois iria morrer se Simon estivesse de bom humor, mas como ele não estava – quase sempre assim, a vida de ambos estava em sério risco.

Parado ainda na porta Simon retirou o machado que sempre estava em suas costas e o segurou com força.

— Falem.

O suor escorreu na testa de um dos homens, o medo evidente em sem semblante. Ele era o acusador.

— Eu não peguei nada. – O outro vociferou. — Esta pulseira eu recebi por pagamento, não gastei com as putas porque eu quero guarda-la para quando chegarmos ao Império Sul na próxima vez.

Simon estreitou os olhos, a dúvida estampada em seu rosto.

— O que tem no Sul de tão especial? – Ouvi-lo dizer tantas palavras numa só frase não era comum entre os piratas e todos ali tinham a atenção voltada para ele.

Theodora estava ao lado de Simon, a garrafa cortada ainda na mão, o sangue dela vinha de uma corte na coxa esquerda desse que falava. Ele mordeu os lábios e cuspiu sangue no chão.

— Não tenho que dar satisfação das minhas coisas para você.

— Tem certeza? – O homem a sua frente tinha as mãos tremulas e seus olhos foram de Theodora para Simon.

— E-Eu tenho alguém lá! – Ele praticamente gritou.

— Quem?

— Mas que porra! – Ele gritou segurando os cabelos. Simon deu um passo a frente e ele colocou as mãos rendição. — Tem um rapaz num puteiro da Cidade Miserável que eu quero, eu prometi a ele que o tiraria de lá. Eu ia dar essa pulseira a ele como prova de que disse a verdade. – Ele virou-se para o outro. — Mas aí esse demônio do Jacob fuçou nas minhas coisas e depois que eu o encontrei ele disse que eu o havia roubado!

O tal Jacob deu um passo para trás sem tirar os olhos de Simon que vieram para cima dele.

— Testemunhas? – O grandão disse.

— Eu. – Um homem levantou a mão do meio dos outros piratas já que recebeu olhares inquisitivos de alguns companheiros. A sua fala veio depois de um longo suspiro de frustação. — Eu já fui com Rogério até esse puteiro, na época eu achei que ele estava só sendo levado para o quarto de alguma moça com aquele rapaz, mas depois eu fiquei sabendo que esse rapaz também trabalhava lá. Rogério me pagou para não dizer nada.

— Essa parte não precisava contar!

— Eu não vou esconder nada desse cara! – Ele apontou para Simon.

— Hm. – Simon levantou o machado. – Caso encerrado.

— O-o que? – Jacob abriu a boca e um pouco de baba escorreu dali. Ele estava muito nervoso.

— Você será deixado na primeira banca de areia que o navio passar perto. Levará dois cantis com água e sua parte nas provisões deste mês, depois disso não terá mais nada com o Alma Negra. – Theodora estava com as mãos na cintura e uma cara amarga, não queria estar perto quando chegasse a vez de Simon cumprir com a sua parte.

— Não podem fazer isso comigo! Ele quem me roubou, foi ele!

— Pare de mentir, seu cretino! – Rogério esbravejou. — Você esbanja dinheiro por aí depois vem querendo pegar o dos outros!

— Seu! Seu comedor de homem! Você devia morrer de alguma doença!

—O-O que?

— Você acha que pode viver sendo essa merda que você é? Sua mãe devia ter tomado algum chá antes de você nascer! Esse seu pau imundo!

— Não é da sua conta onde eu enfio meu...

— Você e essa sua raça deviam todos morrer! – O dedo apontado para Rogério, seus poucos dentes amarelos e suas rugas todas faziam seu rosto parecer com os demônios que outrora assombraram a Segunda Guerra do Sangue. — Onde já se viu um homem com outro homem? Maricas deviam apodrecer como aquelas malditas sereias na Ilha das Bruxas!

— Cale essa boca! – Theodora colocou a mão na bainha para puxar a espada, no entanto não foi necessário. O disparo veio da porta, a bala perfurou a coxa direita daquele homem e ele caiu de um joelho no chão, com uma das mãos apoiava o corpo.

— Jane. – A voz de Victhor veio detrás dela. Os passos da capitã foram assistidos por todos.

— Todo assunto neste navio deve ser tratado com respeito segundo as nossas regras, todos aqui sabem disso. – Parando a frente do homem ela apontou a arma para ele. — No entanto, há outros que não serão tolerados.

Os olhos dele estavam arregalados olhando para ela de baixo, ela abriu a boca para dizer alguma coisa.

— Eu não vou me desculpar com esse animal! – O segundo disparo acertou o pescoço atravessando a jugular, o corpo inerte do homem caiu para frente e sons estranhos saíram de sua boca.

— Ninguém vai precisar ouvir nada de você. – Ela guardou a pederneira de volta. — Que isso sirva de aviso, insultos desse tipo não serão tolerados. Nós somos piratas, somo livres para ser o que a sociedade nos diz que não podemos, mas ser livre é também saber que há coisas que não devemos fazer, saber escolher o que se deve e o que não deve. Espero que tenham entendido.

Rogério ficou parado olhando para Jane, olhando para Jacob caído no chão. Ela se aproximou do rapaz que transpareceu um pouco aflito.

— Não se preocupe, você vai conseguir tirar o seu rapaz de lá. – Jane tocou o ombro dele e sentiu seus músculos tensos. — Vamos trabalhar duro pra isso.

— Eu trabalharei, senhora capitã!

Ela deu dois tapinhas ali e saiu em direção a porta, mas não sem antes olhar para Simon que a acompanhou com os olhos até que ela desaparecesse no corredor.

— Mais sangue pra limpar. – Will chegou ao lado de Victhor que não havia percebido o loiro se aproximar. — Oh, assustei você?

Victhor encarou os olhos verdes próximos a si e estalou a língua no céu da boca.

— Saia da minha frente! – E dizendo assim ele quem saiu de perto de Will.

— O que eu fiz?

— Você existe, Will. – Theodora riu passando os braços envolta do pescoço do rapaz. — Não ligue para isso, vamos lá pegar um esfregão.

Enquanto o loiro fazia caretas de desgosto Simon ordenou que outros retirassem aquele corpo dali e o jogassem ao mar.

Depois de três dias ainda se falava no navio sobre o ocorrido. Rogério ficou popular entre os homens sendo lembrado como alguém que a capitã apoiava, depois dele outros tantos tiveram coragem de dizer sobre seus gostos pessoais, sejam eles relacionados ao sexo ou a outras coisas como ter uma fazenda e viver uma vida pacata no campo. O julgamento entre os piratas era temido já que ser motivo de chacota fazia os provocadores terem o que fazer durante seu tempo em alto mar. Victhor ainda evitava falar com Will que insistia em saber o que havia feito de errado. Mas mesmo que ele de desculpasse por qualquer coisa mínima que havia feito, Victhor ainda não dizia nada. Dormir em sua rede não era nada, beber de seu copo não era nada, ler seus livros e escrever mensagens maldosas nos rodapés não era nada – na verdade Victhor começou a achar divertido e esperava para saber o que Will havia escrito nas páginas que lia e depois de um tempo até passaram a debater sobre as histórias que liam.

Na quarta noite depois da morte de Jacob ele fumava um cigarro no convés, a tarde estava fresca e faltava pouco para chegarem ao destino. Finalmente as formigas que tantos os incomodavam tinham dado um tempo, aqueles pequenos navios cheios de piratas arrogantes não eram mais vistos no horizonte e ao invés disse o Alma Negra pode até fazer negócios com um cargueiro comerciante que traficava açúcar e carne para o Norte.

Victhor pensava em sua vida fora do navio, infelizmente algumas lembranças familiares haviam retornado naqueles dias e pensar em seus irmãos era o mesmo que ter um alfinete pinicando seu corpo o tempo todo. Aquele incomodo que não o deixava em paz tirava todo seu bom humor e as frases de Jacob ecoavam em sua cabeça, eram as mesmas que seus irmãos haviam dito a ele, com a diferença que eles diziam muito mais e ainda o espancavam. Claro que seu pai sabia sobre seus gostos particulares, era evidente desde que ele era um garoto e observava os rapazes que entregavam jornal em casa, mas ao contrário de seus irmãos seu pai apenas o ignorava e fingia não ver os hematomas que apareciam em seu pescoço e em suas costas.

— Maldição... – Ele sussurrou baixo o suficiente para que só ele ouvisse, a fumaça saia de sua boca e seus lábios tremiam um pouco.

— O que é tão maldito assim?

Aquela voz insuportavelmente familiar veio de encontro aos seus ouvidos e fez seu corpo enrijecer.

— Desculpa, Vic! Te assustei de novo!

Victhor havia perdido as contas de quantas vezes aquele rapaz tinha pedido desculpas a ele nesses últimos dias. Ele deu mais um trago no tabaco e caminhou em direção a amurada atirando o restante da guimba no mar, ainda de costas para Will caminhou em direção oposta ao loiro. Seus passos eram lentos e arrastados como se suas costas estivessem tão pesadas.

— Espere! – Will surgiu ao seu lado e agarrou com força seu pulso. — Eu sinto muito Vic, mas dessa vez só vou deixar você ir depois de me explicar o que está acontecendo!

— Não tenho nada que explicar a você. – A voz baixa era um alerta que Will ignorou.

— Então por que suas mãos estão tremendo tanto assim? – Will não afrouxou, pelo contrário apertou um pouco mais aquele lugar. — Eu sou burro Victhor, se você não me disse o que esta acontecendo eu não vou conseguir entender você!

Will não soube explicar o que tinha aconteceu a partir dali, o pulso de Victhor estava bem preso entre seus dedos, mas o languido rapaz foi capaz de se soltar, virar seu corpo contra o dele e socar com bastante força sua linda e adorável cara.

— Vá se fuder, porra!

Victhor voltou a andar para frente com a certeza de que Willian não voltaria a incomoda-lo. Ledo engano. Seu ombro foi puxado para trás e por sorte ele estava sem os óculos aquele dia, seu rosto foi esbofeteado – sem muita força, por um rapaz irritadiço, ranhoso e muito bonito.

— Você vai me dizer o que tá acontecendo, custe o que custar!

Victhor voou em cima de Will, sabe-se lá por quanto tempo eles ficaram embrenhados no chão rolando e socando um ao outro com golpes que cada vez mais iam perdendo a força. Por fim Victhor começou a receber beliscões, apertos e até uma mordida na cintura e outra no ombro... Tendo o corpo de Will por cima do seu e tão próximo foi quase impossível para uma certa parte dele não ter alguma reação. Ele parou um pouco e ficou olhando para o rapaz de olhos verdes que também o encarava.

— Seu rosto está bastante vermelho. – Victhor apertou as bochechas de Will e deixou o local ainda mais evidente.

— O seu também está.

Silêncio.

— Vamos, saia de cima de mim. – Victhor segurou a cintura de Will para ajuda-lo a se levantar, mas ao contrário de sua vontade, o loiro sentou-se bem confortavelmente ali. — O que pensa que está fazendo?

— Você vai me dizer o que está acontecendo, custe o que custar! Não vou mais ser ignorado!

— Sai de cima de mim!

— Não saio! – Ele apertou os joelhos ao redor de Victhor. — Pare de se mexer desse jeito!

Victhor se mexia na tentativa de tirar Will dali, mas esses movimentos faziam o loiro quase rebolar por cima de si e só deixava a situação um pouco pior.

— Victhor!

— Will!

— Tudo bem! – Victhor relaxou os braços na madeira do navio. — Mas saia de cima de mim, eu preciso me acalmar.

—Você não vai fugir?

— Não.

Will saiu devagar daquele lugar onde estava se sentindo tão confortável, para ele foi até um pouco frustrante ter que deixar o corpo quentinho de Victhor e sentar-se na madeira fria do navio. Assim que saiu de lá Victhor colocou as duas mãos sobre sua partes e o loiro viu o motivo do volume que sentia abaixo de si.

— Hum. – Victhor limpou a garganta um pouco constrangido pelo descaramento de Will em nem tentar disfarçar para onde olhava. — Naquele dia quando Jacob disse aquelas coisas para Rogério eu estava na porta com Jane e ouvimos tudo.

— Certo.

— Quer fazer o favor de olhar para a minha cara?

— Oh, desculpe. – Will cobriu as próprias partes, não que tenha resolvido alguma coisa.

Victhor respirou fundo.

— Enfim, eu me lembrei de casa, de onde eu costumava chamar de casa. Minha mãe faleceu quando eu era bem pequeno e não tenho nenhuma lembrança dela, fui criado pelo meu pai e mais dois irmãos. Meu pai era contador e tínhamos uma vida tranquila e estável, mas depois de um tempo, quando minhas preferencias foram aparecendo e meus irmãos descobriram foi que minha vida se transformou. – Victhor olhava para Will. — Você sabe do que eu estou falando, não sabe?

O loiro abriu a boca e depois a fechou olhando para Victhor com bastante seriedade ele fez que sim com a cabeça. Não era hora de brincadeiras.

— Eu não me lembro de um dia depois em que eu não tenha sido espancado e xingado por aqueles dois. – Victhor tapou o rosto com uma das mãos, seu estomago pareceu se revirar um pouco e algo amargo subiu por sua garganta, ele tomou algum tempo antes de continuar. — Quando estávamos a sós eles me batiam mais, mas mesmo com meu pai em casa eles não disfarçavam. Não era preciso, meu pai fingia não ver e na verdade eu acho que ele gostava que fizessem aquilo comigo. Por coisas pequenas ele também me batia e acho que descontava sua raiva de mim quando podia. Eu tentei não ser assim, tentei ficar com algumas meninas, mas nada acontecia, não dava certo. Depois de tudo eu achei que esse mundo não tinha mais jeito para mim, achei que eu não merecia existir, que eu devia sumir e desaparecer desse mundo.

— Não! Você não pode!

Will que estava sentado bem ao lado de Victhor se jogou para cima dele mais uma vez segurando seu pulso como se para detê-lo de fazer alguma bobagem. Victhor ficou sem saber o que fazer, olhos grandes o encaravam com muita sinceridade, Will caiu ao seu lado e aquietou-se ali.

— Desculpe, eu me excedi.

— Tudo bem. – Victhor e Will ficaram lado a lado, Will ainda segurava aquele pulso fino e magro. Victhor respirou fundo antes de continuar. — Mas foi então que conheci Jane e Simon. – Ele sorriu pequeno. — Eu estava decidido a me jogar no mar aquele dia, havia acordado cedo e feito as minhas obrigações na casa, coloquei minha melhor roupa e no fim do dia sai pela porta da frente. Acho que até hoje não se deram conta de que eu deixei aquele lugar, oh, devem ter percebido que não havia mais ninguém para espancarem. Mas quando eu dei meu passo a frente nas docas aquele dia eu ouvi a voz de Jane.

"Ei!, o que você esta fazendo?"

" Me deixe em paz, senhorita, isso não é da sua conta."

"O que você esta fazendo?" – Ela perguntou mais uma vez.

" Você é burra? Não é obvio? Eu vou livrar o mundo de alguém sujo e horrível como eu."

"Oh, entendi." Ela deu alguns passos e olhou para a água lá embaixo. "É bastante fundo aqui, as rochas são pontudas e depois que cair não tem mais volta. Vai me dar trabalho tirar você dai." – Ela começou a tirar os sapatos e o casaco.

"O que está dizendo?"

" Se você pular, eu serei obrigada a ir atras de você, acho que nós dois não vamos sobreviver, mas eu vou tentar do mesmo jeito."

" O-O que? Você vai fazer isso por alguém como eu? Eu nem te conheço?"

" Bem, podemos começar por ai então. O que acha de tomarmos alguma coisa primeiro?^Podemos nos conhecer e depois você decide se pula ou não e eu decido se vou atras de você ou não."

"Você não esta entendo, eu não sou alguém que valha a pena, eu... eu gosto de homens!"

— Foi a primeira vez que disse aquilo em voz alta, meu coração parecia que ia sair pela boca.

— O que ela disse?

" Ora, veja só! Eu também! Temos uma coisa em comum para conversar, o que acha? Vamos?

" Vo-você é doida? Claro que é, é louca!"

— Ela riu tão alto que achei que fosse mesmo doida aquele dia.

" Isso mesmo! Eu sou louca, muito! Louca do tipo que não tem nada a perder. E você? Você é louco também?"

— Não sei por quê, mas aquilo fez sentido pra mim. Enquanto eu não reparei ela já estava do meu lado e estendeu as mãos para mim, me disse seu nome e que fazia parte de um navio chamado Alma Negra. Jane é uns anos mais nova que eu, mas eu senti que podia confiar naquela pessoa a minha frente, eu peguei sua mão e a partir daquele dia não a soltei mais.

Will manteve os olhos vidrados em Victhor, absorveu tudo o que ele disse e ficou sem falar nada por uns minutos. Seus dedos ao redor daquele pulso desceram um pouco mais. Deslizaram por sua palma e sentiram os dedos finos e agora úmidos do rapaz, ele entrelaçou os seus próprios ali e apertou com alguma força.

— Certo. – Ele disse. — Você tem a minha também. Não vou deixar você ir, por favor não solte a minha mão também.

Victhor apertou os lábios sem desviar do rosto de Will.

— Tudo bem, não vou soltar.

Quando se deram conta a tarde tinha virado noite e os homens começaram a se preparar para descansar. O homem da gávea desceu as cordas e contou aos dois ainda no chão sobre um cardume de águas vivas que passava por baixo do navio. Além deles outros chegaram até a amurada para verem a procissão lá embaixo.

— Que lindo, parecem vagalumes! – Will ainda tinha a mão de Victhor junto a sua.

—Sim, é muito bonito mesmo. – Victhor disse isso, mas não olhava para a água lá embaixo.

Do outro lado da amurada outra pessoa olhava para o mar, mas ao invés de fitar abaixo do navio, Jane olhava para o horizonte.

— Não vale a pena contar os dias.

— Eu sei, já parei de contar.

— O que foi aquilo com Jacob?

— Você esta segurando isso desde aquele dia. – Ela respirou fundo. — Não me arrependo.

— As regras devem ser seguidas, se todos resolverem seus problemas desse jeito a gente perde a mão.

— Eu sei, mas não quero ouvir isso de você.

— Se não eu quem mais iria colocar você na linha?

— Você tem razão, Daniel está morto.

— Jane...

— Eu o matei.

— Não fale disso agora.

— Fazem quantos anos?

— Eu não conto mais.

— Eu já perdi as contas também.

Simon olhou para baixo, as águas vivas luminescentes continuavam envolta do navio, aquela coisa não devia estar lá e as águas vivas podiam ficar tranquilas com suas vidas fora de risco.

— Deve ser época de reprodução.

— É deve ser. – Jane olhou para baixo também, as águas vivas brilhavam e realmente pareciam vagalumes azuis. Aqueles azuis brilhavam e dançavam dentro do mar.

— Quando chegarmos na Ilha Esmeralda vou pedir a Ana para fazer joelho de porco, ela vai servir assado, com a casca crocante, e de acompanhamento vai ter chucrute ou batata.

— Você vai ter que matar o porco. – Jane virou-se para Simon. — Eu não vou chegar nem perto.

Ele paralisou um pouco.

— Talvez seja melhor comermos nhoque de batata.

Jane riu.

— Você vai achar uma delicia até mesmo a água de batata que Ana fizer.

Simon olhou para ela e balançou a cabeça, ele só podia concordar.

Os dois ficaram ali por algum tempo, logo Rupert e Theodora juntaram-se a eles e um grupo grande de piratas puderem esquecer um pouco dos problemas enquanto olhavam para dentro do mar.

Mais uma noite tranquila chegava para o Alma Negra... pena que noites tranquilas não combinavam com a vida pirata.

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