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Capítulo 37 - Vamos esperar.

O caminho da volta foi feito em silêncio, Lantis ajudava as sereias que andavam com dificuldade, Jane era a última da fila e via o grupo a sua frente. Era uma sensação estranha ver Lantis rodeado de sereias, não era a primeira vez, mas sempre causava pensamentos que este era o mundo ao qual ele pertencia e não em um navio rodeado de piratas. Isso a deixava irritada e triste.

— Ah. – Ela cambaleou um pouco escorando na parede. Faltava a última escada para subir Jane sentou-se no chão, ela estava exausta e as dores haviam se intensificado tanto... Quantos cortes ela tinha pelo corpo? — Sei lá, talvez eu deva ficar aqui um pouco. – Disse a ninguém. Ali estava abafado, menos quente que na parte de cima e o dia amanhecia lá fora. Lantis e as sereias sumiram de sua visão, provavelmente atravessaram a porta próxima ao quadro. Bom, chegariam até os outros e receberiam ajuda para voltar ao navio. Lantis tinha a pérola também. Bom.

— Muito bom. Tudo terminando bem... – Jane fechou os olhos. Seu corpo estava muito pesado, sentiu sono e cansaço.

— Capitã. – Ela sentiu alguém tocar sua cabeça, acariciando seus cabelos. — Eu não percebi que você estava tão atras, me desculpe.

Tantas desculpas num dia só.

— Chega, - Ela disse ainda de olhos fechados. — Não quero mais ouvir você pedindo desculpas.

Ele riu.

— O cheiro delas está muito forte, acho que isso pode ter ludibriado você um pouco.

— Que palavra difícil essa... – Ela abriu os olhos devagar. Lantis estava a sua frente, abaixado na direção de seus olhos. Ele era tão lindo. As outras sereias estavam um pouco mais atras, aquelas sem tornozeleiras estavam abraçadas àquelas que tinha uma. Pareciam filhotinhos abandonados à espera da mãe. — Vá com elas. Leve-as para um lugar seguro. Eu vou ficar bem, só vou descansar um pouco e já vou voltar.

—Não, eu vou...

— Você não me chamou de capitã agora a pouco? Pois então, não desacate sua capitã, faça o que eu estou dizendo.

Na verdade, Lantis queria mesmo ir, queria levar as sereias para o mar, mas não queria ter que deixar Jane ali.

— Posso carregar você nos ombros até o navio.

Jane pôs a mão por cima dos olhos.

— Vá, - Ela acenou com a outra mão. — Vá logo.

Lantis obedeceu. Seria bobagem tentar convencer Jane agora e perderiam ainda mais tempo se continuassem discutindo. Se ela dizia que estava bem, ele estava acreditando que logo ela estaria no navio. Jane não olhou até que ele tocou seu queixo e levantou sua cabeça.

— Você está mesmo bem? Não minta só para que eu faça o que você quer.

— Me senti ofendida agora. – Ela sorriu. — Estou bem, vá cuidar de seus assuntos.

Dito isso ela recebeu um beijo nos lábios, seus olhos abertos viram as sereias espantadas com o ato. Afastou o rosto de Lantis antes que ele realmente quisesse o fazer.

Ele ajeitou o cabelo dela atras da orelha e levantando-se, pegou na mão de uma das sereias levando-as pelo caminho, elas iam andando olhando para trás, olhando para Jane que ia ficando cada vez mais distante. Era estranho, mas Jane sentiu que aquelas sereias queriam abraça-la e afagar seus cabelos, deitar em seu colo e contar casos da vida como se fossem velhas amigas.

Jane resolveu que iria dormir ali um pouquinho, não faria mal a ninguém. Sentiu algo escorrer em sua testa, suor e calafrios por seu corpo. Mas estava tudo bem. Seus olhos arderam um pouco, estavam fechados ainda, algo escorreu junto ao suor de sua pele misturando salgado em seu queixo. Droga de dores! Ela queria levantar dali, ir encontrar os outros, ir encontrar Lantis, mas estava cansada, seu corpo doía e se Pyra dissesse que ela mancaria para sempre não seria nenhuma surpresa.

A percepção do tempo é algo curioso, quando as coisas estão indo bem parece que o tempo voa, passa tão rápido que a memória as vezes falha para tentar lembrar dos acontecimentos como se tudo estivesse passado numa velocidade assoberbada. Já em momentos ruins o tempo pára, tudo fica registrado em mínimos detalhes e até as emoções ficam claras como a água.

— Ele parecia tão certo ao lado daquelas sereias, - Disse a ninguém. — É como das outras vezes, ele é alguém que pertence ao mar, que pertence a Ellyn... logo ele deve voltar ao mar... ele vai voltar, porque as sereias são seres da água. O que eu deveria fazer?

— Se ele quiser ir, deixa ele ir então.

Essa voz veio em resposta. Jane ainda não tinha forças para abrir os olhos, mas não precisava, ela conhecia muito bem aquela voz.

— Eu procurei você por toda parte. – Mãos grandes, braços fortes, barba. Ele ergueu-a com facilidade e ela rodeou seu pescoço com os braços. Estava tão cansada. — Não se preocupe, todos estão indo para o navio, ainda sem sinal da marinha.

— Sei... – Ela deitou a cabeça em seu peito como se fosse um travesseiro, estava quentinho e ela ouvia o coração dele bater ritmado, aquietando-se devagar, seu peito subida e descia na medida em que seus passos iam em direção a porta. — Vamos voltar então, não estou gostando de ficar aqui.

Ele recostou o rosto na testa de Jane e sentiu a temperatura fazendo surgir uma careta de preocupação.

— Você está com febre, fique quieta um pouco.

— Está me dando ordens?

— Sim.

— Está bem, vou obedecer você.

Simon passou com Jane nos braços pelas escadas, pelos corredores e por todos os que estavam ali. Não havia muita gente.

— Ela está bem?

Jane reconhecia aquela voz também. Ele era um rapaz magro, mas com um corpo muito bonito. Não gostava de exercícios físicos, mas era ótimo com armas. E tinha aquela mania horrorosa de ficar esfregando uma flanela nos óculos.

— Vai ficar.

O caminho de volta era menos árduo, embora fosse ainda cansativo. Mas não importava, Simon levou Jane nos braços até que foi obrigado a coloca-la no chão para que pudessem chegar ao navio.

— Levem para o quarto. – Pyra disse esfregando o dorso da mão na testa. Seus dedos estavam cheios de sangue de algum pirata que chegou antes. — Théo, assume no meu lugar.

O sotaque de Pyra era bonito de ouvir, Jane gostava de como ela falava, parecia que suas palavras saiam em forma de beijos e faziam cocegas em seus ouvidos.

— Tô indo.

Jane foi colocada em sua cama, foi cuidada e o navio se estabilizou em alto mar. Os piratas estavam contentes com o que saquearam na casa, e tirando algumas mortes e dois membros amputados, tudo correra bem.

— Você vai ficar aí até quando?

— Até quando eu achar que devo.

— Vai demorar a sair então.

— Quer que eu saia?

— Oh, não, não. Fique, por favor. – Ela pegou as mãos dele que estavam apoiadas sob os lenções da cama. — Obrigada por ter ido me buscar.

— Não me agradeça por isso.

— Mas eu preciso.

Simon respirou fundo.

— Eu sempre irei até você, não importa onde você esteja, eu vou te encontrar e proteger você.

— Você dizendo coisas bonitas é um pouco estranho.

— Hm.

Ela sorriu.

— É mentira, eu sei que você é um doce por dentro.

— Você é minha família.

— Eu sei, você é minha família também. – Ela apertou a mão dele e sentiu Simon retribuir.

— Estou entrando. – Victhor disse depois de já ter aberto a porta.

— Ela acordou.

— Estou vendo. – Ele tinha uma garrafa com um liquido verde em mãos.

— Não vou beber isso de novo.

— Vai sim, tudo. – Ele colocou a garrafa sobre a mesa e sentou-se na cama ao lado de Simon. — Não nos assuste assim, você sumiu naquela casa, não sei como Simon conseguiu encontrar você.

Simon olhou para Jane e ela sorriu.

— Como estão as coisas? – Ela perguntou.

— Correndo bem. Um dos amputados não sobreviveu.

— Muitas baixas.

— Não quero recrutar de novo. – Simon fez uma cara amarga.

— Não precisamos por enquanto. – Victhor sorriu complacente com a dor do amigo. Novas pessoas significava mais perguntas e mais falação por dia.

O assunto seguiu sobre a rota que tomariam rumo a Ilha de Romualdo, havia uma tempestade se formando no horizonte e Jane achou melhor evita-la. As crianças no navio estavam com diarreia e havia o perigo de não aguentarem chegar até o destino. Esse era um dos motivos de Victhor ter a garrafa com o liquido verde. Aquilo era horrível e intragável, mas fazia bem para o estomago, além de ter algum efeito antibiótico e ajudava com febres altas. Sabe-se lá como ele fazia aquilo, mas funcionava. Jane parecia normal, mas ambos ali sabiam que tinha algo estranho.

— Não vai perguntar de Lantis? – Victhor recebeu um olhar de reprovação vindo de Simon.

— Se ela quisesse saber dele tinha perguntado.

— Você sabe que ela quer saber.

— Você virou vidente por acaso?

— Simon, não haja como uma criança.

— Você que está enfiando assuntos perigosos goela abaixo dos outros.

Jane sorria e as lágrimas rolaram sem querer de seus olhos.

— Oh, não. – Victhor quem notou primeiro. — Eu sinto muito, não devia ter falado nada.

Simon estalou a língua no céu da boca.

— Não, não. – Ela disse sorrindo e limpando os olhos. — Eu estou feliz pela preocupação de vocês, é só que... eu me dei conta...

— Ele ainda não voltou. – Simon sabia que algo estava preso na garganta de Jane. — Desde que saímos da Ilha do Pavão não vimos o sereia.

— Um dos homens disse que viu ele entrando na água com outras sereias, eles estavam na praia da ilha. – Victhor respirou fundo. — Já estamos bem longe de lá.

Jane sabia o que eles queriam dizer, talvez Lantis não voltasse mais. Ela não estava bem com isso, não assim dessa forma. Talvez não de forma nenhuma.

— Me deixem sozinha um pouco. Acho que preciso pensar.

— Você não devia ter entregado seu coração para aquele peixe!

— Simon! – Victhor deu um soco no braço dele.

— Estou dizendo a verdade. – O soco não passou de um grande nada. — Na próxima vez que uma sereia entrar neste navio...

— Simon. – A voz de Jane estava embargada. — Agora não.

— Hm.

Ambos saíram do quarto, Simon foi o último a fechar a porta e só saiu porque Victhor puxava seu braço.

— Você é péssimo em consolar as pessoas.

— Grande bosta, eu vou torcer aquele pescoço de sereia dele.

Já era final de tarde, o sol laranja cobria o navio e o movimento dos homens cessava aos poucos para o descanso. Jane ficou na cama, sentia seus músculos doerem.

— Devo ter sido picada por algum inseto venenoso, não é possível. – Ela levantou-se devagar e foi até a mesa destampando a garrafa e bebendo com careta o liquido dentro dela. Seu corpo doía em cada parte exposta. — Mas que negócio horrível.

Jane deixou um pouco no fundo, havia pedaços de alguma coisa lá que ela não queria engolir, foi até a estante e pegou a caixinha onde guardava as pérolas. Abriu-a com cuidado, seus dedos deslizaram pelas pérolas.

— O que? – Contou mais de uma vez. — Ele... ele deixou a pérola aqui.

Na caixinha havia uma pérola a mais. Jane não sabia quando Lantis havia estado ali e pelo que Victhor disse ninguém sabia. Ele havia entrado em seu quarto enquanto ela dormia? Se ele entrou por que não foi falar com ela? Ah.

— Isso se parece com uma despedida.

Um trovão atravessou o céu e iluminou a cabine. Mesmo tentando mudar a rota ainda não foi possível escapar da tempestade. Jane fechou a caixinha e colocou no lugar, o casaco estava sobre a cadeira, ela não havia reparado antes, mas era o casaco que havia coberto Lantis. Ela o colocou sobre os ombros e abriu a porta. O vento forte, as ondas altas, o céu estava escuro e os pingos grossos chegavam devagar. Não parecia uma tempestade preocupante, Pyra passaria por ela com bastante tranquilidade. Jane foi devagar até a amurada e segurou na madeira com força olhando para o mar agitado abaixo do navio. Aquela criatura lá parecia se divertir com alguma coisa que Jane não sabia o que, ela olhou o horizonte para onde iam e pensou no caminho que ficou para trás. Em quem ficou para trás. Talvez aquela conversa toda e aquela cenas com algemas tenha despertado algo em Lantis e tenha feito com que ele mudasse de idéia. Sim, poderia ter sido isso. Será que depois de tudo ia acabar assim? Se fosse isso, pelo menos ele era uma sereia livre agora e poderia viver a vida que quisesse. Uma vida tranquila no mar ao lado de sereias e não em um navio pirata. Eles haviam feito um acordo... Mas ela iria cobrar de quem agora?

Jane respirou fundo aquele cheiro de chuva sob o mar, seus pensamentos buscavam calma. Esse assunto a deixava bastante cansada.

As gotas da chuva caíram devagar, o som da água contra a madeira do convés ia aumentando e os homens corriam de um lado para o outro terminando os preparativos para a tempestade. Jane caminhou até a proa e via o mar receber a chuva, sentou-se por ali sem desviar os olhos do azul. Embora nenhuma tempestade deva ser negligenciada, aquela seria passada rapidamente e Jane se deixou observar enquanto os outros sabiam o que fazer. Um bando de pássaros passou pelo navio voando contra o vento, uns dois homens aproveitaram a água para lavar algumas partes do corpo e esfregaram bem a barba e regiões baixas, o cozinheiro apareceu com uma panela bem grande de onde coletava água a mais. Tudo corria tão normal que a capitã sentiu-se mal. Mesmo que algumas coisas mudem, que algumas pessoas saiam de sua vida, a vida em si continua da mesma forma. Pouca coisa não será como antes.

— Eu não terei mesmo nenhuma sereia a mais nesse navio.

Jane pensou na situação de Lantis desde que ele havia sido tirado daquela ilha, realmente devia ter passado uma boa confusão na cabeça dele ao ser retirado de uma caixa e colocado em uma cela. Mesmo que a ordem tenha sido de Simon, já que ela estava impossibilitada, ela podia te-lo tirado de lá na primeira oportunidade. Mas havia o medo de que ele fugisse e isso fez com que ela se arrependesse. Se ela o tivesse tirado de lá antes muita coisa poderia ter sido poupada e esclarecida no antes do tempo.

— Ah, que bosta. – Ela colocou para trás uma mecha dos cabelos molhados. Sua roupas encharcadas e a bota transbordava.

Esta capitã não tinha problema com arrependimentos, Jane entendia que se algo de ruim foi feito, o mais natural é se arrepender amargamente dele. Não havia essa de "tudo correu como tinha de ser". Se ela houvesse feito diferente poderia ter tido um resultado melhor. Ela também buscava não se martirizar com arrependimentos e tentar aprender com eles uma forma de fazer diferente em outras oportunidades. No entanto, como humana que era, erraria muitas vezes e nem sempre seriam erros diferentes.

— O que você está fazendo aqui?

Victhor chegou com os cabelos pingando tanto quanto os dela.

— Tomando uma fresca. – Ela disse.

— Ah. – Ele sentou-se ao lado dela, a roupa molhada fazendo uma som engraçado quando ele sentou. — Você devia estar na cama, Simon vai arrancar sua cabeça se te ver aqui.

Ela não disse nada, os pingos acumulando em seus cílios.

— Está pensando em Lantis?

— Estava. – Ela deitou no ombro de Victhor. — Mas não quero pensar mais.

— Bobeira. Você sabe que não deve fugir desses pensamentos.

— Funcionou com você.

— No meu caso foi diferente. – Victhor queria acender um cigarro. — Aquele lá me abandonou.

Jane olhou para ele com uma sobrancelha arqueada.

— É claro que é diferente! – Ele disse dando de ombros.

Ela riu.

— Você acha que ele pode voltar?

Ela pensou um pouco, os ombros um pouco rígidos como se estivessem tensos.

— Acho que isso não tinha como dar certo de todo jeito. Nós somos de mundos diferentes, não ia funcionar.

— Só porque ele tem uma cauda? Ora, Jane! Você já ficou com caras mais peculiares!

— Eu? Com quem?

— Você quer mesmo falar sobre o Zé Coveiro?

— Ah! – Ela colocou a mão na frente do rosto. — Não precisamos, já me lembrei.

— E a Janydra?

— Janydra?

— Sim! A filha do padeiro.

— Ah! – Jane olhou para os pés. – Ela beijava bem pelo menos.

— Jane!

— Ué! Algo de bom aquela víbora tinha que ter!

Os dois riram um pouco, mas o som foi abafado por um trovão.

— Melhor você entrar agora.

— Queria beber algo forte, mas Simon tirou as garrafas de lá, até aquelas que eu escondia.

— Hm, bom garoto.

Victhor bateu a palma da mão nos joelhos e se levantou, fez como se limpasse a poeira das calças, ajeitou o cabelo e estendeu a mão para Jane. Os pingos acumulados nas pontas dos cabelos caiam, o cumprimento pouco abaixo dos ombros quase não era visto quando ele os penteava para trás e usava aquele tipo de pasta para cabelos.

— Eu fiz mais uma garrafada, se você estiver a fim.

— Jamais.

A tempestade não durou mais que meio dia, o Alma Negra continuava seu curso em alto mar e na tarde do dia seguinte interceptaram um navio de correspondências vindo do Império Leste. Esses navios de correspondências eram menores e mais ágeis, um sistema interno estranho estava sendo testado no mar, alguma invenção daqueles estudiosos do Império Oeste, lá estas naus já estavam sendo usadas nos rios e agora vinham expandindo mercado. Claro que o Leste e o Central seriam os primeiros a adquirir, já que eram os mais ricos. Estes barcos a vapor poderiam descer no rio duas vezes mais depressa do que os barcos que substituíram, também podiam subir o rio, o que constituía uma grande melhoria em relação às barcaças. No mar ainda era novidade e raridade ver um desses que não fosse para correspondências, mas no Oeste os rios estavam infestados dessas engenhocas velozes.

— É melhor não dizer mentiras. – Jane tinha a espada apontada para o pescoço do velho senhor responsável pelas correspondência.

— Tenha piedade, senhora, eu só estou fazendo meu trabalho.

— Eu também estou fazendo o meu. – Jane sorriu de lado e o senhor engoliu a seco, sua língua como uma lixa dentro da boca temendo ser cortada se a capitã não ouvisse o que queria.

Um rapaz loiro chegou até onde estavam, seus olhos verdes cheios de entusiasmo pela boa notícia.

— Encontramos.

Ela riu para o senhor a sua frente.

— Ótimo.

Jane guardou a espada na bainha, ao sair da saleta passou pelos guardas abatidos no caminho, nem todos estavam mortos, somente aqueles que relutaram em serem amarrados tiveram suas gargantas cortadas, os outros poderiam ser libertos pelo velho mais tarde. Esse tipo de navio de correspondência também era chamado de Pelagornis e era um trabalho muito perigoso e bem remunerado, já que era visado pelos piratas e outros fora da leis que navegavam no oceano Uno.

— O que encontraram?

Jane aproximou-se de Will e Theodora que liam um jornal. A pilha muito bem amarrada seria distribuída para cópias no Império Central e de lá deveria partir para outros lugares onde as notícias fossem interessantes.

— A Imperatriz do Leste decretou a soltura das sereias. – Theodora mostrou a Jane a página sobre o assunto.

Jane riu.

— Tá bom, que tipo de piada essa Imperatriz pretende contar?

— Não, não, Jane! – Theo apontou para a frase em destaque. — Parece que é mesmo verdade. Ela não vai fazer negociações com nenhum Império que mantiver as sereias sob coleiras.

— Parece que ela está adiantando seu serviço, capitã. – Will disse sorrindo.

Jane respirou fundo.

— Só acredito vendo isso acontecer de fato. Vai libertar as sereias? Ótimo, mas e ai? Elas vão para onde? Vão fazer o que de suas vidas depois de libertas? Alias, essa liberdade só vai de fato acontecer depois que a Ilha das Bruxas não existir mais. – Quando disse a última frase, Theodora percebeu, um brilho oculto reluziu nos olhos de Jane, uma vontade de fazer algo bastante periogoso. Ela adorou a expectativa do que estava por vir.

— O que mais tem aí? – Jane cruzou os braços. — Fala alguma coisa sobre o Rainha do Mar? Thomas disse que a rota deles passaria pelos lados da Ilha Esmeralda, não quero correr riscos.

— Bailes de formaturas, eventos sociais, lista de mortos, informações sobre cultivo. Parece que estão usando patos nas plantações de arroz.

— Patos? – Will tinhas as sobrancelhas desiguais.

"Além de se livrarem das pragas, as aves também ajudam a melhorar o solo das plantações. "Os patos também pisam na palha do arroz para achatar o solo e isso facilita o arado", explicou o produtor de arroz Prang Sipipat. "– Theodora leu um trecho.

— Preferia eles assados com molho suculento. – Will lambeu os lábios imaginando as colheradas que daria colocando uma grande porção de batatas, molho e carne na boca. Seu estomago reclamou alto.

— Serão dez mil patos.

— Dez mil? – Ele arregalou os olhos. — Quanto dinheiro para patos esse Império tem?

— Grande bosta de notícias. – Jane deu de ombros.

— Também morreu um tal de Mesquita, dono do jornal.

— Logo vai ter receita de bolo nesse jornal. – Will riu, mas o riso sumiu depois que Theodora mostrou a ele uma parte que dizia "Receita de Bolinho de Bacalhau".

— Vem do Leste, não é tão interessante quanto o Sul. – Theodora piscou para Will. — No Sul sim tem ação de verdade!

— Espere! – Will mostrou algo quando viu a parte de tras do jornal ainda nas mãos de Theodora. — Tem uma nota aqui sobre o Alma Negra, as letras estão bem grandes dessa vez.

Jane pegou o jornal que Will estendeu a ela, a nota fez a capitã sorrir.

— Essa maldita Priyanka! – Era um sorriso irônico, cheio de rancor. — Queria colocar minhas mãos naquele pescoço!

Jane jogou o jornal no chão e Will tornou a pega-lo com um beicinho.

— Podia só ter me devolvido.

A nota era fácil de ler, o Leste oferecia uma recompensa gorda para quem capturasse o navio escravista Alma Negra e entregasse sua tripulação – principalmente a capitã, vivos. A lista de injurias contra o bem a moral era longa, assim como sempre faziam quando se tratavam de piratas, mas o que deixou a capitã com o humor alterado era o valor da recompensa.

— Estamos valiosos. – Ela passou a mão pelos cabelos colocando-os para trás. Jane tinha o costume de andar com eles soltos, era assim desde criança. Detestava ter que prende-los. — Era disso aqui que Hernandez estava falando. Maldito, esses ricos ainda recebem as noticias primeiro.

— Essa Imperatriz tem algo a tratar com a gente, isso deve ser a forma que ela encontrou de ter o Alma Negra em suas mãos. – Theodora olhava para Jane enquanto falava.

— Ela está espalhando por aí que somos escravistas, isso é golpe baixo. – Jane estava irritada, seus olhos ficaram vermelhos e os punhos trancados. — O Alma Negra nunca foi um navio de escravizados, mesmo no tempo do Capitão Daniel.

Theodora bufou.

— E ainda vão ter caçadores de recompensa no nosso rastro. Vai chover homem livre querendo tirar uma lasquinha desse valor todo.

— Mas por que tanto reboliço por conta de um nome? – Will coçou os cabelos. — Já somos piratas, o que mais importa?

— Eu não amarro pessoas no porão de meu navio e as chicoteio até a morte! – Jane gritou na cara de Will. — Você sabe como são tratadas as pessoas que são vendidas, Will? Essas pessoas são embarcadas à força e aprisionados em porões que mal dá para ficarem sentados. Os escravizados são mantidos nus, separados e os homens permanecem acorrentados só para evitar revoltas. Já as mulheres, sofrem estupros todos os dias por toda a tripulação. Já parou pra pensar sobre isso? Já viu isso acontecer bem na sua frente? Não, né? – Jane estreitou os olhos. — E isso para que? Para que um riquinho, nobre tenha suas plantações bem aradas diariamente e sua casa sempre limpa. O Alma Negra nunca será um navio escravista, nunca!

— Então por que você manteve o Lantis tanto tempo naquela cela?

A pergunta foi pior do que um soco na cara de Jane. Ela não soube o que responder, olhou para Will com uma expressão que só poderia ser descrita como tristeza e saiu de onde eles estavam.

— Juntem as coisas, vamos deixar as correspondências em paz.

— Pegou pesado, rapaz. – Theodora colocou a mão sobre o ombro dele.

— É, eu sei. – Will sorriu. — Eu queria ter dito isso há muito tempo.

— Você não presta.

— Mas é claro que não, por que você acha que eu aceitei fazer parte desse navio?

O navio voltou para sua rota, todos foram alertados sobre a noticia que corria, alguns acharam ótimo fazer parte de um navio famoso, outros sabiam muito bem o que isso queria dizer.

— Desamarrem as cordas, içar velas principais e auxiliares, vamos à frente com toda velocidade que pudermos. – Jane ordenou em claro e bom som.

— E o sereia? Será que ele que vai nos alcançar assim? – Will quem perguntou. Jane não queria ver a cara dele tão cedo, mas sabia que sua preocupação com o amigo era genuína.

— Se ele quisesse voltar a esse navio, ele já o teria feito. – Ela percebeu os ombros de Will murcharem como uma velha enrugada. — Ele vai ficar bem sem nós, assim como nós vamos...

— Pare com isso. – Will olhou para ela sério, seus punhos travados. — Você pode mentir para si, mas não venha encher minha cabeça com essas falsas ilusões.

— O-O que? – Jane arregalou os olhos com a audácia do rapaz.

— Você o quer nesse navio muito mais do que eu, então não finja que não se importa. Você fica olhando para o mar a cada dois minutos, fica procurando pelas ondas, você acha que ninguém esta vendo? Só... – Ele respirou fundo e voltou a encara-la com aqueles olhos verdes atrevidos. — Só vamos torcer para que ele volte logo e volte bem. Isso é o suficiente por agora.

Jane pensou um pouco e sorriu. Talvez seja por isso que Victhor goste dele.

— Sim, vamos torcer para que ele esteja bem. – O vento soprou levando as mechas do cabelo dela a favor do vento, castanhos sob o mar, sob o sol que se punha no horizonte.

O Alma Negra logo encontrou a velocidade desejada, seguiu mar a dentro na rota e os piratas ocuparam-se de seus afazes a bordo.

"É ela?"

"Sim."

"Ela tem os cabelos bonitos."

"Sim, os mais bonitos." – Ele sorriu para a sereia ao seu lado e tendo recebido um sorriso de volta submergiram mais uma vez.

Nota: A noticia sobre os patos é verdade! Dez mil patos!!!!!! É muito pato!

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