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Capítulo 36 - Ilha Pavão II

Hernandez arregalou os olhos e sorriu maquiavélico.

— O-o que? – O homem segurou-o pelo queixo e apertou, as marcas de seus dedos cravadas na pele dele. — Você fala? – Ele ria mais alto. — Você fala! Quantas sereias eu já tive em minha vida! Nenhuma era capaz de falar! – Ele puxou os cabelos de Lantis para trás. Aqueles cabelos macios sendo tratados com tanta covardia. Jane havia tateado por ali, deslizando os dedos em suas mechas. Ela sentiu raiva, muita raiva. — Você é uma preciosidade!

Lantis estava ajoelhado, seus pulsos e tornozelos amarrados com tanta força que Jane sentia os próprios doerem. Ele estava nu e por mais que pudesse se curar, as marcas ainda podiam ser vistas pelo seu corpo. Além de uma bela e vermelha poça no chão a sua frente.

— Então você estava fingindo esse tempo todo, - O homem deu um gole na bebida que havia colocado por cima da mesa. — Um belo reprodutor você tem aqui, capitã. – Constatou, colocando o charuto fedorento na boca e deixou que a fumaça saísse em direção ao rosto do sereia. Lantis prendeu a respiração para não aspirar aquele ar, seu peito exposto, sua nudez para que todos vissem. Jane poderia cobri-lo com o próprio corpo se fosse capaz. — Vai ser lindo ver ele comer todas as sereias que tenho aqui. Minha coleção é farta, eu admito ser um homem ganancioso, mas ainda não tinha nenhum macho desse porte. Que belo presente você me trouxe.

Lantis mantinha o tempo todo a cabeça baixa, sentia o suor escorrer por suas costas em tensão, os olhares sobre ele não cessavam, hora ou outra ouvia comentários sobre ele. O caminho até ali havia sido cheio de socos e golpes, mas o que mais o assustou foram as ameaças sobre o que fariam com ele. Era sempre assim, sempre a mesma coisa, sempre desse jeito.

Não passou um segundo desde que havia dito a última frase, Hernandez puxou de novo os cabelos de Lantis para trás forçando o sereia a olhar para ele.

— Um belo par de olhos azuis você tem aqui, talvez eu deva arrancá-los e coloca-los num vidro na minha prateleira de troféus.

Jane avançou em direção ao homem que arqueou as sobrancelhas, não havia a menor possibilidade de pedir que ela se controlasse. Jane queria parti-lo ao meio, esquarteja-lo, rasgar seu corpo com uma faca. Ela gritou pois uma mão forte segurou seu braço impedindo-a de realizar o que queria. Lantis ergueu os olhos para ela e outros dois homens foram em direção a capitã, Jane nem tinha visto que eles estavam ali.

— Espere. – Simon a puxou pelo braço antes que os outros a alcançassem. Ele direcionou o olhar para Hernandez e o homem sentiu um frio percorrer a espinha, mas não deixou transparecer rindo mais uma vez. Aquela risada dele lembrava Markus e Jane não gostou nada daquilo, sua respiração estava ofegante e seu sangue fervia.

— Não me entendam mal. – Ele disse depois de engolir a seco. — Mas quem iria resistir? – Ele apertou os ombros de Lantis. — Imaginem vocês, que eu estava dormindo quando um de meus homens bateu a porta as pressas dizendo que havia avistado uma criatura peculiar na praia. Depois que ele me deu as descrições eu não podia acreditar na minha sorte. Mas eu devo dizer que ele foi muito bem treinado, - Ele deu tapinhas no rosto de Lantis. — Lutou bravamente contra seis homens meus, mas é difícil vencer com a espada quem tem uma arma de fogo. Você bem sabe. – E riu alto mais uma vez. — Agora, o seu navio está sendo difícil de achar e esse sereia não quer me dizer nada, capitã Sanches.

Jane olhou para ele com as sobrancelhas erguidas. Ele ficou satisfeito com a reação dela.

— Você também devia saber que sua fama chegou longe, uma capitã pirata que tem um sereia macho em mãos não se vê todos os dias por ai. Sabia que tem uma recompensa pela sua captura? Ah, mas é claro que deve saber. Piratas como você fazem de tudo para terem o pescoço a prêmio, quanto mais alto melhor. – Ele riu. — Mas posso dizer que eu te entendo, depois que tive seu sereia em mãos, não foi difícil entender seus motivos de querer mantê-lo só para você. Ele é mesmo uma peça rara, - Disse deslizando as mãos sobre os ombros de Lantis, o sereia tentava a todo custo esquivar-se, mas não tinha muitas opções do que fazer. O cheiro de Lantis inebriava o cômodo e os olhares em direção a ele faziam a cabeça de Jane latejar.

— Cale a boca.

— Hm?

— Cale essa maldita boca! – Ela gritou. — Tire essas mãos imundas e porcas de cima do meu sereia. – As últimas palavras foram pesadas e vagarosas. — Tire logo essas mãos imundas dele!

O homem ficou chocado, os outros dois ao redor dele também, mas logo como ele estava sempre fazendo, começou a rir e seus subordinados o acompanharam. Jane viu mais três aparecerem atras de si, mas de que submundo que essa gente estava brotando?

— Você não está em posição de ser tão agressiva.

Armas apontadas para ela, Lantis sob a mira de outra arma. Jane estava ferrada.

— Eu vou arrancar as suas tripas. – Foi Simon quem disse, sua mãos sob o ombro de Jane sentiam o corpo dela tremer.

O homem engoliu seco mais uma vez, disfarçou como se salgo tivesse preso em sua garganta.

— Venha até aqui. – Ele fez sinal com o indicador para que Jane fosse até ele. Simon segurou-a pelo ombro, seu olhar não saiu de cima do homem. — Venha, ou eu arranco a orelha dele. – Ele pegou uma faca de cima da mesa – que continha marcas de sangue, e colocou sob a orelha esquerda de Lantis. — Vamos ver se esta parte se regenera rápido também.

Jane tirou as mãos grande de Simon dela mais uma vez, ele sentiu seu corpo queimar e Hernandez tinha sob si o olhar vingativo do maior homem que já havia visto em sua vida.

— Ajoelhe-se. – Ele ordenou. — Vamos! – E passou de leve a faca na pele do rosto de Lantis para encorajar Jane que estava parada a sua frente. O sangue escorreu até o queixo do sereia.

Ela o fez, Lantis estava a sua frente e olhava para ela. Hernandez esticou os braços na direção dela e agarrou seus cabelos, segurou-os com força e forçou Jane a olhar para o chão.

— Não é hora de namorar! – E riu alto sendo acompanhado de seus subordinados. Isso estava tão irritante... – Sabe o que é capitã, não estou gostando nada desse jeito como esse cara está olhando para mim. Preciso ensinar boas maneiras a ele.

O rosto de Simon empalideceu e ele deu um passo à frente.

— Vocês piratas se acham demais, se acham os donos de tudo, mas na verdade são só uns sacos de bosta. Hã, hã! – Hernandez pegou a faca e colocou sob o pescoço de Jane. — Paradinho aí. – Então esticou seus pés na direção do rosto de Jane, sem desviar os olhos de Simon.

— Lamba.

Os subordinados riram baixo, Simon e Theodora franziram a testa com a diferença que Theodora não parecia ter saído das profundezas do submundo. Lantis abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Jane tinha uma expressão séria demais que o fez ficar quieto. Seja o que for que ele dissesse faria aquele momento se tornar ainda pior.

— O que está esperando, capitã? Um convite por escrito? – O couro preto daquele sapato caríssimo chegou bem próximo a boca de Jane e o odor veio forte em suas narinas.

Jane sabia que aquilo era pura provocação, mas ela não tinha outra saída ou quem pagaria o preço de seu orgulho seria Lantis. Ela respirou fundo e moveu o pescoço um pouco mais a frente, Theodora tentou conter os braços de Simon, mas sem sorte nenhuma e o homem só parou quando teve uma arma apontada bem na sua testa.

—Calminha aí.

Simon rosnou e o homem sentiu os joelhos fraquejarem um pouco, sua garganta secou e ele desviou os olhos mantendo a mira no lugar.

— Não estou brincando, capitã, vou contar até três e...

O que aconteceu em seguida foi um tanto espantoso para todos. O escritório de Hernandez era amplo e tinha moveis requintados, havia uma enorme janela de vidro que dava para um lindo jardim onde inúmeros pavões andavam de um lado para o outro. Ali aconteciam suas negociações e todo tipo de tramite, Hernandez tinha prazer em olhar pela janela e ver o patrimônio que havia conquistado. De fato, o vidro da grandiosa janela era bastante resistente, mas o impacto de corpos contra ele foi suficiente para que ele estilhaçasse no chão.

Dois lançaram-se janela adentro e vidro voou para todos os lados. Um tanto atingiu Hernandez que estava bem próximo, outro tanto atingiu os seus subordinados. Jane não sentiu aqueles que perfuraram sua pele, aproveitando o momento de distração, avançou para junto de Lantis e tentou proteger o corpo dele com o seu. Foi um tanto eficiente.

— A cavalaria chegou! – Will disse sacando a espada e indo em direção aos homens que estavam ali. Victhor por sua vez usava uma arma e disparos foram dados em direção a Hernandez que correu para se esconder.

O tinir de espadas, o sangue esparramado, socos, disparos, gritos de mulheres histéricas e portas sendo arrombadas foram ouvidos por toda a casa. Assim como Jane tinha aqueles que vieram por ela, Hernandez também tinha os seus e ele sorria ao pensar na capitã sendo enforcada como exemplo em sua ilha.

— Meus homens vão acabar com você! – Embora também fosse um homem, estava bastante escondido detrás de um móvel enquanto os seus tentavam lidar com os piratas.

— Fique atras de mim. – Ela disse a Lantis.

— Me desculpe, eu devia ter ficado no navio...

— Ele machucou você. – Ela disse, uma linha de sangue escorrendo de um corte acima do olho. — Ele não devia ter tocado em você.

— Eu sinto muito.

O coração de Jane congelou.

— Não, você não tem culpa de nada. Não se desculpe por isso. - Ela levantou o rosto dele. — Ele vai sentir mais.

Em pouco tempo a casa ficou cheia de gente, os piratas do Alma Negra contra os homens de Hernandez. Uns caiam mortos de um lado e outros sustentavam o próprio corpo de outro. Jane tinha uma espada cheia de sangue em mãos, não sabia quantos tinha matado, mas em cada um descontada a própria raiva e dessa forma as dores em seu corpo seriam sentidas somente mais tarde.

Eu devia tê-lo trazido junto comigo. Devia ter ficado de olho nele! – Esses pensamentos corriam por sua mente.

— Théo! – Rupert chegou arfando, sangue cobria sua roupa. — Ela não está aqui?

— Vi Theodora correndo atras de dois homens próximo a escada. – Alguém disse.

— Atras de dois homens? – Rupert sorriu depois de pensar. — Eles estão ferrados! – E saiu correndo para onde ela deveria estar.

No escritório de Hernandez só havia o caos, homens não cansavam de brotar e o grupo de piratas ali lidava com eles, o senhor da casa, nobre e rico, esgueirou-se no meio da luta numa tentativa falha de sair sem ser visto. Falha, muito falha, já que desde o início alguém não tirava os olhos dele.

— Espere! Espere! Eu posso te dar muito dinheiro, eu tenho muitas posses! – Hernandez não conteve o medo quando viu um touro trotando em sua direção, ajoelhou-se no chão e por pouco não molhou as calças. Jane estava do outro lado do cômodo lidando com dois homens junto de Lantis e ambos viam a cena.

O machado de Simon era bastante pesado, os calos em suas mãos eram dedicados à anos segurando aquele objeto, o uso contínuo o levou a quase perfeição e a lâmina era frequentemente afiada. Simon mirou o machado bem na cabeça de Hernandez e quando desceu o sangue jorrou por todo lugar. Foi preciso um tanto de sua força para retirar o machado que foi do alto da cabeça e dividiu a boca dele em duas e não parou com os golpes até que cumprisse o que havia dito a ele.

— As tripas dele realmente ficaram para fora. – Jane disse com um sorriso, Lantis achou aquilo estranho, mas não disse nada.

— Já chega. – Foi Victhor quem segurou os braços de Simon e o fez parar. — Já está tudo bem agora, veja. – Ele apontou para Jane que colocava seu casado por cima do corpo de Lantis, os dois últimos homens de Hernandez haviam caídos no chão, um não estava totalmente morto. — Ela está bem.

Aos poucos os piratas foram tomando a casa, Pyra havia mandado um grupo a mais para ajudar Jane, esse era o combinado e veio bastante a calhar. Sorte da capitã ter aliados tão inteligentes ao seu lado. As moças da casa foram trancadas em um cômodo, Victhor garantiu a elas que nenhuma seria tocada, mas que elas deveriam permanecer ali até alguém vir tira-las de lá, caso contrário ele não poderia cumprir sua promessa. Com os olhos marejados e uma gratidão bem pequena, as moças ficaram no local e obedeceram o que disse o languido rapaz de óculos.

— Por que nunca deixam os piratas estuprar as moças? Não é isso que os piratas fazem?

— Ah, Will, - Victhor passou a mão ajeitando os cabelos enquanto respirava fundo buscando paciência. — Sim, a maioria estupra, mas não sei se você já percebeu, nós não somos como a maioria. Além disso temos uma capitã, uma mulher, desde que assumiu o navio Jane não permite estupros. Os que acontecem são sem que ela saiba.

— Por isso ela sempre procura ilhas com bordeis...

— Sim, mais fácil de lidar, embora ainda haja casos entre os homens.

Jane estava num canto com Lantis ao seu lado, ela tinha pedido a ele um minuto para que pudesse organizar a mente, mas ainda que tentasse controlar, algo amargo subia por sua garganta.

— O que você veio fazer aqui?

— Eu vim ajudar. – Suas palavras pesavam em sua língua. — Ouvi o pessoal no navio dizendo que o caminho era perigoso e um grupo voltou bem mal, então... eu...

— Você podia ter morrido de tantas formas que eu nem sei dizer. – Ela mordia os lábios e não olhava para Lantis. — Eu podia ter voltado ao navio e não ter encontrado você, podia ter achado seu corpo caído num dos lamaçais, podia ter visto sua foto ao lado de Hernandez na próxima festa de gala que ele desse nessa porra de ilha... podia nunca mais encontrar você.

— Eu não consegui ficar lá sem fazer nada.

— Mas devia ter conseguido. – Sua voz era baixa, mas soava áspera. — Você devia ter ficado dentro do navio.

Lantis franziu a testa.

— Você devia ter me trancado então.

— Sim, eu devia.

Lantis não esperava por aqui, Jane não esperava ter dito aquilo, mas foi o que aconteceu.

— Então você mentiu esse tempo todo. Você me deixa livre, mas eu só posso fazer o que você quiser, o que você deixar.

Lantis puxou um pouco mais o casaco para cobrir os ombros, sua nudez de algum modo o incomodou.

— Acho que é isso que os humanos chamam de hipocrisia. Uma cama quente e um par de algemas, é isso que...

Ele não continuou. As mãos de Jane tremiam enquanto ela olhava para ele, os olhos dela fundos como dois poços escuros, os lábios arroxeados e a pele pálida.

— Se eu perder você, o que eu vou fazer? – A voz imponente da capitã estava fraca e entrecortada. — Se você for pego por um desses... Eu juro que invadiria cada ilha que fosse preciso, destruiria cada navio que entrasse na minha frente, eu... eu não suportaria a ideia de não ter você. Eu, - Ela mordeu os lábios com tanta força que seus dentes ficaram marcados ali. — Eu prenderia você em uma corrente se fosse preciso.

— Isso é...

— Errado! – Ela tentou manter a calma, mas ela esvaia-se por suas mãos trêmulas. — O problema é que eu não suporto não ter você, - Jane tocou o rosto com ambas as mãos. — Como eu fui tola! Você está certo, eu sou hipócrita, a pior entre todas. Eu ainda penso em você como algo que me pertence. – Ela ainda não o olhava. — Não espero que você me perdoe por pensar assim. – Agora ela virou-se para ele, um misto de raiva e tristeza estampadas em sua face.

Lantis tentou entender o que ela sentia, era difícil para ele compreender. Talvez poucos tenham visto Jane da forma como ele a via, de maneiras tão frágeis e chorosas como agora. Embora ele não fosse o tipo que prenderia alguém a algemas, ele entendia quando ela dizia que não suportaria ficar sem ele.

— Querer alguém por perto não é errado. – Suspirou. — Eu sinto muito, Jane, eu não devia ter saído de lá desde o inicio.

— Eu devia ter percebido isso com mais clareza há muito tempo. – Jane tinha um olhar fundo, algo a corroía por dentro. — Mas eu tinha medo e agora eu sei que eu tinha muito medo. – Ela passou a mão no rosto, sangue e suor misturados. — Desde o inicio eu sempre tratei você como um cativo.

— Não, você...

— Você sabe que é verdade.

Ele engoliu a seco, sim, ele sabia.

— Mesmo isso que existe entre nós não pode abafar o que é e o que não é real. O problema disso tudo é que, - Ela fez uma pausa sofrida, seus lábios se contorceram e ela mordeu o inferior. – Hoje eu percebi, eu não me arrependo de ter mantido você ao meu lado. Quando eu penso que você podia ter sido levado por alguém, que você podia ter ido embora se quisesse e ficado livre, realmente livre para viver a sua vida, uma vida sem mim, ... Eu não quero nem pensar sobre isso.

—Você não é como os nobres que me aprisionavam em suas camas, você não é assim, Jane. Eu sinto muito por ter dito aquilo.

— Ah, Lantis. – Ela sentia-se ainda mais culpada por ele não entender. — O que eu mais quero é ver você livre, mas como eu faço isso se ainda quero manter você preso a mim?

Os piratas se organizaram para levar objetos valiosos para o navio, uma outra rota seria utilizada e havia pressa em sair dali.

— Descobrimos quem foi! – Um dos piratas trouxe uma das meninas colaboradoras pelo braço. — Essa puta conseguiu escapar pela janela e pegamos ela no canavial.

Victhor a encarava, havia visto seu rosto entre as meninas que mandou ficarem no quarto.

— Levem-na.

O destino dela já não estava em suas mãos.

Acontece que as fogueiras ficavam acesas o tempo todo e quando ajuda fosse necessária bastaria um tanto de fumo para que uma fumaça preta desse o alarme aos outros e a menina havia feito isso, era uma jovenzinha boba que usou de uma das janelas para fugir e agora uma das fogueiras subia preta para o céu e com isso o sinal estava dado. Logo a Ilha do Pavão estaria infestada de homens da marinha imperial.

— Você tem certeza que é por aqui? – Jane perguntou a ele, ela apoiava o próprio corpo nos ombros de Lantis, algo de errado havia acontecido com um de seus joelhos durante a luta.

— Sim, eu posso sentir a pérola, mas é bem fraco.

Lantis tentou insistir em desculpas, mas Jane dizia que não era mais necessário. Ficar no navio havia sido a ordem que ela deu a ele, mas nem ela mesma a cumpriria se estivesse na posição do sereia. Mas isso não impedia que a capitã ficasse irritada com ele e nem que tivesse dito todas aquelas coisas, ou que as sentisse.

— Você deve fazer o que eu disser na próxima vez. Não pode sair do navio sozinho e nu desse jeito, você viu o que fizeram com você e teria sido muito pior se nós não estivéssemos lá.

— Ele não fez o que você está pensando.

Jane parou os passos.

— Eu não queria perguntar sobre isso.

— Eu sei, por isso estou te dizendo, ele não fez. Mas iria fazer, ele estava me dizendo os detalhes de como faria.

— Esqueça. Não pense nessas coisas.

— Ser uma sereia é sempre assim, por onde quer que nós vamos, além do risco de morte ainda corremos o risco de sermos estuprados em todo lugar e por qualquer pessoa, homem ou mulher não importa.

— Vou manter você ao meu lado, ninguém vai forçar você a nada.

— Eu sei, mas eu serei obediente na próxima vez, prometo.

Lantis estava sendo verdadeiro, mas Jane ainda mantinha uma expressão preocupada em seu rosto. Não era isso que ela queria ouvir porque isso fazia seu coração concordar.

— Chegamos. – Ele disse.

— Aqui?

Era apenas um corredor como todos os outros, quadros nas paredes e velas para iluminação penduradas em candelabros.

— Tenho certeza, eu posso sentir ela mais forte aqui.

— Tudo bem. – Jane desvencilhou-se dos braços de Lantis que ajudavam a sustentar-se, ele ficou olhando para o espaço ao seu lado agora sem o calor do corpo dela. Jane passou a mão pela parede e tentou puxar alguns candelabros. — Oh! – Ao tocar um quadro ele adentrou um pouco mais a parede. — Me ajude aqui. – Os dois retiraram o quadro de lugar e atras dele havia uma pequena alavanca sem poeira, Jane a puxou e uma das paredes deslizou para o lado mostrando a eles uma escada.

O caminho era escuro e ao desceram ficava menos quente e mais abafado, ao final da escada um corredor, tochas na parede estavam apagadas e os dois seguiam bem próximos um ao outro. Jane sentia a respiração de Lantis em seu pescoço, ela andava devagar.

— Você tem certeza que não quer que eu te cure?

— Já disse que não precisa. Cure você primeiro, ainda posso ver as manchas roxas pelo seu corpo.

Jane ficou imaginando que tipo de objeto usaram para bater nele e deixar marcas tão graves assim. Ao mesmo tempo não queria nem pensar.

— O que é isso? – Ela colocou a mão sobre a parede, havia uma protuberância ali.

— Cuidado, pode ser perigoso.

— Então fique mais para trás. – Ela disse depois de girar o objeto.

A porta foi aberta devagar, havia luz dentro do cômodo. Olhos azuis por todos os lados, cabelos cor de palha, peles esbranquiçadas e olhares apáticos.

— Então era aqui que elas estavam. – Jane disse abrindo espaço para que Lantis passasse. — Quando ele falou sobre elas fiquei me perguntando onde elas estariam, então era aqui.

Havia cinco sereias presas em algemas nas paredes, três delas não tinham nenhuma tornozeleira, o que indicava que ainda não havia sido levada as Bruxas. Estas, quando viram Lantis, pareciam ter deslumbrado a presença de algum deus.

— Vamos solta-las primeiro. – Jane reparou na expressão do sereia, a urgência de seus movimentos e a boca sem dizer nenhuma palavra. Lembrou-se de ter dito há pouco como o prenderia para que ele fizesse o que ela mandasse, seu estomago deu um nó e por pouco ela não vomitou.

As chaves estavam bem a vista penduradas numa das paredes, as sereias suavam e estavam nuas, Jane sentiu não ter nada que as pudesse cobrir.

O cômodo em si não tinha nada demais, enquanto Lantis ia retirando as algemas e as sereias sentavam exaustas no chão, Jane reparou no lugar. Haviam apenas paredes e alguns baldes. Ela não quis olhar o que tinha dentro.

— Jane. – Lantis chamou sem urgência.

Ele escorava uma das sereias nos braços, tão magra quanto a finura de um dedo, Lantis deitou-a sobre o chão, ela respirava com muita dificuldade.

— Ela está morrendo.

Foi o tempo de Jane chegar até eles, a sereia olhou para ela e mesmo sendo uma das que usavam tornozeleira, Jane sentiu como se ela realmente a visse. A sereia era bonita, como todas eram, como aquela primeira sereia era, aquela para quem Jane nunca conseguiu entregar o cordão de concha.

— Eu sinto muito. – Jane tocou seu rosto, um misto de sentimentos chegou até seus olhos.

A sereia não olhou para ela mais, fitou Lantis e Jane se perguntou se eles possuíam alguma ligação.

Lantis tocou o rosto daquela sereia e ela fechou os olhos. Era estranho como seu rosto pareceu muito mais feliz assim, mais calmo, finalmente em paz.

— Vamos levar as outras daqui.

— Quero levar ela também.

— Não precisa mais. Quem ela é vai voltar e não vai mais precisar de um corpo que só carrega as marcas de dor. – Lantis levantou-se e ajudou Jane a se levantar. — O corpo dela vai se desfazer em água, não vai ficar aqui muito tempo.

As outras sereias selvagens olhavam para Lantis, uma delas entrelaçou seus dedos naquela que usava a tornozeleira. Jane sentiu vontade de chorar. Eram como irmãs que se uniam depois de uma longa data.

— Elas sabem que vamos ajudar, a pérola está aqui também.

— Isso que existe entre vocês...

— Eu não sei explicar, é coisa de sereia.

— Ah.

Mais à frente escondida pela pouca luminosidade havia mais uma passagem, dessa vez o corredor era bem menor e eles chegaram em outra sala. Ali havia mais de uma porta, provavelmente dava em outro lugar da casa. Esta sala decorada com luxo possuía muitos objetos e no centro, dentro de uma redoma de vidro, estava exposta a pérola. Lantis aproximou-se sem que fosse preciso dizer nada, retirou a redoma de vidro e jogou no chão, os estilhaços fizeram barulho e a pérola ficou exposta. O rosto das sereias se iluminou, Jane se perguntou se elas sentiam algo diferente.

— Vamos sair daqui agora. – Lantis pegou a pérola e fechou ela em sua mão, quando abriu não havia mais nada ali. As sereias olhavam para ele com grande admiração, seguravam em seu braços e agarravam-se a ele, Jane via um pouco mais de longe, um sentimento ruminando em seu peito.

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