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Capítulo 34 - O Cão Voador


As horas passaram devagar, o vento esfriava o corpo suado dos piratas no navio, nuvens cinzas os aguardavam mais à frente.

Ele sorriu enquanto via ela fingir estar dormindo. Ela sorriu de volta quando ele tocou seus cabelos e deu um beijo leve em sua boca. Sem dizer nada, levantou-se da cama e recolheu suas roupas no chão e as vestiu, ela observava-o. Um pouco mais amarrotado que o normal ele girou a maçaneta da porta da cabine.

— Não quero te causar problemas, por isso estou saindo agora, - Ele disse ainda na porta. — Mas não quero fingir que isso nunca aconteceu.

— Não precisamos fingir nada, pode voltar aqui e ficar o dia todo comigo. Mato quem falar qualquer merda quando resolvermos sair.

Ele sorriu, sabia que ela dizia a verdade, mas também sabia que custo isso traria num navio pirata cuja capitã – mulher, dormia com um sereia. Não que houvesse arrependimento, longe disso, mas qualquer um outro poderia entender a situação que se causaria se os piratas o vissem ali, se Simon o visse ali ou se Jane ficasse o dia inteiro trancada com ele, o que na realidade era o que ela queria.

De fato, Lantis não esperou que ela dissesse algo mais antes dele bater a porta, se ela dissesse mais uma vez "Não vá!" provavelmente ele nunca mais sairia de lá.

A contra gosto Jane também vestiu suas roupas e foi até o convés, encontrou Simon na amurada olhando para baixo. As olheiras denunciavam as noites consumidas pela ansiedade de a ver Ana. Os ventos daquela região rugiam em seus ouvidos dando a eles calafrios.

— Grandão, – Ela disse. Ele encarou a face avermelhada de Jane, o vento batia em seu rosto e jogava os cabelos para trás. — O que está olhando aí? – Ela debruçou seu corpo olhando as águas lá embaixo.

— Ele está maior do que antes, — Depois de uma pequena pausa ele continuou. — Se é que isso é possível.

— Isso te preocupa?

— Na verdade sim. – As rugas na testa dele confirmavam. — Quem garante que ele não vai nos atacar quando estiver com fome?

Ela respirou fundo ainda olhando lá para baixo, uma sombra dançando junto ao casco do navio, movimentos rápidos e certeiros contra a refeição da manhã.

Ela nos garantiu, já conversamos sobre isso. – Jane virou as costas para o mar, escorando-se na amurada.

— Ela garantiu muitas coisas.

— Sei que tem dificuldade em confiar na sereia, - Jane tocou sem ombro. — Mas não deixe de confiar em mim.

Se ele não queria confiar na Imperatriz das Águas que ao menos confiasse nela. Desde o início da Campanha, há anos atrás, eles haviam conversado sobre isso e Simon concordara com os termos oferecidos, ele ajudaria Jane em seu nobre objetivo e ela garantiria a ele uma cura para Ana, uma que fosse definitiva de verdade, ela sabia que Ellyn cumpriria sua palavra no final e depois do que Lantis fez em suas costas ela tinha ainda mais certeza, só não poderia dizer esta última parte a Simon.

— Eu só quero que isso acabe logo, que as dores dela acabem logo.

— Eu sei. – Jane deitou a cabeça no braço de Simon, já que não alcançava seu ombro para escorar-se ali. — Prometo que logo vamos voltar a vê-la e levar boas noticias.

Ele respirou fundo ainda olhando para o mar, passou a mão nos cabelos de Jane e desfez as rugas insistentes no meio de suas sobrancelhas. Ambos ficaram ali um pouco mais de tempo, até que seus corações ficassem mais calmos, cada um com seu próprio motivo.

Aproximando da rota que levava a ilha flutuante de Romualdo, o Alma Negra encontrou-se com mais dois navios conhecidos seus, eles aproximaram e trocaram informações a respeito das rotas e sobre a marinha imperial. Tudo era feito rápido dentro dos navios, eles emparelhavam e as pontes eram estendidas, havia aperto de mãos e muito cuidado com a velocidade. Com o primeiro Jane trocou poucas coisas, aproveitando das joias que Lantis trouxera do fundo do lago ela obteve material para as velas do navio, algumas cordas extras e dois mosquetes. Foi um acordo simples, os dois não conversaram muito, mas o capitão enfatizou que sabia sobre o ocorrido na Ilha Liberdade e Jane deu a ele duas joias a mais como uma acordo não dito para manter o segredo de sua rota. Embora talvez não fosse preciso, o capitão do outro navio aceitou assim mesmo.

— Devíamos afundar o navio dele.

— Simon...

— Ele vai falar de você. – Victhor também concordou com ele.

— E vamos afundar quantos navios então? Porque o mar está cheio de navios e vamos passar por eles. Se formos fazer isso com todos que encontrarmos, não vamos ter tempo de fazer o que realmente importa. – Jane sabia que eles não estavam de todo errados, mas ali era o mar e navios estão por todo parte. — Precisamos focar nas prioridades. Emboscadas e ataques custam muito mais do que tempo, vocês sabem disso.

Os outros dois não concordaram e viram aquele navio sumir mar afora com desgosto. O nome do Alma Negra e de sua capitã, principalmente o fato de ser uma mulher, circulava por ai entre os piratas. Quem dizia que era conhecido de Jane Sanches chamava a atenção e histórias com o nome de Jane passaram a ser contadas, nem todas eram boas e nem todas eram verdade.

No segundo encontro, Jane soube através do homem da gávea que o navio a aproximar-se era de um velho amigo seu. O entusiasmo de Jane foi perceptível, seus olhos e sua boca sorriram juntos e logo ela mandou subir a bandeira para parear. Quando o capitão do outro navio apareceu na proa, seus cabelos sobre os ombros balançaram com o vento, seu sorriso alto podia ser ouvido de longe e seus olhos brilhantes caíram de imediato sob a capitã.

Thomas, capitão do navio "Cão Voador", atravessou a passarela que ligava os dois navios com os braços abertos, os cabelos meio soltos e meio presos, o sorriso ele mantinha do mesmo jeito, mas parece que algo havia acontecido a sua perna desde a última vez. Jane aguardava-o no Alma Negra.

— Há quanto tempo! – A cintura de Jane foi envolvida por braços fortes e seu corpo sofreu um aperto caloroso. Os músculos de Thomas sempre foram muito bem definidos e podiam ser sentidos por baixo de sua roupa. — Que saudades eu tinha de você!

— Por onde andou? – Ela quis saber.

— Por aí, você sabe, sempre cheio de tarefas. – Ele retirou dos cabelo dela algo branco, como o fio de um lençol. — Você ainda tem aquele vinho bom?

— Venha.

Thomas sorria para Jane enquanto ela o guiava até a cabine, entraram e a porta foi fechada. Para os piratas que sempre estiveram por ali aquilo não era nenhuma novidade, para outros o queixo estava caído, para o sereia, que viu tudo desde o anuncio do navio chegar, a cena toda lhe causava uma grande irritação.

— Parece, - Will quem chegou ao seu lado com um esfregão em mãos. — Que os dois são velhos amigos. A capitã e aquele cara enfrentaram alguns brancos juntos no passado e se tornaram comparsas em algumas investidas, mas não acho que tenha nada demais, apesar de ele ser um cara bonito.

Lantis olhou para ele com a mesma cara que estava.

— Não me olhe assim, - Will levantou os braços. — Eu só falei porque achei que você queria saber. E eu também acho que sou muito mais bonito que ele, então você não tem com o que se preocupar.

Lantis respirou fundo, não ia tentar entender a lógica de Will agora.

— Por que você está com este esfregão? – Lantis trocou o assunto.

— Simon mandou eu limpar o convés.

— O que você fez dessa vez?

— E como eu vou saber? Se eu respiro perto dele, ele me manda fazer alguma coisa.

Lantis deu um riso que saiu pelo nariz, Will passou o braço ao redor de seu pescoço.

— Você por acaso está com pena de mim? Quer vir me ajudar?

— Tudo bem.

— Como você é bonzinho, por isso que os caras... – Will parou o que ia dizer quando percebeu que ofenderia. — Por isso que os caras adoram você! – Ele riu alto e Lantis ficou olhando mais uma vez sem entender.

Thomas estava sentado de frente para Jane, ela servia um gole do vinho numa caneca de prata.

— Você está mais magra que da última vez.

— Não é minha aparência que importa.

— Bobagem! A aparência sempre importa, dizer isso é perda de tempo. – Ele pegou a caneca que foi oferecida e bebeu um gole. — Ah! Isso é muito bom!

— E como você está? Tem tido muito trabalho pra fazer? E estou perguntando do trabalho sério.

Thomas era um bom amigo, conheceu Jane logo que ela que se tornara capitã do Alma Negra e sempre que se encontravam trocavam mercadorias, informações e bebiam juntos, o navio "Cão Voador" era maior e mais pesado que o Alma Negra e passava-se por um navio cargueiro, pode-se dizer que Thomas era um pirata corsário por possuir o selo Imperial do Oeste para passar ileso pelos brancos. Dessa forma também ele conseguia a maioria das informações de forma limpa.

— Fiz uma limpezas nas águas do Oeste umas semanas atras. – Ou seja, matou uns homens e afundou uns navios. — Vossa Majestade, o Imperador, não gosta que trafeguem em seu território sem pagar o imposto devido.

— A Marinha Imperial sabe desses feitos?

— Eu levei alguns presentes para eles também.

— Hathor sendo Hathor.

— Mas sério, Jane, o que houve com você? Faziam meses que não tinha noticias suas, cheguei a procurar na Marinha por seu nome na lista de enforcados. Por acaso você voltou a ...

— Estive nas fazendas de Markus por uns tempos.

— O que? – Ele disse isso depois de quase engasgar. – Você esta doida? O que foi fazer num covil daqueles?

Jane contou a ele um pouco da verdade, foi um pouco tão pouco que Thomas mal pode acreditar.

— Você tem sorte de estar viva! Mas da próxima vez que tentar algo assim, me convide! Eu irei com você, podemos detonar ilhas juntos como nos velhos tempos!

— Você é arruaceiro demais, gosta de chamar atenção.

— Você que devia aproveitar um pouco mais a fama. Saiba que seu nome está circulando por todos os lados. Há muitos piratas atrás do Alma Negra vindo do Oeste e Sul, isso era algo que eu precisava te dizer.

A capitã já esperava por isso, obviamente eram os homens de Benjair, mas a surpresa veio quando Thomas disse que os brancos também faziam campanha para a sua captura.

— O que acha de confrontarmos alguns brancos por ai? Em memória aos velhos tempos? Depois podemos nos afundar em vinho bom e cama quente, o que acha? – Ele tocou a mão dela sob a mesa e acariciou o dorso. — Ainda tenho aquela marca que deixou na minha barriga, quer ver?

Thomas levantou a camisa e ia expondo a pele quando a porta da cabine foi aberta. O rosto fino e os olhos azuis encararam Jane.

— Simon.

Thomas olhava para o rapaz que ainda tinha a maçaneta na mão.

— Simon? – Ele olhou para Jane e depois voltou a sorrindo para o rapaz. — Ele não está aqui. Pode nos dar licença, rapaz? Estamos tentando ficar ocupados aqui.

— Simon está chamando você,

A porta foi fechada num rompante, não sem antes Lantis lançar um olhar ameaçador para Thomas.

— Mas que modos!

Jane levou a mão a temporã e esfregou a região.

— Eu devia ter trancado a porta.

— Bem, podemos tranca-la agora mesmo. O que acha? – Thomas era muito bonito e usava roupas elegantes. Abriu as pernas na cadeira e ia abrindo o cinto da calça quando algo a mais posou na madeira em frente a suas partes mais intimas. — Jane! Vai arranca-lo fora desse jeito!

— Guarde isso! – Ela disse ao levantar-se e passou por Thomas retirando a adaga que havia fincado ali. — Me encontre em seu navio.

Thomas não entendeu muito bem, mas a ameaça a sua área viril não o fez contestar e dando um último gole no vinho, partiu em direção ao Cão Voador que ainda estava emparelhado ao Alma Negra.

Jane por sua vez pisava firme na madeira do navio, viu as costas largas de Simon saindo da área de carga e fez um sinal com a mão para que ele esperasse e entrou. Simon não entendeu nada, estava atras de Will e não sabia o que Jane poderia querer com ele.

— É melhor você dizer o que está pensando de uma vez. – Ela disse as costas de Lantis. Ele havia ido até o final e estava com os punhos escorado numa das paredes do navio.

— Eu não sei o que pensar.

— Converse comigo e eu ajudo você. – Ela deu um passo a frente e depois mais um, ficando próximo a ele.

— Fique aí. – Ele pediu entre os dentes.

— Ou o que?

— Ou eu não me responsabilizo pelos meus atos. – Independente de quem estivesse por perto, era mais forte que ele.

— Eu me responsabilizo. – Ela disse e ele acatou.

Lantis foi para cima de Jane e virando as costas dela contra a parede beijou sua boca como se fosse a última coisa que havia de fazer em sua vida. Uma de suas mãos seguraram os pulsos de Jane juntos no alto de sua cabeça e com a outra ele apertava, um pouco forte, a cintura dela. Jane correspondeu àquele ritmo sôfrego deixando que Lantis conduzisse com seus movimentos. Ele abriu dois ou três botões da blusa dela e beijou seu pescoço, ela soltou um gemido baixo e ele voltou a beijar sua boca.

Lantis soltou os punhos de Jane e com a mão livre afastou as pernas dela um pouco, sua mão deslizou por baixo da blusa e seus dedos tocaram a pele de Jane, uma corrente de arrepios percorreram o corpo da capitã que sentia-se vulnerável ao enlace do sereia.

— Jane... – Ele disse seu nome em seu ouvido, uma voz baixa, lasciva, em forma de súplica.

Ela não poderia derreter-se mais.

— O que eu faço, Jane? – Ele continuou sem mudar o timbre. — Eu estou com muita raiva, mas ao mesmo tempo quero cobrir você com tudo o que há mim.

Jane segurou com certa delicadeza os cabelos na nuca de Lantis.

— Acho que você esta com ciúmes, por que me viu com Thomas.

Lantis tapou a boca dela com a sua e beijou-a mais uma vez.

— Não diga o nome dele. – E olhando-a com intensidade, Jane viu os azuis nos olhos dele. Também havia vermelho, dando um tom lindo de lilás. — Diga o meu.

— Lantis. – Ela disse olhando fixo para ele.

— Mais uma vez.

— Me beije.

E ele o fez. Mais de uma vez até que os dois estivessem satisfeitos e com as bocas inchadas.

— Só isso não vai ser o suficiente.

— Vá a cabine hoje a noite. Não deixe que ninguém o veja.

— Sim, senhora.

Os dois saíram juntos do mesmo lugar, o olhar Simon alcançou-os quando chegaram a porta. Ele não iria dizer a Jane que voltou a deposito e os viu juntos.

Jane foi até o Cão Voador e Thomas a esperava próximo a ponte de madeira que ligava os dois navios. Juntos caminhavam pelo convés numa conversa despreocupada.

— O Norte vai receber uma grande carga vindo do Leste e de Sunacai. – A voz de Thomas era como sua aparência, calma e suave. — Você deve evitar essas rotas, eu soube que o Rainha do Mar vai fazer a escolta do Leste e você não vai querer encontrar com Sr. Mitchell.

— Não mesmo, vou estar bem longe daqueles lados por algumas semanas. – Jane dizia. — Oh, veja quem já está melhor!

O navio de Thomas era peculiar, nele além de piratas também haviam alguns cachorros, a maioria resgatados de cais ou aqueles que foram abandonados ao mar. O Capitão tinha um bom temperamento e cada vez que Jane encontrava com ele haviam mais cachorros a bordo. Alguns ele conseguia doar, mas a maioria ficava tão apegado a ele e ele aos cães que mesmo com as dificuldades do dia a dia ele os levava consigo.

Jane fez cafuné em um filhote que mancava, o pelo pretinho e os olhos brilhantes eram como os de uma criança.

— Este safado! – Thomas o pegou no colo e recebeu muitos beijos lambidos. — Da próxima vez que brigar com um caranguejo vai ficar sem patas!

O cachorrinho remexeu em seu colo e ele o pôs no chão de madeira com delicadeza. Ainda sorrindo virou-se para Jane:

— Por acaso você tem se encontrado com o Capitão Soo? Venho procurando por ele, mas não obtive nenhuma notícia.

— Faz tempo que não o vejo, — Jane organizou o cabelo desgrenhado pelo vento e por outros motivos. — Da última vez ele estava procurando a coroa do antigo rei do Norte. Ele deve ter ido para as bandas de lá.

— Entendo. – Thomas fitou o céu acima deles, Jane acompanhou-lhe o olhar. Thomas deixou que ela visse as nuvens sozinha e passou a observar a capitã. — Você está bonita.

Jane desceu os olhos até os dele, esgueirou as pálpebras e aproximou-se do corpo de Thomas devagar enquanto ele segurava o riso entre os dentes.

— Pare já com isso! – Ela disse, havia humor em seu tom de voz.

— Ora Jane! – Ele ajeitou uma mecha do cabelo dela que caia sobre os olhos. — Vai dizer que não aproveitou nosso tempo juntos?

Ainda que estivesse com o corpo próximo ao dele, Jane não sentia nenhuma emoção ou qualquer atração que fosse. Os dois riram pelas lembranças de tempos atrás, Thomas mostrou a ela a marca próximo ao umbigo, a capitã parecia surpresa, alguns homens passavam pelos dois com cordas e barris, a maioria cumprimentou Thomas.

— Naquela noite você foi muito agressiva! – Ele disse num bico forçado.

Jane parecia não acreditar naquelas palavras.

— Você me provocou!

— Eu disse "Você não teria coragem de me esfaquear" e você enfiou uma faca em mim!

— Eu estava bêbada. – Ela deu de ombros

— Nós estávamos nus sobre minha cama, Jane! – Sua voz saiu mais alto do que esperado, porém nenhum dos dois ficou constrangido, todos nos dois navios sabiam das histórias deles. — Eu tive que levar cinco pontos e ainda carrego uma cicatriz!

— Para você lembrar de não me desafiar de novo. – Ela sentiu um arrepio por trás de suas costas como se alguém os observasse. O que era muito estranho pois claramente muitos os observavam. O que teria de diferente? — E eu nem enfiei a faca por inteiro.

Thomas caiu na risada e teria oferecido sua cama novamente a Jane se não fosse um par de olhos azuis o engolirem.

— Pela deusa! O que eu te fiz homem?

Jane virou na direção em que Thomas olhava e deparou-se com um Lantis estaticamente irritado, as pupilas dilatadas e a íris num azul avermelhado beirando o roxo, seus olhos ainda permaneciam lindos, mas a carranca incitava o medo. Se fosse algum outro homem, provavelmente sairia das vistas dos dois assim que fosse descoberto prestando atenção na conversa, mas Lantis continuou encarando as duas figuras a sua frente alternando o olhar entre Jane e Thomas.

— Eu não me lembro de tê-lo insultado, na verdade não me lembro dele no Alma Negra antes de vê-lo abrindo portas. Quem é este Jane?

— Lantis. – Ela respondeu de forma fria e pouco convidativa a novas perguntas. Thomas cerrou os lábios acenando com a cabeça num "ah sim" silencioso.

Thomas não era bobo, entendeu perfeitamente a troca de olhares entre os dois e numa forma de provocar ainda mais aquele que os olhava, ele aproximou os lábios da orelha de Jane e disse baixinho:

— Parece que ele quer arrancar a minha cabeça. – Ao terminar a frase ele deixou um selinho na bochecha dela.

Jane o olhou em reprovação, ele levantou as mãos em rendição e sorrindo.

— Me desculpe, sabe que eu não resisto a essa pele macia que você tem!

Ao retornar o olhar para Lantis ele já não estava mais lá.

— Ele é bem bonito. – Thomas continuou. — Eu não me importaria de tê-lo em minha cama junto com você numa próxima vez. – E como Jane ameaçou pegar a espada em sua cintura ele saiu andando para o lado enquanto sorria.

Thomas tinha esse jeito, não era má pessoa, na verdade Jane gostava dele, os dois já brigaram algumas vezes e já se ajudaram tantas outras mais. Houve um tempo em que a intimidade deles chegou aos lençóis e Thomas mostrou-se um homem perdidamente apaixonado. Para seu azar, Jane percebeu a intenção antes que ele lhe propusesse algo mais sério e como as pérolas já eram seu objetivo ela afastou-se dele. Pode-se dizer que o pesar estava em ambos os corações, mas ela sabia que seria melhor assim. E de fato foi.

Jane e Thomas conversaram um pouco mais, trocando informações e cruzando dados e logo os navios se distanciaram. Will andava de um lado para o outro com caixas de latas colocando na dispensa enquanto Victhor anotava tudo em seus papéis. Theodora reparou que ambos estavam estranhos, mas não disse nada. Era melhor em não se meter nesse tipo de coisa...

— O que há com vocês? – Ela perguntou a Will enquanto ele colocava mais uma caixa sobre a pilha.

Ela não resistiu.

— O que? – Will limpava o suor da testa com a camisa, seu abdômen suado e definido puxaram os olhos dela por um instante. — O que foi Theo?

Ela limpou a garganta para depois falar.

— O que aconteceu entre você e o Victhor?

Os olhos de Will arregalaram, não adiantaria nada ele dizer que estava tudo bem, ele era bem transparente em suas emoções.

Ele respirou fundo por um momento.

— Ele me entregou para o Simon!

Theodora pensou por um momento, ela havia reparado em Simon andando pelo navio atrás de Will há um tempo atrás, o sorriso desenhou-se nos lábios dela.

— Eu tenho que limpar aquela merda todo dia durante quinze dias, de novo!

Theodora curvou-se para rir, uma gargalhada alta e contagiante, se Will não estivesse irritado ele teria acompanhado.

— Ele não disfarça que te detesta!

— Ele me detesta? – A pergunta era sincera.

— Ah vai a merda, Will! – Theodora disse séria e logo juntou os lábios para depois voltar a rir das próprias palavras.

Will balançou a cabeça e ameaçou sair, Theodora segurou o rapaz pelo ombro.

— Não, espera um pouco. – Com a outra mão ela limpou a lágrima que formou em seus olhos. — Pronto, pronto. – Depois de respirar fundo mais de uma vez ela continuou. — Sério, Simon não gosta de você. Deve ser esse seu jeitinho muito agradável. Mas não é sobre isso que quero falar. Você e Victhor estão meio afastados porque ele te entregou ao Simon? Isso não me parece um bom motivo. Mesmo que você estivesse puto com ele por isso ele viria até você. – E como o loiro não disse nada. — Victhor não vai se aproximar de você se algo mais sério que isso aconteceu de verdade. Então pare de ficar fazendo bico e suspirando pelo navio e vai logo resolver as coisas com ele.

— Eu não estou susp... – Ele foi interrompido pelo dedo indicador dela em sua boca.

— Esta sim. Todo mundo já reparou. – Ela abanou com as mãos como se faz com um filhote. — Vai logo resolver, vai, vai!

A verdade é que Victhor não estava ignorando Will por raiva ou rancor, mas ele precisava dizer ao loiro de alguma forma que os atos dele tinham consequências, que nem tudo pode ser feito a desculpa de ser brincadeira e que as pessoas deviam ser levadas a sério. Aquele dia em que Will pegou seu livro e Victhor o pressionou sob a mesa ainda repassava em sua memória.

William suspirou de novo, até que avistou Victhor indo ao depósito com o livro de anotações na mão e sem pensar me mais nada foi atras dele.

O rapaz de óculos conferia as latas com a escrita em seu livro, estava concentrado, mas reparou quando o loiro apoiou o ombro no batente da porta. Ele não disse nada até que os suspiros de Will passaram a incomoda-lo demais.

— Se não tem nada a dizer vá suspirar em outro lugar, está atrapalhando o meu trabalho.

Will engoliu seco pela aspereza no tom de Victhor. Não estava acostumado com aquele tratamento, normalmente o amigo sorria para ele e deixava que ele ficasse por perto contando suas histórias ou fazendo perguntas sobre o trabalho no navio e sua vida.

— Eu tenho algo a dizer sim. – Ele esperou sem nada acontecer. — Pode virar para mim e olhar para minha cara? Não vou me desculpar com suas costas.

Victhor até então não tinha parado com as anotações. Ele fechou o livro e devagar virou-se para Will. O loiro aproximou-se desconfortavelmente demais de Victhor.

— Vic, me desculpe por aquele dia. – Ele apoiou as duas mãos uma em cada ombro do outro. — Eu não devia ter provocado você. – Ele fez uma pequena pausa para mais um suspiro. – Eu sei que está apaixonado por mim, mas...

O ar ao redor de Victhor ficou pesado.

— Espere um minuto! – Victhor o interrompeu de supetão. — Eu estou apaixonado por você?

A confusão no rosto de ambos, contudo somente Will enrubesceu as bochechas, a pergunta ecoando em sua mente.

— Sim, você... – Ele pôs os braços cruzados sobre o peito. — Não está?

A expressão de confusão e dúvida no rosto dele levaram o mal humor de Victhor embora e ele sorriu pouco mais alto que o habitual.

— Não estou. – Ele disse entre os risos e respiros.

Os olhos de Will correram pelo rosto de Victhor a procura de sinais que o desmentissem. Ele não encontrou nada que pudesse usar como desculpa para continuar acreditando que o outro realmente o amava. O loiro fez uma expressão de desapontamento e Victhor resolveu ceder um pouco.

— Não que você não seja atraente. – Ponderou as palavras. — Mas eu não estou apaixonado por você.

Will desfez o sorriso que ameaçou brotar em seus lábios assim que Victhor terminou a sentença.

— Mas...então por que tem andando comigo durante todo esse tempo?

De fato, não havia muitas pessoas no navio que tinham paciência para a falação que Will arrumava todos os dias. Mesmo Victhor não sabia de onde ele tirava tanto assunto e tantas histórias, mas como o loiro sempre respeitava quando ele pedia silêncio, Victhor sempre o mantinha por perto.

— Porque você é meu amigo. – Victhor mostrou-se obvio acompanhado de um sorriso em seus lábios finos que Will reparou era um belo sorriso.

Will sentiu-se emocionado, de fato não tivera muitos amigos ao longo da vida, somente aproximavam-se dele homens e mulheres interessados em sua aparência. O loiro aproximou ainda mais de Victhor e o abraçou.

— Obrigado.

Victhor ficou um pouco chocado, mas retribuiu o abraço, Will era uma pessoa emotiva e Victhor gostava disso nele.

— Mas como isso é possível? – Will afastou-se do corpo de Victhor devagar.

— Bom, nós estamos juntos desde aquele dia na ilha e como Simon te detesta...

— Simon não me detesta, ele só não gosta muito de mim... mas não é isso! - Victhor foi interrompido quando ia começar a falar. — Como você não está apaixonado por mim? – Ele deslizou a mão pelo peito até a intimidade. — Olha só esse corpo sedutor!

Victhor revirou os olhos e voltou a abrir o livro e olhar as latas.

— Sério mesmo, Vic! O que em mim não te agrada? – Will ficou entre Victhor e as latas. — Meus olhos são verdes demais para seu gosto? Ou seria meus lindos cabelos loiros? Você prefere os morenos? É isso?

— Se continuar a falar essas baboseiras eu não vou desculpar você.

Will que estava mostrando a ele os gominhos em seu abdome parou na mesma hora. Sorriu com satisfação pela desculpa alcançada e sorriu como sempre fazia.

— Tudo bem, eu entendo que nem todos apreciam a perfeição da natureza. – E como haviam caixas de latas no chão ele as pegou para guardar. — Mas não me pense que me conformei com isso, você me despreza porque ainda não reconheceu as minhas qualidades.

— Você é lindo Will só não faz meu tipo.

Will fora apunhalado e voltou a repetir a falação sobre como era possível que ele não fosse o tipo de Victhor já que era tão lindo e perfeito. Por fim os dois voltariam a estar sempre juntos com Will jurando que faria Victhor engolir aquelas palavras e se apaixonar por ele. Com qual objetivo ele não saberia dizer, mas que ele queria, ele queria.

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