Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 3 - Mercadoria Roubada

Oi Gente! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Aqui temos mais um capítulo! Aos poucos vamos conhecendo as personagens. 

Não esqueçam de votar nos capítulos e deixar comentários com suas opiniões, por favor!

Obrigada! Beijos =**

Simon e os outros dois andavam pelo centro da ilha, muitos olhares eram dirigidos a Simon com sua altura fora do comum e sua cara amarrada, eles eram alvos de piratas curiosos que cochichavam sobre o paradeiro do Alma Negra e o que teria acontecido com o navio depois que o Capitão havia sido morto. Algumas ruas eram largas e ladrilhadas com pedras grandes, a areia subia com o vento e grudava nas roupas, a umidade não incomodava mais do que os pernilongos que picavam sem parar, a noite o verão castigava e deixava todos pingando de suor. Victhor viu quando os ex-companheiros bebiam e riam no prostíbulo e sentiu-se aliviado por serem tolos e fáceis de enganar. À medida que iam se afastando dos olhos curiosos Simon dava passos mais firmes e Victhor o acompanhava com Willian fazendo perguntas sobre Jane e o navio o tempo todo. Mais de uma vez ele recebeu ameaças se não ficasse quieto, o que dava alguns minutos de sossego e depois mais perguntas.

Eles pararam próximos a uma casa com a janela ainda aberta, havia luz fraca e cheiro forte de fumo misturado a ervas, William tentou espiar pelo parapeito e foi logo repreendido por Victhor que rosnando advertiu o novato, Simon estava a ponto de socar suas fuças. Alguns homens passaram próximo e perceberam o burburinho que Will fazia tentando se explicar a Victhor, Simon tinha grande dificuldade em disfarçar, deixando para Victhor o papel de acenar e com um largo sorriso fazer observações sobre o tempo.

Fiiuuu! - Ele assoviou puxando a gola da camisa e soprando dentro. — Um baita calorzão né, amigos! Bom pra tomar uma cerveja e se esfregar numas moças. - A risada forçada veio seguida pela risada alta de Will.

Os homens franziram a testa e foram embora, quando a barra estava finalmente limpa, os tripulantes do Alma Negra tiraram um saco de algodão cru dos bolsos, dentro deles haviam objetos cilíndricos de cor vermelha com um pavio na ponta.

– Isso é, o que eu estou pensando que é? - Willian perguntou a Victhor numa mistura de euforia e irritação.

– Sim, Will.

— Mas o que? Como vocês conseguiram isso?

— Compramos no Mercado Flutuante. - Victhor respondia com boa vontade, mas Simon o encarava feio. — Não são difíceis de conseguir se você é um pirata.

Will riu alto e deu uns tapinhas nas costas de Victhor que não pareceu entender o motivo.

Eles repassaram o caminho com Victhor fazendo observações sobre os possíveis perigos, haviam homens astutos na ilha que se desconfiassem deles poderiam pôr o plano todo a perder. O aspecto inacabado das construções e os blocos soltos no chão dariam a eles uma vantagem. Simon era contra, mas Victhor deu algumas pedras a Will e explicou-lhe como deveriam ser posicionadas:

— A ponta deve ficar assim. - Ele mostrava duas pedras grandes do tamanho de um pulso.

— Puta merda! Isso aqui vai causar...

— Cala boca, caralho! – Simon retrucou e recebeu um olhar irritadiço de Victhor. Ele continuou com a cara fechada, mas virou o rosto para o outro lado.

— Will, - Disse Victhor. — Precisamos ser discretos, você entende o que isso quer dizer?

— Essas pedras vermelhas só são encontradas na Vila dos Mineradores, em Kandramar! Ninguém nem sabe se essa vila existe de verdade e vocês tem as malditas pedras que explodem!

— Quem não acredita que Kandramar existe é estupido. Agora pare de falar bobagens e guarde isso. – Victhor entregou a ele um tipo de apito fino como o dedo de uma criança, o objeto era muito leve e era feito de algo semelhante a vidro.

— Não! Isso é...

— Sshhh!!! – Victhor tapou a boca dele antes que Simon o fizesse. — Sim, nós sabemos o que é e sabemos o que pode fazer. Agora vamos continuar em silêncio. Certo?

Com Will movendo a cabeça em afirmação, enfim o trio pode seguir seu caminho.

No caminho de volta ao centro os três foram colocando as pedras vermelhas nos lugares menos movimentados, na estalagem e no pequeno estábulo. Victhor ficou próximo a Will e lhe ensinou como deveria coloca-las de forma que ninguém as visse antes da hora. Simon afastou-se deles e estava demorando a voltar de perto dos cavalos, Victhor deu de ombros, mas Will fora ver se estava tudo bem. Simon estava acariciando um cavalo de pelagem branca quando Will o pegou desprevenido com uma expressão quase feliz no rosto, ao vê-lo, Simon fechou a cara e saiu bufando de raiva.

Will não conteve o sorriso.

Eles encobriam as pedras vermelhas com trapos ou qualquer coisa que tivesse por perto, os cronômetros de cada grupo estava acertado, logo chegaria a hora, e Pyra aguardava o sinal. A lua já estava alta, Simon percebeu alguns piratas observando o que eles faziam.

— Vamos logo com isso.

— Vocês vão criar um grande estrago com tantas por aí. - Will não estava realmente preocupado, mas achou que devia expor seus pensamentos. Ele recebeu um sorriso de volta.

— É isso que queremos.

E foi o bastante para ele gostar de fazer parte daquele grupo.

Victhor ia andando ao seu lado, deixando Simon aliviado por não ter que dar ouvidos as ladainhas do mais novo.

Na praia, havia grande movimento no Alma Negra, Pyra revisava coordenadas e Theodora estava atenta às observações do homem na Gávea. A lua iluminava o que as lamparinas não conseguiam e logo deveria ser o momento de partir.

— Acabamos de verificar os canhões como a senhora pediu. - Um dos piratas dirigiu-se a Pyra que verificava a rota no mapa na cabine do capitão.

— Certo Rupert, - Ela não desviou os olhos das anotações a sua frente. - Deixe todos em alerta - e quando o outro já ia saindo ela completou. — Ah, Rupert!

— Sim?

— Hoje não pouparemos armas e munições, se houver uma luta daremos a vida para trazê-la de volta, todos devem estar preparados para isso.

Rupert fez um meneio de cabeça e deixou Pyra de volta as suas anotações. Eles iriam utilizar uma rota diferente desta vez e nada poderia dar errado. Nada.

Na taberna, Benjair estava animado com as negociações sobre o sereia, seu orgulho e vaidade estavam inflados com a atenção que recebia.

— Meu caro Sr. Maud, - Benjair tragava um charuto jogando a fumaça para cima encarando o senhor rechonchudo a sua frente. — Acha mesmo que eu lhe venderia uma criatura magnífica dessas por apenas duzentas moedas de ouro?

— É minha oferta final e eu havia lhe dito cem moedas. - Não era a primeira vez que Sr. Maud fazia negócios com Benjair, sabia bem como ele era trapaceiro - Não vai conseguir mais do que isso por aqui, eu lhe garanto.

O velho negociante recebia olhares de Markus, que pouco atrás vinha tomando conhecimento da conversa.

— Ele está certo, ninguém tem mais a oferecer do que este ilustre benfeitor. - Seu sorriso largo era tão falso quanto os elogios que fez ao homem rico.

— Sempre com esse cigarro fedido. - Maud abanava a fumaça da cara, mas sorria mostrando os vários dentes de ouro.

— Mas ainda é pouco! Você sabe que não é fácil ter um sereia por estas bandas. - Benjair, enfático, dirigia-se a Markus que continuava a soprar fumaça por cima da cabeça de Maud e lhe indicava com caretas que devia aceitar a oferta.

— Em pouco mais de dois anos você recupera o dinheiro, Maud. Não seja mesquinho... - Benjair indignado tentava persuadir o ricaço.

A negociação discorria sobre o quanto o sereia era valioso e caro, o tempo passava e o velho não arregava no preço, Benjair havia ordenado que o sereia fosse trancado dentro de um caixote próximo a estalagem. Markus que tinha mais o que fazer do que estar ali estava ficando irritado, mas deixava que Benjair continuasse com seus negócios, por mais caro que o sereia fosse vendido, maior seria sua parte.

Os homens vigiavam o sereia despreocupados, fumavam seus cigarros de palha, a fumaça subia enquanto falavam sobre as noites quentes em companhia das prostitutas de Madame Falcão e sobre as histórias que surgiram no mar depois que as águas abaixaram. Falavam de monstros marinhos que engoliam pequenas embarcações de uma vez, de cardumes de peixes que voavam acima das águas, serpentes marinhas que provocavam o terror e sereias submissas que fariam o que eles quisessem. Vislumbravam o céu, riam alto e esqueciam dos problemas com a Marinha Imperial, que há tempos causava a morte de muitos piratas conhecidos seus.

O sereia ouvia pouco do riso deles. O caixote era abafado, o suor percorria seu corpo e ele mal conseguia respirar, estava sentado, os joelhos dobrados na altura do peito, os cortes provocados pelas guelras saindo em busca da água ardiam enquanto voltavam a fechar e ele estava com fome e sede.

Do lado de fora soprava uma brisa úmida como a água do mar.

— Tem alguém aí? - Um dos homens ouviu um barulho no meio do mato e se pôs em alerta.

— Apareça! - O outro fez sinal, empunharam as espadas e foram até os arbustos ver o que era.

De dentro do caixote, o sereia ouvia os ruídos, haviam começado uma luta, ele distinguia as rajadas de espada desferindo golpes violentos.

Eram quatro homens que apesar de serem maiores estavam em desvantagem, o oponente tinha movimentos certeiros e não deixava passar nenhuma brecha, pés rápidos, olhos fugazes, movimentos leves e fortes iam pra cima com tudo. A luta não custou a terminar, um punhado de sangue no chão, cortes profundos que soltavam as tripas do estômago e logo os homens já estavam caídos.

— Quem é você? - Um deles no chão sentia a bota apertar sua garganta enquanto o par de olhos castanhos o encaravam.

Não houve resposta.

O movimento para limpar o sangue da espada provocou um som no ar, o sereia temia por ser o próximo alvo. Temia, porém, estava tentado a desejar que fosse assim. Bastava para ele de tudo aquilo...

Algo golpeou o caixote, ele sacudiu um pouco. Mais uma vez. Mais uma.

Um som estranho veio de longe, parecia um apito.

Quem quer que estivesse tentando abrir o caixote parou e afastou-se para logo voltar e golpeá-lo com mais força.

Dessa vez abriu um pequeno buraco na madeira. O sereia podia ver alguém erguer um machado acima da cabeça, o apito soou de novo e o machado veio com tanta força que por pouco não rachou o sereia junto com o caixote.

— Você consegue correr?

Ele encarou a figura a sua frente, reparou no rosto suado, na respiração ofegante e no sangue em seus braços.

— Consegue ou não? Não temos tempo!

Ele fez que sim e os dois correram rápidos, com ele seguindo Jane floresta adentro.

Um pouco longe dali havia um outro homem assustado:

— O que está fazendo? - Will gritava exaltado demais.

Sem dar ouvidos a ele, Victhor soprava aquele apito feito de algo semelhante a cristal. Simon havia saído na frente, deixando-o por conta do restante. Aquele era o sinal e logo tudo estaria pelos ares.

— Apresse e me siga. Não vai demorar muito pra essas pedras vermelhas explodirem. - Victhor verificava o relógio de bolso mais uma vez. — Não tá na hora de conversas!

— Era o que eu estava dizendo! Vocês são doidos!

Will não gostou do sorriso que recebeu em troca.

— Não era um elogio!

Victhor andava depressa com o rapaz em seu percalço.

— Siga em direção à praia, disfarce, não deixe que percebam o nervosismo na sua cara.

— Cala a boca! Eu sei muito bem. - Will tentava caminhar sem olhar para os lados, mas era quase impossível, já que todos pareciam os observar.

Victhor percebia a tensão do novato, tentou puxar algum assunto, distraí-lo, mas sem muito sucesso: ele também estava pouco nervoso.

As pedras vermelhas eram fáceis de manipular e explodiam como pólvora em canhões. Demorou um tempo para que Simon conseguisse a quantidade certa, mas todo seu esforço valera a pena já que agora Jane poderia retornar ao Alma Negra e dar prosseguimento a sua missão. Era algo pelo qual eles lutavam há muito tempo, algo que valia arriscar a própria vida.

Na taberna a cantoria havia cessado, Benjair logo descobriu o desaparecimento do sereia. Jamais pensou ser roubado na ilha que considerava como casa sua fúria era louca, destruindo aos socos tudo que via pela frente, agarrava os homens pelas golas e jogava-os longe. Markus tinha a expressão fechada, estava mais preocupado com o valor investido do que pela sanidade do velho.

— Eu vou matar o desgraçado que fez isso! Vou matar! - Os olhos dele arregalados e suas veias saltavam no pescoço.

Um dos seus entrou esbaforido.

— Senhor, um deles ainda está vivo!

— Traga-o para mim! - Seu grito poderia ter sido ouvido de longe...se não fosse pelas explosões. — O que foi isso?

Várias explosões tiveram início próximo e longe deles, fora da taverna havia uma grande confusão, piratas corriam com baldes de água tentando apagar o fogo, outros acalmavam os cavalos alvoroçados com o barulho e outros corriam com as roupas em chamas.

— Filhos da puta! - Benjair estava espumando pela boca.

Sem se alarmar com a confusão, Markus recebia informações do homem que fora trazido ainda vivo sangrando pelo corte no abdômen. Ele respirava com dificuldade, perdia muito sangue, estava apoiado nos ombros de um outro, murmurando como havia escapado por pouco. Markus até então, mantinha um sorriso cínico na boca, ouvindo com desdém o que ele dizia, pensando na cara que Benjair faria quando dissesse que agora estava endividado com ele pela perda do sereia. Sua expressão passou a ficar séria quando o ouviu falar sobre a mulher, Markus agarrou-o pelo colarinho e pediu detalhes sobre ela.

— Foi ela, senhor Markus. – Sua voz soava fraca. - Foi aquela que o senhor trouxe das suas fazendas...

Benjair notando algo grave, vinha aproximou-se, preocupado.

— O que foi? Conte-me rapaz!

Markus ficou por detrás dele, pensativo sobre o que acabara de ouvir. Aquela maldita! - Ele sabia muito bem quem tinha feito aquilo.

— Foi uma mulher senhor. Estava dizendo ao senhor Markus, a forma como ela usava a espada não era normal! - A voz do moribundo era trêmula - Foi aquela que... - Ele foi morto, enfim, com corte na garganta. Caiu formando uma poça ao seu redor.

— Venham comigo. - Markus passou por cima do corpo sem se importar com a mancha de sangue nas botas. - E você Benjair chame mais dos seus. - Ele deixou de lado a faca suja de sangue. - Vamos encontrar aquela vadia e recuperar o que é nosso de uma vez.

Jane e o sereia corriam desvairados pela floresta e apesar dos esforços, eles não eram rápidos o suficiente. Passavam pelas árvores, escorando em seus troncos, tropeçando nas raízes, sendo arranhados por galhos e duas vezes o sereia caiu.

— Estamos quase chegando, se esforce mais um pouco. - Ela o sustentou em seus ombros e o pôs de pé para continuarem a correr. No escuro, os olhos deles brilhavam como duas luas em alto mar e Jane teve de manter a compostura para não fazer nenhuma bobagem.

Sem aguentar mais os dois precisaram parar, cansados, apoiavam as mãos nos joelhos, respirando com dificuldade, Jane ansiava pela visão da praia.

— Falta pouco, sereia. - Ela arfava buscando o ar com dificuldade, a garganta e as narinas ardiam. - Logo vamos chegar.

Para o desespero deles, latidos adentraram a floresta e vozes furiosas alcançavam seus passos, em silêncio, Jane sinalizou para que continuassem correndo, ela deixou que ele fosse a frente depois de mostrar a trilha que levaria a praia.

O Alma Negra era o único navio mais próximo da praia, Pyra havia levado-o até o limite sem que o casco ficasse preso na areia, de modo que um escaler podia ficar posicionado para partir a qualquer instante e chegar rápido até a areia da praia. Da amurada do navio Simon ainda ouvia as explosões da vila, a fumaça subia alta e os gritos chegavam até a praia. Will e Victhor que haviam chegado a pouco estavam no convés enquanto aguardavam a chegada dos dois últimos, com tudo preparado, eles estavam a postos para partir.

O grandão continuava na penumbra, olhos atentos, um grande machado nas costas, pronto para qualquer coisa.

— Simon, os homens já estão nas posições, se precisar estamos armados até os dentes.

Simon não a olhou de volta, Pyra sabia que ele estava preocupado.

— Vai dar tudo certo, logo ela estará aqui. - Ela tocou seu ombro, ele estava tenso, muito tenso. Os olhos fixos na trilha buscavam a figura de Jane e a cada minuto a vontade de ir atrás dela aumentava.

Victhor e Willian vieram ao lado de Simon e olhavam juntos mata adentro. Algo chamou a atenção de Will.

— Escutou isso?

— O que? - Victhor não ouvira nada mais que os movimentos das ondas abafando as explosões.

— Escute!

— Do que está falando? Não estou ouv... ? - Sua boca foi tampada pelas mãos de Will.

— Cachorros. - O loiro disse.

Finalmente Simon viu algo se mexer dentro da trilha, uma figura corria em direção a eles e ao aproximar-se caiu na areia da praia rolando até a linha d'água. O céu da noite escura não dava visão e a preocupação estava estampada no rosto de todos os piratas.

Não houve tempo para pensar e o escaler seguiu a frente com toda velocidade que os braços fortes podiam remar.

— Onde ela está? - Simon foi primeiro ao alcançar o sereia. — Cadê a Jane, porra?

O sereia não conseguia responder, estava exausto demais, ergueu o braço e apontou trilha adentro.

— Jane? - Pyra chegou depois, seguida de outros que ergueram o sereia pelos ombros. Simon tinha os olhos vidrados no corpo daquele sereia, havia sangue ali, mas nenhum sinal de corte.

— Eu sinto muito. - A única coisa que o sereia foi capaz de dizer soou como um gatilho aos ouvidos de Simon.

— Encontre-a Simon! - Pyra gritou ao ver o amigo correndo em direção a trilha e sabia que ele só voltaria quando estivesse junto de Jane.

A trilha estava escura, a lua ofuscada pelas nuvens não ajudava a clarear o caminho e as raízes das árvores dificultavam seus passos. Simon ouvia os estalos do fogo ao longe e os sons dos cachorros se aproximando. Sabia que logo haveria muitos homens ali e temia que ela tivesse sido pega.

— Jane! - Ele chamava sem resposta. — Jane! - Ele desejava ouvir sua voz de dentro da escuridão. — Jane!

Simon só pensava no pior, não era um homem de esperanças e tão pouco de fé. A cada passo que dava seu coração saia pela boca, a cada curva na trilha o medo de encontrar o corpo morto de Jane aumentava. Lembrava do rosto retorcido em gargalhadas de Benjair e Markus e o sangue fervia em suas veias.

— A tal deusa... se você existe mesmo... não me tire ... não leve a Jane também. - Quem sabe, se ele tivesse ouvido Ana e tivesse aprendido a rezar...

— Simon! - A voz era um sussurro. — Simon!

Seu coração iria sair pela boca, ele correu o mais que pôde naquela direção.

Malditas árvores, seus galhos e suas raízes! Parem de esconder a Jane de mim!

Não havia tempo a perder a voz que antes era um sopro ao vento agora não era mais ouvida.

— Cadê você Jane? - Ele chamou em desespero.

— Simon... - Não havia mais nenhuma força. Se ele não a encontrasse agora...

— Jane! - Ela estava com a roupa ensanguentada e um homem morto ao seu lado. — Segure firme. - Ele pegou-a no colo, passando os braços dela por seu pescoço. O sangue vinha de um tiro no lado esquerdo do abdômen que ela tentava estacar com uma das mãos. O que não tinha quase nenhum efeito.

Atrás deles os homens se aproximavam com cachorros farejando, chegando cada vez mais perto, rosnando e dando tiros nas sombras. Jane estava mais pálida que o normal e custava ficar com os olhos abertos.

Por azar, alguns homens alcançaram Simon. Eles empunhavam uma espada cada um e sorriam amarelo.

_Agora você já era! – Disse um deles sendo seguido pela risada dos outros.

Por azar...deles.

Simon colocou Jane no chão e se pôs na frente dela. Foi de qualquer jeito, mas ela não gemeu pela dor que sentiu. Ele levou a mão ao machado em suas costas, seu rosto expressava bem o ódio que estava sentindo, ele avançou para cima dos dois como um leão sobre sua presa. O primeiro a ser atingido tentou bloquear o machado com a espada.

— Puta merda! – Ele viu a lâmina ser estilhaçada. — Calma cara, a gente só est...

Simon afundou o machado em sua cabeça e as palavras ficaram pela metade. Outro tentou um embate, Simon bloqueava com o machado, e a ponta da espada raspou seu braço e uma linha fina de sangue escorreu. Simon grunhiu de ódio e o homem quase lhe pediu desculpas, o grandão deu passos firmes em sua direção, andando com os braços meio abertos feito um touro, quase podia-se ver o fogo saindo de suas narinas, o encurralado deixou a espada cair e mijou nas calças. Simon soltou o machado e levou as mãos para cima dele apertou-lhe a garganta e não havia mais o que fazer, mesmo levando socos, era como ser picado por um inseto. Jogou o corpo morto de lado e voltou-se para o último que ia em direção a Jane. Aproximar-se dela só fez sua morte ser mais dolorida. Simon foi até o machado e pegando-o atirou nas costas dele que caiu de joelhos. O machado foi puxado sem dó e Simon fez questão de deixar seu corpo irreconhecível no chão. Havia mais dois ou três, Simon não saberia dizer, e como já perdera o número de quantos haviam padecido sob suas mãos, a conta já não fazia sentido. Se alguém perguntasse, ele diria que degolou alguns naquela noite.

O grandão tomou Jane no colo, uma poça de sangue havia se formado no local em que ela estava, não havia tempo a perder, Simon jamais deixaria ser pego, ele correu em direção à praia seguindo na trilha e por mais que tomasse cuidado, o sangue de Jane pingava e logo os cães estariam próximos demais. Não queria ter que matar cães.

Passou por algumas palmeiras e grandes pedras e avistou o navio entre as árvores, estava chegando.

— Falta pouco, Jane. - Aliviou-se num suspiro. Olhou para ela: o corpo sem reação, os olhos fechados, a boca meio aberta. — Não! - Simon sentiu um aperto na garganta.

Logo que seus pés tocaram a areia, viu um grupo com espadas e pistolas formado por Pyra esperando-os.

— Jane! - Pyra não conteve as lágrimas logo reconhecendo quem Simon trazia nos braços. Fazia tanto tempo...

— Vamos sair logo daqui. – O maior deles mantinha Jane aninhada em seus braços, como um pássaro ferido.

Um tiro passou por eles, seguido de mais balas. Pyra desembainhou a espada.

— Seus bastardos! – Ela tentou andar, mas foi detida por Theodora.

— Vamos apenas correr, nos vingaremos outra hora. – E olhando para Jane prosseguiu. – Ela precisa de você.

Pyra, Theodora e Simon entraram nos escaleres na praia e voltaram ao navio que logo regressava ao mar aberto. Eles deixaram para trás a Ilha Liberdade em chamas, Benjair e seus homens viram quando o navio se afastava e não puderam fazer nada além de praguejar já que seus navios estavam ao longe e em chamas.

— MALDITOS! DESGRAÇADOS! - Benjair gritava enquanto chutava areia para cima. — Vocês me pagam!

Ao seu lado Markus não dizia nada, via o navio da carranca de sereias se afastar e levar com ele a mulher que a pouco tinha sob seus domínios. Pela manhã, o Alma Negra ainda estaria nas conversas daqueles que estiveram por ali e não seria esquecido tão cedo. Muitas as construções foram prejudicadas, homens foram sufocados vivos e alguns viram velhos amigos pagar os pecados nas chamas. O Alma Negra voltaria à língua dos piratas e manteria a reputação desde o antigo Capitão Daniel.

No navio Jane foi levada a cabine que estava impecável, como ela gostava. Simon colocou-a na cama enquanto Pyra dava instruções e preparava as ferramentas para extrair a bala e cuidar do ferimento que sangrava.

Theodora segurava a sua mão e fez uma prece antiga, beijou a mão que segurava e partiu em direção ao leme. Fora instruída por Pyra e teria que levar todos de volta sem segurança. Ela tinha competência pra isso e o Alma Negra não tinha do que se preocupar.

Victhor e Simon foram os únicos que ficaram na cabine junto de Pyra, a bala perfurou a carne e por pouco não matou Jane atingindo o intestino. A extração era dolorosa, Pyra usava uma pinça e logo a bala estava numa bandeja de prata posta sobre a cama. Seria guardava junto as outras numa das gavetas.

— Vou começar a suturar agora. - A testa de Pyra suava, mas suas mãos eram firmes e ela passava a agulha pela pele de Jane com precisão.

Não levou muito tempo, a pirata era habilidosa, Jane estava inconsciente boa parte das horas, Simon ficava ao seu lado alternando com Victhor enquanto Pyra e Theodora revezavam no leme. Graças a rota estudada por Pyra e passada a Theodora, foram capazes de sair da Ilha Liberdade, contornando as rochas e seguindo para o Leste onde o número de navios brancos era maior e por onde os piratas não deviam se aventurar. Um risco que iriam correr.

Jane dormiu por dois dias seguidos tendo acordado poucas vezes para comer e tomar uma mistura de ervas feita por Theodora, que insistia que o gosto não era tão ruim quanto as caretas que Jane fazia. A ferida era cuidada por Pyra, que zelava feito uma mãe.

Willian insistia com Victhor para saber mais detalhes sobre o navio, como eles o adquiriram, quem comandava aquilo tudo, não era sua primeira vez navegando, mas nunca estivera num navio de piratas de verdade. No máximo em cargueiros com presentes ilegais para uns e outros nobres nos impérios. Ou em navios de transporte com alguns trabalhadores a serviço do Império Central.

— Mas não com piratas infratores da lei. – Ele tinha um sorriso bonito, mas um pouco debochado.

— Infratores da lei? – Simon ouviu a conversa deles.

Willian foi pego de surpresa, Simon apareceu de repente quando ele auxiliava Victhor com os barris para a contagem no compartimento das cargas.

— Bem, é o que vocês são, piratas, infratores da lei, ratos do mar, não é tudo a mesma coisa?

Simon avançou para cima dele, Victhor não se opôs, continuou com a prancheta na mão observando os números, apontando os barris e riscando no papel.

— Você sabe quem faz as leis, seu merda? – A voz de Simon era meio rouca como quem fala as escondidas. - As leis são feitas por aqueles que querem que pessoas como eu, como Victhor e como você morram. Nós somos a escória da humanidade, aqueles que deveriam ter morrido antes de nascerem. Não somos engomadinhos ricos, cheios de joias e ouro. Nós sobrevivemos porque somos rebeldes e não porque temos oportunidade. Essas leis que você diz não são para pessoas como nós, são para matar pessoas como nós.

— Opa, opa, grandão! – Willian colocou as mãos erguidas na altura do peito. — Não falei por mal!

Simon o encarou e cuspiu em seus sapatos.

— Enfia a porra das leis no s...

— Trinta e cinco barris. – Victhor entrou na frente de Simon. — É tudo que temos. Se racionarmos podemos passar um bom tempo sem precisar voltar a atracar. Quem sabe possamos voltar mais cedo à Ilha Esmeralda.

Simon olhou para Victhor e bufou para o seu sorriso de lábios finos.

— Mantenha esse cara longe de mim.

Willian viu quando Simon subiu as escadas e voltou sorrindo para Victhor que o encarava sério com a cara amarrada.

— É melhor você tomar mais cuidado.

— Me desculpe, eu sinto muito – Ele franziu a testa. Suas desculpas eram sinceras e o sorriso que vinha junto com suas palavras também.

— Vamos terminar logo com isso, Will. – Victhor batia o lápis na prancheta.

Simon parou na amurada do navio, eram poucas horas depois do meio dia. O sol queimava a madeira do casco e as ondas levavam o navio pelo mar. Um grupo de baleias passava próximo e ele as via jorrando água para cima, elas eram cinzas e enormes. A cara amarrada deu lugar a um semblante entristecido.

— Ana... – Ele disse a ninguém. — Você iria gostar de ver isso aqui...

Simon recobrou a cara de poucos amigos quando percebeu alguém aproximar-se.

— Ei, Si-mon! – Era Theodora com seu sorriso de caninos aparentes. — Jane quer ver você.

Ele fez que sim com a cabeça e deixou a mulher em seu lugar observando as baleias.

— Umas belezinhas, não é? – Ele já havia saído deixando-a falar sozinha. – Sei como é, Simon, - Ela observava as costas largas do amigo irem em direção a cabine – Não se preocupe, logo veremos ela de novo. - Sim, ela havia o ouvido dizer o nome de Ana.

Na cabine, Jane estava deitada na cama, Pyra estava com ela e saiu quando Simon chegou. Ele enterneceu o rosto quando ficaram a sós.

—Simon...

— Estou aqui. - Ele pegou as mãos que foram erguidas em sua direção e as beijou as palmas. — Não me assuste desse jeito nunca mais.

— Eu sinto muito, grandão. - Jane ainda falava com a voz rouca, mas estava melhor. — Ele está bem? - O suor na testa de Jane escorria. Simon estava sentado na cadeira ao lado de sua cama.

— Esta.

— Bom. - Ela deu uma olhada em volta, um pequeno sorriso, a saudade jazia em seu coração. — Está tudo como eu deixei. – Ela sorriu e ele retribuiu. – Obrigada, como sempre.

— Não precisa agradecer, você sabe.

— Eu sei, por isso que agradeço.

— As coisas vão ficar sérias a partir de agora, Jane. Você precisar melhorar logo.

— Você falou como ele agora.

— Daniel era bom pra você.

— Você é melhor para mim.

Simon tocou os cabelos dela.

— É melhor você descansar agora, vou ficar aqui até você dormir.

— Se você fosse meu irmão mais velho. - Ela disse o olhando nos olhos. — Eu seria a pessoa mais feliz desse mundo.

Simon a encarou de volta, olhos acinzentados, carregados de dor, saudade e bem lá no fundo um pouquinho de esperança.

— Feche os olhos. - Ele disse passando a palma das mãos na frente do rosto dela.

Jane fechou os olhos, iria descansar. Finalmente estava em casa.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro