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Capitulo 26 - Adeus a Vordonisi

Victhor estava no lado de fora do mosteiro com Simon fumando, o contraste na aparência dos dois ficava ainda mais evidente quando estavam assim tão próximos. A fumaça saia de suas bocas em direção ao alto, cada um com seus próprios pensamentos. Eles eram boas companhias um para o outro, respeitavam o silêncio e falavam quando era oportuno, Jane dizia que eles eram como gemêos que se completavam, enquanto Simon queria resolver tudo com a força bruta, Victhor preferia usar as palavras, quando o maior utilizava um grande machado, Victhor tinha uma ótima pontaria com qualquer arma de fogo.

— Até quando você acha que ela vai aguentar?

— Não sei. – Simon soprou a fumaça e deu ao outro o fumo já pela metade. – Está resistindo bem até agora.

Victhor fez um "hm" com o cigarro entre os lábios. Ele tragou, segurou a fumaça por um tempo, soltou-a pelo nariz enquanto fazia uma careta.

— Se você não gosta não devia desperdiçar meu fumo. – Simon tomou da mão dele.

— Ela não vai aguentar perder mais uma. – A voz de Victhor saiu pouco mais baixa que o normal.

— Ela aguenta sim.

— Mas não precisa aguentar. Nós devemos apoiar a Jane dessa vez mais do que das outras Simon. Se esse sereia morrer como as outras morreram...

— Ele não vai morrer, Victhor. – Como sempre a voz de Simon transmitia confiança. – Não vou fazer mais um furo na orelha dela.

— Quem diria que num lago tranquilo daqueles poderia existir uma fera. Foi muita sorte Jane não ter persistido mais da outra vez. – Ele olhou para o céu, a noite estava clara com a lua cheia. — Lantis podia ter morrido lá embaixo.

— A maioria das sereias não sobrevivia quinze dias no Alma Negra, aquele lá parece nasceu da carranca de três cabeças.

Victhor não segurou o riso e não pegou de volta o cigarro que o outro oferecia, passou um lenço nas mãos na tentativa inútil de aplacar o mal cheiro.

— Por falar nisso...

— Eu não quero.

— Você sabe que foi uma cena ridícula.

— Não vou ouvir sermão de você. – Simon ia saindo, mas Victhor o segurou pelo braço.

— Ah, mas vai sim. – O maior parou novamente ao lado dele. — Agora que os homens pararam de mexer com o sereia, você quer dar mais motivos a eles, Simon?

— Eu não ligo a menor foda para o que eles fazem com ele.

— Mas Jane se importa! E ela é importante para você, portanto pare de bancar o super protetor.

— Ela precisa que eu seja, Jane não tem juízo. Ela age no impulso e não se importa de perder o pescoço.

— Mas você não percebe que as coisas estão diferentes agora? Tenho certeza que ela está refletindo sobre o que houve também.

— Não importa, eu não confio nele e não acho que ele vá mudar.

— Então confie em Jane. – Ele deu um tapinha no ombro de Simon. — Além disso acho que ele não precisa mudar, você é quem precisa conhece-lo de verdade.

— Prefiro morrer afogado.

— Não seja dramático. - A pele de Victhor era bastante branca, mesmo para alguém exposto aos raios solares diariamente e seus olhos castanhos brilhavam com o reflexo da lua.

— Não gosto quando me olha assim.

— Olho como?

— Como se eu fosse alguma aberração.

— Você é delicado demais, me irrita. – Simon bagunçou os cabelos dele com sua mão pesada.

— Vá se foder. – Victhor tentava ajeitar os fios, sem sucesso.

Simon acendeu outro cigarro, depois de fumarem os dois voltaram ao silêncio nada constrangedor, ouviam o piar das corujas e o som das ondas do mar, a brisa da noite ajudava a eliminar o calor de suas peles, cada um com seus próprios pensamentos.

Lá dentro, onde dormiram da outra vez, Rupert contava algumas histórias a Will que estava curioso sobre a vida deles no mar. O loiro ria alto dos gestos que o mais velho fazia e das vozes que ele imitava. Rupert contava sobre as mulheres que conheceu e fazia questão de acentuar que nenhuma era tão bonita quanto Theodora, falava sobre as iguarias que já comeu, os banquetes que saboreou e sobre quantas vezes passou fome em alto mar. Contou também sobre as batalhas que vivenciou no Alma Negra, dizia que o navio passara por diversas reformas. No início quando Jane assumiu de vez a liderança eles viveram o auge dos bons tempos, saqueavam dia e noite, gastavam tudo com orgias e bebida à vontade, os ventos sopravam a favor das velas do navio e a capitã era implacável no combate aos outros navios piratas e brancos.

William estava bem curioso sobre Jane ser a capitã do navio, de fato eram poucas as mulheres que assumiam o cargo. Rupert disse a ele por alto algumas façanhas que Jane realizou quando era ainda só uma pirata sem nenhum valor.

— E então ela atravessou a barriga dele com a espada. - Rupert fazia o gesto do corte, ficando de pé e passando a mão pela barriga. - As tripas voaram para todos os lados, acho que foi o primeiro que ela matou na vida. - Ele pensou um pouco. – Isso foi antes dela pegar o lugar de Daniel e eu duvido que qualquer um dos homens tentaram algo com ela depois disso. - Rupert estalou a língua e balançou a cabeça, lembrando de coisas do passado. — Jane sempre foi muito corajosa. Teve uma vez que fomos invadir uma vila no Império Oeste, um dos guardas do Exército encurralou ela num beco, eu estava do outro lado da rua e achei que a menina ia morrer, mas ela lutou com ele de igual para igual, aquela coisinha magrela dando socos e chutes num homem que devia ter duas vezes seu tamanho.

— Ela devia ser muito boa pra conseguir vencer. - Will via Jane deitada do outro lado do salão.

Rupert riu alto.

— Que vencer que nada, ela só está viva hoje porque Simon apareceu e matou o cara com um machado enfiado na cabeça. - Rupert passou o braço envolta do pescoço de Will. - Mas uma coisa é certa: ela era uma franguinha cheia de disposição, quando Simon matou o cara ela ficou três dias sem falar com ele dizendo que não precisava de ajuda.

— E o antigo capitão não dizia nada? Digo, sobre esse jeito tempestuoso dela.

— A essas horas Daniel já devia ter percebido o tipo de pessoa que ela era, e acredito que ele gostava de como ela lidava com as "situações desconfortáveis" no navio. Ela sempre foi forte e desbocada, chegou aqui com 13 anos, pode imaginar o que ela não passou nas mãos daqueles vermes.

Ambos bebericavam em seus cantis um liquido transparente, com certeza não era água.

— Mas sabe de uma coisa, rapaz, - Rupert continuava. - A capitã mudou muito desde aquela época, hoje ela está mais contida, menos impulsiva e menos ruim. Tem uns que acham ela até mole, educada demais, deve ser coisa do Alma Negra, o Capitão Daniel, que o além salve o tenha em bom lugar, também era assim.

— Entendo. E como o antigo capitão morreu? – Will estava curioso.

— Ora, rapaz. Não sabe nada sobre piratas? Claro que foi num duelo.

— Um duelo? Pela liderança?

— Exato.

Will parecia ainda mais confuso.

— Então quem ganhou?

— Acho que você é meio burro. – Disse Rupert apontando com o indicador para onde Jane estava. — Não é obvio?

Os olhos verdes do rapaz encontraram com os castanhos da capitã, Jane os observava de longe deitada com a barriga para cima, mãos abaixo da cabeça e pernas cruzadas. Pelo jeito que Rupert encenava, deduziu que ele contava histórias, ele gostava disso e Will parecia um bom ouvinte. Sentiu um calafrio percorrer a nuca, incomodada com alguma coisa e no que Rupert acenou com a cabeça,ela retribuiu o gesto um pouco sem saber o porquê. O incomodo ainda não havia passado, uma sensação estranha, sentou-se, seus olhos correram pelo salão a procura de alguém, os homens dormiam ou conversavam, mas quem ela procurava estava em pé num canto de braços cruzados recostado na rade,ele também a observava. Testa franzida e lábios rígidos, o sereia a encarava irritado.

— Ele está sempre com essa cara emburrada. - Ela disse a si mesma, esfregando a nuca com a mão. Estava tensa.

Já fazia algum tempo que eles viajavam juntos, Jane achou que ele não faria mais nenhum efeito sobre ela, mas desde que ele entrou na água e se transformou, a influência dele aumentou e era cada vez mais difícil resistir. As náuseas e as dores na cabeça deram lugar a outras sensações, não bastava mais que um minuto olhando-o para que Jane sentisse seu corpo queimar e sua garganta secar.

— Droga! – Lantis ainda observava, seu coração estava disparado. — Vamos resolver isso de uma vez.

Jane levantou e fez um sinal, o sereia entendeu e nada discreto, foi atrás dela. Olhos curiosos caíram sobre os dois, alguns cochichos foram cessados pelo olhar de Rupert e outros nem tiveram oportunidade de manifestar a opinião já que Simon e Victhor voltavam para o mosteiro.

O olhar de Simon percorreu o lugar e não encontrando quem procurava recostou-se num canto e fechou os olhos a contra gosto.

— Eles foram por ali. – Will disse a Victhor que procurava Jane assim como Simon fez.

Victhor sentou-se ao lado de Will e ficaram conversando sobre o que fariam com suas respectivas partes do tesouro encontrado no lago.

— Não vai ser tanto, mas garante algumas diversões por ai.

Will bufou.

— Vai ser mais do que eu ganhava esfregando o chão em tavernas na cidade.

— Quando foi isso?

— Antes da minha irmã morrer. O que ganhávamos mal dava para o aluguel, mesmo com nossos dois salários era difícil ter o que comer.

— Sinto muito.

— Eu também. – Ele sorriu. — Queria ter conhecido vocês naquela época. Eu poderia mandar dinheiro para casa e Gabrielle não precisaria trabalhar tanto.

— Você fala dela com muito carinho.

— Ela cuidou de mim quando nossos pais não puderam mais... Você ia gostar de conhecer ela.

Victhor sorriu. Will ainda não havia experimentado todos os infortúnios de uma vida pirata, ele esfregou seus óculos com a flanela e disse que gostaria de conhecer a irmã dele também.

Em outra parte, Jane passava pelos corredores do mosteiro com um lampião nas mãos. As chamas produziam sombras fantasmagóricas nas paredes corroídas pela maresia e pelo tempo. Atras de si, há poucos passos de distância Lantis a seguia, Jane podia ouvir o barulho de sua respiração. Ela passou por uma porta e deixou-a entreaberta, Lantis a fechou atrás de si. O cômodo era pequeno, um antigo quarto de monge com objetos de devoção na cabeceira da cama irritantemente arrumada.

— Suponho que tenha algo a me dizer, tem me encarado com essa cara de poucos amigos desde que saímos da lagoa e já é hora de pôr pra fora o que você quer. — Ela encarava-o de braços cruzados.

A razão dele parecia anuviada desde que saíram da caverna do lago, seus pensamentos sobre Jane mudaram um pouco, sobre a vida que ele poderia ter a partir dali... ele teria a oportunidade de ter uma vida, a SUA própria vida, mas ainda havia algo que continuava do mesmo jeito. Quando ele a observava deitada naquele chão há uns minutos atras, pensamentos inoportunos vinham a sua mente testar o seu auto controle. Jane o fazia ter vontade própria e Lantis não estava acostumado com isso. Desde quando ele podia agir com tanto desejo como ele havia feito naqueles dias? Seus pensamentos estavam caóticos como borbulhas em água fervente. A pouca luz do cômodo, a proximidade em que estavam calaram-lhe a voz.

Então Jane continuou.

— Não sei o que está pensando, não leio mentes, Lantis! Dá pra abrir essa boca e dizer alguma coisa? – Ela não gritava, mas sua voz saia um pouco mais alto que o normal. Os braços cruzados frente ao corpo, Lantis viu que seus dedos tremiam.

Ele a encarava, talvez fosse a luz do lampião, mas Jane o achou ainda mais bonito do que antes. Havia um brilho diferente nos olhos dele, até o tom de seus cabelos parecia ter mudado. Será o contato com a água? – Ela pensou. Lantis não desviava o olhar, consumia cada pequeno movimento que ela fazia desde umedecer os lábios com a língua, contrair a boca um pouco irritada, abrir e fechar sem palavras para dizer. Qualquer um podia notar as forças invisíveis mantendo seus corpos separados.

Havia o incômodo daqueles olhos inquiridores sobre o corpo de Jane, o silêncio do quarto e o quarto em si. Lantis deu um passo em sua direção, ele vinha devagar e ela arrependeu-se de levá-lo até ali, sozinhos, podendo fazer qualquer coisa que quisessem. Jane engoliu seco. Tudo o que quisessem.

Os corpos estavam tão próximos quanto permitia a sanidade de cada um, Lantis sentia à vontade de tocar em Jane, e sentir a própria vontade era algo raro para as sereias, ele precisava aprender a controlar, manter o impulso de transbordar seu querer por cima dela.

— Eu quero entender o que está acontecendo com você.

— E vai, - Ele respondeu. — Eu só preciso entender primeiro.

— Sobre o que você está pensando agora?

Lantis resolveu que não seria agora a compartilhar tudo, mas algum tanto de seus pensamentos.

— Não vou permitir que tirem isso de mim de novo, Jane. – A voz macia de Lantis inundava seus ouvidos. — Nunca mais vou deixar de entrar no mar. - Ele pôs para trás da orelha uma mecha do cabelo dela. A respiração dele estava próxima.

Como pode ser cheiroso o ar envolta dele?

— Tudo bem. - Ela afastou a mão dele com cuidado. — Não vou deixar ninguém tirar isso de você, se é isso que te preocupa, pode ficar tranquilo. - Um passo para trás e suas costas esbarraram contra o pequeno guarda-roupas de madeira. Um limite físico que a impedia de ir para mais longe.

— Fizemos um trato, mas não sou sua propriedade, não pode me usar e depois me jogar fora como se faz com uma roupa velha.

— Isso nunca passou pela minha cabeça. Eu juro. – Jane era sincera e ele podia perceber.

Lantis a encarava. Ainda havia algo que ele precisava saber e agora sentia-se confiante.

— Mais alguma coisa? - Ela queria sair logo dali ao mesmo tempo que sentia vontade de nunca mais abrir aquela porta, sua mente estava pegando fogo. Ele a devorava com os olhos de um jeito tão diferente de antes que Jane sentia os joelhos fraquejarem. — Isso é tão irritante. - Sua voz não soou forte como ela queria. Lantis tocou seu braço nu e ela sentiu formigar por onde seus dedos passavam.

— Tem mais uma coisa que me preocupa, tem algo que eu preciso provar. - O modo como ele proferiu a última palavra arrancou o ar dos pulmões dela.

Jane iria sair dali seus olhos alcançaram a porta, mas já era tarde demais, Lantis envolveu o corpo dela no seu levando a mão até a parte de trás em sua nuca e a outra envolta em sua cintura. Olharam-se por um breve momento.

— Você não vai fugir.

Jane sentiu os lábios dele tocarem suavemente os seus, um movimento devagar, cauteloso, a mão de Lantis deslizou pelo seu pescoço, subindo delicadamente até seu rosto, ele estava pouco inseguro. Não que ela estivesse em situação melhor, estava satisfeita por ter um móvel ali que lhe apoiava. Ele afastou seu rosto e seus olhos vítreos encontraram os dela, azuis como o mar profundo, queria um sinal que lhe autorizasse a prosseguir, queria muito prosseguir. Ele sabia que se ela afastasse dele naquele momento, seria extremamente difícil conseguir aproximar-se de novo. Ela tinha medo, receio, desconfiança.

Jane puxou o ar com dificuldade, os lábios tristonhos por terem sido separados dos dele. O toque deixado por Lantis ansiava por mais, ela aproximou seu rosto, se é que havia algum espaço ainda entre eles. Ambos podiam sentir os corações acelerados e o calor que emanava de suas peles. Ele ficou assim por poucos segundos, sentiu as mãos dela deslizando suaves por cima da camisa branca, um arrepio gostoso percorreu a espinha por onde passava. Ele levou a mão até o rosto de Jane e acariciou ali, tocou os lábios dela devagar e observou como Jane fechou os olhos. Não lhe faltava nenhuma coragem e ele a beijou novamente.

— Abra a boca para mim, Jane. - Os lábios dela deram passagem para o que ele ansiava, o toque era macio e o beijo encaixava, Lantis sentia-se ébrio. Perderam-se no tempo e quase esqueceram-se de respirar. A mão de Jane deslizou pela camisa branca dele e chegando na borda do tecido ela não resistiu em tocar a pele por baixo, a pele de Lantis era quente, ele sentiu seu corpo arrepiar e ela sorriu em sua boca. Com a coragem incentivada pelas mãos dela que levemente apertavam, Lantis tirou a blusa e tornou a juntar os corpos num beijo ainda mais entusiasmado. Se pensar em qualquer coisa, Jane teve o casaco aberto e botões insuportáveis foram abertos e haviam mais peças de roupa jogadas no chão. O sereia olhou para ela, o corpo semi nu, seu cabelo estava bagunçado de um jeito maravilhoso e seus lábios estavam vermelhos e inchados. Lantis não entendia como era possível a achar mais bonita.

— Você já me viu sem nada antes, o que você ainda... – Ela foi interrompida pela boca de Lantis que beijou a sua. Ele a abraçava com força, Jane achou isso ótimo. Ela teve seu pescoço beijado e uma trilha de beijos desceu até o centro de seu peito e ela arfou produzindo um som que soou como um alarme para o sereia. Ele queria mais daquilo, muito mais, todo mais que ela pudesse lhe dar.

Eles se olharam por um instante, um questionamento no olhar de ambos. Lantis foi quem tomou a iniciativa e tocou no cos da calça dela. Havia um maldito cinto de couro que estava o incomodando e sem desviar a atenção do rosto de Jane ele tentava se livrar daquilo.

Num instante estava tudo ótimo, mas um lampejo de realidade sufocou a capitã, ninguém saberia explicar o motivo, mas ela pensou em quantas vezes ele já teria sido obrigado a performar assim durante sua existência. Jane queria tanto quanto ele, por isso foi tão difícil afastar-se e devagar ela tirou a mão dele e abotoou o cinto de volta.

— Isso está errado. - Ela olhou para baixo, não para o chão, mas para a tornozeleira dourada de Lantis. — Esse tipo de "coisa" não vai acontecer.

Ele segurou as mãos dela voltando a puxa-la próximo ao seu corpo, com delicadeza tocou-lhe o rosto ruborizado, Lantis nunca tinha visto ela daquele jeito, até mesmo seus lábios carmim meio inchados pelo beijo pareciam ainda mais tentadores, para ele não havia nenhuma dúvida sobre suas escolhas e ao contrário do que Jane suspeitava, ele nunca agira assim com ninguém antes dela.

— Está acontecendo, Jane. - Ele sorriu, a capitã quase sorriu de volta.

É a primeira vez que Lantis sorri? Ela não se lembrava de vê-lo sorrir antes, com certeza ela lembraria daquela sensação como se o sol brilhasse bem a sua frente. Os cantos dos lábios curvados para cima, os dentes brancos e perfeitamente alinhados, o sorriso mais doce e ao mesmo tempo malicioso que ela já vira. E aquele par de olhos com seus azuis dançantes ludibriando sua mente e engolindo-a como um redemoinho no meio do mar...

— Está acontecendo desde aquele dia na Ilha. – Ele a trouxe de volta.

As lembranças da ilha chegaram até Jane, seus pensamentos passaram por Lantis naquele palanque, amarrado, sofrido e calado, sendo tratado da pior maneira possível. Foi o bastante e ela pôs distância entre os dois.

— Eu tenho um objetivo, sereia, maior do que eu e maior do que você. Nada vai me distrair dele. – Ela não disse o nome dele de proposito frisando a palavra "sereia" como usaria com outra sereia qualquer.

A íris dele tomou um tom rosado e logo havia um círculo vermelho rodeando o azul.

— Isso tem a ver com aquelas pérolas que quer que eu pegue pra você, não é? – sua voz migrou de suave e gentil para austera e rancorosa.

— Sim, - ela cruzou os braços na frente do corpo privando ela mesma de jogar-se no sereia a sua frente. - Até eu ter todas elas, não terei este tipo de relacionamento com ninguém. Não vou ser levada por essa "coisa" de sereia que você tem.

— Do que está falando?

— Você sabe do que eu estou falando. – Ela alcançou suas roupas e ia as colocando. — Toda vez que eu te vejo preciso me segurar para não me jogar em você, antes eram os enjoos, as náuseas, dores de cabeça e agora é como se eu precisasse de você para respirar. É insuportável ficar longe de você, quero ouvir sua voz o tempo todo, descobrir cada segredo, cada tudo de você... – Jane percebeu o que estava dizendo e aquilo só não era mais direto do que as outras três palavras.

Lantis tinha uma expressão confusa, mas havia um pequeno sorriso de lado em sua boca.

— Eu não entendo como isso pode ser algo ruim.

— Então deixa eu te explicar. – Indo contra todos os seus quereres, Jane aproximou-se dele sem o tocar. —Eu não vou me deixar ser levada por isso que você causaria a qualquer mulher, a qualquer pessoa. Essa "coisa" de sereia que tem em você não vai me induzir.

— Eu não faço de propósito, mas se é algo que traz você até mim, não deve ser algo tão ruim. – Ele levou a mão até os lábios dela. Os olhos dele invadiam a mente de Jane e por pouco ela não se deixou despir mais uma vez.

— Assim como você não quer ser dominado por ninguém, eu também não quero ser isso para você. Não quero que isso aconteça por que há um tipo de magia ou coisa assim em você, se isso acontecer eu quero que seja por escolha de nós dois. – Ela virou de costas para Lantis e prendeu o cabelo em um coque mal organizado. — Eu não sei se você entende o que eu estou dizendo.

Ele apoiou a cabeça nos ombros dela.

— Eu acho que entendo. – Ele não olhava em seu rosto, seus olhos fechados apertados. — Só quero que saiba que eu me sinto da mesma forma sobre você.

Jane passou a mão sobre os cabelos deles.

— Vamos esperar mais um pouco. – Ela disse. — Quando tivermos a certeza que isso que sentimos é real, então... então podemos ser livres para fazermos o que quisermos.

— Você promete?

— Eu prometo.

Ela levantou o rosto dele e beijou sua boca devagar. A porta bateu quando ela saiu, o sereia se viu sozinho no quarto, sentou-se na cama e observou o cômodo, respirou fundo, o quarto ainda tinha o cheiro dela.

— Para mim isso já é real, Jane, mais do que você imagina.

O sereia resolveu que dormiria por ali, tinha a impressão que teria sonhos com a capitã essa noite e não queria correr o risco de ir encontrar-me com Jane quando a vontade de tê-la apertasse de novo. A noite seria longa e ele ficaria ali até que ela passasse e chegasse o outro dia de manhã.

O Alma Negra era preparado para despedir-se de Vordonisi, os piratas eram instruídos mais uma vez a acertar as serpentes na cabeça. O grupo estava mais confiante depois de terem matado algumas e apostas eram feitas sobre o número de quem mataria mais e a maior delas. Jane ao lado de Simon discutia sobre os itens tragos por Lantis de dentro do lago, eram joias de grande valor que poderiam custear a viagem e dar um pouco de prazer aos homens no navio. Piratas tem pouco o que desejar na vida: comida boa, aventura onde não percam a vida e bordeis sempre que possível. Theodora e Pyra apontavam a necessidade de irem à Ilha Esmeralda, Pyra principalmente queria voltar para ver a esposa, faziam meses que não passavam por lá. O Alma Negra havia feito a querena há bastante tempo, uma parada na Ilha daria a oportunidade da limpeza e mesmo que Simon não dissesse nada, era evidente que queria ver Ana. Foi decidido então o rumo do Alma Negra, sairiam de Vordonisi para as águas geladas da Ilha Esmeralda e Jane esperava que no caminho soubesse o paradeiro de mais uma pérola.

Na cozinha Victhor fazia o levantamento dos alimentos junto com o responsável pela dispensa. De acordo com as ordens de Jane sobre a rota a seguirem, levaria pelo menos dois meses inteiros para chegarem a Ilha Esmeralda visto que precisariam contornar duas Ilhas Flutuantes para fugir das rotas da Marinha Imperial. As provisões seriam o suficiente desde que ninguém passasse dos limites e que nada estragasse antes da hora, poderiam trocar mercadorias no caminho e comprar algumas provisões nas Ilhas Flutuantes de confiança.

Após toda conferência, Victhor foi até uma saleta no interior do navio, onde guardava alguns documentos menos importantes, remédios e livros seus, era um lugar onde apenas ele ia e fazia de lá seu canto particular. Além das estantes e caixas para estes materiais, havia apenas uma mesa pequena onde Victhor descansava seu traseiro. Com um dos livros numa mão e um lápis noutra ele lia e sublinhava atento as palavras. A cada movimento do lápis seus lábios ora curvavam-se num pequeno sorriso ou num bico levemente emburrado, por fim, colocou o lápis por cima do lábio superior e firmou ele ali mantendo o lápis imóvel. Estava completamente relaxado.

— Ai está você! – A voz conhecida gritou da porta. Por estar em estado de concentração, o rapaz de óculos levou um susto derrubou o livro no chão e o lápis rolou para baixo da estante.

— Willian! – Vichtor advertiu. — Tenha mais cuidado! – Ele abaixou para pegar o livro, no entanto o loiro foi mais ágil e o pegou primeiro. Enquanto Victhor organizava a blusa e ajeitava o cabelo sobre o rosto, os olhos verdes do outro liam as linhas sublinhadas no livro.

Victhor teve dificuldade em pegar o lápis abaixo da estante e se não fosse tão difícil conseguir um outro ele teria deixado para lá.

—Você não deve fazer isso de novo Willian, eu poderia ...

— Ora, ora. – Um sorriso brotou nos lábios dele. – Não sabia que gostava desse tipo de coisa Vic!

Victhor bufou revirando os olhos com o apelido infantil.

— Já falei pra não me chamar assim. – Manteve a calma apesar de estar irritado, estendeu a mão na direção de William – Me dê o livro.

— Me recuso! Isso aqui é bom demais! – O livro era um romance barato e mal escrito, do tipo que Victhor adorava. As palavras que ele sublinhava seriam procuradas num dicionário mais tarde, era um passatempo que o ajudava a desestressar.

— William! Isso não te pertence, me entregue de uma vez. – Victhor avançou com o corpo para cima de Will, os dois tinham quase a mesma altura e apesar do loiro erguer o livro, Victhor podia alcança-lo bem, se não fosse a falta de agilidade, ele teria pegado. — Ah, que seja. – Disse já impaciente pela brincadeira. — Deixe o livro em cima da mesa quando acabar com a palhaçada. – Novamente Victhor ajeitou a roupa e o óculos e andou em direção a porta.

— Peraí Vic, peraí! – Will agarrou seu ombro falando com a voz macia. — Eu só estava brincando com você. – Ele deixou o livro sobre a mesa e passou a mão sobre o cabelo despenteado.

— O que você quer? – Victhor parou no batente da porta. — Não veio aqui atoa.

— Fugir. – O sorriso de Will era brilhante, os dentes caninos pouco maiores que os outros davam um ar de graça que combinava com a personalidade extravagante.

— Como? – Victhor franziu as sobrancelhas.

— Simon está atrás de mim. Ele cismou em me fazer limpar as latrinas, eu disse a ele que você havia me pedido ajuda para algo muito importante, — Depois de uma pausa dramática, ele continuou. —Então aqui estou eu.

— E para o que eu ia querer sua ajuda? – O tom de desdém sumiu com o sorriso no rosto do loiro, Victhor limpava o óculos com uma flanela verde claro.

— Use-me como quiser, serei seu servo! – O grande sorriso contornando seus lábios tornou-se malicioso, com os braços abertos ele encarava Victhor a sua frente. — Estou à sua disposição. – Como o outro não teve nenhuma reação ele abaixou um pouco os braços, mas continuou na posição "desarmada". — Qualquer coisa melhor do que limpar bosta de pirata. – Sua risada ecoou alta pela saleta, mas logo cessou pela aproximação de Victhor.

Ele chegou perto o bastante do corpo de Will, passos firmes, os olhos semicerrados, Victhor tirou os óculos e encarou com seus olhos castanhos os verde do rapaz a sua frente, sua respiração era calma ao contrário daquele que o houvera provocado, levou a mão direita até a nuca do loiro e trouxe o rosto do rapaz mais próximo do seu, deixando um espaço mínimo para que sua boca se movesse sem tocar a dele. Ele sorriu com a surpresa de Will.

— Tem certeza do que diz? – Sua voz mansa, baixa, insinuante. Ele encarava o olhar perplexo do rapaz a sua frente. Levou os lábios até a orelha de Will e tornou a perguntar num sussurro. – Você tem certeza do que diz? – Tocou-lhe o tórax com a mão espalmada e desceu um pouco mais abaixo do umbigo.

William por sua vez estava atônito demais para se mexer. Se alguém lhe contasse a mesma situação, ele riria alto e diria algo como "Eu esmurraria a cara dele com toda minha força!" Mas naquele momento, com seu corpo tomado por Victhor, ele não sabia o que fazer. A dúvida corria sua mente, a sensação do toque do outro formigava e um impulso inverso a repulsa o tomava.

Victhor suspirou alto e sorriu soltando o ar e afastando-se dele.

— Se você não é capaz de lidar com situações como esta, – Ele colocou o óculos de volta e voltou a assumir a postura serena de sempre. — Não diga coisas como essas para alguém como eu.

E deixando William chocado e sozinho com seus pensamentos, ele saiu calmo e satisfeito, indo em direção ao convés.

Qualquer coisa... – Repetiu magoado.

O dia ainda estava quente, o sol tocou seu rosto e ele contraiu os olhos, os piratas trabalhavam cada um em suas atividades cantarolando, fofocando e ridicularizando uns aos outros.

— Simon. – Victhor o chamou, o grandão de pé com a mão sobre os olhos como se buscasse alguma coisa, ou alguém. — William já terminou a tarefa que eu pedi. Se tiver algo mais que ela possa fazer, tenho certeza que ele adoraria ajudar. Ele esta lá embaixo.

Simon desceu as escadas com a satisfação de ver William atirando merda ao mar por pelo menos duas semanas seguidas.

O navio estava pronto, finalmente diriam adeus para Vordonisi, os piratas não esperavam voltar ali nunca mais. 

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