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Capítulo 22 - O Discurso da Imperatriz


No Império Central, a reunião da Cúpula Imperial acontecia com menos animação do que a vida do Povo do Sol fora do palácio. Vários contratos para serem assinados, impostos para serem calculados e as prestações de contas não findavam nunca. O fato era que apesar de todo glamour que era exposto, as reuniões da cúpula eram também bastante burocráticas e tendo Zahra como anfitriã – junto a Idris, tudo tinha horário e tempo certo para acontecer. O acordo feito a tantos anos atras ainda era válido e todos os Impérios deveriam se apoiar e ajudar uns aos outros, dessa forma a humanidade jamais sofreria novamente nas mãos dos seres portadores de magia e garantiria a sobrevivência dos povos e suas culturas. Priscilla, a Primeira Conselheira Imperial, ouvia a todos com muita atenção e resolvia o que precisar fosse em nome da Ordem Imperial. Os outros conselheiros sairiam dali para fiscalizar, cobrar impostos ou fazer averiguações em nome da mesma Ordem Imperial e apesar de terem menos valia do que a Primeira Conselheira, ainda assim recebiam um bom salário.

A Imperatriz Florence, do Império Norte, portava a palavra, explicando aos demais a situação atual de suas terras.

— O povo vai morrer de fome! – Ela batia os punhos fortes na mesa. — É inconcebível que a Ordem não faça nada!

— Nós mandamos três navios para o norte, Imperatriz. – Priscilla tentava manter a voz o mais pacifica que podia. — Sua dívida com a Ordem já ultrapassou os limites.

— Estes navios foram saqueados por piratas! Todos viram as notícias, não preciso lembra-los de todos tiveram a tripulação morta por aqueles malditos.

— Duas semanas antes de chegarem ao destino final. – Lembrou Estevão que tinha os dentes cerrados enquanto as palavras passavam por seus lábios. — Foi o mesmo com o Sul.

— Por que as rotas usadas foram as mesmas. – Priscilla interveio com um ar de cansaço enfadonho.

— O que quer dizer?

— Que isso deveria ter sido previsto, Imperatriz Florence. O intervalo entre um saque e outro foi muito pequeno, a rota deveria ter sido evitada.

— Francamente! – Florence tinha o rosto vermelho de raiva. — Como se fosse culpa do Norte! Essas rotas são de responsabilidade da Marinha Imperial, a Ordem devia manter essas águas seguras. Não vou pagar por algo que não recebi!

— Nós fazemos o que nos é possível. – Priscilla deu uma olhada para o Capitão Mitchell que tinha o rosto sério e olhava para Florence como se tivesse algo a dizer. – Não é capitão?

— Essas rotas são novas, não era para os piratas saberem delas tão cedo. Imagino como eles puderam estar no lugar certo duas vezes seguidas.

Florence mordeu os lábios e lançou um olhar afiado para aquele mesmo capitão, no entanto seu desafio não durou muito já que Mitchell lidava com tipos bem piores do que ela.

— Eu preciso de mais. Vocês têm por obrigação me ajudar. – E levantando um documento com um selo argumentou. — Todos vocês assinaram o tratado, não posso deixar meu povo morrer de fome porque não tenho o suficiente para pagar vocês. O Norte não tem terras como o Leste ou o Sul, não tenho como produzir o alimento em meu próprio solo.

Desde antes da Inundação de Azah que o povo do Norte sofria com os invernos rigorosos, depois que as águas cobriram mais da metade de seu território, o norte só podia contar com suas cadeias de montanhas e alguns vales remanescentes. Era das minas que vinha a maior parte do sustento do Norte, todavia, o que era produzido dentro delas não era alimento.

— Mandarei mais dois navios para o Norte. – Priyanka disse olhando para Priscilla. — Mas preciso de escolta, não posso perder mais estes e eles também serão os últimos desse ano. Não consigo mais do que isso.

O rosto de Florence enrubesceu e a carranca que sempre carregou nas expressões ficou ainda mais evidente.

— Não tenho navios para proteger os seus. – Voltou o olhar para Capitão Mitchell com seus olhos cor de gelo. Florence tinha as expressões duras como as montanhas em que construiu seu castelo. — Exijo uma escolta rigorosa da Marinha Imperial.

Priscilla abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida pela voz grossa de um homem.

— A frota estará sob minha responsabilidade, Imperatriz Florence - Replicou capitão Mitchel determinado a inspirar-lhe confiança. — Não faltarão esforços para que a carga chegue ao seu destino.

A pirataria causava grandes prejuízos para as rotas marítimas que então eram a principal fonte de comércio entre os impérios, havia um nível de violência absurda para que os piratas continuassem sua vida de lucro fácil. A realidade é que os combates eram muito violentos e as campanhas contra os piratas iam e vinham pelos mares com frotas de todos os Impérios.

— Assim espero capitão! - Florence tinha a voz grave carregada quase abafada pelo orgulho.

— Os sunacas, - Aurora tentou acalmar a Imperatriz, aproveitando para destacar a força de seu povo. — Nós somos excelentes fazendeiros, nosso povo prosperou graças a sabedoria sobre o cultivo da terra, temos sementes que nunca foram vistas antes e nós as cultivamos e sobrevivemos delas. O milho, o trigo, a soja... todo o mais comum é fácil para nós. Depois que os sunacas chegarem em suas terras Imperatriz, vocês terão fartura por muitos anos.

Havia sido um dos acordos daquele dia, o Império de Sunacai que expandia seu território com viagens para outras ilhas e tinha a maior natalidade entre os Impérios, auxiliasse o Norte com sua mão de obra em troca de mais um pedaço de terra para povoarem. Quando Aurora propôs o acordo Florence quase voou em seus cabelos, mas as feras que haviam entrado não se sabem como, interferiram e a Imperatriz do Norte empalideceu mais que a neve e depois de pensar um pouco aceitou a oferta. O espaço que seria cedido não era usado pelo norte de todo jeito e poucos conseguiriam viver em temperaturas tão baixas, se os Sunacas conseguissem alguma coisa seria bom, mas se não conseguissem ela poderia fazer Aurora engolir todas as palavras maravilhosas sobre seu povo, acabar com um bando de selvagens e humilhar a nova imperatriz frente a Cúpula Imperial. Seria ótimo e foi por isso que o sim escorreu de sua boca quando ela sorriu e respondeu a Imperatriz de Sunacai.

— Entendo. - Florence disse entre os dentes. — Mas a fome não é minha única preocupação, há muitos ladrões e saqueadores no Império. Não são todas más pessoas, mas quando as crianças choram por não terem o que comer, a maioria não vê outra opção senão assaltar os viajantes.

— Não se preocupe com isso. - Aurora tinha um sorriso nos lábios carnudos. — Além de bons com a terra, eles, nós sabemos muito bem nos defender. – Aurora passou a mão pela juba de uma de suas feras, que ninguém ousou retirar do recinto depois de mostrarem bem as presas afiadas. - O Império de Sunacai não é para os fracos, senhora.

Florence pensou que se aquele povo selvagem foi capaz de lidar com aquelas feras, deveriam ser capazes de lidar com alguns ladrões e saqueadores.

— Todos serão bem-vindos e poderão fazer do Império Norte a sua casa. — Ela disse com pressa e sem entusiasmo.

Aurora acenou com a cabeça, em confiança que seu povo seria bem tratado. Essa aliança era bem vista nos dois Impérios: enquanto Sunacai enviaria famílias de fazendeiros, que já povoavam quase todo Império Sunaca sobrando poucas terras novas para cultivo e moradia, o Norte prometeu algumas minas em suas montanhas para exploração. Durante a Segunda Guerra do Sangue, o Exército Negro havia utilizado um material encontrado ali para armaduras e armas, aquele poderoso metal extraído das montanhas do norte.

Ao passo que os Impérios Norte, Sul, Leste e Oeste buscavam reestabelecer-se depois da inundação de Azah, o Império de Sunacai surgiu em seguida. Foram povos que migraram das áreas inundadas para a Ilha de Sunacai, e tendo estabelecido sua morada lá, passaram a desenvolver-se com novos padrões impostos por uma natureza inóspita e feras que antes de serem domesticadas, comiam numa bocada crianças inteiras. Enquanto nos outros Impérios o povo juntava os cacos e buscavam a civilidade, os sunacas se desprenderam dos velhos hábitos e criavam uma nova sociedade e novas regras de acordo com o novo mundo que se lhes apresentava.

Chegada a vez de Estevão, Imperador do Sul, todos já sabiam sobre o que ele se referiria e caberia ao Capitão Bragança, do Exército Imperial, responder-lhe às incitações.

— Todos aqui conhecem os problemas do Império Sul. Somos um povo alegre, receptivo e caloroso, e isso parece ter chamado a atenção de toda escória depois da Inundação de Azah para nossas Terras. No início vimos como as fazendas se multiplicaram e ficamos felizes com os possíveis frutos que colheríamos e hoje temos um comércio ilegal de sereias em nossas terras, temos trabalhadores escravos sendo suprimidos por um prato de comida e temos mais bordéis do que lojas de chá. O litoral é cercado de belas cores enquanto o interior do Império fede. - Ele não parecia triste por seu povo, mas sim colérico. — Quantos mais terão que morrer para que o Exército Imperial envie homens ao Império Sul? Nós enviamos a nossa parte do pagamento pela segurança, mas não recebemos mais que vinte homens por ano. VINTE HOMENS é tudo o que o Exército pode nos fornecer? As fazendas clandestinas matam vinte homens a cada semana em seus cafezais. Quantos mais terão que morrer para que vocês tomem alguma providência? - Ele fitava Capitão Bragança com a voracidade de uma das feras de Aurora. — Ou será que teremos que agir por conta própria?

— Imperador Estevão, - Idris tomou a palavra. — Sabe que isso não é permitido pelas leis de Njinga. O Código nos diz claramente que devemos nos apoiar e trabalharmos juntos para o benefício de todos.

— Então, ao invés de me interromper para citar o código Imperador Idris, - Estevão desafiava. — Use suas palavras ao meu favor. Use sua voz e sua força nessa Cúpula para que o Exército Imperial tome alguma providência. Sabemos que não é só o Império Sul que sofre com a mazela do meu povo. Navios de escravos fazem suas paradas em todos os Impérios aqui presentes. Jovens damas são levadas de suas casas por dívidas não pagas e jogadas em prostíbulos sem nem mesmo saberem o que aquilo significa. Há garotas de todos os Impérios lá, posso ver cada uma delas nos traços de cada um aqui nesta sala. — Ele direcionou a Priscilla e viu a íris de gato da moça fechar como uma fenda. — Até mesmo como vossa excelência, as "amaldiçoadas", com o perdão da ofensa, são ainda descartadas por suas famílias e nas casas de prazer encontram o abrigo que lhes foi negado. — Direcionou a Hathor, Imperador do Oeste. — E não só meninas e mulheres são levadas, há muitos homens e meninos nessas casas, a maioria dos frequentadores em busca do prazer masculino são homens casados ou aqueles que não puderam expressar sua sexualidade de forma libertadora como o senhor o faz e aceita em seu Império. - Hathor assentiu, sabia do que ele falava. Já sentira na pele o preconceito antes e tinha as marcas cravadas nas costas para nunca esquecer.

— O Império Oeste, - Ele disse após pedir a palavra por um instante. - É o que mais fornece soldados ao Exército Imperial e a Marinha, haja visto que muitos homens e mulheres são incentivados por suas famílias que carregam a honra dos grandes feitos dos heróis da Primeira e Segunda Guerra do Sangue, eles sentem o dever arder nas veias e aguardam ansiosos o dia do recrutamento. Nosso povo cresce a cada dia, somos numerosos e a ida à luta é boa para nós e para a Ordem Imperial, já que, como citou nossa excelentíssima Primeira Conselheira quando foi a minha fala, "Está tudo sob controle, o Império Oeste mantém o número de população estável para seu tamanho territorial e ..."

— Imperador, não vamos levantar de novo esta discussão. Concordamos que não há um início de revolta no Império Oeste. - Priscilla tinha voz calma enquanto falava sobre assuntos polêmicos. Um esforço adquirido.

— Primeira Conselheira, eu não concordei em nada, foi somente a senhorita que o fez. Mas dando fim ao que eu comecei a dizer, o Império Oeste irá prover ainda o Exército e Marinha Imperial com a condição de que seja suprido a falta destes no Império Sul, caso não seja providenciado a segurança que eles precisam, terão que buscar soldados em outro lugar.

O Imperador Hathor tinha grande apreço pelo Imperador Estevão desde que este foi quem mais o apoiou como primeiro Imperador casado com outro homem dentro da cúpula e a amizade deles transpassava as reuniões com comparecimentos informais aos Impérios um do outro.

A Imperatriz do Leste percebeu o rubor no rosto de Priscila, Hathor declarar aquilo frente aos demais conselheiros que, anotavam tudo rapidamente, foi um insulto à Ordem Imperial, quase uma provocação.

— Capitão Bragança, - Priscilla deu a ele a oportunidade de aparecer. — Tem a permissão da Ordem Imperial, a qual eu sou a única representante nesta sala - ela recebeu olhares dos conselheiros que escreviam, - de prover ao Império Sul com quantos soldados forem necessários.

— Sim senhora. - Capitão Bragança não foi pego de surpresa, mas fez como se fosse, desde o início da fala de Estevão esperava que algo assim fosse acontecer. O Exército Imperial vinha recebendo doações das casas nobres de todos os Impérios em favor do Império Sul e cedo ou tarde eles cederiam os soldados. Que ele não tivesse que lidar com Markus, ou Madame Falcão ou qualquer um dos fazendeiros pessoalmente e tudo estaria bem. Sabia da fama que os precedia e sabia bem das técnicas de tortura que eles usavam. Seus pensamentos foram interrompidos pelo olhar desafiador do Capitão Mitchel, que diferente dele, queria enfrentar cara a cara cada um dos infratores da lei e rasgar seus estômagos até caírem ao chão todas as tripas. Ele limpou a garganta. — Enviarei hoje mesmo o documento comunicando a decisão da Ordem aos meus superiores.

Hathor e Estevão se olharam com amizade e o Imperador do Oeste estava claramente satisfeito com o apoio do amigo.

— Quando vier ao Sul. – Disse Estevão para que só Hathor pudesse ouvir. — Vou lhe agradecer por este apoio. Sua boca jamais terá provado tão saborosos vinhos.

— Estarei aguardando ansioso por isso, meu amigo.

Tendo uma pequena pausa na reunião, Idris e Zahra se encontraram para um abraço, a filha lembrou o Imperador da solenidade da noite.

— Tenho certeza que ela está olhando por nós. - Zahra trajava branco com joias douradas extravagantes, enquanto Idris usava azul e adornos dourados nos braços apenas. — Minha mãe está muito feliz em como o senhor conduz este Império.

Idris beijou a testa da filha e sorriu sem dizer nada. A emoção estava sempre a flor da pele neste dia do ano, o dia em que sua esposa completaria mais um ano de vida.

Ao retornar para a reunião, Idris foi o primeiro a chegar, sentou e passeou o olhar pelas outras cadeiras vagas. Parou em duas específicas, as quais desde muito tempo ninguém mais sentava, as cadeiras das Imperatrizes da Água: Azah e Ellyn, e pensou sobre as escolhas de seus antepassados, sobre suas próprias escolhas e sobre a fala da Imperatriz do Leste que viria logo a seguir e sabia que dali sairia algo definitivo sobre o destino de todo um povo.

Enquanto isso, Priyanka era informada sobre o navio branco que fora até o Império Sul atrás do Alma Negra. Um missão falha onde um dos homens teve sua garganta cortada pela suposta capitã. Ela ordenou que mais fossem em campanha atrás do navio escravista, teve o apoio da Primeira Conselheira e elas estavam certas que cedo ou tarde a capitã estaria nas prisões do Império Central.

— Não posso deixar este crime passar impune.

— Concordo. – Disse Priscilla. — Já passou da hora desses piratas deixarem de mandar nas nossas águas. Mas, mudando um pouco de assunto, como você está? Sabe que eles não estão inclinados em aceitar sua proposta.

— Eu sei e estou bem. Tenho algo que pode mudar a decisão deles.

— Priyanka, minha querida, o que pensa em fazer?

— Você verá.

Dado início a segunda parte da reunião do dia, Priyanka tomou seu lugar de fala sem muitas delongas e com o queixo bastante erguido disse o que tinha em mente.

— O tempo em que vivemos está amesquinhado por convicções sem qualquer sustentação no mundo prático, real. Questionamentos antes essenciais não mais o são, argumentos são usados para justificar o contrário do significado de princípios que os amparam. O fato a que me refiro, é de grande significado, se considerarmos o silêncio histórico de todos nós enquanto representante das nações. Já calamos tempo demais frente ao sofrimento de um povo. – Ela fez uma pequena pausa. — Não há mais espaço para esta divisão a que nos colocamos, esta segregação precisa ter fim. Como todos já sabem, eu sou contra a escravização de todos os seres, inclusive das sereias. E mais uma vez venho a este conselho exigir que no Império de todos os senhores seja abolido a escravização do povo da água, assim como farei em meu Império.

Houve um burburinho e logo ela continuou.

— Estou feliz em estar aqui com todos os senhores e senhoras hoje, no dia em que será marcado pela história como o dia da liberdade para todos os seres. Tantos anos depois da Inundação de Azah, as sereias ainda não estão livres, suas vidas ainda são subordinadas a algemas, coleiras e grilhões. As sereias, o povo da água, apodrece em cavernas, em lares ditos felizes, em ruas, em navios piratas por todos os Impérios, como uma raça exilada em suas próprias águas. Estou aqui hoje para botar fim a esta Era maldita de escravização ao povo da água, vim dizer a todos que devemos seguir em frente e que esta passado que nos deve causar tamanha vergonha deva ser deixado para trás.

O discurso da Imperatriz do Leste, tocou mais pessoas do que ela poderia supor, Aurora levantou sua voz poderosa nas vezes em que algum dos Imperadores tentava interromper Priyanka e mostrou-se ao lado da Imperatriz do Leste na busca pela liberdade das sereias.

— Em Sunacai nunca foi aceito nenhum escravo e nós jamais permitimos que qualquer sereia com coleiras pisasse em nossas terras. Sunacai se importa e apoia o Império Leste. Imperatriz, pode contar com os sunacas para o que precisar.

Florence não se opôs desta vez, os navios do Leste iriam suprir seu povo e ela não colocaria as negociações em risco, ficou de olhar altivo durante o discurso e suas palmas podiam ser ouvidas do lado de fora da cúpula, no entanto quem olhasse mais de perto podia ver seus dentes cerrados em puro desgosto.

— Agradeço seu apoio. – Priyanka disse a Aurora. — Com isso espero lembrar a todos sobre a urgência do agora. Não devemos permitir que o luxo e o ouro obscureçam nossa honra e nosso caráter, nosso respeito a todos os seres que habitam esta terra junto a nós. Agora é hora de fazermos promessas reais, de saímos da lama escura em que estamos e em que afundamos esse povo que também sofreu durante a guerra. Quem dirá qual lado era o certo e qual lado era o errado? Todos não luatavam por um ideal ao qual acreditavam fielmente? – Os olhares que Priyanka recebia a cada vez que sua boca era aberta mostrava a ela quem estaria ao seu lado e com quem ela teria de lutar. — Dito isso, não pagarei mais nenhuma moeda a Ordem Imperial sobre os impostos das sereias em meu território, os reinos e as casas altas devem direcionar os valores já arrecadados para outras áreas também. Nenhum navio com sereias escravizadas aportará no Leste e não enviarei nenhum suporte àqueles que mantiverem sereias como escravas. Todos os contratos serão desfeitos e nenhum Império receberá nada do Leste. Minha decisão foi tomada a muito tempo, mas esta Cúpula nunca me deu ouvidos e nunca se importou com minhas ideias. Dessa forma também não me importarei com aqueles que não se aliarem a mim nesta empreitada de liberdade para este povo. Entendo que não será fácil, que teremos muitas dificuldades pelo caminho, mas também entendo que todo esforço é recompensado e que nossos filhos, nossos netos poderão colher os bons frutos que plantarmos hoje. Espero que reflitam sobre minhas palavras e que estes olhares de fúria e ódio possam ser dissolvidos em benefício de nós todos.

Os conselheiros anotavam cada palavra que Priyanka dizia, por fim, cada um pode expressar o que pensava a respeito.

— Isso é um insulto a todos nós! – Hathor estava de pé com o rosto vermelho de raiva. — Quantos morreram nas guerras por causa das sereias? Mil? Três mil? Não, senhora! Milhares de pessoas como nós sucumbiram por causa dessas malditas sereias! Quantas mães choraram com seus filhos nos braços enquanto tinham suas próprias cabeças arrancadas do corpo pelas espadas das sereias? Ou será que já esqueceram? Libertar o povo da água é o mesmo que amaldiçoar as almas de todos que morreram na Segunda Guerra do Sangue e na Inundação de Azah, é matar todos eles mais uma vez.

— Lugar de sereia é na coleira e não no meio de nós! - Estevão levantou-se em concordância, porém falava mais baixo que o outro. — As sereias são animais selvagens, não tem direitos porque não os merecem. Devem ser punidas pelo que fizeram a todos nós. Se não fosse por Azah, nós...

— Senhores, vale lembrar que nestas cadeiras já se sentaram duas Imperatrizes da Água e que seu Império era tão rico e tão poderosos quanto o de qualquer um dos nossos. – Idris disse as palavras como apaziguador e não como alguém que concordasse com elas.

— Não me diga que está de acordo com esta ideia maluca, Imperador Idris? - Hathor franzia o cenho em desaprovação a interrupção de Idris. — Vai abdicar dos impostos e libertar suas sereias também, pra que elas comecem a cruzar e a infestar seu Império como pragas? Porque é isso que elas fazem, vão sair por aí distribuindo filhotes imundos por todos os lados e depois só a deusa sabe o que podem fazer.

Idris sentia-se mais pressionado pelos nobres que o apoiavam a tantos anos e ficariam indignados se o Imperador resolvesse encobrir a causa. Mas deixar que o discurso de Priyanka inflamasse os ânimos no dia do aniversário de seu falecida esposa também estava fora de cogitação.

— Estou expondo os fatos, queira você ou não.

A Ordem Imperial apenas se uniria a Priyanka se ao invés de sementes e flores ela enviasse ouro e diamantes a eles, um suborno que ela jamais aceitaria pagar. No final, o xeque mate surgiu da própria imperatriz:

— Dito isto, - Ela encarou Idris. – Afirmo mais uma vez perante a esta cúpula e perante o conselho que de hoje em diante, toda sereia cativa no Império Leste será liberta, não pisarão em minhas terras aqueles que tiverem uma como escrava e, - Olhando para os boquiabertos e eufurecidos, continuou. - Os senhores tem o prazo de um ano para fazerem o mesmo em seus Impérios, pois não farei mais negociações com quem mantiver sereias escravizadas debaixo de suas bandeiras. O Leste voltará a apoia-los a partir do dia em que todos correspondam com a atual realidade, que as sereias são criaturas como nós somos criaturas e que merecem os mesmos direitos a vida e liberdade que nós merecemos.

— Isso é um absurdo! – Harthor tinha o rosto vermelho de raiva, enquanto Aurora sorria em satisfação e Florence cerrava os dentes o mais que podia.

— Hoje tem nas suas palavras rejeição e anulação, mas eu espero e que estas palavras sejam transformadas numa situação em que sereias e humanos poderão dar as mãos e caminharem juntos, como irmãs e irmãos.

Priyanka não havia dito a ninguém sobre esta decisão, sabia que não receberia apoio e sabia as consequências que viriam a seguir. Hathor e Estevão foram os primeiros a protestar, Aurora sorria de um canto ao outro dos lábios e Priscila direcionava com cuidado o olhar para os conselheiros que corriam suas canetas para escrever o discurso da Imperatriz. Capitão Bragança suava tanto que poderia desmaiar, apenas Capitão Mitchel permaneceu apático, como de costume, o que não significava que a decisão da Imperatriz não lhe tomasse os pensamentos.

Quando passou a palavra a Zahra, que a encarou como se fosse um monstro, caminhou até seu lugar com elegância e domínio de si mesma, transbordava confiança e autoridade, quem a via sorrir poderia jurar que tudo estava sob controle e que todas as sereias seriam abrigadas em seus próprios braços caso fosse necessário.

Zahra manteve a mesma voz plácida de sempre, anunciou o fim da primeira parte das reuniões da cúpula e a solenidade da noite: Uma homenagem a sua mãe. Trocou olhares com seu pai e assim que todos dirigiram-se a seus aposentos, os dois encontraram-se.

— Como ela teve a audácia de fazer um anúncio daqueles bem debaixo dos nossos narizes? - Zahra estava irritada, movimentava as mãos enquanto falava e andava de um lado ao outro no grande cômodo.

— A Imperatriz tinha tudo planejado, usou a presença dos Conselheiros para fazer o que queria e depois que as canetas deles escrevem, ninguém pode retirar o que foi dito. Logo a noticia circulará por aí e não haverá nada que possamos fazer.

— Ela é louca se acha que vamos aceitar isso, pai! As sereias são nossas e as usamos como quisermos, são o nosso trunfo, a lembrança viva de que nunca mais nenhum outro povo nos humilhara.

Idris andou pelo cômodo, era um qualquer dentro do palácio, com poltronas caras, moveis de madeira de grande qualidade, tudo adornado com ouro, as cortinas de tecidos estampados em verde e vermelho tão caras que poderiam pagar por um barco. Zahra o acompanhava com o olhar.

— A maioria dos tecidos daqui vieram do Império Sul, alguns dos móveis também e outros do Oeste. As joias que usamos, a maioria provem das minas do Norte. - Ele parou em frente um quadro de tinta a óleo, passou os dedos pela assinatura da esposa e admirou a fartura da mesa no quadro: uma família em sua casa simples, com a mesa cheia onde todos sorriam. - Mas você acha que tudo isso importaria se nos faltasse o que comer?

— Claro que não pai, principalmente depois das guerras, aprendemos o que devemos priorizar.

— Você percebeu que até mesmo a Imperatriz do Norte, que nunca antes havia ficado ao lado de Priyanka, foi a primeira a sorrir e a salvá-la de palmas?

— Florence deve estar louca! O Império Norte possui tantos nobres quanto os outros, quando eles ficarem sabendo disso irão se revoltar contra ela, tenho certeza!

— Será? - Idris caminhou até a filha e pegou-lhe as mãos. — De onde vem a maior parte dos alimentos que recebemos aqui? De onde vem os grãos, as sementes mais férteis, as frutas mais saborosas, o arroz?

Zahra não precisou responder.

— Mesmo que todos os nobres se revoltem, nenhuma revoltara durará muito tempo com as barrigas vazias. Priyanka sabe disso, sabe que o Leste é o grande fornecedor de alimento dos outros Impérios.

— Mas o Sul também é!

— Gado apenas. E ainda assim o gado de lá depende dos grãos do Leste, o solo do Império Sul ainda sofre com o sangue dos demônios da Segunda Guerra do Sangue. Nem o milho e nem a soja de lá seriam capazes de suprir o que o Império Leste faz. A maioria das fazendas são de café e cana de açúcar. Até mesmo o sistema de irrigação do Leste é superior ao de qualquer outro. Quanto tempo seria necessário para transformar tudo, para limpar a terra, plantar e colher como é feito no Leste?

— Bem mais que um ano. - Zahra estava reflexiva, irritada.

— Ela sabe que um ano não será o suficiente para as transformações que pediu, ela está nos pressionando, nos testando e a saber pela postura de Florence, a Imperatriz do Leste pode conseguir o que quer.

— Então o que faremos? - Zahra caminhou com o pai até a janela, o crepúsculo findava mais um dia. — Não podemos ceder a esta coisa ridícula que ela nos impõe.

— Não, não podemos. – Idris olhava para o se pôr do sol. — Vamos ganhar tempo.

Nota: O Discurso de Priyanka foi inspirado num dos discursos de Martin Luther King.

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