Capítulo 12
Som algum era ouvido na sala, até as minhas lágrimas desciam rápidas e silenciosas, não tinha soluços, gemidos, nem a minha respiração estava ruidosa. O mundo pareceu congelar diante dos meus olhos, não existia tortura pior do que perder sua família. Meus olhos estavam tão focados no sangue escorrendo lentamente da sala antes vedada, o pavor de entrar ali e encontrar o corpo do meu filho estirado no chão.
Não conseguia acreditar que tudo isso foi por nada, que o meu sacrifício custou sua vida, não conseguia acreditar que tinha tomado uma decisão errada, que tinha falhado na missão mais importante da minha vida. Eu matei meu filho. Desde a decisão de vingança contra as gêmeas, eu o sentenciei, a culpa é minha.
- Ella, minha rosa. Vamos embora. - Fire sussurrou em meu ouvido, automaticamente neguei balançando a cabeça. - Precisamos ir...
- Fui eu. Fire, a culpa é minha... Eu devia ter te ouvido aquela noite, eu devia ter desistido... - minha voz se tornou desesperada, Fire segurou em meu rosto me forçando a olhar em seus olhos dourados.
- A culpa não é sua, Ella. Você fez tudo que pôde. - neguei deixando que as lágrimas voltassem a cair. - Fez sim, você fez!
A pior guerra de um soldado é ter que enfrentar a derrota, olhar para os seus subordinados e amigos e dizer a eles que acabou, dizer que não adiantou eles terem arriscado suas vidas e perdido companheiros. Seria mais gratificante morrer com a esperança que os que ficaram ganhariam, do que ter sobrevivido para fazer parte da derrota. Era exatamente assim que eu me sentia ao olhar nos olhos de Fire, saber que eu tomei toda a iniciativa e no fim perdemos. Olhar para o homem que eu amo e tive que abandonar e saber que foi tudo em vão. Voltar pra casa com os fantasmas sussurrando em seu ouvido. Eu preferia ter morrido com ele.
- Vamos para casa, minha fêmea. Eu preciso cuidar de você. - Eu não merecia isso, eu falhei, fui fraca, deixei meu filho morrer. - Ella...
- Mamãe? ... - meu corpo inteiro congelou ao ouvir a voz infantil, o olhar de Fire desviou do meu e focou em algo a nossa frente. Forcei meu rosto a girar e perdi o ar.
Estava descalço pisando no sangue, vestia apenas uma bermuda surrada e todo o seu corpo estava sujo, em sua mão ele vinha segurando um pedaço velho de pano preto. Seus cabelos eram alaranjados, seu olho direito era em um dourado intenso, o esquerdo era cinza, tinha sardas espalhadas sobre seu nariz.
- Blazed... - sussurrei a primeira palavra que veio em minha mente, ele sorriu e correu em nossa direção. Abri os braços e foi ali que ele se aconchegou. - Meu filho... ah meu amor.
Os espécies estavam com o rosto espantado, alguns murmuravam algo, eu realmente não estava interessada neles. Meu filho está vivo, eu não fracassei. Fire nos envolveu em um abraço apertado, cheirava seu filhote o molhando com as lágrimas.
- Ele é mesmo seu filho. - comentou Tim saindo da sala, atrás dele vinham Mike e Trey arrastando um corpo cada um.
Eu finalmente me senti completa, a angústia que há muito tempo me perseguia se dissipou. Minha família estava completa, mas minha missão não tinha acabado ainda. Um barulho chamou nossa atenção, da parte de trás vinha Mixed e Snow carregando algumas pessoas, uma delas era a minha mãe.
- Estavam tentando escapar pelos tubos de ventilação... - A voz de Mixed morreu quando ele viu a cena, seus olhos vasculharam o local e em seguida caiu sobre nós três, a sombra de um sorriso passou pelo seu rosto.
- Eu preciso conversar com ela. - Blazed me olhou por alguns segundos, seu rosto estava entre meus seios que só agora percebi estarem vazando leite, provavelmente o cheiro deve te-lo atraído. Fire o segurou e me ajudou a levantar.
Segurei no braço de Lígia e a arrastei para uma sala lateral que tinha parte da parede feita de vidro. Forcei ela a sentar e passei um tempo a observando enquanto ela olhava atentamente os espécies do lado de fora carregando corpos e limpando o local.
- Eu não sei se reconheceria se fosse algum deles. - murmurou fechando os olhos com força.
- Você nem deve ter olhado para ele. - ela sorriu mas, não foi um sorriso debochado, tinha muita tristeza ali.
- Está enganada, eu o segurei em meus braços antes de levarem. Eu vi ele abrindo os olhos e procurando comida com a boca entreaberta. Achei que naquele momento não conseguiria mais entrega-lo, era um lindo garoto de cabelos e olhos escuros, ele não chorava, era tão calmo, paciente. Quando eu acordei do pós cirúrgico eles já tinham vindo busca-lo. - deu de ombros enxugando algumas lágrimas.
- Você o vendeu, e iria fazer isso comigo também. - estreitei os olhos ao encarar os seus.
- Isso é verdade, ganhei meio milhão de dólares por ele, ganharia o triplo por você, eles pagavam mais por meninas. Seu pai foi esperto, eu tive a oportunidade de te olhar antes de ir embora, eu desejei que você nunca tivesse nascido. - estalei a língua e retirei os olhos, estava cansada dessa ladainha da Lígia. Comecei a bagunçar as gavetas em busca de uma seringa. - Vai me matar?
- Não, eu ia tirar seu sangue mas não tem seringa aqui. Isso vai ter que bastar. - peguei um pote coletor e puxei seu cabelo tendo a certeza de fazer isso do jeito certo.
- Ai! Eu preferia que me matasse. - guardei o cabelo no pote e pus no bolso da calça, abri a porta e apontei para que Trey a levasse.
- E eu que você não fosse minha mãe, infelizmente não podemos ter tudo que queremos. -
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