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Despedida

Passei meu domingo todo oscilando entre dores e sorrisos bobos. Dor pela ressaca e sorrisos por causa de Sebastian.

Vez ou outra eu começava a rolar na cama rindo ou me esperneava de felicidade. O que fazia minha cabeça latejar ainda mais.

Meu celular começa a tocar e eu levo um tempo para conseguir encontrá-lo na bagunça que está minha cama.

— Alô...

"Débora minha filha, como você está? O Sebastian foi ver como você estava? Aquele ingrato não me retornou avisando se estava bem. E nem atendeu minhas ligações, acredita?"

— A senhora contou pra ele o que aconteceu onti?

"Eu disse que você poderia não estar se sentindo bem e antes que eu dissesse o porquê ele desligou na minha cara." – Ela diz com um tom irritado.

— Ele veio aqui sim Senhora. Dona Suzana?

"Fala minha filha..."

— O que a senhora acharia se eu me apaixonasse pelo fio da senhora? – Digo prendendo minha respiração. Isso é muito importante para mim. Dona Suzana tem cuidado de mim como uma mãe. Não quero decepcioná-la.

"O queeeeee?!" – Ela grita — "Me conta mais! Desde quando você gosta dele? Já contou para ele? Ele vai ficar muito feliz! Olha, acho melhor vocês assumirem logo o namoro. Eu sou louca por um neto!" – Escuto os risinhos de felicidades dela.

Por essa eu não esperava. Pensei que fosse acontecer como nas novelas onde a mãe rica chora água e oferece dinheiro.

— Eu tô feliz por demais que a senhora apoiou!

"Se ele fizer qualquer coisa de errado me avise que eu vou arrancar as orelhas dele."

— Pode deixar.

"Agora trate de contar para ele! Minha filha tenho que desligar agora. Ah! Lembre-se que nossas aulas irão continuar sábado!"

— Estarei lá sim!

Nos despedimos e ela encerrou a ligação.

Agora estou ainda mais feliz! Dona Suzana aceitou meu relacionamento com o Sebastian.

Mas espera! Eu ainda não sei se ele quer um relacionamento sério comigo.

Meu celular apita.

"Minha cabocla, posso ir aí?"

— Mas é claro que pode! – Olho ao redor do meu quarto e percebo o quão bagunçado está — Venha daqui a 20 minutos, por favor.

Levanto-me tropeçando e começo uma pequena arrumação. Em seguida, corro para o banheiro e tomo um banho rápido, escovo meus dentes e vou para o quarto novamente para escolher uma roupa.

O que se veste numa ocasião como essa?

Até pensei em ligar para a Sandy, mas ela iria querer vir aqui e começaria a falar seus planos doidos sobre como posso conquistar o Sebastian para sempre. Ou coisa pior.

Melhor eu mesma decidir.

Vejo um vestido preto de alcinha, o tecido é fino e tem uma pequena prega na cintura. Do jeito que eu gosto.

Quer saber? Vai esse mesmo.

Quando o pego, percebo que ainda está até com a etiqueta e então me lembro de que foi o último presente que ganhei de meu avozinho antes de vir para cá viver essa aventura.

Me visto e percebo que ficou muito bem em mim, ao olhar no espelho.

— Agora é o cê cabeleira!

Desembaraço os fios e opto por deixá-lo solto. Ele está ainda mais longo do que quando vim para cá.

Será que devo cortá-lo?

Acho que não. Gosto dele comprido assim fica mais bonito com o chapéu.

A campainha toca e meu coração dispara.

Confiro no espelho se está tudo certo e dou duas batidinhas no meu rosto com minhas mãos para acordar ainda mais.

Corro para abrir a porta e lá estava ele. Todo lindo. Com uma bermuda com um tom um pouco azulado e uma camisa Polo preta.

Assim como ontem ele não está de óculos.

— Oi. – É tudo que consigo dizer.

— Oi. – Ele fala levando a mão à nunca, visivelmente envergonhado.

— Entre, por favor.

Ele entra e se vira para mim, que já fechei a porta.

Involuntariamente, mordo o lábio inferior e fico o encarando. Ele então dá um sorriso e me enlaça em teus braços me beijando em seguida. Um beijo feroz e apaixonado. Como se nossas vidas dependessem disso.

— Você é linda! – Ele diz quase sem fôlego após o beijo.

Eu sorrio e começo a beijá-lo novamente, não sei quando caminhamos, mas nesse momento já estamos em meu quarto.

— Nossa como está arrumado esse lugar! – Sebastian diz reparando o quarto.

— Oia que nem tive tempo de arrumar direito. – Digo sorrindo.

Ele dá vários selinhos em meus lábios enquanto vamos para a cama, onde ele me deita e se deita milésimos de segundos depois.

O clima está realmente quente nesse momento. Meu coração acelerado e minha respiração ofegante.

Quando dou por mim, já estou tirando a camisa dele.

Uou! Como ele é musculoso.

Passo a mão delicadamente pelo peito dele. E paro minha visão em uma frase descrita em sua costela.

"Tudo posso naquele que me fortalece"

Estou realmente impressionada. Numa imaginei que Sebastian tivesse uma tatuagem.

— Ah, não conte a minha mãe sobre isso. – Ele diz pegando minha mão e dando um beijo nela, me fazendo sorri.

— Acho que é melhor eu ir tomar um copo d'água.

— Sim – Ele sorri envergonhado — E traga para mim também, por favor.

Nós gargalhamos.

Vou até a cozinha e tomo bastante água gelada.

De onde saiu esse fogo todo senhorita Débora?

Eu levo água para Sebastian que está distraído assistindo TV. Ele sorri feito um menino travesso.

Fico o admirando por um tempo. Acho que estou realmente apaixonada por ele. E isso me deixa muito feliz!

— Que foi? – Ele me olha assustado.

— É que ocê é lindo por demais.

— Sou é?

Vou até ele e lhe entrego a água.

— Podemos ir devagar? – Pergunto por fim — Acho que tá cedo demais para ir mais longe que isso. Se é que ocê me entendem.

— Claro! Eu não quero apressar nada. Quando você se sentir pronta, eu estarei lá. Mas não se sinta pressionada. – Ele coloca o copo sob o criado-mudo e pega meu rosto com ambas as mãos — Saiba que só por estar com você eu já estou muito feliz. – Ele dá um beijo em minha testa.

— Obrigada! – Eu o abraço apertado.

— Agora temos outro problema pela frente. – Eu o encaro — Contar para os meninos. Guilherme vai ficar feliz por nós, mas acho que Alex vai levar um baque.

— Ué, por quê?

— Você realmente não sabe? – Ele pergunta olhando em meus olhos — Alex está apaixonado por você.

Eu arregalo meus olhos.

— Num é possível. Ele sempre implicou com eu! – Eu falo indignada.

— Sim, mas esse é o jeito dele demonstrar amor.

Estou realmente abismada.

— Mas vamos pensar em uma forma de contar sem machucar ele. Eu mais que ninguém sei como é doloroso ser trocado. E eu sei como você gosta dele.

Bem que minha avó me falava que tudo que é bom vem com responsabilidades.

🐎🐎🐎

Nós contamos para os meninos na hora do jantar. Guilherme nos encheu de perguntas e não parou de dizer o quanto ficou feliz. Já Alex não reagiu tão bem. Ele se levantou rapidamente da mesa e pegou sua mochila, saindo em seguida.

Eu não queria que algo assim acontecesse.

Sebastian resolveu passar a noite em meu apartamento. Segundo ele seria pior Alex ficar o vendo.

Rafaela veio falar comigo na segunda-feira. Contou-me que já sabia que eu sou filha da madrasta dela – por causa de fotos – e por isso me tratou mal. Eu não briguei com ela por não me contar, mas pedi para fingir que nada aconteceu e que eu não tenho nada a ver com aquela mulher.

Júnior e Rafaela começaram uma espécie de namoro a distância. Mesmo que ela às vezes me enche o saco de tanto falar como o Júnior é isso ou aquilo, eu estou muito feliz por eles.

Os dias foram passando e com o tempo eu quase não vi mais o Alex. Sempre que o via ele estava bêbado e cheirando a perfume feminino.

Algumas vezes ele veio bater em minha porta de madrugada. Assim como naquela primeira noite que passei no AP, cuidei dele e o deixei dormindo tranquilamente.

Nas manhãs seguintes ele me olhava envergonhado e pedia desculpas.

Nas férias de julho eu fui para o sítio e quase explodi de felicidades. Matei a saudade que estava dos meus avós e do meu cavalo ventania.

Não levei o Sebastian comigo porque achei muito precipitado.

🐎🐎🐎

(4 anos depois)

Durante esses quatro anos eu dei tudo e mais um pouco na universidade. Aproveitei cada ensinamento e aprendizagem.

Dona Suzana me ensinou muitas coisas do mundo dela. Como se portar, como se vestir e falar.

Mesmo que eu não tenha mudado minha essência, compreendi que esses detalhes são importantes na sociedade tosca que vivemos.

Não abandonei meu amor por botas de couro e roupas no estilo caipira. Apenas abri um espaço em meu guarda roupa para a moda da cidade grande.

Foi hilário a primeira vez que tentei andar sobre um salto alto. Decepcionante!

Sebastian riu de a barriga doer e a mãe dele ficou o chamando de insensível.

Nós ainda não 'coisamos'.

Sempre que o clima começa a esquentar tomamos um banho frio ou bebemos uma jarra de água gelada.

Alex parece ter superado minha escolha. Já até voltou a fazer as piadas idiotas. Mas agora ele já não mora mais aqui no prédio. Guilherme também viajou para o Rio de Janeiro. Ele não foi convocado para a Seleção brasileira, mas foi contratado para atuar no Flamengo.

Nem sabia que Flamengo tem time de basquete. Mas isso não vem ao caso. O que realmente me impressionou foi Guilherme me contar que é gay.

Eu quase caio para trás. Nunca iria imaginar.

Hoje é minha formatura. O dia que me tornarei oficialmente uma médica veterinária. Mas também é a despedida de minha residência aqui.

Sebastian está tentando evitar esse assunto. A mãe dele também. No entanto é algo que está se aproximando.

Por mais que eu os ame eu não abandonaria meus avós. Além do mais, lá é o lugar que eu amo. Para piorar, o câncer do meu avô reapareceu.

Eu quero passar cada segundo que puder com ele.

🐎🐎🐎

— Obrigada Alex! – Digo ao receber um buquê de rosas amarelas.

— Nem acredito que minha caipira se tornou uma médica! – Ele sorri — Estou muito feliz por você. Mesmo que agora você não seja mais tão caipira como quando chegou aqui.

— É verdade. Muita coisa mudou. Mas sou extremamente grata por vocês terem me acolhido tão bem. – Eu o abraço — Não sei o que faria se naquele dia vocês tivessem me expulsado.

— Dera!!!

Olho para trás e me deparo com Guilherme. Ele está acompanhado por um moço muito bonito.

— Guiiiii! – Eu corro e o abraço.

— Tô muito feliz por você estar se formando com excelência! Você merece. – Ele diz beijando meu rosto. — Ah, esse aqui é o Marcos. Meu companheiro.

— Prazer! – Estendo minha mão que o moço pega em seguida.

— O prazer é meu. Guilherme fala muito em você. Estava louco para conhecê-la.

— Débora – Rafaela aparece de braços dados com Júnior — temos algo para te contar.

— Fale logo, menina!

— Estamos grávidos! – Ela pula em meu pescoço.

— Não acredito!!! – Estou realmente surpresa.

— Vamos casar depois de amanhã. Você será nossa madrinha! – Ao ver que vou negar ela prossegue — Nem pense em negar! Sei que vai embora no sábado. Por isso resolvemos casar na sexta! Já falei com Daiane e ela não vai tentar ser simpática com você.

— Dera cê num pode fazer uma desfeita dessas! – Júnior diz do jeito xucro dele.

— Ôh homi! - Nós rimos.

Não negaria esse pedido/ordem.

— Vamos tirar uma foto para guardar esse momento tão especial! – Sandy que estava conversando com o companheiro de Guilherme, grita.

Ela não terminou o curso de medicina veterinária. Segundo ela não nasceu para isso. No lugar optou por fazer curso de fotografia e agora abriu uma agência para fotografar modelos iniciantes.

Está indo muito bem nesse negócio.

🐎🐎🐎

Quando as comemorações terminaram, fomos embora.

— Fica aqui que eu tenho uma surpresa... – Digo quando Sebastian se senta na minha cama.

— O que foi? – Ele pergunta desconfiado.

Eu sorrio e vou para o banheiro me trocar.

Hoje é o dia. O nosso dia.

Coloco uma lingerie vermelha que comprei. Ela tem rendas. Bem sexy.

Quando abro a posta do banheiro Sebastian me encara. Seu olhar repleto de desejo.

Não precisei dizer nada. Ele entendeu o recado.

E foi nessa noite linda e repleta de felicidade queconsumamos nosso amor, liberando todo o nosso desejo de quatro anos...    

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