Tod ficou completamente sem reação ao perceber aqueles olhos gigantes o encarando, sem contar na voz quase melódica dando-lhe bom dia. Os seus olhos brilharam tanto que acabou sendo notado por Henrie facilmente o fazendo soltar um sorriso bobo. Tod corou e não conseguiu responder, apenas perguntou se levantando:

- Que horas são?

- Dez para a sete ainda. – respondeu Henrie ainda todo bobo com ele .

Tod percebeu e logo jogou um travesseiro no rosto dele resmungando:

- Cuidado para não babar... – riu.

Henrie se conteve e não respondeu, ele parecia feliz demais para ligar.

- Quem vai tomar banho primeiro? – perguntou Tod.

Henrie novamente se conteve em não responder algo desnecessário, mas ele não se segurou:

- Ah, eu acho melhor a gente tomar banho junto, assim economizamos tempo...

Tod, com o batimento acelerado, apenas revirou os olhos sorrindo sem jeito e foi para o banheiro.

- Eu estou brincando, eu já tomei banho antes de você acordar. – retrucou Henrie quase gritando ao vê-lo sumindo para o banheiro.

Tod ficou o tempo todo intrigado com todas as atitudes de Henrie, e começou a se questionar se ele sentia o mesmo, mas não conseguia ter uma resposta muito clara. Ele não podia negar que o seu corpo gostava de Henrie por perto, mas não conseguia definir se a sua mente e ele como pessoa estavam na mesma sintonia.

Quando ele saiu do banho Henrie não estava mais no quarto, ele já havia descido para tomar café. Tod bufou. Em poucos minutos ele já estava pronto e descendo as escadas, não queria correr o risco de Henrie comentar algo com a mãe dele ou algo parecido, mas parecia ter sido tarde demais. Quando ele se aproximou da mesa, a mãe dele estava sorrindo fazendo biquinho, como se imitasse um beijo, e ele rapidamente entendeu. Passou por Henrie e deu-lhe um pescotapa de leve, o fazendo soltar um grunhido abafado.

- Então, como foi a noite dos dois? – perguntou ela rindo um pouco.

Tod apenas olhou estranho para Henrie e resmungou:

- Precisava contar? Nós nem conversamos disso direito... – corou.

- Contar o que? O beijo? Eu vi. – respondeu a mãe de Tod entre risos.

Tod congelou. Ele não tinha parado para pensar que a mãe dele poderia passar por aquele momento.

- Como assim? Então aquele barulho...

- Sim, fui eu. – ela o interrompeu. – Mas fiquem tranquilos. Eu "shippo" vocês! É assim que falam hoje em dia, não? – disse rindo para o Henrie que a acompanhou no riso.

Tod ficou completamente desconcertado com aquele comentário e apenas permaneceu o café da manhã inteiro em silêncio tentando digerir tanto a comida como tudo aquilo que estava acontecendo.

Henrie e Sra. Evans por sua vez ficaram o café da manha inteiro conversando sobre Tod. Ela contando tudo sobre a infância de Tod e os momentos que ela considerava mais fofos. No fundo Tod se sentia bem por aquele momento, mas para ele algo não parecia se encaixar, era como se tudo estivesse acontecendo rápido demais.

O trajeto até o colégio foi o de sempre, Henrie e a mãe de Tod conversando. Eles pareciam ter uma conexão que Tod jamais entenderia, mas ele não se deixava levar, já que sabia que os pais de Henrie não eram tão presentes. Ao desceram no colégio, Henrie não se conteve e se manteve junto de Tod o tempo todo, como se estivesse em um único corpo. Ele colocou o braço por trás do pescoço de Tod apoiando sobre o ombro dele. O colégio inteiro estava achando estranha aquela aproximação por causa das rixas no conselho de ambos.

Tod estava completamente sem jeito e tentava se livrar de Henrie, mas ele forçava para não deixa-lo ir com um sorriso enorme no rosto. Antes de deixar Tod na sala dele eles encontraram com a Lucy no caminho.

Os três ficaram parados se entreolhando até que Tod percebeu o olhar furioso dela ao perceber aquela aproximação e sentiu-se culpado por tudo aquilo. A sua mente foi invadida pelo acontecimento com Lucy e tudo pareceu como um borrão. Ele aproveitou a distração de Henrie e se soltou caminhando em direção a sua sala com um olhar triste para Lucy.

Ela por sua vez não ficou comovida. O seu olhar transbordava raiva, como se ela estivesse culpando Tod por tudo aquilo. Henrie ficou ainda algum tempo paralisado até que foi interrompido por um sussurro próximo ao seu ouvido:

- Não pense que vai ficar assim... – instigou Lucy passando ao lado de Henrie que permaneceu intacto tentando absorver tanto a situação quanto o que ela acabar de dizer. Quando ele se deu conta já não havia ninguém. Apenas olhou para a sala de Tod e notou que ele já estava lá conversando com Fred e seguiu para a sua sala.

Tod permaneceu como sempre aéreo em todas as aulas, tanto que nem deu atenção para o que Fred dizia sobre as provas que estavam se aproximando. A cabeça dele não parava de pensar no fato dele ter estragado um relacionamento, mas no fundo ele sabia que não era culpa dele, mas também sabia que a Lucy não pensava desse jeito.

Ele pensou se ele se afastasse seria o melhor. Ele preferia se deixar machucado ao que machucar varias pessoas, mas ele não parou para pensar que também deixaria Henrie machucado. Por que isso era tão difícil para ele? Não parecia ter uma resposta completa.

- Ei, Tod! Está na terra? – perguntou Fred.

Tod pareceu o ignorar, mas somente pelo fato de que ele estava perdido em pensamentos. Fred continuou até que conseguiu a atenção dele:

- O que houve, Fred?

- Nada, é que a aula já acabou e você não saiu para o intervalo, o que houve? – respondeu ele mostrando a sala vazia.

Tod se assustou com aquilo. Já tinha tudo acabado? Por quanto tempo ele havia se perdido em pensamentos?

- Mas... É que... Eu não sei, está tudo tão estranho com Henrie.

- O que houve? Agora você não me fala mais nada. – insinuou Fred se inclinado para perto dele sedento por aquela informação.

- Então você sabe que o Henrie e a Lucy terminaram, né?

Fred sacudiu a cabeça em confirmação.

- Então, e eles terminaram justamente por minha causa...

- Você? Como assim?

- É que eu acho que o Henrie está gostando de mim.

- Gostando? Não, não espera... Mas e você... Está gostando dele?

Tod ficou com a garganta seca. Sua boca queria dizer, mas sua mente não deixava. O mais estranho foi que Henrie estava se aproximando da porta da sala de Tod bem na hora da pergunta de Fred. Ele se esgueirou na parede apenas esperando a resposta dele.

- Na verdade... – respirou fundo. – Eu gosto dele. Ele tem me tratado tão bem ultimamente que não sei se estou conseguindo retribuir a altura, mas tem um problema...

O coração de Henrie estava quase explodindo em emoções ao ouvir tudo aquilo, mas ele não imagina nenhum problema, mas sua mente só insistia para não ser o fato de ele não gostar do mesmo jeito que ele.

- Vai Tod desembucha! – exclamou Fred sem piscar.

- O problema é a Lucy! Eu não queria ter deixado ela assim. Eu sei que não tenho culpa pelo o que aconteceu, mas eu acho que me afastar do Henrie é o melhor que eu faço, vai ser o melhor para todos...