┊ 𝟭𝟭. homem-aranha: o musical.
━━━ CAPÍTULO ONZE
homem-aranha: o musical
VALERIE EMPURROU O SOFÁ para a esquerda sem dificuldade e se afastou, colocando as mãos na cintura para o observar melhor. Cerrando os olhos, ela tombou a cabeça para o lado, procurando por algum defeito no posicionamento do móvel, e então se aproximou para o empurrar um pouquinho para a direita. Com um sorriso orgulhoso, ela levantou os polegares em direção a Peter, que estava pendurado no teto, trocando a lâmpada do cômodo.
Ela riu um pouco, o observando caminhando para lá e pra cá, de ponta-cabeça, fazendo algumas das muitas tarefas que precisavam ser feitas para tornar o pequeno apartamento em que se encontravam em um lugar habitável para humanos. Os dois tinham um longo caminho pela frente, mas estavam confiantes e animados. Por enquanto.
━ Quando você acabar aí, limpa as teias de aranha da cozinha ━ ela mandou, ele revirou os olhos. ━ É tudo culpa dos seus parentes aracnídeos, Peter!
Ele semicerrou os olhos, indignado.
━ Você fala como se eu tivesse nascido de um ovo de aranha!
━ Eu só acredito que não quando você me mostrar uma foto do seu parto.
Aquele era o primeiro dia de Peter Parker e Valerie Bradshaw morando juntos, em um pequeno apartamento em Brooklyn Heights, que os dois lutavam para pagar com seus salários não muito generosos. Após quase quatro anos de relacionamento, o homem recém-formado continuava trabalhando como fotógrafo para o Clarim Diário, mas agora também fazia pesquisas científicas remuneradas em nome da universidade que frequentou. Valerie estava no último semestre da faculdade de Jornalismo — ela não trancou esse curso! — e já trabalhava para o Clarim Diário há alguns anos, investigando e transmitindo notícias ao público.
Eles haviam passado por poucas e boas; Peter e Valerie costumavam se dar bem, mas Raio-Branco e Homem-Aranha já tiveram seus momentos de discordância. Na ocasião mais grave, os dois decidiram parar de trabalhar juntos e cada um circulou num mapa a parte da cidade que iria defender. Então, um gângster apelidado de Rei do Crime começou a dominar as ruas e os dois tiveram de se unir de novo para o impedir. Duas semanas. Foi o máximo de tempo que passaram separados.
━ Você é muito chata ━ ele reclamou, enrugando o nariz, enquanto tirava as teias de aranha das quinas da parede. ━ Já tô arrependido de ter vindo morar com você!
Valerie arqueou uma sobrancelha, ajeitando a televisão na parede, e riu sozinha.
━ Você tá feliz, que eu sei. Não sei se você tá lembrando, mas você não queria só morar comigo ━ falou ela, o olhando sugestivamente. ━ Você me pediu em casamento! Eu que não quis.
Peter desceu da parede e lavou as mãos na pia da cozinha, olhando para Valerie por cima dos ombros.
━ É, eu sei, eu sei. A gente é jovem ━ ele imitou a voz da namorada, piscando os olhos para cima de forma irritante. ━ Eu sou uma alma livre. Não tô pronta pra isso. Tenho medo de ter bebês com oito braços. E míopes.
Cruzando os braços, Valerie abriu a boca de forma indignada, fazendo o rapaz rir alto. Ela havia mesmo dito todas aquelas coisas; ela entrou em pânico! Àquela altura, ela já sabia que amava Peter e queria passar o resto de sua vida com ele, mas a ideia de casamento ainda parecia… séria demais. Felizmente, Parker aceitou bem a rejeição ao seu pedido. Depois de chorar escondido por três dias seguidos, tudo ficou bem e as coisas voltaram ao normal entre os dois.
Bem, tão normais quanto poderiam ser. No fim do dia, eles ainda eram Peter e Valerie. Nada poderia ser comum demais quando aqueles nomes estavam envolvidos, correto?
━ Eu sei que você ainda chora no banho porque eu disse não.
━ Eu sei que você chora no banho por ter dito não.
Ele caminhou até o sofá onde Valerie já estava jogada e levantou as pernas da garota, se sentando no espaço vago, e descansou as pernas em seu colo. Cansado, ele observou o pequeno apartamento, vendo caixas da mudança espalhadas pelo chão e um pouco de terra — Valerie havia quebrado um vaso de plantas por acidente — bagunçando o local mais ainda.
━ Almoço com os Bradshaw, jantar com a tia May ━ decidiu Peter, sabendo que nem um dos dois teria disposição para cozinhar naquele dia. ━ Amanhã a gente começa a ver tutoriais sobre como cozinhar. Não dá pra viver de lasanha congelada pra sempre, né?!
━ É claro que não dá! Às vezes, tem que intercalar e comer pizza congelada também! ━ exclamou ela, fazendo o rapaz rir. ━ E macarrão instantâneo, é claro. Só coisa saudável.
━ Administrar uma casa é muito difícil ━ Peter suspirou, fazendo uma careta e começou a enumerar: ━ Temos que aprender a cozinhar, consertar o piso do banheiro, pintar aquela parede horrível do quarto…
━ Esse lugar tá em situação de calamidade! E o aluguel ainda é caro… Ainda bem que a gente não precisa pagar energia.
Peter estranhou. Eles ganharam alguma promoção? Tinham energia solar?
━ Quê?! Por que?
Às vezes, ele se esquecia de que namorava um gerador de energia.
━ Sério Peter, e ainda te chamam de gênio… ━ ela zombou, e ele revirou os olhos de forma divertida. ━ Eu gero eletricidade, gatinho.
Bom, aquilo certamente era um alívio para o bolso dos dois. Assim, sobrava uma graninha extra pra ajudar a tia May e, se juntassem por tempo suficiente, para comprar algo que os dois queriam muito: um tabuleiro de RPG com um precinho bem salgado, mas que era muito bom! Eram coisas como aquelas que faziam Mary Jane os chamar de nerds.
Aquilo e mais uma junção de motivos, é claro.
Peter empurrou os pés de Valerie de cima de seu colo e se inclinou rapidamente em direção ao seu rosto, posicionando as mãos em suas bochechas, e depositou um longo beijo em seus lábios rosados, sentindo-a sorrir contra sua boca.
━ É por isso que eu amo você.
Valerie apoiou as mãos nas do homem em seu rosto e arqueou uma sobrancelha.
━ Porque eu corto as despesas da conta de energia? Você sabe mesmo o que dizer pras mulheres...
Ele riu e encostou o nariz no da garota, antes de deixar outro beijo em seus lábios.
━ Não vou mentir, isso é um bônus…
━ Tudo bem, eu só tô com você porque o Homem-Aranha não tava disponível.
━ É, parece que ele namora a tal Raio-Branco.
Os dois se olharam sérios por um momento, e então, começaram a rir juntos, enquanto Peter retornava a sua posição inicial e Valerie se sentava no sofá. Eram diálogos como aquele que faziam Vidya acusar a irmã e o cunhado de dividirem um único neurônio.
E por falar na Bradshaw caçula, ela havia parado de cobrar para manter o segredo das identidades dos vigilantes quando fez treze anos. Parte do dinheiro que arrecadou no meio-tempo foi utilizado para comprar um jogo de aparelho de jantar para a nova casa dos dois. Valerie chorou de emoção e de humilhação, porque não sabia cozinhar e não usaria os pratos tão cedo.
━ E aí, a gente termina de arrumar essa bagunça agora? Ou a gente só ignora que ela tá aí e tira um cochilo enquanto ninguém aparece pra tentar transformar todos os habitantes de Nova Iorque em lagartos?
Algo interessante no relacionamento de Valerie e Peter era que, por mais caóticos que os dois fossem como indivíduos, eram a calmaria um do outro. Eles se mantinham em equilíbrio. Aquilo era um aspecto muito importante para quem levava uma vida dupla; momentos comuns como aquele os lembravam de suas identidades civis. Os lembravam que não eram Homem-Aranha e Raio-Branco, mas sim, Peter Parker e Valerie Bradshaw. Era uma boa forma de manter a sanidade.
━ Você tá esquecendo de uma coisa, Adeline…
━ Eu nunca deveria ter te deixado descobrir meu nome do meio.
━ Isso, minha querida, é verdade. E qual é, você tem nome de uma poetisa e nunca me escreveu nem um versinho! ━ ele exclamou, levando uma mão ao peito, quase ofendido. ━ Mas não é esse o ponto. Hoje é a estreia da MJ naquela peça. A gente prometeu ir.
Valerie bateu na própria testa. Alguns meses antes, alguém decidiu que seria uma boa ideia escrever um musical sobre o herói mais antigo da cidade: o primeiro e único, o Homem-Aranha! Mary Jane fez uma audição para interpretar o interesse romântico do herói e conseguiu o papel. A situação toda era meio engraçada; MJ atuaria como par romântico de seu amigo, que por acaso namorava sua amiga, sem fazer ideia de que aquilo estava acontecendo. Pelo menos as identidades ainda eram secretas.
━ Ainda bem que a Raio-Branco não tá nessa peça. Imagina, ver um cara vestido de Homem-Aranha, lutando contra o crime enquanto canta e dança? E, isso tudo, conhecendo você! Eu vou ser expulsa do teatro por rir demais! ━ avisou Valerie, rindo só com o pensamento. ━ Você devia ter feito a audição pro papel principal, Pete. Eu sei que você canta e dança muito bem.
Se levantando do sofá, Peter puxou uma das mãos de Valerie sem cerimônia, descansando a mão livre em suas costas, e começou a girar pela sala, levando a loira junto numa dança descoordenada. Ele tropeçou muitas vezes. Ela riu em todas elas.
━ Tá vendo, né? É por isso que a tia May me chama de pé de valsa.
━ Isso aconteceu mesmo em algum momento da sua vida?
━ Certo, nunca aconteceu. No máximo, ela já disse que eu tinha dois pés esquerdos ━ ele respondeu, pensativo. ━ Ela também disse que eu não compensava com entusiasmo.
Valerie riu, o admirando de perto. Às vezes, ela sentia que estava parecendo o emoji apaixonado de seu celular. Mas ela não se importava; como poderia olhar para Peter sem corações em seus olhos?! Era praticamente impossível. Como alguém esperava que seu coração não batesse mais forte ao olhar nos grandes olhos castanhos de Parker? Era pedir demais!
━ É, ainda bem que você é bonito… ━ ela disse, e ele riu baixo, virando o rosto para o lado. Peter ainda era um cara tímido, mesmo depois de tantos anos. ━ Agora, vai se arrumar! E antes que você invente, não, você não pode ir vestido de Homem-Aranha.
━ Mas eu nem sei em que caixa tão as minhas roupas!
━ Naquela caixa.
━ Que caixa? Você não tá apontando pra nenhuma!
━ Não sei. Mas tá em alguma.
Peter franziu o cenho, a encarando. Os anos se passavam e Valerie continuava não fazendo questão de fazer sentido. Às vezes, ele achava que ela apenas começava a dizer palavras aleatórias na esperança de formarem uma frase coerente. Ele observou as caixas espalhadas pelo chão e fez uma careta, coçando a cabeça.
━ Vai tomar banho primeiro. Eu vou procurar minhas roupas naquela caixa.
━ Qual caixa? ━ ela o olhou estranho.
━ Não sei, todas?
Por fim, os dois conseguiram ficar prontos com tempo sobrando. Valerie vestiu um vestido meio amassado, porque sabia que não acharia um ferro de passar naquela bagunça, e Peter vestiu calças escuras e uma camisa azul que ele nem se lembrava de ter. Não seriam as pessoas mais bonitas do teatro, mas o importante era apoiar Mary Jane!
Quando Peter saiu do banheiro, procurando por um par de meias, encontrou Valerie na cozinha, em frente ao fogão, fritando um ovo. Ela estava mais longe da panela do que deveria estar; provavelmente, tinha medo de se queimar com gordura espirrada. Ele quis rir.
━ Veste a roupa da Raio-Branco, vai te dar mais coragem!
Valerie fez uma careta em sua direção, revirando os olhos, e se aproximou do fogão corajosamente. Pegando uma espátula, ela uniu as sobrancelhas, focando na panela à sua frente, e em um movimento rápido utilizou o utensílio para virar o ovo. Gordura espirrou em seu braço e ela gritou um palavrão.
Peter mordeu os lábios, prendendo uma risada, e deu alguns passos em direção à cozinha, onde a namorada ainda praguejava. Tocando os ombros de Valerie, ele a puxou para trás e tomou a espátula de suas mãos, diminuindo o volume do fogo e assumindo o controle do fogão. Enquanto fritava o ovo, puxou o braço da loira e soprou sua queimadura, dando um beijinho por cima.
━ É pra sarar.
Ela riu pelo nariz.
━ Você é mesmo um médico espetacular.
━ Tô sabendo ━ ele retrucou, se gabando, e desligou o fogo por completo, retirando o ovo da frigideira com a espátula. ━ Vou terminar o seu lanche, me arruma um par de meias?
━ Claro! ━ ela disse, já saindo da cozinha. ━ Mas eu não prometo que as meias vão ser iguais. A gente já tá atrasado.
O homem preparou um lanche para a namorada enquanto a mesma vasculhava uma imensidão de caixas em busca de meias. No fim, ela não encontrou um par muito bom e, enquanto comia o sanduíche que Peter havia montado, observou com uma risada o namorado calçando meias vermelhas com desenhos de corações cor-de-rosa, que não ficavam muito visíveis quando calçava os sapatos. De qualquer forma, o teatro era escuro o suficiente para evitar que vissem o estilo do rapaz.
Ficaram prontos e correram para fora do apartamento, na esperança de não perderem o metrô, e conseguiram chegar a tempo no teatro após alguns minutos de estresse. Peter sempre reclamava de pegar o metrô; ele gostava de se locomover por meio de teias. Valerie ainda odiava as teias. No teatro, se sentaram mais ao fundo, porque os lugares da frente já tinham sido ocupados pelos inúmeros fãs do amigão da vizinhança.
O show se iniciou com uma música sobre a cidade de Nova Iorque sendo cantada pela atriz que interpretava a Estátua da Liberdade. Em seguida, as cortinas se fecharam e quando abriram de novo, um homem com uma fantasia peculiar apareceu, com metade de seu corpo vestindo um jaleco, e a outra metade já transformada em lagarto.
━ Isso não pode ser sério… ━ Peter murmurou, arregalando os olhos.
O professor Curt Connors também teve um número musical. Depois de um monólogo sobre seus objetivos — como transformar todos em lagartos —, Mary Jane apareceu e Valerie e Peter aplaudiram e gritaram alto, contagiando outras pessoas a fazerem o mesmo. A personagem da ruiva havia sido criada para o musical: Lily Lewis, uma estudante de biologia, que seria a primeira vítima do Lagarto se o Homem-Aranha não aparecesse para a salvar e roubar seu coração.
━ Ouvi dizer que você tem sido um lagarto muito mal… ━ a voz do amigão da vizinhança foi ouvida quando ele surgiu das sombras, com cabos presos à cintura para que seu corpo fosse levantado durante as cenas de ação. O público foi à loucura.
Peter fechou os olhos e suspirou, levando uma mão até a testa. Valerie tentou, sem sucesso, prender a risada.
━ Eles capturaram bem a sua essência, você não pode negar ━ ela sussurrou, e ele grunhiu. ━ Sério, eu consigo ouvir você dizendo algo assim!
Então, o Homem-Aranha começou a cantar, enquanto dava piruetas com a ajuda dos cabos que o prendiam e encenava uma luta com o Lagarto. O corpo de Peter deslizou pela cadeira e ele sentiu que precisaria fazer terapia para superar todos os traumas que o musical sobre sua identidade secreta estava causando. Ele se assustou quando o celular de Valerie começou a tocar, e se levantou aliviado para a seguir quando a mesma saiu da plateia para atender a ligação sem incomodar as pessoas mais próximas.
━ Aconteceu alguma coisa? ━ ele indagou, curioso, e Valerie o mostrou a tela do celular, onde se lia o nome de J.J. Jameson, antes de colocar a ligação em viva-voz.
━ Valerie, você ainda está aí? ━ o mais velho perguntou, do outro lado da linha.
━ Oi, estou.
━ Ah, ótimo! Preciso que você vá até o Porto de Nova Iorque imediatamente! ━ ele mandou, e ela olhou indignada para Peter, que também tinha uma careta no rosto. ━ O Parker está com você? Leve ele junto!
Em resposta, Peter se aproximou do celular e perguntou ao chefe, com uma pitada de sarcasmo na voz:
━ O que tem de tão importante no porto? O Titanic vai passar aqui, é?
━ Como você é engraçado, Parker ━ os jovens quase podiam ouvir o revirar de olhos de J.J. ━ Não é o Titanic. É algo bem melhor… Quero dizer, alguém.
━ O Leonardo Dicaprio? ━ os olhos de Valerie brilharam.
━ Parem de falar coisas relacionadas ao Titanic ━ grunhiu Jameson. ━ É Kraven, o caçador!
A chamada foi encerrada sem despedidas. Valerie e Peter se entreolharam confusos, e o rapaz puxou o próprio celular para descobrir quem era aquele maluco. Kraven, o caçador? Ele tinha um programa no National Geographic? Se sim, Peter nunca tinha encontrado Valerie o assistindo, e ela assistia muitas coisas naquele canal!
━ E aí, descobriu quem é? ━ perguntou Valerie, cruzando os braços. ━ Por que J.J. acha que alguém se interessa por esse cara?! Ele tem nome de domador de leão de circo. Ele trabalha num circo?
━ Adivinha, Kraven, o caçador, é um caçador! ━ exclamou Peter, indignado. O nome era bem auto-explicativo, mas ele ainda esperava que fosse algo melhor. ━ Ele é conhecido por caçar os animais mais ferozes do mundo com sucesso. E por responder a processos de ambientalistas. E ameaçar espécies em risco de extinção.
━ Nossa, me parece um cara adorável! ━ disse Valerie, com a voz ficando mais aguda a cada momento, e ergueu o celular novamente. ━ Eu vou ligar pra polícia.
Peter a mostrou a tela do celular.
━ Acho que não vai ser preciso. Já tem uma multidão protestando no porto! ━ ele contou, impressionado. ━ Vamos logo pra lá!
O de sempre aconteceu: Peter segurou Valerie pela cintura e começou a lançar teias, ela o xingou, ele riu, ela o amaldiçoou, ele reclamou um pouco da agressividade das palavras, ela disse que não se importava e eles finalmente chegaram a uma parte vazia do porto, onde ela o deu um tapa nas costas e ele deu um gritinho baixo e repentino.
Valerie agarrou o pulso de Parker e o puxou rapidamente em direção à multidão, que se aglomerava em frente a um grande navio repleto de caixas e jaulas, de onde Kraven desembarcava. Cartazes e gritos condenavam suas ações e, honestamente, Valerie e Peter se juntariam a eles se não estivessem ali a trabalho.
Abrindo o gravador de voz do celular, a loira se esgueirou entre as pessoas, tentando alcançar o homem que teria de entrevistar enquanto criava as perguntas rapidamente. Peter a seguiu de perto, com a câmera pendurada no pescoço, acenando em direção a Kraven para chamar sua atenção.
━ Kraven, uma foto para o jornal, por favor! ━ ele pediu, com a voz alta, finalmente conseguindo a atenção do homem, que sorriu. Peter então sussurrou: ━ Rápido, Valerie, passa debaixo da faixa!
Os seguranças de Kraven o deixaram se aproximar para a foto, e mal notaram Valerie invadindo o espaço também. Enquanto Parker se aproximava de Kraven, Valerie já se comunicava com o homem, que tinha um sorriso no rosto.
━ Senhor Kravinoff ━ ela o chamou pelo sobrenome que havia lido na internet alguns segundos antes. ━ Sou Valerie Bradshaw, do Clarim Diário. Gostaria de fazer algumas perguntas, se não for um problema?
Ela planejava que fosse um problema.
━ Seria um prazer ━ ele respondeu, claramente orgulhoso de si mesmo. ━ E pode me chamar de Kraven.
Quando viu Peter se aproximando, Kraven cruzou os braços e ajeitou a postura em frente ao navio, exibindo os músculos ao posar para a foto.
━ Certo, senhor Kravinoff ━ Valerie ignorou seu pedido, ligando o gravador de voz do celular. ━ O que o senhor tem a dizer a respeito dos processos que responde por caça ilegal no continente africano?
O sorriso de Sergei Nikolaevich Kravinoff — ou Kraven — se desmanchou ao ouvir a pergunta. Certamente, ele esperava que fosse poder falar sobre sua glória, e não responder questões sobre seus crimes. Mas ele tentou se recompor.
━ Senhorita Bradshaw ━ ele sorriu amarelo. ━ Eu caço feras que colocam em risco vidas humanas! Não sei o que há de errado nisso. Estou apenas equilibrando a quantidade de animais perigosos.
━ É ilegal ━ ela disse, como se não fosse óbvio, e ele respirou fundo, já se sentindo estressado. Peter tirou uma foto daquele momento. ━ O senhor é acusado de ameaçar espécies já em extinção, como leões e gorilas, invadindo áreas de preservação e territórios desocupados por humanos. O que acontecerá quando não existirem mais predadores suficientes para equilibrar a cadeia alimentar?
Kraven respirou fundo, tentando se acalmar, e abriu um sorriso sombrio. Valerie e Peter trocaram um olhar rápido.
━ Quando isso acontecer, senhorita Bradshaw, eu ficarei mais do que feliz em retornar para fazer a caça de controle.
A multidão vaiou. Valerie encarou o entrevistado da cabeça aos pés.
━ Isso que está vestindo é couro de zebra? ━ ela indagou. ━ Um animal muito perigoso, eu imagino.
Ele trincou a mandíbula.
━ Essa entrevista já está durando tempo demais, eu tenho coisas para fazer.
Sem esperar resposta da jornalista, Kraven começou a caminhar impacientemente para longe, sendo seguido por seus seguranças, que evitavam que os ativistas ultrapassassem o limite de proximidade. Peter se aproximou de Valerie, ainda com a câmera em mãos, e observou o distanciamento do homem com o cenho franzido.
━ Sujeitinho estranho ━ comentou, indignado com as atitudes e respostas do homem, e se virou para Valerie. ━ Acho que você não fez as perguntas que J.J. esperava. Pelo telefone, ele parecia um fã desse cara… Eu não estranharia se fosse. Velho maluco.
━ Eu vou ameaçar esse Kraven de extinção ━ ela murmurou. ━ Vou atrás dele, pra pelo menos uma pergunta simpática… Tem que agradar o chefe, né? Mesmo que ele seja uma pessoa horrível.
Peter assentiu e seguiu Valerie enquanto a mesma corria em direção ao homem, que revirou os olhos ao encontrar a loira atrás de si, já com o celular inconvenientemente próximo ao seu rosto, desejando continuar a entrevista.
━ Uma última pergunta, senhor Kravinoff. É claro, apenas se quiser responder alguma ━ ela iniciou, com um tom calmo, embora suas palavras fossem afiadas e desafiadoras. Valerie era uma pessoa muito boa em agir de forma passivo-agressiva. ━ O senhor mora na Rússia, correto? O que o traz a Nova Iorque?
Seus passos pararam de imediato e Valerie arregalou os olhos, parando de andar também, e o encarou com expectativa. Kraven se virou lentamente, e se aproximou da jornalista devagar. Sob olhares curiosos, ele agarrou o pulso de Valerie e o levantou, trazendo sua mão que segurava o celular para mais perto. A mulher fechou a outra mão em punho, preparada para qualquer coisa, e cerrou os olhos. Peter largou a câmera, que ainda estava pendurada ao pescoço, se aproximando do homem em passos largos, e Valerie o olhou, pedindo para que parasse sem usar uma palavra. Contra sua vontade, ele obedeceu.
O caçador então encarou todas as pessoas mais próximas de si, como se provocasse todos os ativistas presentes, e então, com a voz firme e calma, disse:
━ Eu vou caçar o Homem-Aranha.
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rraaa! início do segundo ato já está entre nós! ansiosos pros acontecimentos entrarem definitivamente em no way home? eu tô!! e aí, o que acham da vida doméstica do nosso casal caótico?
espero que tenham gostado do capítulo de hoje, e vejo vocês no próximo!
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