Capítulo 29
Os dias que seguiram foram estranhos. Ana agora sentia na pele a dor da ruptura deixando evidente que Arthur era de fato o seu complemento. Buscou auxilio na sua melhor amiga, Camila.
— Camila, dói demais ficar longe dele. — Ana segurava o choro pelo telefone.
— Eu sei que dói e como sei. Ele te ama tanto! Não acredito que seja algo permanente, vocês vão voltar a ficar juntos. Aproveita esse momento e não meta os pés pelas mãos.
— Pois é quase meti. Andrew esteve por aqui dias atrás.
— Ai Meu Deus! Não diga que você...
— Quase, mas não rolou. Consegui me conter.
— Falta pouco agora. Aguenta amiga, se você fizer isso ele volta, agora se você transar com outro e principalmente se esse outro for Andrew ele jamais irá te perdoar.
— Eu sei que não. Eu estava com tanta raiva.
— Canalize toda essa energia no que você está fazendo para que não haja arrependimentos depois.
— É o que estou tentando fazer.
— Esse tempo, vai te fazer bem. Vai por mim. Você nunca ficou sozinha por muito tempo, então aproveita e fique apenas e só com você. Nada te impede de curtir se é que me entendeu, é bom também, você vai gostar.
— Ai Camila! Só você para me fazer dar risadas.
— E para que serve os amigos?
Arthur estava fazendo o que Camila sugeria para Ana, porém não só. Depois do ocorrido com Helena precisava saber se o que aconteceu era com ele ou com ela. Aquela noite o perturbou por dias, ficou aliviado quando constatou que não era ele o problema já que seus outros encontros seguiram da mesma forma antes de ter tido Ana em sua vida.
As festividades de final de ano chegaram, Ana teria alguns dias de folga, preferiu ficar com seu pai em Dublin. Manteve-se fiel ao pedido do seu grande amor e não lhe procurou. Em alguns meses se veriam, isso se ele estivesse lhe esperando na estação como havia lhe dito. E uma semana antes do seu regresso enviou uma mensagem para Arthur informando o dia e a hora que chegaria. Suas mãos estavam suadas de tanto nervoso e ansiedade. Não recebeu nenhuma resposta, apenas sabia que havia sido visualizada.
xXx
Estavam diante um do outro. As pessoas passavam em volta e eles não ousavam se mexer. Ele veio. O coração de Ana estava prestes a sair pela boca. Mal podia acreditar no que seus olhos viam, Arthur estava ali. Não podia ser uma visão. Estava nítido demais e com isso não conseguia disfarçar o seu sorriso. Seu corpo queria sair dali e se jogar em cima, o abraçar e beijar até que suas forças fossem embora, mas sua mente sabia que não seria bem assim que aconteceria e só permitiu dar um passo quando viu os dele vindo em sua direção.
— Você veio!
— Claro que eu vim, eu disse que viria, não disse?
— Disse.
— Deve estar cansada.
— Estou sim. — um vazio tornou a tomar conta de Ana assim que o contato do calor do corpo de Arthur saiu do seu.
— Vamos, te levarei para casa.
— Obrigada.
— De nada. Estou ansiosa para colocar nossas conversas em dia.
— Talvez, teremos de adiar isso. — Arthur fez sinal para o táxi que se aproximava.
— Não pode passar o resto do dia comigo?
— É o que mais queria, mas tenho relatórios importantes a serem entregues.
— O expediente praticamente acabou Arthur...
Arthur abriu a porta do táxi. Ana hesitou em entrar. Ele estava ali, mas será que realmente estava ali? Já não tinha mais tanta certeza disso. Se acomodou no assento e Arthur deu o endereço do apartamento de Kelly e nesse momento Ana teve certeza de que não estava.
— Ana — Arthur retomou a conversa —, você precisa primeiro se acomodar e depois podermos enfim sentar e conversar.
— Pensei que ao te ver aqui tudo já estaria esclarecido. Que você me amava. Foi isso que te disse, que viesse se ainda me amasse.
— E quem disse que não te amo?
— Suas atitudes. Não está sendo como eu imaginei. — Ana afundou no banco do carro.
— O que imaginou? Que iríamos um cair nos braços dos outros como se por milagre nosso passado tivesse sido apagado? Também queria que tivesse sido assim.
— E agora?
— Não sei. Precisamos descobrir. Primeiro tem que descansar e depois nos encontramos com calma. Se fizermos algo nesse instante estaremos nos deixando levar pelo momento.
— Sempre racional quando se exige a falta dele.
— Alguém tem que ser, senão o estrago pode ser irreparável.
— Ainda está magoado comigo?
— Aconteceram algumas coisas durante esse ano e agora não é o momento para conversar sobre elas.
— E quando será? — Ana começava a ficar impaciente até o taxista não estava gostando muito daquela conversa que acontecia a suas costas. Não entendia como aquele homem podia estar evitando aquela mulher linda ao seu lado.
— Logo. Chegamos.
Arthur pagou o taxista e carregou as malas de Ana. Essa vinha à frente cabisbaixa. Tocou o interfone e ninguém atendeu.
— Acho que minha mãe não está em casa. — sorriu sem graça.
— Tem as chaves?
— Tenho. — travaria agora uma busca na bagunça que era a sua bolsa — Finalmente! Sempre nos últimos lugares que olhamos.
Subiriam calados até o andar do apartamento de Kelly com Ana sempre à frente e Arthur atrás carregando as malas.
— Trouxe apenas essas duas malas.
— Sim. No natal já deixei a maioria do que tinha relevância.
— Esteve aqui no natal? — Arthur ficaria surpreso com essa informação.
— Não. Fiquei com meu pai. Liam que trouxe minhas coisas. — ao abrir a porta do apartamento e os cheiros dos incensos tomaram conta de suas narinas, sentiu-se enfim, acolhida — Se tivesse vindo para cá teria te visitado mesmo sabendo que não queria. A propósito podia ao menos ter me enviado uma mensagem.
— Podíamos ter nos enviados uma mensagem. Onde quer que eu coloque?
— Qualquer lugar está bom. Aqui não temos essa neura de cada coisa em seu lugar. — Arthur acomodou as malas de Ana próximas ao sofá, apesar da alfinetada que havia recebido achou graça e não conteve o sorriso.
— Aposto que sentiu falta dessa minha mania por arrumação.
— Não Arthur. — Ana fez uma pausa e olhou em seus olhos — Eu senti falta de você por inteiro e não apenas esses detalhes chatos.
— Também senti a sua falta por inteira. — desviou o olhar um pouco constrangido.
— Não é o que está parecendo. Fica para tomar um chá ou tem mesmo que fazer esses tais relatórios? Não estou cansada, posso conversar, não sei por que adiar.
— Tem razão podemos conversar. Quer que eu faça o chá?
— Por favor, o seu sempre ficou melhor que o meu, enquanto você faz irei me trocar.
Ana pegou a mala maior seguindo em direção ao quarto de hóspedes, lá encontraria todos os seus pertences acomodados em um canto. O coração apertou, pois conseguiu lembrar em sua memória exatamente os locais em que cada um ficava no lar que havia construído com Arthur antes de partir. Trocou rápido suas roupas e voltou para o seu encontro às canecas já estavam esfriando na mesa.
— Que delícia! — Ana bebia com cuidado para não queimar seus lábios — Não existe chá igual ao seu, na verdade tem coisas que só você sabe fazer da forma como eu gosto.
— E o que seria?
— Amor.
— Amor? — olhou confuso — Você diz no sentindo...
— Geral. Não apenas de sexo, mas em tudo. Tudo que você faz é com tanto cuidado e dedicação que não tem outra palavra para descrever.
— Não é bem assim, apenas gostava de fazer para você.
— Arthur o que faremos de agora em diante? Você foi então sei que ainda há esperanças para nós.
— Preciso ser sincero com você... — fez uma pausa, desviando o olhar — Não estive sozinho nesse tempo que ficamos separados...
— Hã! — Ana deixou a caneca em cima da mesa, escutar que ele esteve com outras mulheres foi como levar um soco no estômago — E como foi? Saiu-se bem? Está com alguém?
— Não sei.
— Como não sabe? Ou está, ou não.
— Desculpa falar assim, mas não achei justo esconder o que aconteceu comigo nesse ano que ficamos ausentes.
— Geralmente quem vem sem rodeios sou eu, mas obrigada pela sinceridade. Quem é?
— Não importa. — Arthur mantinha o olhar baixo, mexendo entre suas mãos a caneca de chá.
— Claro que importa! Preciso saber se devo ao menos tentar te reconquistar.
— Depois de ter lhe contando que fiquei com outra mulher ainda quer ficar comigo?
— Não gostei em nada de saber que isso aconteceu, mas sim é você quem eu amo e é com você que eu gostaria de ficar. Também tenho algo para te contar.
— Imaginei que teria.
— Claro que imaginou. Mas sabe consegui resistir e não dormi com ele, sabe por quê?
— Não sei. — voltaria nesse momento olhá-la nos olhos.
— Por que é apenas você que quero que fique comigo. — viu no rosto dele que não estava acreditando — Não consegue acreditar em mim, né? Eu não sou ela, lembra? Sabe o que é engraçado? — ele fez menção em responder, mas Ana continuou: — Eu posso aceitar que você esteve com outras mulheres e você não? Lembra quem terminou foi você e não eu.
— Sei disso. — Arthur levantou da mesa — Melhor ir. Precisamos pensar em tudo que falamos para entender o que iremos fazer.
— Tudo bem. Já que é assim que quer. Só não demora muito. — Arthur caminhava em direção à saída enquanto Ana dizia aquelas palavras — Só mais uma coisa, foi o Andrew.
Ana o observava se afastando e pode ver os seus punhos se fechando. O que ela não viu foram seus olhos fecharem como se assim fosse possível esquecer o que havia escutado. Arthur não disse nada e seguiu seu caminho. Assim que escutou a porta sendo fechada Ana deixou que lágrimas rolassem pelo seu rosto e uma sensação de queimação subiu pelo seu corpo e no impulso jogou contra a parede a caneca ainda cheia de chá. Uma mancha se forma na parede, havia também uma mancha dentro de si naquele momento.
Arthur deveria, porém não voltou para casa. Sua cabeça rodava. Imaginar que ela esteve a um passo do Andrew já era suficiente para enlouquecer. Sentou no balcão do pub que costumava ir depois do expediente de trabalho e pediu uma bebida.
— O que aconteceu para sair daquele jeito? Algo com seu pai? — Kristen perguntava.
Esse era o nome da garota com quem Arthur saia esporadicamente. Trabalhavam na mesma empresa, porém em setores diferentes. Ela sabia sobre o relacionamento dele com Ana, também sabia que ainda era apaixonado, sendo assim não pressionava.
— Problemas que precisava resolver.
— Precisa de ajuda?
— Não.
— Não é o que está parecendo. Sabe que pode conversar comigo?
— Sei.
— Às vezes faz bem compartilhar isso que nos incomoda, sei que não sou sua namorada, mas somos mais que amigos.
— Quer sair daqui?
— É isso que quer?
— Sim.
— Tem certeza?
— Kristen... — suspirou — Já não tenho certeza de mais nada. Ana voltou.
— Ah! É a Ana. Claro que é ela. Sabe o que devia fazer?
— O que?
— Parar de beber, isso realmente não combina com você. — retirou da mão dele o copo de cerveja — Vai para a sua casa e coloque a sua cabeça em ordem sem a droga do álcool te influenciando. Você viu o que estava prestes a fazer?
— Não.
— Não se faça de bobo! Outra coisa que não combina com você. Estava prestes a ser um canalha indo fazer sexo comigo pensando nela. Arruma a sua vida e depois conversamos, não vou entrar nesse jogo, sinto muito.
— Você está certa, esse é um problema que tenho que resolver sozinho. Desculpa.
— Tudo bem. Arthur. Mas vai para casa. Não entra em outro bar, não faça nada que possa não ter conserto.
Arthur entendeu o que Kristen quis dizer e foi para a casa. Chegaria cambaleante e assim que deitou na cama sua cabeça girou. Na correria de ir até o banheiro acabou acordando seus pais.
— O que aconteceu? — Ellen assustada foi até seu encontro.
— Nada mãe. Só estou bêbado.
— E por que você está bêbado?
— Por que eu quis beber. — não aguentou e começou a rir.
— Malcriado! — voltou para o seu quarto visivelmente chateada com a atitude do filho.
Quando regressou para o quarto seus olhos foram diretos para o maleiro de seu guarda – roupa. Pegaria de lá uma caixa. Nela estavam às memórias da sua vida com Ana. As fotografias, os bilhetes que trocaram, até o sutiã que ela colocou em sua mochila, e a caixinha do anel. E foi nela que direcionou a sua atenção, deitou na cama observando atentamente aquele anel com um pontinho brilhante. Não era um anel cheio de pompas, mas era tão delicado quanto Ana. Dormiu com ele entre a mão imaginando como teria ficado naqueles dedos fininhos e sempre sujos de tinta.
xXx
"Acho que você ficou com um livro meu, posso ir buscá-lo?" — Ana enviou para Arthur uma mensagem logo cedo. O som da notificação foi o que lhe despertou.
"Bom dia! Pode sim, hoje chego um pouco mais tarde do que o normal porque tenho uma aula particular para dar." — Ficou surpreso com a mensagem tão cedo e também não imaginou que ela fosse querer falar com ele depois de tudo que conversaram.
"Não tem problema, se você o deixar separado eu pego com a sua mãe, assim não te atrapalho" – A sua mão tremia ao digitar cada palavra.
"Não estará me atrapalhando, pelo contrário preciso conversar com você. Estarei em casa as 20hrs." — não eram somente as mãos de Ana que tremia as de Arthur estavam incontroláveis.
"Bom dia, até a noite!" — Ana não tornaria visualizar suas mensagens naquele dia, a ansiedade a consumiria se fizesse isso e o dia seria longo.
Arthur segue para o seu dia exatamente como todos os outros. Tomou o café da manhã, pegou o metrô, fez seus relatórios e conversou com Kristen.
— Ontem fiz o que você me disse e coloquei minha cabeça em ordem. Desculpa por tudo que posso te causado.
— Se você tivesse me levado para casa ontem, talvez esse pedido de desculpas soasse falso.
— Graças a você não cometi essa imprudência.
— Sentirei sua falta. Foi o cara mais legal com quem sai há anos.
— Obrigado pelo legal. Mas não acho que fui muito justo com você esse tempo todo.
— Eu sabia que estava comigo para tentar esquece-la, então não me enganou.
— Mas não foi certo.
— Então é isso irão voltar?
— Espero que sim, mas não posso afirmar, iremos nos encontrar mais tarde e conversar.
— Geralmente não digo isso, mas estou torcendo por vocês.
— Obrigado.
Após o termino do dia no escritório seguiu para suas aulas particulares. Enquanto Ana não aguentando mais essa espera foi para a casa dos pais de Arthur, com a desculpa que havia inventado de buscar o suposto livro. O que era mentira, todos os seus livros estavam lá na casa de sua mãe. Queria é vê-lo e terminar logo com isso.
— Oi Ana — Ellen a recebia — Arthur ainda não chegou deve ter tido algum compromisso após o trabalho, às vezes acontece, sai com os colegas.
— Não faz mal pode ser melhor assim... — tentou forçar um sorriso — Eu só preciso pegar uma coisa que ficou com ele. — faz um sinal com a cabeça pedindo passagem.
— Talvez ele demore não é melhor voltar outro dia? — Ellen abriu espaço à contra gosto.
— É apenas um livro. Ele já deixou separado em seu quarto... — respirou fundo entendeu a insinuação de que não era bem vinda — Posso subir e pegar?
— Eu busco para você me diga qual é o nome...
— Deixa de ser chata mulher! — Wesley que estava sentando em sua poltrona habitual ouvia a conversa — Pode subir Ana.
— Sr. Shaller! — passou por Ellen e se ajoelhou ao lado de Wesley — Como está? — ficou triste em vê-lo tão debilitado. Nada lembrava aquele homem robusto com as bochechas rosadas. Via agora um homem com aparência frágil sem cor e magro e olhos azuis fundos e cansados era nítido que até respirar era dificultoso.
— Já estive melhor, mas vendo esse seu belo rosto não dá mais para ficar ruim. — sorriu para Ana que lhe retribui o mesmo sorriso e lhe dá um beijo nos cabelos agora ralos. — Arthur também não deve demorar. Pode subir, fica à vontade.
— Com licença. — Ana então deixou a sala beijando a mãos daquele homem adorável passando sem dizer uma palavra por Ellen, que se manteve com a cara fechada, mas não a impediu.
A porta estava apenas encostada. Ana afastou com cuidado com uma das mãos e lá estava o quarto de sete anos atrás. Apenas alguns objetos a mais que ficavam no apartamento em que viveram. Em cima da escrivaninha estava o pretexto de ter ido até ali. O livro de artes. Não imaginava que estava ali com ele. Andou por tudo, observando com os olhos pesados tentando segurar o choro. Fechou-os por uns momentos e as lembranças ficaram latentes e uma lágrima teimosa caiu. Havia na cadeira junto da escrivaninha uma camiseta que logo seria levada até o seu nariz. Lá estava o cheiro do seu homem. A mistura do seu suor com o cheiro do amaciante, não aguentou e a marcou com suas lágrimas. As pernas bambearam. Precisou sentar-se e a cadeira que antes era usada de descanso pela camiseta agora teria ali um corpo desolado. As mãos percorrem todos os objetos e como por impulso abriu a gaveta. Ana nunca havia mexido em nada que fosse de Arthur. Essa era a primeira vez que sentiu necessidade de saber ou seria de torná-lo a conhecer? Nessa descoberta encontrou uma caixinha que a intrigou pelo formato. Sentiu seu coração apertar. Sabia do seu conteúdo agora queria saber o porquê ele a tinha em sua posse. Abriu e o que viu a emocionou. Não resistiu e colocou no seu dedo aquele belo anel de noivado.
— Não tire. — Arthur havia chego algum tempo e a observava — Deveria estar ocupando esse dedo a mais de três anos.
— Era para mim?
— E para quem mais poderia ser?
— Disse três anos, então você o comprou um pouco antes deu ir para França.
— Um dia antes de dizer sobre o convite do seu professor. Eu ia te pedir em casamento naquele dia no restaurante, por isso te levei até lá. Pois é, planos adiados.
— Por quê?
— Sabia que se tivesse feito o pedido não teria ido.
— Não mesmo.
— Viu... — sorriu — Por isso não fiz. Estava guardado para a sua volta.
— Posso te pedir uma coisa?
— O que quiser.
— Me tira daqui? Essa casa me deixa sem ar, preciso respirar. — Ana retirou o anel do dedo devolvendo para a caixa. Caminhou até Arthur lhe entregando o pequeno objeto e disse: — Não desista.
Ela desceria as escadas correndo. Precisava sair com ele daquele lugar. Não se despediu dos pais de Arthur. Ficaria na calçada respirando o ar gelado daquela noite. Foram instantes, mas que pareceriam eternidades até que Arthur chegasse ao seu encontro.
— Toma! — jogou as chaves do fusca velho de sua mãe para Arthur — Você dirige. Me leva para bem longe daqui.
— Para onde quer ir?
— Apenas dirige o mais longe que puder daqui. — deixou se afundar no assento do carro. Inclinou a cabeça para observar a paisagem pela janela.
E foi o que Arthur fez. Dirigiu para o mais longe que pode saindo da cidade e pegando a estrada. Olhavam-se de relance, nenhum tinha coragem de quebrar aquele silêncio irritante. No primeiro vilarejo Arthur entrou e procurou por um hotel. O check-in foi feito. O silêncio só era cortado quando alguma informação por parte do recepcionista era solicitada.
Estavam agora no quarto daquele pequeno e antigo hotel. Arthur ligou o aquecedor e Ana permaneceu perto da porta. Após um longo suspiro falou:
— Por favor, fala alguma coisa! Esse silêncio está me matando.
— Vivi com ele por um ano acho que acostumei. — Arthur sentou na beirada da cama e a observava atentamente.
Estavam relativamente pertos. Apenas o desconforto separavam os amantes. Arthur fez o primeiro gesto para minimizar a sensação que sentiam puxando para perto de si. Ana abaixou o rosto deixando com que suas testas ficassem coladas. De olhos fechados a respiração entraria em sincronia.
— O que vamos fazer agora? — novamente coube a ela quebrar o silêncio.
— Recomeçar é o que espero.
— E como estão as suas pendências?
— Finalizadas. — abaixou sua cabeça a posicionando sobre o peito de Ana que agora o acariciava na parte de cima da cabeça fazendo rodamoinhos em seus cabelos — Foi a minha tentativa desesperada de te esquecer... — então ela viu os olhos azuis sendo tomados pelo vermelho — E o que aconteceu? Magoei uma pessoa que não merecia para fugir dos meus sentimentos. Acontece que minha vida sem você e como um filme antigo mudo em preto e branco. Quando você está nela, ganha cor, pode não ser perfeito como nos filmes da Disney, está mais para um do Richard Linklater ou Richard Curtis, mas há cor, sons e uma trilha sonora inesquecível.
— Somos com certeza uma obra de Linklater que busca pelos finais de Curtis.
— E o que acontece nos finais dos filmes de Curtis? — Arthur sabia o que acontecia, mas quis ouvir da boca de Ana.
— Ficamos juntos nos amando e aprendendo a conviver com as nossas imperfeições.
E finalmente aconteceu o que queriam desde que se viram naquela estação de trem. As bocas estavam encaixadas como sempre deveriam estar. Afinal nenhuma boca nesse mundo se encaixava com tamanha perfeição como a desses dois. Pareceu o primeiro beijo que deram há oito anos dentro de um bar de estudantes barulhentos, mas agora o único barulho que ouviam vinha do descompasso de seus corações.
— Casa comigo? Preciso que sua imperfeição me preencha todos os dias.
— Não mais que eu! Sim! Sim! — as lágrimas voltaram a rolar daqueles olhos verdes tão vivos.
Arthur não esperou mais nenhum momento e a beijou novamente. O gosto dela foi voltando e lhe saciando. A maciez daquela pele em contato com sua. Cada arrepio seguido de um suspiro. Aquele som suave que ela emitia o preenchia por dentro. Tinha também o cheiro exalado por ela. O cheiro que somente ele podia sentir porque ele era o homem destinado a apreciar. Os corpos foram ficando nus e se cobriam um com o calor que o outro emanava.
— Você fez mais? — Arthur pode ver tatuagens novas cobrindo à pele alva de Ana.
— Sim! O que achou?
— Lindas!
— Reconheceu?
— São as flores que te dei no nosso primeiro ano de namoro.
— Exatamente. Contou quantas foram tatuadas?
— Oito. — Arthur faz uma pausa — Por que esse número?
— Por que era para ser a quantidade de anos que estaríamos juntos se não tivesse acontecido o que aconteceu. Mesmo se não ficarmos juntos por algum motivo, você sempre estará sobre a minha pele e toda a vez que olhar, lembrarei que já fui feliz.
Diante daquilo, Arthur teve certeza do amor que Ana sentia por ele. E nunca mais teria dúvidas quanto a isso. E agora eram mãos subindo e descendo se reconhecendo pelo tato. Os olhos abriam e fechavam. Sons viam e iam. Estavam entregues ao compasso e descompasso até que os dedos se entrelaçaram fortes deixando as pontas brancas para que depois de alguns instantes voltassem a ganhar cor e assim permaneceram unidos até os primeiros raios de sol invadir aquele quarto de hotel.
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Amores! Não consegui aguentar esperar até domingo e resolvi postar o penúltimo capítulo hoje!!! Esse foi um dos meus capítulos favoritos. Morrendo de ansiedade para saber o que vocês irão achar. Beijokas e até domingo no último capítulo!
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