Capítulo 24
Os meses seguiram o seu curso normal. Ana atolada de trabalhos para serem entregues. À medida que o semestre avançava as matérias ficavam mais difíceis e também as áreas de interesses mudavam. Estava uma confusão em sua cabeça e seu estágio no museu na parte de restauro estava fascinando e com isso começou a ficar displicente na aula de um professor que não conseguia se conformar com a escolha que sua aluna favorita tinha tomado. Não apenas no campo profissional. O que deixava Andrew transtornado era o fato dela ter escolhido um "moleque" — era dessa forma que se referia a Arthur — ao invés dele, um homem que poderia lhe oferecer muito mais.
— Quando irá parar de brincar de casinha e volta a ser aquela aluna genial que conheci? — Andrew aguardou todos os alunos saírem e então puxou conversa com Ana.
— Não estou entendendo sua insinuação, Andrew. — Ana olhou para a mão dele segurando em seu braço — Pode me soltar?
— Entendeu muito bem, ou até a sua inteligência aquele moleque conseguiu te arrancar? — Andrew não a soltou. O que fez foi trazê-la para mais perto.
— Aonde quer chegar? — Ana finalmente conseguiu se soltar, porém algo a impediu de deixar a sala.
— Desde que você teve essa ideia brilhante de ser "dona de casa" seu rendimento caiu. — Andrew recosta em sua mesa e ficou observando de forma provocativa, Ana sentia que estava sendo despida com os olhos.
— Não é o que os outros professores dizem. Minhas notas subiram, ando mais inspirada e motivada. — respondeu com desdém.
— Então o problema é comigo. Não vejo mais aquela sua ousadia nas telas, está comum e sem graça. A sua técnica realmente está melhor, mas a sua essência, a alma que deixava em seus trabalhos excelentes, essa foi embora. — Andrew cruzou os braços deixando evidente o quão contrariado estava.
— Sabe qual é o problema, Andrew? — Ana se posicionou em sua frente de forma a desafiar aquele homem, usando o mesmo tom arrogante que dele emanava mesmo de boca fechada.
— Diga-me. — E os dois ficaram bem próximos. Seus corpos quase se tocavam, conseguiam sentir a respiração ficando descompassada.
— Eu não querer mais transar com você, esse é todo o problema. — Ana sussurrou.
— Não consigo acreditar que aquele menino consiga te completar como mulher, simplesmente não dá. — Andrew voltou para a posição anterior com os braços cruzados.
— Pois pode acreditar. Ele me completa em tudo.
— Cuidado com isso. Dessa forma irá ficar dependente e isso não queremos. —Andrew de súbito puxou Ana para mais perto — Sabe que poderíamos continuar de onde paramos.
— Sei e não quero. Não preciso. — Ana se afastou — Porque eu? Poderia ter a garota, mulher, o que você quiser! E está vindo atrás de mim.
— Justamente Ana, está vendo, não posso ter tudo o que quero e nesse momento o meu corpo precisa ter o seu. Minhas mãos anseiam voltar a sentir a maciez do seu corpo. Meu colo quer o seu peso. E meus lábios precisam do seu gosto. — o rosto de Andrew estava quase que colado ao dela e seu polegar transitava por cima de seus lábios meio abertos. Ana tentou evitar, porém não conseguiu resistir e seu corpo arrepiou por inteiro.
— Ana?
Aquela voz ecoou alta e confusa. Os olhos azuis não estavam querendo acreditar na imagem que se formava. .
— Arthur! — Ana se assustou ao vê-lo ali parado os olhando fixamente.
— O moleque chegou. — Andrew se afastou voltando a se apoiar em sua mesa.
— O que você disse? — o sangue do Arthur ferveu ao ouvir a palavra moleque que lhe foi dirigida.
— Você fica quieto! — Ana apontou o dedo para Andrew impedindo de falar, mas não o sorriso sarcástico que ficou em seu rosto — Venha Arthur, vamos embora.
Ana passou por Arthur puxando. Esse permaneceu imóvel observando o seu rival atentamente, Andrew retribuía o olha só que com um ar de deboche.
— Arthur! Vem! — Ana falou alto e voltou a puxar até que conseguiu tirar Arthur da sala. Deram alguns passos ainda de mãos dadas. Ana precisava sair rápido daquele prédio.
Geralmente Arthur não buscava depois das aulas. A sua vida estava tão corrida que quase não tinha tempo nem para fazer essas gentilezas. No segundo semestre daquele ano conseguiria emprego em outra escola como professor e isso ocupava praticamente o seu dia todo e a noite tinha que ficar corrigindo provas e trabalhos. Andavam afastados, se reorganizando. Ambos sentiam a falta um do outro e nesse dia em particular Arthur sentiu essa necessidade de estar com Ana e foi até seu encontro, apenas não esperava ter visto aquela cena. As mãos deles se soltam. Arthur parou de andar encarando Ana.
— O que foi? Vem vamos embora. — Ana tinha urgência em sair dali.
— Antes preciso saber uma coisa. Sou suficiente para você?
— Lógico! Que pergunta! — Ana tentou em vão segurar de volta em sua mão.
— Não era o que estava parecendo lá dentro. — Arthur mantinha seu olhar sério com as sobrancelhas juntas.
— Sabe o que acontece? Você apenas vê aquilo o que quer e como não confia em mim acha que estou te traindo. — a irritação tomou sua voz de.
— O que eu vi foi um professor a um centímetro do rosto de sua aluna acariciando os seus lábios, o que isso quer dizer? — Arthur também aumentou o tom de sua voz.
— Não quer dizer nada. Agora vamos embora. — Ana respondeu apertando os dentes.
— Qual é o seu medo? Que eu volte lá e de um soco na cara daquele imbecil?
— Sim é esse meu medo. Vamos, por favor! — Ana juntou as duas mãos em sinal de suplica.
O gesto de Ana irritou ainda mais Arthur que passou por ela descendo aquelas escadas quase que correndo, estava a ponto de explodir com os dois.
— Entra na droga do carro! — Arthur gritaria com ela pela primeira vez.
— Ei! Olha como fala comigo.
— Teria a gentileza de entra na porcaria do carro? — Arthur não conseguiu evitar e acabou sendo sarcástico.
— Vai se ferrar, Arthur! — Ana gritou e deu meia volta.
— Aonde pensa que vai?
— Para bem longe de você, senão...
— Senão o que? — Arthur saiu de perto do carro e andou em sua direção que deu dois passos para trás enquanto que algumas pessoas que passavam paravam para observar a briga que desenrolava — Quem estava fazendo merda lá dentro era você e não eu.
— Eu não estava fazendo nada disso. Quer saber? Se eu quisesse poderia sim transar com ele, mas eu que não quero.
— Reconfortante ouvir isso.
— Seu idiota.
— Isso eu sou um mesmo. Devo até ganhar um prêmio esse ano.
— O que veio fazer aqui?
— Estou fazendo essa mesma pergunta mentalmente desde a hora que vi vocês dois quase se beijando. Devia ter ficado em casa usando a venda nos olhos como todos os outros dias.
— Não irei conversar mais com você sobre isso. — Ana seguiu caminhando sem olhar para trás deixando Arthur ali parado com a ira o consumindo. Ana desviou de alguns alunos e assim sumiu no meio deles.
Arthur percebeu os olhares. E isso deixou ainda mais irritado. Ao tentar sair dali perceberia que não seria uma tarefa fácil. Seu carro velho não pegava. Seriam várias tentativas frustradas. Quanto mais nervoso ficava menos o carro dava sinal de vida.
— Filho da puta! Pega! — Arthur batia com força no volante do carro. Acabou descontando toda a raiva que tinha naquele objeto inútil — Isso que dá comprar porcarias! — deu um soco mais forte e se machucou — Ai! — respirou várias vezes até se acalmar — Vamos lá! Mais uma vez. Por favor, liga!
O carro não sairia dali. Desde que comprou esse carro de Liam era isso: uma semana andando e um mês no conserto. Já tinha gasto mais do que podia com aquele carro velho. O abandonou e seguiu de volta para casa a pé. O que de alguma forma acabou sendo bom, pois no caminho colocou a cabeça em ordem e pode se acalmar, torceu para que Ana já estivesse em casa, precisavam conversar de uma forma mais racional. O que encontrou foi um apartamento vazio e silencioso.
xXx
Ana chegaria apenas na madrugada e visivelmente alterada. Depois da discussão com Arthur parou em um bar um pouco mais afastado do campus, precisava ficar sozinha com seus pensamentos e era assim que os "Jones" resolviam os seu problemas: sentados na mesa de um bar.
Primeiro sentiu-se invadida como se mexessem em seus pertences sem a sua permissão, para ela, Arthur aparecer ali sem avisar era como se tivesse lido o seu diário e depois vindo questionar o que estava escrito. Depois se sentiu incompreendida, afinal Arthur não quis escutar as suas explicações apenas a acusava de algo que não tinha acontecido e por fim acabou entendo o que se passava e percebeu que o que ele havia visto era demais. Se fosse ela que visse a mesma cena agiria de forma até pior e foi então que se entregou a bebida até que o barman vendo que a moça havia bebido demais chamou um taxi e pediu que fosse embora.
Ana entrou em silêncio. Não se atreveu percorrer todo o corredor e parou no antigo quarto de Arthur que agora era o seu refúgio. Deixou seu corpo imergir para um sono de fuga. Pediu internamente para que Arthur não acordasse e a visse dessa forma.
O dia seguinte amanheceria igual a todos os outros. Despertador tocando no mesmo horário. Arthur com a sua careta de contrariado de sempre desejando dormir mais um pouco. Só que nesse dia não sentiu um carinho gostoso em seus cabelos ali próximos de sua nuca. Nem ouviu aquela voz doce lhe desejando um bom dia. Virou para o lado em que ela costumava ocupar e o mesmo estava vazio. Saltou da cama, correu para o outro quarto e então as forças em suas pernas voltaram. Ela estava lá, adormecida ainda com os sapatos nos pés, mas estava ali para seu alívio.
— Ana! — Arthur chamava baixinho — Sei que não quer, mas precisa acordar. Vou deixar aqui uma xícara de café e um analgésico.
— Que horas são? — Ana falou com ele ainda de olhos fechados.
— Quase oito horas. Preciso ir trabalhar e você tem aula.
— Droga! Minha cabeça está doendo muito. — Ana abriu os olhos e a claridade a incomodou intensificando sua dor.
— Toma o remédio e coma alguma coisa. Não fique de estomago vazio. — Arthur levantou da beirada da cama e ia abandonando o quarto.
— Obrigada.
— De nada.
Com muita dificuldade Ana deixou a cama. Tomou o café e ingeriu o comprido seguindo para mais um dia de sua rotina. Seria um dia difícil. Mas o que incomodava não era o fato de ter que levantar e ir assistir as suas aulas era à volta para casa a qual teria que ver Arthur e conversar sobre a noite a anterior. Essa era parte que gostaria de pular e não poderia.
Sentia medo de perdê-lo. Caminhou devagar e ao chegar a frente ao prédio em que ficavam suas aulas reconheceu estacionado ali o carro de Arthur seu coração acelerou. O que estava fazendo ali? Teria ele vindo falar com Andrew? Sentia arrepios por sua espinha. Correu até a sala de Andrew e ele estava lá dando a aula e nem sinal de Arthur. Percebeu que algo estava muito errado quando no final do dia viu o carro ainda ali parado no mesmo lugar.
— Arthur? — Ana chamou assim que entrou no apartamento.
— Aqui! — Arthur gritou da cozinha.
— Porque seu carro está parado lá no campus?
— Porque aquela porcaria não funciona. Não sei o que faço, se mando o guincho levar para um ferro velho ou se o deixo esquecido ali mesmo.
— Você voltou a pé?
— Sim. Você comeu alguma coisa hoje?
– Hum... Apenas um sanduiche.
Arthur levantou da cadeira com a cara fechada afastou uma para que Ana sente foi até o balcão e começou a lhe preparar um prato.
— Senta. Você tem que comer.
Ana obedeceu e sentou à mesa enquanto Arthur colocava o alimento para esquentar no micro-ondas, nenhum dos dois ousou em quebrar o silêncio. Ana até evitava olhá-lo e do outro lado Arthur mantinha seus olhos fixos nela.
— Não é a melhor coisa que já comeu, mas é algo. — Arthur passou o prato para ela e voltou a terminar a sua refeição.
— Obrigada... — Ana estava sem fome, mas acabou se esforçando em comer — Desculpa por ontem.
— Ana, você quer dar um tempo? — Arthur foi direto ao assunto.
— Não! — Ana olhava com espanto.
— Talvez você queira pensar melhor sobre tudo isso. Fomos muito rápidos, mal nos conhecíamos e viemos morar juntos.
— Você se arrependeu, não é?
— Não. Eu faria tudo exatamente igual. Não me arrependo de nenhum dia que passei ao seu lado.
— Então não vejo sentindo nisso que está me falando. O que você viu ontem não acontece, não sei por que chegou naquele ponto, às vezes ele me confunde.
— Porque ele é um canalha.
— Não vai acontecer de novo. Você tem que acreditar em mim. Jamais faria isso com você. Sei que não sou perfeita e que já fiz muita coisa errada, mas uma coisa que nunca fiz foi trair. Eu amo você. — Ana estendeu a mão para ele, mas ele não retribui o gesto.
— Que bom saber que me ama, Ana. Confesso que é bom ouvir, pena que foi dito durante essa conversa. — Arthur colocou o prato de comida de lado, agora era ele quem tinha perdido a fome.
— Não está acreditando que eu te ame?
— Não é isso. Só imaginei você me dizendo em algum momento feliz que teríamos. Eu acredito que não tenha ido mais para cama com ele, mas ele ainda mexe com seus sentidos. Deu para notar. Agora entra o meu egoísmo de querer ser o único que faz isso com você. — puxou a cadeira para perto dela — Coloca-se no meu lugar por um momento. Se você visse uma cena semelhante a que vi o que você sentiria?
— Eu já me coloquei, por isso acabei bebendo demais ontem e não tive coragem de ficar ao seu lado na cama. Acho que não teria me controlado em nada, provavelmente bateria nos dois.
— Que bom que entende.
— Mas tem que começar a confiar, senão isso irá acabar nos destruindo. Você irá enlouquecer toda vez que sair por aquela porta e ficarei medindo tudo que faço e cada passo que dou, deixarei de ser eu e tenho medo do que posso me transformar.
— Não quero que mude.
— Também não quero que você mude. Só peço que acredite mais no que sinto por você da mesma forma como acredito no que sentes por mim. Sei que não demonstro como você, só que isso não quer dizer que não lhe ame. É apenas o meu jeito assim esquisito de demonstrar.
— Foi por esse seu jeito esquisito que me apaixonei. Ainda está dolorido, seria mentira se dissesse outra coisa. Sabia que não ia ser fácil. Vem aqui.
— Sei que não sou fácil de lidar. É nítido que está triste — Ana foi até o colo que ele oferecia — Não sei mais o que lhe dizer para melhorar tudo isso; apenas te peço desculpas. Vou prestar mais atenção nas atitudes que tomo, apenas não esqueça, não vou trair você, nunca.
E ali com ela sentada em seu colo olhando dentro dos seus olhos Arthur decidiu acreditar no que Ana dizia. Se não fizesse teria que terminar tudo e seguir o mais longe dela possível e isso era algo que não desejava. Ficarem afastados era a última coisa que queria em sua vida.
A conversa que tiveram os uniu ainda mais. Ficariam atentos a tudo que podia incomodar um ao outro e o ano seguiu o seu curso. Ana mantinha Andrew longe e Arthur se dividia ainda mais tentando conciliar o seu trabalho e a atenção que Ana lhe exigia.
xXx
Amores me desculpem por ontem, eu simplesmente apaguei!
Hoje um capítulo tenso, porque sou dessas! Ana quando vai aprender???
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