Capítulo 18
Os desencontros. Nunca estamos preparados para eles. E como eles acontecem, até mais do que algo foi premeditado. Ansiedade falou mais alto dentro desses dois jovens apaixonados. Queriam se ver tocar, sentir o calor um do outro e dessa forma Ana saiu da aula mais cedo e Arthur sem avisar foi até o seu encontro. Antes não tivesse ido.
Ana praticamente voou pelo campus e depois nos quarteirões fora dos limites da universidade que davam para o apartamento em que Arthur morava. Tocou aquele interfone de forma urgente.
— Sim! — uma voz um pouco contrariada respondia do outro lado.
— Chris! É a Ana. — ficou decepcionada em saber que o colega dele estava.
— Sobe.
Ana subiu da mesma forma que veio voando. Quando chegou até o terceiro andar a porta do apartamento deles estava entre aberta. Ana sentiu-se um pouco intimidada e antes de entrar dá uma leve batida na porta.
— Entra! Estou aqui na cozinha. — Chris gritou.
— Oi! — Ana ficou parada na soleira da porta da cozinha — cadê Arthur?
— Eu faço a mesma pergunta. Ele foi te encontrar.
— Sério? — suspirou profundamente — Eu desligo meu celular quando estou pintando, Andrew detesta quando tocam e sai tão apresada para vir aqui... Acho que vou encontrar com ele...
— Nem pensar! Fica aqui. Isso só fará vocês dois se desencontrem. Tenta ligar para ele e avisa que está aqui.
Ana tentou em vão entrar em contato com Arthur esse não atendia de forma alguma o celular. Tinha visto as chamadas estava naquele momento com o celular em suas mãos, mas queria lhe fazer surpresa e sendo assim guardou de volta em seu bolso.
Chegou ao termino da aula. Esperou e nada da sua garota deixar aquele estúdio. E assim que o último aluno deixou colocou a cabeça dentro da sala de aula e percebeu que estava vazia. Havia apenas um homem mais velho no canto que o observava intrigado, presumiu que era o professor.
— Posso te ajudar? — Andrew cortou o silêncio.
— Er...não — quando já estava saído decidiu voltar — Na verdade sim. Estou procurando pela Ana Jones — então ele parou arregalando os olhos — Nossa!
— Gostou? — havia um meio sorriso nos lábios de Andrew depois de ver a expressão no rosto do rapaz.
Arthur apenas olhou para Andrew e a sua expressão ficou bem séria com as sobrancelhas unidas.
— Ela foi embora mais cedo hoje. — Andrew olhava intrigado o rapaz que não tirava os olhos da tela à sua frente — Bonita? — voltou a insistir sabia que o rapaz tinha reconhecido.
— Muito mesmo Sr....
— Pearce, mas pode me chamar de Andrew.
— Andrew?
— Sim esse é o meu nome.
— Isso... — ele aponta para a tela — é a...
— Muito observador! Poucas pessoas seriam capazes de reconhecer, ao menos que tivessem um contato íntimo com ela.
— Não precisava colocar... Na verdade isso indica muita intimidade — e então tudo fez sentido para Arthur. Aquele desenho da silhueta da Ana desnuda de costas e o fato dela chamar o professor pelo nome veio de uma forma incomoda. Estava nítido até demais o tipo de relação que mantinham.
— Rapaz... Não se prenda muito a ela. Não é mulher para você. — e lhe deu piscadinha.
Arthur ficaria um tempo encarando aquele homem. Uma vontade crescia dentro dele. Queria dar um soco na cara daquele homem arrogante, o ciúme estava corroendo por dentro. Arthur respirou fundo e foi embora. Andrew ficaria satisfeito, talvez conseguisse tirar essa pedra do seu sapato e ter Ana de volta para os seus braços não conseguia entender o que ela tinha visto naquele rapaz sem graça.
xXx
— Chris deixa te ajudar, por favor! — Ana ria do rapaz se virando na cozinha — Eu sou uma ótima cozinheira, posso?
— Fica à vontade! Mas olha! Eu que sou o cozinheiro oficial do recinto. Arthur é a faxineira! — ambos dão risadas.
— Acho que a faxineira está se saindo melhor que a cozinheira.
— Ei! Não faz pouco caso! — voltam a rir — Eu tento, mas não sai nada muito bom mesmo. — ficou ali do seu lado observando incrementar o molho que havia começado a fazer — Está ficando com uma cara boa isso aí.
— E vai ficar delicioso, me ajuda aqui, corta isso para mim.
Arthur chegou com os passos pesados e escutou risos vindos da cozinha. Seu humor não estava nada bom para aguentar Chris e Lizzie e quando ia passando em direção ao quarto reconheceu aquela voz que o deixava louco. Ana e Chris estavam se divertindo. Ana pedia para ele experimentar o molho. Uma gota ficou depositada no canto de sua boca e ela em uma reação mecânica limpou com a ponta de seus dedos e aquele gesto fez com que Arthur fervesse ainda mais de ciúmes.
— Olha quem está ai. — Chris o viu e ficando animado — Ana é uma cozinheira de mão cheia salvou o nosso jantar.
— Que bom que estão se divertindo. — Arthur respondeu sério.
— Aconteceu alguma coisa? — Ana percebeu que ele estava diferente.
— Talvez devesse perguntar para Andrew.
Ana ficou muda. Não sabia o que responder. Não tinha ideia do que ele sabia. Chris apenas observava a tensão que estava no ar.
— Você chama seus professores pelo primeiro nome? — Arthur olhou diretamente para Chris que não sabia o que responder.
— Chris, você termina? — Ana se virou ainda calma para Chris.
— Pode deixar. Eu termino. — Chris murmurou.
— Podemos conversar lá no seu quarto? — Ana olha bem séria para o Arthur.
— Lógico que podemos.
Arthur não esperou e seguiu em direção ao seu quarto andando rápido. Ana percebeu pela sua atitude que estava muito irritado. O que Andrew teria lhe falado? Essa pergunta martelava em sua cabeça.
— Não sabia que as alunas posavam nuas para os seus professores. — Ana mal entrou e ele despejou aquilo estava entalado em sua garganta — Simplesmente por que elas NÃO posam! Pelo menos não daquela forma. Para isso são chamadas as "modelos profissionais". — andava de um lado para o outro — E então eis que vejo um retrato... — faz uma pausa tentando achar um nome melhor — Sei lá como vocês chamam aquilo, de você nua.
— Nossa você reconheceu! — ficou impressionada porque só quem a conhecesse muito conseguiria distinguir quem era ali.
— Como não reconheceria? — finalmente olhou fixamente para ela — Você tem um caso com ele, não é?
— Já tivemos. — respondeu firme.
— Engraçado você cair nesse clichê aluna e professor.
— Para você ver que eu também sou previsível.
— Ele é seu professor, tem idade para ser seu pai e além do mais você podia ser expulsa e ele mandado embora.
— Estou ciente de tudo isso! — Ana tentou se aproximar dele que se afastou — Deixei-me envolver, foi mais forte. Andrew é um homem muito interessante, inteligente e eu gosto de homens mais velhos, pelo menos eu gostava.
— Quando você ia me contar sobre ele?
— Pensei em te falar, mas avaliei e não vi o porquê lhe contar.
— Não viu o por quê? — Arthur quase berra — Lógico que não tinha! Você é amante do seu professor não tem mesmo que contar.
— Espera ai! Eu não sou amante do meu professor. — agora ela ficou irritada e aumentou o tom de voz — Sai algumas vezes com ele, transamos, não passou disso e agora eu estou com você... — Arthur se virou com raiva — Olha para mim! Não me dê às costas! — Ana foi até ele puxando em sua camisa — Você tem que entender uma coisa: você é meu presente quantas vezes vou ter que dizer isso, o Andrew é passado, por isso não vi necessidade de te contar.
— Ele não é passado, Ana! Vocês ainda vão se ver todos os dias.
— Ele é meu professor? Sim, você está certo, mas ele não é mais o cara com quem eu transava, e nem foram tantas vezes assim.
— Não imagina o idiota que fui hoje quando ele jogou esse lance de vocês na minha cara. Era como se ao estalar dos dedos você retornaria.
— Ele é arrogante, Arthur. Faz essas coisas para provocar. — Ana começou andar de um lado para o outro — Quer saber! Vou escrever uma lista dos homens com quem transei... Vai me passa um caderno que começo agora!
— Para com isso.
— Não é o que você está pedindo? Quer saber do meu passado então vou enumerar aqui com quantos transei, trepei, fodi, você pode escolher a melhor palavra para isso, só te digo uma coisa o nome que irá aparecer na lista de fazer amor só terá você! — Ana abriu a porta do quarto — E vou comer porque estou com fome e seria legal se você nos acompanhasse.
Arthur encarava agora o vazio. Teria exagerado? Aquele professor ficaria no passado? Como acreditar nela depois dessa história ter sido omitida. Aquilo doía no peito de Arthur. Ana e Chris se serviam da refeição no mais absoluto silêncio. Apesar da curiosidade não ousou perguntar nada a moça. Quando a primeira garfada seria dada Arthur apareceu na cozinha.
— Que bom que veio. — Ana lhe lança um sorriso forçado — Me passa seu prato.
— Não precisa. Eu mesmo me sirvo.
Ana bufou e revirou os olhos e os três começam a refeição naquele clima tenso e desagradável.
— Gostou? — Ana tentava puxar assunto e lhe fez um carinho na perna por debaixo da mesa Arthur se afastou — É isso? Vai continuar com essa idiotice?
— Idiotice? O que você queria? Que ficasse feliz em saber que a garota por quem estou apaixonado fica... — gesticulava e não conseguia terminar a frase.
— Fala Arthur! O que eu fico fazendo? — Ana afasta seu prato com raiva — Não vai falar? Sabe Chris, ele está puto da vida por que descobriu que a garota que ele gosta é uma tremenda de uma vagabunda.
— Eu nunca falei isso de você!
— Mas é o que está dando a entender! — fechou os olhos e respirou fundo — Quer saber para o inferno você! Essa sou eu e se não consegue aceitar não posso fazer nada. Não me arrependo de nada do que fiz e faria tudo de novo, sabe por quê? Porque me levaram até você. — Arthur ficou sem saber o que responder. Ana esperou um tempo e seguiu: — Chris prazer em te conhecer até uma próxima vida quem sabe. Adeus Arthur!
Ana passou pela sala pegando sua bolsa e assim deixou o apartamento com as lágrimas escorrendo em seu rosto. Arthur ficou olhando o nada sem saber como agir.
— O que você está esperando? — Chris o tirou do transe — Vai atrás dela! — gritando com Arthur.
— Acho melhor não.
— Levanta a bunda daí e vai atrás dela agora! Você é louco por ela e ela acabou de se declarar para você o que mais você quer?
— Ela transava com o professor.
— E daí! — Chris recolheu os pratos e os depositou na pia — Disse bem transava, não mais. Vai atrás dela senão você irá se arrepender.
— Não estou entendo! Você disse que era para ir com cuidado.
— Isso foi antes de conhecer ela melhor, antes da conversa que tivemos enquanto esperava por você e antes de ver ela aqui se declarando e a forma como ela te olhou. Vai logo senão eu vou dar um soco na sua cara.
Arthur levantou e saiu correndo afoito. O amigo estava certo. Ana estava certa. O que aconteceu era passado e o que viviam era o aqui e o agora teria que aprender a confiar nela, mas como? Isso martelava em sua mente. Correu. Alcançou algumas quadras na frente.
— Ana! — Arthur gritou. Ana ignorou — Ana, por favor!
— Já não foi o suficiente?
— Não! — respirou fundo buscando o ar — Faltou você me chamar de burro, jumento, estúpido, ignorante, imbecil, inepto...
— Você precisa acreditar em mim. Senão fizer isso não tem como ficarmos juntos.
— Eu sei! — foi até ela segurando suas mãos e levando até o seu rosto fazendo com que acaricie a sua barba — Eu sou extremamente ciumento e inseguro... — Ana passava a mão por sua barba sem que ele precisasse controlar — Como é bom isso, esse carinho... — fechou os olhos — Vou ter que trabalhar isso em mim.
— Não precisa! Eu nunca fui uma traidora e jamais faria isso com você, meus defeitos não chegam a esse extremo.
— Ana! — suspirou — Eu gosto tanto de você que a vontade que tive era de queimar aquele quadro e socar a cara daquele imbecil. Só de pensar que ele vai ficar perto de você me enlouquece!
— Não é para você ficar assim tem que confiar em mim – se aproximou mais – É apenas você que eu quero... É apenas você que me completa. — o beijou.
Retornam pelo mesmo caminho que antes levava as lágrimas e as angustia desse casal que estavam aprendendo a se amar. Caminho dolorido e complicado é esse do amor. E eles estavam sentindo isso na pele. Agora mais calmos deitados lado a lado naquela cama pequena o diálogo seguia ameno.
— Antes de dar esse show de insegurança, conversei com minha irmã e contei sobre nós dois.
— E ela?
— Ficou muito feliz. Gostou de você no primeiro instante que te viu. Ana, você nos conquistou apenas com um olhar.
— Menos a sua mãe! Ela me deixa tensa.
— Ela é complicada. Até com a Elizabeth foi à mesma coisa. — acariciava os cabelos de Ana e o cheiro que vinha era cítrico, adorava aquele cheiro.
— Até que enfim! — Ana sentou-se queria observar aquele rosto atentamente enquanto falava. Se é que ia continuar falando — Ela tem nome! E que nome importante!
— Está fazendo graça dela?
— Claro que não! Nem poderia não a conheço, estou fazendo de você mesmo.
— Elizabeth sofreu um pouco de rejeição no começo, mas éramos tão jovens, minha mãe logo a adotou como uma filha.
— Está ficando cada vez pior para o meu lado, ela vai fazer comparações.
— Ela gostou de você também, do jeito dela, mas gostou.
— Tenso! – riu.
— Não é sobre isso que quero te contar. Eu quero te fazer um convite.
— Hum! — apertou os olhos — Manda!
— Nesse final de semana minha irmã e o namorado dela, Robert irão oficializar o noivado e ela queria que fossemos para o jantar.
— Eu adoraria ir! E vou poder conhecer o seu pai. Finalmente!
— Ele vai se apaixonar por você assim que te ver.
— Cuidado então rapaz! Se eu também me apaixonar por ele podemos até fugir! — riu e Arthur não achou muita graça naquilo — Sabe que falei brincando?
— Sei. Só não gostei.
— Desculpas. — lhe deu um beijo nas bochechas — Foi idiota mesmo.
— Tudo bem. — a abraçou e permanecem assim em silêncio.
O silêncio foi bom e os uniu um pouco mais. O abraço que estava sendo dado foi ficando mais apertado e íntimo. Em pouco tempo estariam se amando novamente. Porque era isso que fazia se amavam com carinho, com afeto, com dedicação, mas urgentes também e sem vergonhas, sem constrangimentos. Não deviam nada a ninguém, nem a eles mesmos, estavam felizes, estavam fazendo as pazes. Estavam no mesmo compasso na mesma harmonia indo até o último timbre e enfim de volta ao silêncio.
xXx
Isso é o que dá não falar primeiro. Mesmo que não seja uma mentira, uma hora tudo vem à tona e sempre da pior parte. Mas como isso aqui é uma história de amor, nossos personagens conseguiram se acertar... até quando? Beijos amores e até domingo!
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