
Capítulo 1
O trem seguia o seu curso quando a garota encontrou seu lugar. Estava voltando para casa depois de ter passado três anos fazendo seu mestrado em artes plásticas. Paris ficava para trás e Londres voltaria a ser sua morada. Acomodou-se em seu lugar, reparou no homem sentado a sua frente. O fato lhe chamou a atenção, pois ele não conseguiu disfarçar sua admiração ao vê-la. Ela tinha esse efeito nas pessoas. Dona de uma beleza delicada. Cabelos castanhos, pela alva com algumas sardas acumuladas perto do nariz, olhos verdes e enfim seu ponto alto o sorriso que evidenciavam seus dentes um pouco separados.
A viagem entre Paris e Londres é uma das mais belas e a garota observava atentamente as paisagens que passavam pelos seus olhos ávidos por novidades ou mesmo momentos de nostalgia, e a segunda opção era a mais válida naquele momento. Uma nova fase em sua vida a aguardava; estaria de volta aos seus velhos costumes e hábitos. Em um momento de distração não conseguiu evitar que seu olhar encontrasse com o do homem a sua frente, uma conversa acabou sendo inevitável.
- Está voltando para casa? - o homem olhava diretamente em seus olhos verdes.
- Sim! Estou. - a garota responde um pouco sem graça.
- Eu também, viagem de negócio. - o homem aponta para a sua maleta. - Estava a passeio?
- Não exatamente. Eu vim fazer mestrado e agora estou voltando para casa... Assim espero. - a última parte seria dita baixo apenas para ela escutar.
- A propósito meu nome Richard. - o homem retribui o sorriso.
- Ana.
xXx
Enquanto isso em Londres um rapaz trabalhava com afinco, como todos os dias naquele escritório de contabilidade. Entre uma ligação e outra; planilhas abertas em seu computador que precisava ser trocado, avistou algo em sua mesa que o faria largar tudo e sair correndo. Seus colegas de trabalho que observavam aquela cena improvável ficaram um um enorme ponto de interrogação. Ele nunca agira assim antes. De ali era o mais previsível.
O motivo do rapaz ter saído correndo foi o seu peso de papel no formato da Torre Eiffel. Ao olhar fixamente para ele, lembrou-se que aquele dia algo importante aconteceria. O objeto estava ali para lembra-lhe de uma promessa. Por isso saiu aflito. Correndo, caindo pelas escadas, esbarrando nas pessoas. Estava atrasado. Fazia sinal, mas os táxis passavam por ele. Desespero, muito desespero. Seu coração saltava em seu peito. Sem alternativa colocou-se a correr.
O fôlego começava a faltar para o rapaz que correu mais do que conseguia. Sua vida sedentária começou a pesar desde que tomou essa decisão de correr feito um louco. Nesse momento entre recuperar o ar, uma garota de bicicletas o avistou do outro lado da rua. Achou graça daquele rapaz de cabelos loiros trajando social, tentado a todo custo respirar. Ela só não esperava que aqueles olhos azuis intensos fossem olhar diretamente para os dela. Sentiu alívio quando o sinal abriu e pode seguir seu trajeto.
Aquele relance de segundos em que os olhos do rapaz encontraram os da moça de bicicleta foi suficiente para que formulasse uma solução. Não pensou duas vezes e correu atrás da moça, conseguindo alcançá-la no próximo sinal.
- Por favor! - gritava para moça - Por favor!
- Não sei o que você quer, mas não posso te ajudar. - a moça da bicicleta respondia assustada.
- Na verdade, eu acho que pode sim. - o rapaz respirou fundo colocando as duas mãos em cima de suas pernas - Ah! Desculpa, estou sem ar... - novamente faz uma pausa para puxar o ar - Poderia me dar uma carona?
- Uma carona? Você enlouqueceu? - a moça da bicicleta ao ouvir o pedido não conseguiu deixar de dar risada.
- Por favor! Você estará me salvando se fizer isso.
- Como assim?
- Eu tenho que chegar até a estação de trem em trinta minutos... Se não conseguir irei perder o grande amor da minha vida.
O apelo para o amor! Jogada suja! Como a moça poderia recusar. Deu um sorriso para ele e faz sinal para que suba em sua garupa voltando a pedalar com mais motivação. O coração dele ficava acelerado à medida que se aproximava do seu destino.
- Qual seu nome Romeo apaixonado?
- Arthur!
- Então Arthur, vamos atrás do seu amor! Espero que ela valha a pena.
Nesse momento a ciclista sentiu um pouco de inveja. Imaginou se um dia iria conhecer alguém tão apaixonado ao ponto de fazer loucuras por ela.
- Vale sim!
Enquanto a ciclista corria com Arthur agarrado à ela. Ana do trem ainda contemplava a paisagem. As memorias reacendiam. Ao fechar seus olhos as lembranças clareavam. Lembrou-se de quando conheceu aquele rapaz que a fez querer largar os seus sonhos, e esse mesmo rapaz que fez com que prosseguisse. Recordou também dos momentos em que passavam apenas abraçados observando as estrelas; era quando ele contava histórias sobre elas. Ana iria além, lembrou-se das discussões e nesse momento fizeram tanto sentindo, afinal elas também faziam parte de uma vida a dois; de vidas tão opostas, porém tão complementares. O homem a sua frente percebeu que ela queria ficar envolta em seus pensamentos e não a incomodou mais. Ana inclinou sua cabeça contra o vidro da janela colocando seus fones de ouvindo. E assim ficou ouvindo as músicas que embalaram aquele romance único e especial. Ousou em alguns momentos a cantarolar fazendo com que o homem sorrisse sem que ela percebesse e nem poderia estava mergulha em suas memórias.
Arthur conseguiu chegar a tempo. Ofegante, agora de ansiedade, a qualquer momento o amor de sua vida poderia aparecer entre a multidão. Foi quando também veio em sua mente tudo que passaram juntos. A insegurança volta a lhe consumir. Arthur tinha esse defeito. Por mais que tentasse não conseguia controlar, não conseguia avançar esse obstáculo. Olhava confuso por onde ela tinha que vir e depois para a moça que o trouxe, e as palavras dela: "Espero que ela valha a pena" ficavam martelando em sua cabeça. Fazia mais de um ano que não se viam ou falavam. Saber o que acontecia com ela e não poder estar lá para compartilhar era insuportável. E com uma medida extrema e porque não dizer egoísta de sua parte, preferiu não manter contato. E agora se perguntava se valeria estar ali. E se ela estivesse acompanhada, e se outro homem também estava ali aguardando, e se ela não quisesse mais vê-lo? Eram muitos "se" em sua mente, sempre houve muitos e muitos "se" em sua mente.
Quando estava praticamente desistindo pôde vê-la subindo pelas escadas rolantes. Era a mesma Ana de outrora, pelo menos ali na aparência. Sempre diferente de todas as garotas que conheceu. À medida que Ana se aproximava Arthur observou um homem indo ao seu encontro. A insegurança volta a lhe perseguir só que agora praticamente podia enxergar sentir e tomar forma. Havia outro homem ali e Ana sorria.
- Precisa de carona? Podemos dividir o táxi se quiser? - o homem do trem lhe abordava.
- Não, mas muito obrigada, uma pessoa vem me buscar.
Ana sorria de forma educada e sem perceber passou as mãos pelos cabelos e aquele gesto confundiu Arthur ainda mais.
- Tem certeza? - o homem ainda insistiu.
- Tenho sim, obrigada.
O homem seguiu seu caminho o alivio invadiu Arthur. Ana nesse momento começa a procurar a pessoa que esperava e assim que multidão se afasta os olhos verdes dela encontraria a imensidão azul dos de Arthur. O sorriso brota no rosto de ambos. Ficaram alguns instantes separados por alguns passos se olhando e não acreditando no que viam e os dois em sincronia começaram a andar na mesma direção.
- Você veio! - Ana mordeu os lábios. Estava nervosa e feliz com a presença dele, tinha certeza que ele não viria. Torcia para que viesse, mas sabia que aquilo podia não acontecer.
- Claro que eu vim. Disse que viria, não disse? - Arthur desvia o olhar por um momento se sentiu envergonhado afinal a ruptura havia partido dele.
- Disse!
Ambos estavam com os olhos marejados e então se abraçaram. A vontade que ambos sentiram era de se beijarem, porém algo ainda os impediram de fazer. O abraço era o gesto aceitável. Tinham perdido a intimidade, haviam perdido 365 dias e naquele momento esse tempo perdido passou a contar.
- Deve estar cansada e com fome. - infelizmente o abraço teria que acabar e Arthur interrompe aquele momento único.
- Estou sim. - Ana ajeitava a bolsa em seu ombro.
- Vamos, te levarei para casa.
- Obrigada.
- De nada.
Arthur recolheu as malas de sua mão e foram em direção à saída da estação em busca de um táxi que os levaria ao para o lar, pelo menos era isso que Ana esperava.
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