15 - Não desista de mim, por favor (não reescrito)
As duas tardes posteriores ao jogo sem jogo foram treinos bem puxados. No finalzinho da tarde daquela quinta-feira eu estava morto.
Depois do banho, Jungkook e eu fomos para casa. Com mais sono do que fome, eu apenas me joguei na cama assim que entrei no quarto e apaguei, sem esforço nenhum.
Eram apenas seis da noite quando fui dormir, então, bem descansado, na manhã do dia seguinte eu acordei antes mesmo do despertador, bastante disposto.
Continuei deitado e abraçado a Jungkook até que desse a hora para levantar.
Nosso jogo seria às dez na nossa escola. Totalmente livre de aulas, o colégio estaria um verdadeiro pandemônio.
— Benzinho — me chamou, baixinho e rouco, e eu me inclinei um pouco sobre ele para desligar o despertador.
— Bom dia, Nochu.
Jungkook puxou minha mão em direção ao seu peito e me fez abraçá-lo ainda mais.
— Bom dia — desejou de volta, sonolento.
— Temos que levantar. — Colei minha bochecha na sua, deitando ainda mais juntinho dele.
— Gosto do seu abraço. Só mais um pouquinho. — Soprei um riso e concordei, fechando os olhos e aproveitando seu calor.
Estávamos só de cueca.
De qualquer forma, uma hora tivemos que levantar. Depois do banho, esse que tomamos juntos, eu vesti o uniforme do time juntamente com a jaqueta de capitão e eu esperei Jungkook para descermos juntos para o café da manhã.
Meu pai se ofereceu para nos levar, mas eu sabia que ele sempre acabava se atrasando quando fazia isso então apenas neguei e disse que estava tudo bem.
Nós encontramos Hoseok e Yoongi no caminho. O ruivo também vestia a jaqueta do time. Era igual a minha, porém, tinha "Pivô" escrito, ao invés de "Capitão".
— E aí, monstro? Preparado para ser paparicado pela escola toda. Inclusive e principalmente pelas líderes de torcida? — Hoseok perguntou a mim.
— Na real, não. — Eu ri, apesar ter falado sério.
— É só o Jungkook ficar grudado em você. Elas odeiam o Jimin — Yoongi falou.
Me odeiam?
— Por quê? — perguntei.
— Porque estamos muito próximos nos últimos meses — foi Jungkook quem respondeu, andando ao meu lado.
Os outros dois andavam um pouco mais à nossa frente.
— Elas morrem de ciúmes do Jungkook — Yoon falou e olhou para trás, para Jungkook, e sorriu arteiro.
— Foi só uma vez. Eu nunca fico com ninguém mais de uma. Não tenho culpa se se apaixonam — se defendeu.
— Efeito Jungkook nas pessoas — meu melhor amigo zoou e voltou a olhar para frente.
— Ah, mas com Jihyo foi mais de uma... — Hoseok soltou e resmungou quando recebeu um tapa de Jeon na nuca.
Enfiei as mãos nos bolsos da jaqueta que envolvia meu tronco e desviei os olhos para o movimento dos carros que passavam na rua ao nosso lado.
— Foram duas vezes apenas. E eu estava bêbado na segunda, peguei a primeira pessoa que apareceu na minha frente — Jungkook se defendeu de novo.
— Acho que ela se apaixonou por você — Min supôs em tom divertido.
— Se bem que a Miyeon também é caidinha por você desde o fundamental — o ruivo continuou e os dois mais velhos riram.
— Vocês são uns imbecis — Jungkook os xingou, mas riu junto.
— Vamos parar que o Jimin já está com ciúmes. — Nem me importei tanto com a fala de Yoon.
Não porque era verdade, porque não era. Eu não sentia ciúmes.
— Até parece — Jungkook murmurou.
Ele chegou mais perto de mim e colocou a mão esquerda dentro do bolso da minha jaqueta, onde estava a minha direita, e entrelaçou nossos dedos exatamente como na noite das garrafas quebradas.
Não muito depois disso, chegamos na escola. Cumprimeitei alguns garotos do time que estavam no pátio e eles me disseram que o treinador queria todo mundo no vestiário às nove. Que, por enquanto, poderíamos ficar zanzando pela escola igual aos outros alunos.
Como havia sido avisado que não teria aula, nós sequer trouxemos mochilas. Apenas Hoseok e eu estávamos com nossas bolsas de treino.
— Vou lá deixar isso no vestiário. Quer que eu leve a sua? — perguntei ao ruivo, me referindo a bolsa.
Já estávamos ali há alguns bons minutos, apenas encostados e conversando num canto. Mas nunca tínhamos sossego porque sempre alguém chegava para desejar bom jogo a mim e ao Hoseok.
— Gosto da sua versão gentil, Jeon — ele brincou e Jungkook soltou uma risadinha irônica.
Hope me entregou a bolsa dele e agradeceu.
— Você vem comigo? — perguntei ao demônio, que ainda tinha sua mão dentro do meu bolso ainda segurando a minha.
— Claro. Vai que uma menina te ataca no meio do caminho. — Pegou e jogou a bolsa de Hoseok em seu ombro.
Soprei um riso e, juntos, fomos até o vestiário.
Lembra que eu disse que a escola estaria um pandemônio? Então, estava. Parecia o inferno. Era adolescente espalhado por todos os lados. Gritando. Correndo. Pintando a cara um do outro com as cores do nosso time. Pintando cartazes. Soprando apito. E ainda eram oito e pouco da manhã.
— Podemos comemorar nossa vitória indo em algum lugar. Hoseok disse que faria outra festa na casa dele — Jungkook comentou, colocando a bolsa do ruivo perto do armário dele. E eu coloquei a minha perto do meu.
— Vocês nem sabem se vamos ganhar, como já estão pensando em comemorar? — Parei perto da porta, vendo o garoto ajeitar o cabelo no espelho.
— Vamos ganhar, mel — garantiu, convicto. — Estou gatão, não estou?
— Você é eu, é claro que está gato. — Espremeu os olhos na minha direção. — Agora vamos.
— Me espera — choramingou quando eu saí e o deixei para trás.
Eu ri e enfiei as mãos nos bolsos da blusa, o esperando lá fora.
— Você é muito mau comigo, coração.
Socorro, ele estava com um bico.
— Você acha mesmo, paixão? Ahhh, obrigado. — Deixou um tapa não tão fraco em meu peito, mas não forte a ponto de machucar. Mas me deixou confuso.
— Não me chama assim. — Parecia realmente não ter gostado. — Eu sinto sua ironia. Não gosto disso. — Suspirei fundo.
— Tá — soltei apenas. — Demônio te parece mais sincero?
— Infelizmente é essa a impressão que você passa. — Passou a mão na cabeça e jogou a franja preta para trás, colocando um sorriso descontraído na boca. — Não é o momento para discutir com você sobre isso. Vamos voltar para lá.
— Se você não gosta–
— Não é que eu não goste. É o tom que você usa. — Suspirou. — Vamos... procurar os outros dois.
Ele saiu na frente e eu fiquei o olhando andar para cada vez mais longe de mim.
— Caralho — xinguei baixinho e esfreguei as mãos no rosto, enfim saindo do lugar.
Era exatamente disso que eu estava falando. Eu era imbecil com ele sem perceber. Eu conseguia machucá-lo sem fazer esforço quando, na verdade, queria que ele percebesse que eu estava gostando dele.
Não era exatamente assim que eu queria, mas as coisas sempre saíam do meu controle. Eu simplesmente não sabia lidar.
— Aí — chamei a atenção dele quando consegui o alcançar. — Minha mão sente falta da sua. — Jungkook me olhou e eu mostrei o bolso da jaqueta, onde minha mão estava.
Ele abanou a cabeça de um lado para o outro e sorriu.
— Você é tão... — Suspirou e trombou o braço no meu antes de escorregar a mão pelo meu antebraço até envolver sua mão na minha dentro do bolso. — confuso.
— Se eu pudesse ser um pouco menos filho da puta, seria. — Ele riu. — Você pode me largar.
— Eu não consigo, príncipe. — Acariciei o dorso da mão alheia. — Ninguém manda no coração, né?
Engoli em seco e umedeci os lábios.
— Você me deixa nervoso — me senti ainda mais nervoso depois que confessei isso.
— Você também me deixa nervoso. — O olhei.
— De um jeito bom ou ruim? — Me olhou também.
— Muito bom. — Caceta. — E você? Te deixo nervoso de um jeito bom ou ruim?
— Não sei. Você também me deixa confuso. — Voltei a olhar para frente.
Duas garotas sorriram e acenaram quando passaram por mim. Educado, apenas acenei de volta.
— Por que você tem que ser tão piranha, ein? — perguntei baixo.
— Eu sou um cara carente, mel. Meu crush não me notava e eu procurava atenção em outras pessoas.
— É sério que você se sentia... — Repensei e resolvi não falar. — Esquece.
— Que eu me sentia menos carente indo parar na cama de outras pessoas? — completou por mim e suspirou quando eu fiquei quieto. — Em algumas das vezes, sim.
Era a primeira vez que conversávamos sobre isso, e poderia admitir que estava curioso para saber mais. Eu queria entender Jungkook.
— E nas outras vezes? — perguntei, esperando não estar invadindo um espaço perigoso demais.
Jungkook demorou para responder. Mas respondeu.
— Sei lá... A ficha caía e eu sabia que eles estavam ali comigo porque eu era popular e tinha um corpo massa. Eles só estavam ali para transar comigo, ao contrário de mim que só queria... carinho. — Soprou um riso. — Só que eu não me sinto mais assim. Nos últimos meses a gente tem se dado bem, sabe? Por mais frio que você seja às vezes, eu me sinto cuidado por você. E eu sei que você não é como eles, que só está ali por sexo. — Apertou minha mão. — Eu me sinto realmente bem agora. Antes eu me sentia como se...
Não completou. Sua frase morreu ali.
— Como se...?
Eu queria saber, só não sabia se deveria perguntar.
— Como se eu pudesse facilmente enrolar alguma coisa no meu pescoço e acabar logo com isso, principalmente depois que minha mãe se foi. Acho que se a gente não tivesse se aproximado tanto... eu provavelmente teria feito isso. Estava realmente doendo. — Eu não gostei do que ouvi e daria tudo para voltar no tempo e ter mudado de assunto antes que entrasse naquele.
Meu corpo inteirinho se arrepiou de um jeito ruim e fui diminuindo os passos até parar completamente de andar.
Jungkook me olhou confuso, parando também, e meu movimento seguinte foi tirar nossas mãos de dentro do bolso e o puxar para mais perto.
Então eu o abracei.
Eu sentia vontade de chorar, mas não queria. Não ali.
Mesmo que não soubesse exatamente o porquê de eu o ter puxado pela cintura, ele me abraçou de volta com a mesma intensidade.
Jungkook nunca negava um abraço.
— Como você está se sentindo agora? — perguntei mesmo que ele já tivesse dito.
Jungkook afundou o rosto em meu pescoço e apertou um pouco mais seus braços à minha volta.
— Bem — respondeu abafado. — Muito bem.
— Mesmo? Não minta.
— Ji... — Empurrou meu ombro, já que eu o apertava tanto que não tinha intenção nenhuma de soltar, e se afastou o suficiente para conseguir ver meus olhos. Ele me olhava como se perguntasse o porquê daquele alarme todo. — Eu estou bem. — Segurou a lateral do meu rosto com as mãos pequenininhas e quentes, não me deixando desviar os olhos dos dele. — Eu juro. Não precisa ficar assim, ok?
Foi aí que eu percebi que os esforços que eu estava fazendo para não sentir nada por ele foram completamente inúteis. Eu me importava com ele. Eu tinha medo de perder ele. Eu estava apaixonado por ele. E, sinceramente, já estava cansado de tentar me privar de sentir o que Jungkook me faz sentir quando eu sequer consigo controlar quando estamos juntos. O medo ainda estava aqui, mas a vontade de ser dele e tê-lo para mim já ultrapassava todo aquele sentimento fodido.
Eu o queria para mim.
Relaxei os ombros e respirei fundo, assentindo.
— Ok. — Ele sorriu pequeno. — Eu vou acreditar em você.
Ele umedeceu os lábios e acariciou minha bochecha antes de voltar a me abraçar, desta vez me envolvendo pela cintura. Eu abracei seus ombros.
— Eu sempre fico me perguntando o que foi que aconteceu que te deixou tão assustado assim, benzinho — sussurrou rente ao meu ouvido. — Eu já notei que toda vez que a gente conversa assim e você mostra o que sente por mim, você me ignora o resto do dia. É como se... — Fechei os olhos e senti sua mão me fazer carinho na base das costas. — É como se você percebesse o que fez e tentasse se afastar. Jimin, eu fico tão triste... — Abracei seu pescoço com mais firmeza, mas não ao ponto de sufocá-lo. — Triste porque você sabe o que eu sinto e como eu me sinto, mas eu não sei o que ou como você se sente. Eu tento me aproximar e te abraçar e tentar te entender, mas você se afasta mais. Eu nunca sei seus limites.
Apertei meus olhos com mais força e enterrei minha mão em seus cabelos, fazendo carinho ali.
— Não desista de mim, por favor — poderia não admitir para ele, mas eu estava implorando. — Um dia eu vou conseguir falar. Não desista. — E o fato de eu estar com o rosto quase enfiado na curva do seu pescoço só tornou meu tom ainda mais manhoso.
— Eu não vou fazer isso, paixão.
De repente eu me peguei engolindo em seco quando aquelas palavras dançaram, pela primeira vez, na minha boca.
Era a primeira vez que eu não me sentia aflito ao pensar sobre aquilo. Era a primeira vez que eu sentia, de fato, que poderia dizer o que sentia por ele.
Com uma coragem que veio do além, eu resolvi dizer logo antes que fosse embora. Eu queria que ele soubesse que eu sentia algo por ele.
— Jungkook, eu... — Me afastei minimamente apenas para conseguir ver o rosto dele, mas mantive nossos corpos juntos.
— O quê? — perguntou, provavelmente por eu estar o olhando por tempo demais em silêncio sem perceber.
— Eu quero que você sabia que... — Suspirei. — Que eu estou... Hm... Eu estou ap–
— Ei, menino Jeon, vamos namorar depois, certo? — E o treinador apareceu. — Quero o time na quadra.
Umedeci os lábios e afrouxei os braços, me afastando a contra gosto do garoto.
— Sim, senhor — eu disse ao mais velho ainda olhando para Jungkook, que também me olhava.
Forcei um sorriso meio sem jeito antes de me afastar completa e definitivamente dele, dando-lhe as costas logo em seguida.
— Ji — me chamou e, talvez pelo fato de eu não querer deixá-lo tão cedo, me virei rapidamente. — O que iria dizer?
— Ahn... — Lembra da coragem? Então, não tinha mais. Sumiu. — Não... não era nada. — Cocei a nuca. — Vem. Eu preciso de você lá.
Ele sorriu e apertou o passo, parando ao meu lado.
— Vamos ganhar — por incrível que pareça, foi eu quem disse.
— É claro que vamos — completou, segurando minha mão e entrelaçando nossos dedos.
Desta vez fora do bolso da jaqueta.
Claro que aquilo chamava a atenção das pessoas. Jungkook era popular, atravessar a escola de mãos dadas com alguém, e um garoto ainda por cima, chamava uma atenção do caralho. Mesmo Jungkook nunca tendo escondido a bissexualidade e eu, a homossexualidade.
— Eu realmente não acredito que eu, Park Jimin, sou odiado por metade das garotas da escola — falei quando entramos no ginásio, vendo metade do colégio já na arquibancada e os líderes de torcida performando no meio da quadra.
— Ninguém mandou roubar o coração do cara mais gostoso do colégio — Jungkook disse ao meu lado e eu ergui uma das sobrancelhas e olhei para ele. Porque eu sabia que ele estava falando dele mesmo.
— Ok, convencido. — Entrei na quadra e ele veio junto, ainda segurando minha mão.
— Eu, provavelmente, não posso ficar aqui então... — Sorriu ladino e ficou de frente para mim. — Vamos dar mais um motivo para elas me odiarem.
Eu sabia o que ele estava pensando em fazer e eu estava tão acostumado a fazer aquilo com ele que não me importei quando beijou minha boca.
— Bom jogo, príncipe. — Deixou outro selinho antes de ser enxotado de dentro da quadra pelo treinador e eu ser orientado pelo mesmo a me juntar aos outros do time.
— Eu nem preciso dizer para você não quebrar o coração dele, né? — Hoseok disse a mim quando me aproximei. — Você é um cara legal. Eu realmente não quero arrancar suas bolas e grampear elas no seu pescoço se machucar ele.
Meu deus?
— Eu vou pensar duas vezes antes de fazer isso. Não se preocupe. — Ele espremeu os olhos na minha direção quando eu sorri. — Estou falando sério.
— Hm — murmurou, não muito crédulo, prestando atenção no que o treinador disse no segundo seguinte.
Depois nós aquecemos, o outro time apareceu e Jungkook me deu mais um beijo quando o entreguei a jaqueta. Acho que os garotos do outro time viram já que me olharam torto o jogo inteiro. E fizeram marcação cerrada em mim.
— É impressão minha ou... — Hoseok me ajudou a levantar quando trombaram em mim e me derrubaram pela... se lá quantas vezes, mas foram muitas.
— É. Eu nem sabia que hétero existia ainda — soltei raivoso, ficando de pé com sua ajuda.
Certamente eu disse aquilo ironicamente; afinal, eu estava puto por estarem metendo falta em mim por beijar um garoto.
— É uma pena que eu não posso meter a cotovelada neles... — resmunguei com um bico.
Como eu havia tomado uma falta na tentativa de fazer uma cesta de dois pontos, acabei ganhando dois lances livres, cada um valendo um ponto.
— A preocupação deles nem é ganhar. É me foder — falei antes que o árbitro chegasse perto de mim para me entregar a bola.
— Aí. Fica de olho no grandão — Hoseok pediu ao homem, baixo para que ninguém mais além dele escutasse. — Camisa quatorze.
O árbitro não falou nada, apenas apontou para a marcação da qual eu deveria ficar.
Eu suspirei e me posicionei defronte à tabela.
A primeira tentativa eu errei. E na segunda eu vi os outros jogadores marcarem um ao outro ao meu lado, afinal, se eu errasse aquela eles poderiam disputar pela bola e continuar o jogo. Mas não errei. Mesmo que fosse apenas um ponto, ainda era ponto. Ainda mais por estarmos perdendo.
Na jogada seguinte, eles começaram. Só que nosso time conseguiu roubar a bola; e foi quando jogaram para mim e eu corri para tentar me livrar da marcação de outro cara que o cavalo da camisa número quatorze colocou a porra do pé na minha frente.
O fato era que eu estava correndo rápido e super concentrado, consequência disso foi trupicar bonito no pé dele e cair com vontade no chão. Doeu, tá? A porra do meu quadril, do lado esquerdo, foi direto no chão.
Eu juro que vi o céu.
E enquanto eu gemia de dor no chão, o cara era expulso do jogo pelo árbitro. E, sinceramente? Do jeito que estava doendo, eu também teria que sair.
Juntaram em mim e Hoseok foi o primeiro a abaixar do meu lado. E depois o treinador.
— Não! — me exaltei, rolando no chão para deitar com o lado acertado para cima. — Não toca aí, está doendo. — Puxei a gola da camisa e a enfiei na boca, controlando a vontade de gemer ou chorar de dor mordendo o tecido com força.
— Você consegue ficar de pé? — o treinador perguntou e eu apenas murmurei que não sabia. Ele estava aflito, então vamos ignorar a pergunta idiota dele. — Me ajudem a levantar ele.
Me segurando pelo braço, um de cada lado, Jackson e o treinador me ajudaram a ficar de pé. O fato era que eu não tinha base. Eu mal conseguia colocar o pé esquerdo no chão sem doer a lateral inteira do meu quadril.
— Que vontade de enfiar o pé na bunda desse idiota! — ralhei entre um gemido e outro de dor, sentindo muita raiva.
— Meu Deus, até assim você fica irritado — alguém do nosso time falou e eu teria rido se não estivesse sentindo tudo latejando.
— Vai continuar? — o juiz questionou.
Eu queria. Eu queria muito continuar. E, provavelmente, teria respondido sim.
— Não — mas meu treinador respondeu por mim.
Mancando e com o braço sobre os ombros de Jackson e Hoseok, fui até os bancos compridos postos na lateral da quadra para os times reservas.
Jaehyun entrou no meu lugar e eu sentei no lugar dele. O jogo não poderia parar.
— Toma. — Me apareceram com uma bolsa de gelo. — Acho que devemos levá-lo ao médico.
— Não quero ir ao médico — me apressei em dizer, vendo o treinador parar na minha frente com os braços cruzados enquanto me olhava todo preocupado. — Quero dar uma bicuda no saco daquele idiota. Só isso.
— O que eu disse sobre violência, Ji? — escutei Jungkook dizer atrás de mim e nem precisei olhar para trás para saber que ele tinha chegado perto da grade de proteção. — Como é que você está?
— Bem. — Gemi ao colocar o gelo contra a minha coxa por cima da bermuda. — Só está doendo um pouco.
— Então você não está bem — o treinador disse. — Temos só mais um tempo. Se não melhorar, te levo no hospital.
— Não precisa.
— Fica quieto, príncipe. Precisa sim.
Bufei e movi a bolsa um pouco mais para cima, fazendo uma careta de dor.
— Aí, não tem spray de gelo? — Jungkook perguntou atrás de mim, provavelmente para o treinador.
— Tem, mas... — O homem suspirou. — Acho perigoso. É melhor não. É melhor ele sentir dor do que não sentir e forçar a perna demais. Pode piorar.
Depois daquilo ele voltou a prestar atenção no jogo, mas olhava para mim de vez em quando apenas para checar se estava tudo bem. Ele estava aflito e não era o único. O time todo estava. O tempo estava acabando e, mesmo que por pouco, estávamos perdendo.
Perder já não é muito legal – apesar de fazer parte da vida –, perder em casa então nem se fala. Mas foi exatamente isso que aconteceu. Por um único fodido ponto, mas perdemos.
Mas o treinador não estava preocupado com isso. Ele apenas queria ter certeza de que todos os seus jogadores estavam bem.
— Está doendo ainda? — questionou a mim.
— Menos que antes — fui sincero.
— Acha que consegue colocar o pé no chão? — Dei de ombros, mas ele se afastou um pouco quando me livrei da bolsa de gelo e forcei a levantar do banco.
De fato doía bem menos que antes, mas eu ainda mancava ao andar. Pelo menos conseguia andar sozinho.
Já de pé, aproveitei para ir até Hoseok que estava sentado no meio da quadra, ofegante e suado.
O outro time corria pelos cantos, comemorando, e a nossa escola se lamentava.
— Aí — chamei sua atenção. — Também temos que comemorar. Chegamos bem longe, afinal.
Ele soprou um riso e ficou de pé.
— A festa lá em casa ainda está de pé — eu também sorri com o que ele disse. — Como você tá?
— Melhor. Mas ainda quero chutar a bunda daquele cara. — O vi olhar além de mim e apontar para lá com a cabeça de maneira discreta.
— Ele? — Me virei a tempo de ver o camisa quatorze vindo na minha direção todo sorridente. Seguido de mais uns dois outros garotos que também fizeram marcação pesada em mim durante o jogo.
— É. Ele mesmo. — Trinquei o maxilar.
— Aí, foi mal pela perna — falou quando se aproximou bastante, sem tirar o sorriso rosto. — Tô' brincando.. — Gargalhou. — Temos que diminuir esse número, certo?
— Número?
— É. De viados. Sabe como é, né? — Acho que pior do que aquele necrosado, era os dois amigos dele que riram do que ele disse. Provavelmente eles dividiam um mesmo neurônio. — Na verdade, fizemos um favor para o seu time te tirando dele. Mas eles são tão idiotas quanto você. Nós vencemos de qualquer forma.
E riram de novo.
Certamente eu já teria voado nele, metido a bicuda, a cotovelada e uma mordida sinistra, mas eu estava dodói e também vi o árbitro se aproximar pelas costas deles e parar ali próximo.
— Você está me ofendendo — foi o que eu disse, mas não era verdade. Eu não me ofendia com aquele tipo de coisa. Eu sequer dava bola.
Até porque eu sou viado mesmo.
— Ah, é mesmo? — quem disse foi o amigo da esquerda. — Deve ser por ser isso. Nem você se aguenta, não é?
— Sabe o que é mais legal? — o camisa quatorze voltou a falar. — É que ninguém aqui realmente se importa. E, na moral? Eu te foderia de novo sem pensar duas vezes. — Sorriu ladino. — Você deve gostar de ser fodido. Ou será que é a sua namoradinha...
E foi aí que o árbitro assoprou o apito incessantemente até todo mundo calar a boca. Isso incluía o pessoal da arquibancada também.
— O que disse? — ele questionou ao garoto, que só então pareceu notar que o juiz estava tão perto.
— N-nada — gaguejou e eu olhei rapidamente para Hoseok, que também me olhou.
— Hm... — Vi os três engolir em seco, brancos igual gesso. — Isso é insulto. Sabe que isso é proibido nos jogos, não sabe? E em qualquer outro lugar.
— Sei, mas–
— Então por quê? — O garoto abriu e fechou a boca algumas vezes. — Vocês são avaliados até o último minuto. Deveriam, pelo menos, ter esperado eu sair de perto.
Eu já iria abrir a boca para dizer que ele deveria me defender ao defender aqueles idiotas quando, do meio da quadra, ele apita de novo e sinaliza para o lado direito da quadra.
O nosso lado.
— Time de fora desclassificado por faltas antidesportivas durante o jogo e provocando e ofendendo um adversário. — Tenho certeza que quase ninguém que estava na arquibancada estava escutando, mas quem estava dentro da quadra ouvia perfeitamente. — Vitória para o time da casa. Se fosse uma diferença maior, provavelmente o time que foi para a final ganharia por W.O., mas foi apenas de um ponto, então passo a vitória para o time da casa.
— O quê?! — não só o time adversário disse aquilo. Todos nós dissemos num coro só.
Eu não sabia se comemorava ou se ria da cara do meu treinador, ou da cara do treinador e dos membros do time alheio. Ou se continuava travado no lugar.
Provavelmente aqueles garotos vão levar um cascudo do time inteiro quando entrarem no ônibus. Eu não queria estar na pele deles.
— Então... — Olhei para Hoseok. — A gente está na final?
— Acho que sim — foi o que ele disse, tão incrédulo quanto eu.
— Seu idiota, olha o que você fez! — O camisa quatorze não havia desistido de mim e eu percebi isso quando ele veio na minha direção, chocando o peito contra o meu.
— Não chega muito perto — pedi, tentando recuar sem machucar ainda mais a minha perna. — Sei lá, né? Vai que você pega homossexualismo*.
Ele ficou mais puto do que já estava e só não veio para cima de mim porque foi agarrado pelo treinador dele.
— Você não vai querer arranjar mais problemas para você do que já arranjou — foi o que o homem disse a ele. — Peça desculpas e vá direto para o ônibus.
— Mas, pai–
Hm... Além de treinador, era pai dele.
— Faça o que eu estou mandando. — O cara trincou o maxilar.
O camisa quatorze olhou para mim e negou, voltando a olhar para o pai.
— Ele é gay. Não vou fazer isso — foi o argumento dele.
Se eu tivesse apoio, teria dado um chutão nas bolas dele. Sem brincadeira.
O treinador me olhou de cima a baixo e eu cruzei os braços, erguendo as duas sobrancelhas.
— Tá. Para o ônibus. Todos vocês — e foi isso que homem disse antes de se afastarem em direção a saída da quadra.
Franzi o cenho e olhei para Hoseok, que também não estava com uma cara muito boa.
— Eu até ficaria triste por eles como no jogo anterior, mas... — Dei de ombros. — Não merecem.
— Meu Deus... Que caras escrotos — foi o que ele disse.
Quando eu olhei para frente, dei falta de alguém muito importante.
Jungkook.
Jungkook sempre entrava na quadra no final dos jogos, mas ainda não tinha parecido. Olhei para onde ele estava sentado e o vi no mesmo lugar, de pernas e braços cruzados e com um bico enorme na boca.
Mancando e com Hoseok ao meu lado, fui até o garoto, me aproximando do alambrado.
— Que foi? — perguntei. — Por que está emburrado?
— Não me deixaram entrar — falou sem se livrar do bico.
Eu soprei um riso e apontei para os animadores de torcida que formaram fila na entrada.
— Entra com as líderes.
— Elas vão me bater, paixão. — Eu ri e ele choramingou. — Ji... eu quero abraçar você. Tá doendo muito?
— Eu estou bem, Nochu — garanti. — Vem. Eu vou pedir para deixarem você entrar.
Provavelmente eles barraram a entrada dos alunos para que os líderes de torcida se apresentassem, caso contrário viraria uma bagunça. Mas o zelador, orientado a não deixar ninguém passar, deixou Jungkook entrar quando pedi.
E aí ele me abraçou.
— Até agora eu não entendi. O que aconteceu? Não dava para escutar nada — perguntou quando me soltou. E, juntos, fomos até o banco.
— Eles me viram beijando você. — Voltei a colocar o gelo contra a lateral do quadril e coxa, desta vez com ajuda de Jungkook sentado ao meu lado. — E aí eles não foram muito com a minha cara.
— Que ridículo. — Concordei e suspirei.
— O árbitro ouviu e desclassificou eles.
— E deu a vitória para nós porque perdemos apenas por um ponto — adivinhou.
— Isso. — Joguei os fios compridos para trás, tirando-os dos meus olhos depois que me inclinei para pegar uma garrafa de água no chão. — Jogos são tão complicados. Puta merda. Uma hora eu vou ter um ataque de ansiedade no meio do jogo. É muita emoção.
— Ei! Vira essa boca para lá. Isso já aconteceu e não foi legal. — Suspirei. — Enfim. Não é isso o que importa agora. Você acha que precisa ir ao médico?
— Ver minha psicóloga? Eu já disse–
— Sua perna, Jimin. — Soltei um "ah" em entendimento. — Mas não esqueci que você me prometeu que iria marcar uma consulta e não marcou ainda.
Suspirei de novo, um pouco mais fundo.
— Eu vou marcar. Tenha calma — garanti, tomando água. — E minha perna está ótima. Não preciso ir ao médico.
— Acho que você deveria só para ver se machucou algo a mais. A final é semana que vem. Se você quiser treinar o resto da semana e jogar, melhor ver isso.
Assenti, vencido.
— Ok, Jungkook. Eu vou ao médico — dizer isso arrancou um sorriso grandão dele.
Cacete... O que aquele garoto não pedia sorrindo que eu não fazia chorando?
Eu odiava ele.
Enquanto a galera dançavam no meio da quadra, alguns do time vieram ver como eu estava. Outros ficaram babando nas meninas, assim como metade da arquibancada.
Eu continuei sentadinho ali até acabar com Jungkook, Hoseok e Yoongi ao meu lado.
— Peça à escola para ligar para alguém responsável por você. — Gelei quando o treinador pediu isso a mim.
— Para quê?
— Vou te levar para o hospital, mas não posso te tirar daqui sem autorização.
— Então... — Cocei a nuca. — Precisa não. Eu me viro depois.
— Jungkook–
— Eu estou bem, treinador, juro. Eu vou depois que sair daqui. Quero ficar mais um pouco.
Nem fodendo que eu ligaria para Seunghyun.
O treinador não parecia tão certo daquilo, mas resolveu confiar em mim.
O fato era que não demorou muito mais que aquilo para que os alunos fossem liberados. O treinador disse que conversaria com o time na segunda-feira e que poderíamos ir para casa. Que não precisávamos voltar na hora do treino porque não teria.
Amém.
Não tinha dado nem onze da manhã ainda. Eu ainda mancava e ainda doía um pouco. Eu sabia que não tinha quebrado nada porque a dor era no músculo. E se eu tivesse quebrado, não estaria nem colocando o pé no chão, dirá andando.
— Quer ir direto para casa? Podemos pedir ao seu pai para te levar quando chegar do trabalho — Jungkook falou quando chegamos na parada de ônibus.
— Pode ser.
— Mas você vai lá para casa, não vai? — Hoseok perguntou.
— Meu pai não chega tão tarde. E acho que não vai demorar tanto lá. Algo me diz que sua festa vai até amanhã de manhã. — Ele riu e concordou. — Relaxa, a gente aparece lá.
Depois disso, o ônibus chegou, a gente foi para casa e minha mãe quase surtou quando me viu mancando.
Quando meu pai chegou, por mais que eu tenha insistido para ele comer ou tomar banho – já que eu sabia que ele estava cansado e com fome –, ele mal se livrou da bolsa antes de me levar no maldito hospital. Foi apenas nós dois, mesmo que Jungkook tivesse insistido para ir.
O fato era que eu estava tão acostumado em ter aquele garoto grudado em mim o tempo todo que senti falta. Eu senti uma falta absurda dele.
Nós saímos daquele cacete passava da uma da manhã, e eu estava mais preocupado com o meu pai do que qualquer outra coisa. Eu realmente não queria que ele ficasse acordado até aquele horário para ter que ir trabalhar às seis da manhã.
Demoraram para atender a gente; quando atenderam, a bendita consulta foi super rápida, mas o médico pediu raio-X só por precaução; daí lá vai a gente para o outro lado do hospital tirar a porra do raio-X; UMA HORA E MEIA para o resultado ficar pronto; e depois nós ainda tivemos que levar para o mesmo médico avaliar e dizer se tinha quebrado alguma coisa.
No final, eu não quebrei nada, me deram remédio de dor e pediram para qie eu não forçasse tanto por, pelo menos, dois dias. Ou até a dor passar.
Cacete, viu? Puta que pariu.
Eu disse para o meu pai que não precisava esperar tudo aquilo e que eu tinha quase certeza de que não havia quebrado nada, mas ele insistiu que queria esperar com a desculpa de que já estávamos ali.
— Pai — o chamei baixinho quando terminamos de subir a escada.
A casa estava completamente escura e quieta.
— Obrigado — agradeci quando ele me olhou. — Você é meu herói.
— Ah, Jimin, isso é tão brega. — Me segurei para não rir.
Depois ele me abraçou, me beijou o topo da cabeça e disse que me amava.
— Eu também amo você. — Desfizemos o abraço. — Agora vai dormir. E é para dormir mesmo, Park Hyungsik.
— Você também, Park Jimin. — Rimos baixinho e cada um foi para a sua devida porta.
Eu entrei devagar, com medo de acordar Jungkook já que eu não havia conversado com ele desde que saí de lá, mas ele sequer estava dormindo.
Jungkook me esperou acordado.
— Achei que tivesse dormido — falei, fechando a porta. — Não precisava ter me esperado, Nochu.
— Estou mal acostumado. Não consigo mais dormir sem você. — Soprei um riso.
— Cafona — murmurei meio sem saber o que dizer.
— E como foi lá? Tudo certo? — Me sentei na beirada da cama, próximo a mesinha de cabeceira, e coloquei meus documentos ali em cima.
— Uhum. Eu vou ter que ficar dois dias de repouso. Sorte minha é que vai ser no final de semana. Assim eu não perco treino. — Olhei para ele. — Estou bem, não se preocupe.
Ele sorriu e acariciou minhas costas, já que eu estava de costas para ele e o olhava por cima do ombro.
— Agora você precisa descansar — disse a mim.
— Eu preciso de um banho primeiro. — Puxei a camisa para fora do corpo.
— Quer ajuda?
— Não precisa. Me deram remédio na veia. Não dói tanto. — Fiquei de pé. — Vai ser rapidinho.
Como eu já havia tomado antes de sair, foi rápido mesmo. E minutos depois eu já estava de volta no quarto.
Catei e vesti apenas uma bermuda e, sem demorar tanto mais, me deitei ao lado do garoto, sendo imediatamente abraçado por ele.
Eu estava cansado, então nem rolaria ir para a festa de Hoseok, por mais que eu quisesse.
— Dengo, me diz que você sentiu também — sussurrou contra a minha orelha. — Eu estava preocupado, mas nem foi por isso que eu não consegui dormir. Eu senti sua falta aqui, moreno.
Moreno
MORENO.
Era a primeira vez que ele me chamava de moreno.
Meu deus.... Meu coração não aguentava.
— Senti — sincero, eu sussurrei de volta, o sentindo colar mais o corpo no meu e beijar meu ombro. — Eu senti sua falta, Jungkook.
Sua boca ainda estava colada em meu ombro e, por causa disso, eu consegui sentir seu sorriso. Ele sorriu contra a minha pele. E eu sorri também.
— Você precisa descansar, paixão. — Descolou a boca de mim, mas eu sabia que ainda sorria apenas pelo tom de sua voz. — Durma bem. — Beijou minha bochecha.
— Você também, Nochu — devolvi, me aconchegando mais ao seu peito.
Dormir depois daquilo só foi possível, provavelmente, por causa do efeito colateral do remédio. Porque se fosse depender da euforia do meu corpo, eu teria ficado acordado o resto da madrugada.
Jungkook me deixava eufórico.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro