10 - Calma, Jimin
SALVEEEEEEEEEEEE
⚠️Esse capítulo contém cenas de ataque de pânico e ansiedade, não leia ou force a barra caso se sinta desconfortável com esse assunto⚠️
Espero que curtam o capítulo, votem e comentem se gostarem. Boa leitura! 💕
★ི꙰͝★
Há muitas coisas na vida que eu nunca imaginei fazer, jogar basquete num campeonato extraclasse, do qual envolveria escolas públicas da minha cidade, dentre elas a minha, é uma delas.
Porém, aqui estamos: no mês do campeonato de basquete.
Merda.
A vida e o universo, não satisfeitos em enfiar tudo o que é possível na minha bunda, quer que eu jogue e dance. Porque, além dos jogos, haverá a apresentação de final de ano no colégio.
Só que não acaba por aí. Ah, quem me dera se fosse só isso.
Além de jogar e dançar, terei de tomar o lugar do meu, até o começo do ano, inimigo — agora em outubro, já não posso dizer o mesmo. Jungkook se dedicou meses para conseguir passar nos testes e ser escalado para o jogo, e quando isso acontece não é ele, de fato, que vai jogar.
É outra pessoa.
Às vezes eu o pego encarando a bola. Ou a abraçando enquanto me vê jogar. Ele não fala sobre como está se sentindo, mas não é preciso para saber que sente falta da antiga rotina. De ir para o treino, de ir para a academia, sem se preocupar em ter que aprender como dar uma pirueta ou tentar não ficar tonto enquanto gira.
Ele apenas sorri e diz que está bem mesmo que os olhos brilhem de choro sempre que o assunto surge.
Tenho me esforçado — e insiro aqui o quão difícil está sendo — para deixá-lo um pouco mais alegre e animado. A questão é que eu acabo me envolvendo mais do que estou preparado, onde a gente se aproxima mais do que limite suporta, e eu acabo o magoando em vez do contrário.
Eu ainda não encontrei um ritmo do qual me sinto confortável em me manter perto dele, e durante o processo pela descoberta quem acaba se machucando também — e às vezes até mais — é o Jungkook.
— Estamos na reta final, por isso quero que foquem o máximo nessas últimas semanas — o treinador anuncia no final do treino, passando os olhos pelos garotos sentados no chão da quadra o escutando; dentre eles, eu. — Nosso primeiro jogo será o primeiro da temporada.
Engulo em seco, mas só percebo quando sinto o desconforto na garganta.
— O último jogo, a final do campeonato, será em outra cidade. Se nós ganharmos os outros jogos e fomos para a final, vamos precisar ir para lá. Então... — Ele entrega um punhado de papel para mim. Pego dois e passo o restante para o lado. — Estou avisando um mês antes porque é tempo suficiente para vocês subornarem, extorquirem e convencerem os pais de vocês a ficarem dois dias lá. — Há um coro baixo de risadas, a minha é uma delas. — Estou brincando, não é pra bater em ninguém. Qualquer coisa conversem comigo. A escola vai dar dois ônibus, um para o time e o outro para outros alunos que queriam assistir e fazer parte da torcida. E como vocês sabem, um ônibus não dá para levar todo mundo da escola. Então, ganha a vaga as quarenta melhores notas.
Jungkook com certeza vai ganhar, as notas dele são impecáveis. A outra autorização que peguei é para o Yoongi, que coleciona notas baixas.
— O que o treinador estava falando? — Jungkook, assim que saio da quadra após a dispensa do treinador, pergunta a mim.
— Sobre os jogos. — Entrego a autorização a ele. — O último vai ser em outra cidade. Legal, né? Acho que a última vez que fui na capital foi... Não lembro. Eu era criança.
— Eu costumava ir. — De repente o garoto parece nostálgico. — Com a minha mãe.
O que ouço dele me surpreende, Jungkook definitivamente não fala da mãe assim. Entretanto, ele não me deixa falar algo sobre isso. Ele é rápido em levantar da arquibancada e ir andando na, em direção a saída.
— Tá, nova missão — desvia o assunto, me olhando de maneira breve por cima do ombro como se quisesse checar se estou o seguindo. — Convencer o bosta do meu padrasto a me deixar ir. Infelizmente eu ainda vou ser menor de idade e ele é meu responsável legal.
— Damos um jeito — garanto, tirando a camisa no instante em que piso dentro do vestiário. — Suborna o Yug pra pedir, Daehyun faz tudo por ele. De qualquer forma, nada que um diálogo não resolva...
Chegando no meu armário, troco a camisa suada pela toalha limpa. Jungkook encosta no compartimento ao lado e cruza os braços.
— Por que eu sinto que esse "diálogo" seria algo violento?
Estalo a língua no céu da boca e fecho o armário. — Eu? Bater em alguém? Puff, que absurdo...
A gargalhada dele é espontânea, me faz rir junto. Entretanto, não me prolongo ao ir até os chuveiros. E enquanto tomo banho, Jungkook me espera. Como sempre quando termino, está sentado em um dos bancos.
— Quero te levar a um lugar hoje — anuncio assim que chego perto, aproveitando que não há ninguém além de nós no corredor de armários para me vestir rapidamente.
Quando fito Jungkook, ele está me olhando com um sorriso meio de lado.
— Meu querubim quer me levar para sair? — Juro que seus olhos estão brilhando agora. — Um encontro?
— Você viaja, garoto, puta merda.
— Hm... Então onde você quer me levar? — Coloco toda a roupa suja na bolsa e pego a mochila no armário.
— Surpresa. — O sorriso abobalhado aumenta. — Mas um lugar especial.
— É um encontro, eu disse. — Rolo os olhos. — Mas hoje? Temos ensaio.
— Confia em mim. — Fecho o armário. — Já avisei minha mãe onde vamos.
— Meu dengo já tinha pensado em tudo? Que espertinho... — O empurro pelo ombro, deixando-o para trás ao ir em direção à saída do vestiário.
— É sério! Não é um encontro...
Quando olho para ter certeza que está vindo comigo, reparo no bico que decora os lábios gordos. Me faz rir, porque nunca conheci ninguém mais manhoso que Jungkook.
Eu volto a prestar atenção no caminho e, do vestiário até o outro lado da rua fora da escola, mais nenhuma palavra é dita entre nós.
— Mas... — Quebra o silêncio assim que a gente chega no ponto de ônibus. — Você quer?
— Quero o quê?
Encosto na barra de ferro da estrutura da parada e Jungkook para na minha frente.
— Quer sair num encontro comigo? — ele diz e confesso que há um delay no processamento da informação por minha parte, é como se o mundo tivesse pausado por alguns segundos.
Jungkook dificultava as coisas para mim quando me fazia aquele tipo de pergunta. Eu sempre acabo o magoando, mesmo que ele não admita.
Mesmo quando a informação é compreendida pelo meu cérebro lento, não digo nada.
— Esquece... — diz, olhando para o lado no instante em que coloca um sorriso no rosto. — Foi uma pergunta imbecil, finge que não perguntei isso.
Balanço a cabeça mesmo que, por estar olhando para outro lugar, não possa ver.
— Não, eu... — Nego de novo. — Eu quero.
É ousado da minha parte dizer isso, eu sei. Por infinitas razões, não digo apenas pelos muros que me rodeiam. Uma delas, com toda a certeza a que mais tem me feito dar para trás ultimamente, é estar me vendo ao invés de ser o Jungkook na minha frente.
Isso me frustra.
— Tá falando sério?
Seu questionamento vem junto de uma expressão engraçada de surpresa. Ao invés de rir, imagino como deve ser a expressão de surpresa do verdadeiro Jungkook.
— Estou — murmuro, esticando um dos braços para o ônibus que se aproxima. — Mas não hoje, hoje vamos ensaiar num lugar diferente.
Eu entro no transporte quando esse para rente ao meio-fio, mas não sem antes reparar em como seus olhos ficam três vezes maiores que o normal.
Os únicos assentos vazios que encontro são os do fundo do ônibus. Mesmo eu achando péssimo, é onde sentamos.
— Se eu perguntar a mesma coisa amanhã, você ainda vai aceitar? — Ajeito a mochila no meu colo e olho para ele. Ele também me olha.
— Experimenta — é minha resposta. E eu respondo rápido até demais.
Quando, na verdade, nem mesmo eu sei a resposta exata. Minha instabilidade me confunde também.
— Não brinca comigo, coração. Eu sou frágil. — Projeta o lábio de baixo para frente. — Não me iluda.
— Não estou brincando e nem iludindo você, garoto. — Abaixo o olhar para a bolsa sobre o colo dele e hesito, mas seguro a mão que pousa sobre ela. — Eu deixei claro que não sou bom em demonstração de sentimentos.
— Isso quer dizer que você sente algo por mim...? — Ergo o olhar para ele outra vez.
— Não sei. Talvez? — Jungkook aumenta o bico. — Que foi?
— São essas respostas sem certeza que acabam comigo — confessa, a voz arrastada de manha. Eu sopro um riso breve, envergonhado por me ver assim.
Fazendo manha.
— Desculpa, eu juro que me esforço — digo. Mordo o canto da boca de leve e hesito outra vez, mas no fim aproximo e deixo um beijo rápido na bochecha dele.
Eu me afasto no tempo de ver Jungkook arregalar um pouco mais os olhos. Então, leva a mão até o peito e finge um desmaio dramático ao pender a cabeça sobre o meu ombro.
— Besta... — resmungo, voltando o olhar para frente com a porra de um sorriso idiota na boca.
O silêncio que fica depois disso me faz, por um momento, pensar que desmaiou de verdade já que mantém a cabeça apoiada em meu ombro, contudo, ao me inclinar de leve e ver que seus olhos estão presos na paisagem para além da janela chego a conclusão que ele só quis continuar assim.
Junto.
🔮᭝
— Se, por acaso, a mulher que fica na recepção te reconhecer, o nome dela é Marina e ela foi sua professora há bastante tempo. Diz que você vai ensaiar pro festival da escola que ela vai liberar a sala. Faz tempo que eu não venho aqui. — Empurro a porta de vidro do estabelecimento.
Mesmo que eu não tenha revelado diretamente, o letreiro da escola de dança na fachada contou por mim.
— Você me mostrou o seu mundo — digo. — Agora é minha vez de mostrar o meu.
— Que honra... — Seu comentário vem junto de uma piscadela na minha direção.
Jungkook e eu aprendemos a lidar com as pessoas. Não que a gente não lidasse antes, só que cada um tinha um jeito. Eu virei ele e vice-versa, tivemos que mudar algumas coisas. Por exemplo: agora, no exato instante em que chegamos no balcão da recepção, Jungkook cumprimenta minha ex-professora como se a conhecesse há anos.
Viramos atores.
Para não dizer mentirosos.
A mulher não foi relutante ao dar a chave de uma das salas e ceder seu espaço para nosso ensaio. Eu costumava vir vez ou outra mesmo depois que decidir sair, ela sempre me deixa dançar.
Antes de ir para a sala, entretanto, trocamos a roupa por uma mais larga no banheiro. Chegando na última porta do corredor, não sinto ninguém atrás de mim. E quando olho para trás, Jungkook não está mesmo comigo.
— É bonito, não é? — indago ao me aproximar, fitando o que prende a atenção dele. Dentro de uma das salas, um garoto e uma garota flutuando pelo piso num sincronizado dueto.
Os passos do clássico O Lago dos Cisnes reproduzidos pelos dois com elegância, devem estar ensaiando há meses.
Talvez anos.
— É lindo — Jungkook diz, soa falho como se estivesse com dificuldade de respirar. Meu olhos segurem os movimentos e sinto um sentimento bom a cada novo movimento. Sinto saudade. A bailarina faz o fouetté numa sequência impressionante e muito bem executada. — Uou! Você sabe fazer isso?
Me afasto, desviando os olhos também. — Sei. — Meu rosto tenciona sem que eu faça esforço. — Bom... Eu sabia, pelo menos.
— Eu quero. — Eu preciso olhar para ele para tentar entender sobre o que está se referindo. — Que você dance para mim, eu quero.
Desvia os olhos do dueto e solta uma breve risadinha quando olha para mim.
— Mas quero isso quando você estiver no seu corpo. Eu quero te ver dançando.
Jungkook é aquela pessoa que a gente não deve esperar nada, porque tudo é capaz de sair da boca dele. Eu já tinha me acostumado com o jeito pra frente dele. Ou achei, ao menos. Porque eu esperava tudo, ele admitir que quer que eu dance para ele com certeza não estava na lista.
Primeiro que eu não tinha pretensão alguma de que, algum dia, ele soubesse que eu danço.
As circunstâncias mudaram, e com uma drasticidade transcendental.
Eu penso sobre dizer algo, sobre provocá-lo de volta, ou então se só devo ignorar o que disse. No fim, minha boca toma a decisão sozinha e dá vida a alguns pensamentos que flutuam na minha cabeça.
— Quem sabe quando isso voltar.
Arranca uma expressão de surpresa do garoto, me deixa ligeiramente satisfeito.
— Vem, a gente tem pouco tempo — digo, mudando de assunto, e vou em direção a porta que abri há pouco e enfim entrando na sala.
Jungkook demora um pouco, mas também entra. Ele não comenta nada, parece avoado, e eu deixo minhas coisas no canto antes de ir até a caixa de som.
— Eu pensei que seria uma experiência mais confortável a gente ensaiar aqui. É mais espaçoso que a sala de casa e não precisamos arredar as coisas. Além de que podemos nos ver dançando e saber onde precisamos melhorar.
— Eu não sei se quero me ver dançando, prefiro passar vergonha sem saber que estou passando vergonha.
— Você até que não dança tão mal — digo, ele estreita os olhos na minha direção. — Sério. Não vamos passar vergonha. Está bonito.
— E como você sabe?
— Não sou muito sensitivo, mas intuição, talvez. — Arqueia uma das sobrancelhas, eu me posiciono no meio da sala. — 'Bora alongar.
Alguns minutos de alongamento individual e conjunto, onde ajudamos um ao outro, repassamos os passos com calma e sem a música, eu julgando cada movimento pelo reflexo. Jungkook choraminga e tenta me amolecer com o drama, mas não me abalo. Eu sou controlador e perfeccionista quando o assunto é dança.
A culpa é da minha ex professora, ela pegava no meu pé. Mas eu gostava, sei que desenvolvi e evolui por causa dela.
Claro, não posso dizer que nossa performance não é nível Anna Pavlova, mas não está uma total catástrofe. Está belo, bom de assistir. O suficiente. Precisamos apenas ganhar sincronização em algumas partes, mas nada que a prática não resolva. Temos um mês até a apresentação, é tempo o bastante.
Temos ensaiado as duas partes, comigo fazendo a dele e ele fazendo a minha, por prevenção ao... Não sei, ao universo. A gente não sabe o que pode acontecer até o final do semestre.
— Vamos descansar um pouco, neném — Jungkook choraminga, se largando no chão.
— Ué, espírito sedentário, não faz nem dez minutos que começamos — digo, o tom sério mas que não passa de provocação. Faz quase duas horas e meia que estamos saltitando pelo salão, ele aguentou bem.
De qualquer forma, não estou tão diferente. O corpo atlético de Jungkook tem resistência para correr, não para executar passos acrobáticos que mexam com a flexibilidade de cada membro. Eu me sinto mais cansado dançando do que correndo com uma bola de mais de meio quilo na mão. Por isso não faço cerimônia e me deito ao lado do outro garoto, descansando um dos braços sobre o abdômen e cobrindo os olhos com o outro.
A tentativa de nos livrar da fadiga e do cansaço faz com que nada mais que a música preencha a sala por minutos.
— Viu? Estamos dançando bem — quebro o silêncio ao dizer.
— É, até que está legal. — Descubro os olhos e viro a cabeça para o lado, para Jungkook, e percebo que não fui o primeiro a virar.
— Que foi? — indago.
Ele não fala nada, só continua me encarando. É um olhar tão olhado que me deixa desconfortável. Com certeza por ser eu me olhando, mas talvez não apenas por causa disso.
— Ji— sussurra de um jeito que me faz engolir em seco, e, quase como um mecanismo de defesa, eu fecho os olhos quando ele apoia um dos cotovelos no chão e se aproxima demais de mim.
— O quê? — murmuro num tom semelhante ao dele.
Mais que nervoso, a aproximação repentina me deixa desnorteado. Sinto o ar morno da respiração alheia no meu queixo, temo abrir os olhos. Com eles fechados eu posso, ao menos, imaginar aquele garoto zoiudo e narigudo na minha frente.
Porque é ele que está quase me beijando agora, eu posso ver através das pálpebras dos meus olhos.
— Nem um selinho? — Eu parei de respirar em algum momento que não percebi, agora, com a boca dele praticamente relando na minha, é que eu desaprendi mesmo como preencher meus pulmões de oxigênio. — Você não pode imaginar que sou eu, loirinho? como estou imaginando você agora? Eu quero muito te beijar, você não faz ideia.
— Não dificulta, por favor — suplico, a curta frase fazendo a boca dele tocar a minha duas breve vezes.
— Você não quer? — E Jungkook parece estar prolongando a conversa só para que se toquem mais vezes.
— Quero pra caralho. — Eu não pensei, minha mão foi parar na nuca dele sozinha. — Mas-
— Mas? — Aperto os fios curtos dela, buscando mais. E eu acabo encontrando ao encaixar meu lábio inferior exatamente no meio dos dele. — Não faz isso, Jimin, é covardia. Sabe que todo o esforço que eu faço é por sua causa, mesmo que seja só a porra de um selinho...
Minha mão, ainda na nuca, o puxa contra mim. Pela primeira vez, tenho a boca inteira dele colada na minha; ignorando sim o fato de que a minha boca, na verdade, é a boca dele e vice-versa. Só por hora, só nesses poucos segundos, eu arquiteto uma cena. Nela, o Jungkook de verdade, aquele atleta charmoso, é quem me beija agora.
Eu sinto o discreto suspiro que Jungkook solta contra a minha boca, e estremeço quando, atrevido como sempre, ele abre um pouco mais ela. Eu não sou idiota, sei que sua intenção é aprofundar nosso inocente contato, e talvez eu devesse me impor. Impedir que isso aconteça.
Talvez não, com certeza devo.
Mas não faço. Na verdade, agilizo, contribuo separando meus lábios também. Um erro que não consigo medir no instante, porém que me é impedido de cometer quando minha atenção é chamada por batidas na porta.
E não, não é a minha mãe desta vez.
— O amor adolescente é lindo, juro que não queria atrapalhar — ela diz. — Mas já são sete da noite, preciso fechar a escola.
Eu poderia estar frustrado, só que é alívio pela minha professora ter aparecido que toma meu corpo agora.
— Claro! — exclamo mais alto do que posso controlar, empurrando Jungkook pelo peito e ficando de pé num salto.
O ar da sala está rarefeito. Meu corpo, hiperventilando.
— Desculpa por isso — ouço ele dizer para ela.
Não levo muito tempo para juntar as minhas coisas, desconectar meu celular da caixa de som e desligar ela. Enquanto isso, escuto a mulher mais velha dizer a Jungkook que podemos continuar vindo e ensaiando na escola até o dia da nossa apresentação, porém apenas se a convidássemos. Paro de mordiscar o lábio inferior para sorrir quando ela olha para mim.
🔮᭝
Estalei tantas vezes meus dedos durante o caminho de volta que sinto as juntas doloridas.
— Ji...
Já estamos na frente de casa quando Jungkook chama minha atenção. Essa é a primeira palavra dita desde que saímos da escola de dança.
— Hm? — O olho por cima do ombro por breves segundos, levando a mão até a maçaneta no seguinte. Entretanto, olhá-lo não é o suficiente. Jungkook segura meu antebraço e me impede de entrar em casa.
— Não fica estranho, foi só um selinho.
— Não estou estranho — garanto.
— Tá sim. — Suspiro, encarando a madeira escura. — Você não me olhou direito depois. É sério, coração... Não foi nada demais, não precisa ficar assim. A gente pode, sei lá, só esquecer isso.
— Está tudo bem. É sério. — Para soar convincente, o fito diretamente. A maneira como estreita os olhos na minha direção é como se estivesse me julgando. — Vem, vamos entrar. Tô com fome.
Eu entro na frente, mas ele não demora a vir. Pode soar irônico, talvez até com um quê de hipocrisia da minha parte, e eu concordo, porém a verdade é que eu me senti incomodado quando ele disse que não tinha sido nada demais. Que a gente poderia esquecer. Que havia sido só um selinho. Porque havia mesmo sido apenas isso.
É algo que foge do meu controle, de qualquer forma. São circunstâncias das quais não estou mais apenas lidando com as minhas vontades. Eu poderia dizer que não foi, que a gente não precisa esquecer e que eu quero mais, só que, porra, ele ainda é eu. E eu ainda sou ele.
Então sim, a gente precisa esquecer.
pelo menos por enquanto.
O horário que chegamos em casa é atípico, tanto que meu pai já está em casa. Jungkook e eu falamos cumprimentamos meus pais e colocamos nossas roupas suadas para lavar antes de subir para o banho. No quarto, Jungkook não parece mais aquele garoto de atitude de mais cedo.
— Vamos tomar banho juntos ainda, não vamos? — O tom manhoso dele seguido de um bico enorme me fez rir. É quase como se fossem duas pessoas diferentes.
— Já disse que tá tudo bem. — Deixo minha mochila em cima da cama. — Não foi nada demais, como você mesmo disse.
— Eu não queria ter dito isso.
Respiro fundo, coçando a testa
— Mas disse. — Paro na porta do banheiro. — Você vem?
Apesar do suspiro longo, vem na minha direção.
— Eu posso lavar o seu cabelo?
— Pode, Jeon.
Jungkook gosta muito de abraços, em algum momento, enquanto ensaboa meu cabelo, sinto seus braços rodearem meu pescoço. Sou pego de surpresa por estar de olhos fechados por conta da espuma, mas devolvo o abraço.
— Você ainda quer sair num encontro comigo? — pergunta tão baixo quanto um sussurro, rente a minha orelha.
— Estamos gastando água — é a minha resposta.
Aperta mais ps braços e beija meu pescoço.
— Só por alguns minutos, não é nada demais — argumenta, não fazendo menção alguma de me soltar. Eu fecho os olhos e tentei não me afogar com a água que cai sobre nós.
— O que as pessoas fazem em encontros? — indago.
— Não sei, nunca fui num.
A resposta dele me faz rir.
De repente a água para de cair, sei que é ele porque, diferente de mim, está de frente para o registro.
— De que jeito você imagina um encontro? — pergunto e me surpreendo comigo mesmo. De uns anos para cá, não sou um cara de iniciativas. Não mais. Muito pelo contrário, eu costumo evitar e até mesmo cortar iniciativas.
A resposta de Jungkook demora um pouco para vir.
— Não sei. Talvez... — Acaricia minha nuca. — Talvez ficar de preguiça no sofá. Assistindo alguma coisa agarradinho.
É manhoso, sinto que Jungkook pode derreter a qualquer momento.
— Não acho que isso seja um encontro — digo. Sinto que está mais para duas pessoas que já são um casal. Mas não digo isso, guardo para mim.
— Mas é assim que eu imagino.
— Ok. — Abro os olhos, o box de vidro está embaçado por conta da temperatura da água. — Nós podemos assistir filme no sofá.
— Mesmo? — Afrouxa os braços do meu pescoço e me olha no rosto. Minha resposta é apenas assentir com a cabeça. — Agarradinhos?
Penso. Para eu me submeter a tal situação, preciso me beneficiar de alguma forma também.
— Só se o filme for Meninas Malvadas. — É a minha condição, e o faz rir. — O quê? Estou falando sério.
— Você gosta de Meninas Malvadas?
— É o melhor filme de todos os tempos. — A cara que faz me dá a entender que está se esforçando para prender uma risada, um sorriso. — Se você disser que nunca assistiu, Jungkook, você vai arranjar problema comigo.
— Eu só não... me recordo... do filme — com certeza é uma mentira.
— Você vai dormir no sofá hoje.
— Não tenho culpa!
— Minha mãe vai te expulsar de casa se descobrir. — Tiro seus braços do meu ombro, abrindo a porta de vidro do box. — Estou desapontado com você, Jungkook.
Quando saio do banheiro, ouço seu drama em forma de choramingado. Eu me seguro para não gargalhar.
— Coração... — Aparece no quarto segundo depois, segurando a toalha na altura da cintura e resmungando. — É exatamente por isso que você e eu vamos assistir agarradinhos.
— Hmm, não sei se quero mais... — Óbvio que estou fazendo graça.
É divertido.
— Querubim! Vamos conversar direito, vem cá! — Me impede de chegar no guarda-roupa ao agarrar minha cintura. — Podemos fazer osso encontro no sofá da sua sala mesmo, só a gente.
Apoia o queixo no meu ombro, ele agarrado a mim como se fosse um filhote de coala.
— Ou na sua cama? — sugere. — Assim temos mais... privacidade.
Consigo chegar no guarda-roupa mesmo com ele abraçado a mim, me sentindo ligeiramente nervoso com o que possa significar privacidade.
— Privacidade pra quê?
— Para assistir o filme, ué... para o que mais seria?
— Para mais nada, ué — me apresso em dizer, abrindo a gaveta de cuecas.
Jungkook sopra um arsinho morno pelo nariz e cola a boca no meu pescoço, deixando um beijo demorado nele.
— A menos, é claro, que você queira algo a mais.
Engulo em seco e, antes mesmo de pensar, afasto com gentileza as mãos dele do meu tronco. Ele me solta sem esforço e eu posso enfim respirar direito.
— Já disse pra parar de dificultar as coisas — resmungo, vestindo a peça intimida após me livrar da toalha.
Ouço, no segundo seguinte, seu suspiro profundo, exausto, ecoar pelo quarto.
— Qual é, Jimin... Eu realmente não te entendo. — O tom mudou de um divertido para irritado numa velocidade impressionante. — Porra, você pega dois caras num mesmo dia! Eu consegui um selinho depois de anos. É tão difícil assim? Eu realmente não consigo te entender.
Passo a língua entre os lábios e torço o pescoço, estalando-o antes de me virar de frente e o encarar.
— Você é sonso? — pergunto e ele arqueia uma das sobrancelhas, os braços cruzados na altura do peito. Me ver me incomoda, me deixa irritado, talvez seja isso que tenha deixado meu tom mais hostil. — Eu disse há meses que tinha medo de me relacionar com pessoas. Não escutou?
O sorriso irônico que ele dá com a minha pergunta me deixa ainda mais irritado.
— É. Os dois caras que você pegou naquela maldita festa também sabem disso. E aparentemente o Jaehyun também.
Jungkook também me irrita. Pra caralho.
— Foi só beijo, inferno. Você me irrita.
— Por que me trata assim?
— Jungkook. — Esfrego as duas mãos no rosto, respirando fundo. — Você não entendeu ainda. Eu–
— Realmente. Eu não entendo. Você é–
— Quieto, eu tô falando — o interrompo. — Pela enésima vez, cacete, eu não tenho nada com aqueles caras. Nem com os caras que eu fiquei antes deles. Meu problema é quando eu sinto algo por alguém e, caralho, a última vez que eu senti o que sinto por você, que eu desejei o que desejo com você, machucou. Eu tentei desenhar para não ter que falar, mas não foi o suficiente, não é? Mas, por favor, me diz que agora você entende...
Ele não diz nada.
Meu corpo treme, mas não é de raiva. Eu queria que fosse raiva, sei a agitação que sinto não vai me levar a um lugar interessante. Ao invés de calar a boca, entretanto, minha língua desembola. Ela só joga tudo pra fora, tudo que eu não queria dizer em voz alta.
— Você me destroça inteiro quando é fofo e legal comigo. Ou quando me abraça ou chega muito perto. Ou quando pede beijos pra mim. Caralho... Eu ainda não aprendi a lidar com todas essas coisas, tá? Meu ex... — Minha voz falha. Tento respirar, mas pouco ar vem. — Ele foi embora e me deixou aqui, com a porra de um buraco enorme no peito que só serve para me fazer lembrar do medo de me aproximar de pessoas das quais eu sinto algo. — Engulo o bolo na garganta, mas não desce. Minhas vistas estão embaçadas agora, não consigo ver mais nada do jeito que é. — P-por favor... não fala mais isso, tá? Que eu odeio você. Eu não digo sério quando falo que te odeio.
Eu não lembro de ter decidido sair do quarto, mas a força com que bato a porta ao passar por ela me faz ter noção que não estou mais na frente do Jungkook. O som que ouço é abafado, oco, como se estivesse longe de mim. O final do corredor me parece mais longo, não consigo chegar até a escada sem me escorar na parede.
Pouco antes de chegar na escada, desisto de lutar contra a moleza que sinto nas pernas. A parede branca do corredor está gelada, sinto quando minha testa encosta nela. Fecho os olhos, a secura na boca é o que menos me incomoda.
— Calma... — digo para mim mesmo.
Eu não consigo respirar, mesmo que eu tente puxar mais ar. É gradativo, lento, vou perdendo o fôlego devagar. Não tenho controle ainda. Eu já passei por isso tantas vezes e até hoje não sei como resolver. Eu só espero, buscando uma calmaria que, no fundo, sei que vai demorar a vir.
E eu fico ali, curtindo a claustrofobia que parece gostar muito da minha companhia.
Se alguém estivesse tampando meu nariz e minha boca, enquanto pressiona meu pescoço com toda a força que existe, talvez fosse menos aterrorizante.
Faz um tempo que eu não tinha ataques de pânico, anos provavelmente. Eu lembrava que era ruim, só não estava preparado para voltar a viver isso algum dia da minha vida.
Talvez eu nunca esteja.
— Ah, cacete... — solto falho, sentando no chão ao que perco a força nas pernas.
Elas formigam. Meu peito doi. Meu coração lateja sem intervalo. Só não consigo escutá-lo bater porque estou concentrado em tentar respirar, mas talvez eu devesse tentar prestar atenção apenas nele.
— Psiu, tá tudo bem! — Mãos seguram as laterais do meu rosto. — Abre os olhos, olha aqui pra mim — pede, a voz calminha, e eu me forço a abri-los. Nada do meu corpo parece querer me obedecer, é como se pertencesse a outra pessoa; nem mesmo a Jungkook. — Está tudo bem. — Ele sorri quando consigo olhá-lo..
— P-pai... — Agarro a camisa alheia na altura do peito. Ele está agachado, quase sentado nas minhas pernas.
— Shhh... Tudo bem, cabeção. Lembra de como a gente fazia quando você era pequeno? — Abro a boca e puxo o ar com força, não vindo a quantidade necessária para que a falta de ar fosse embora. Me faz fechar os olhos em desespero. — Não, não fecha os olhos. Fica olhando pra mim.
Aperto mais sua camisa e a puxo sem força, voltando os olhos para ele.
Sei que está tão apavorado quanto eu, mas os traços que vejo são calmos, relaxados. Me trazem um certo conforto.
— Você não lembra mesmo? — pergunta. — A gente contava até dez juntos. E aí você respirava bem fundo. Mas você só pode prestar atenção em mim, está bem? Não pense em coisas ruins.
Eu tô com medo, quero dizer isso para ele.
Ele sabe que estou, não preciso dizer.
— Um. — Ele começa quando vê que eu não consigo falar. — Dois. — Eu tento focar a atenção nos olhos à minha frente. — Três. Vamos, amor, conta comigo. — Engulo o bolo da garganta e sinto uma das mãos dele sair do meu rosto e tocar meu peito, massageando em círculos bem em cima do meu coração agitado.
— Quatro — sai baixo e falho, quase inaudível, mas digo.
— Isso. Continua. — Sorri todo orgulhoso, aumentando a pressão com que fazia os círculos no meu peito.
— Cinco.
Fecho os olhos.
— S-seis.
Eu lembro de uma vez que cheguei em casa depois da escola e minha mãe estava dentro de um caiaque no meio da sala. Ela segurava um remo e dizia que estava treinando para quando fosse para a água. Disse que aquele era o hobby dela
Foi engraçado, eu ri pelo resto da tarde.
— Sete.
Antes dele morrer, eu adorava demonstrar afeto. Eu gostava de abraçar as pessoas que eu amava, de beijá-las e dizer o quanto eram importantes para mim. Do quanto as amava. Assim como gostava de receber carinho de quem me amava.
Eu me sentia bem com isso.
— Oito.
Eu conheci Jungkook no fundamental e acho que sempre tive uma admiração pelo sorriso dele, eu só nunca admiti. Talvez nem mesmo para mim.
Mas sim, é lindo o sorriso dele.
— Nove.
Meus olhos se abrem quando meu pai beija minha testa, sua mão ainda acaricia meu coração. Não consigo ver muito mais que o pescoço alheio, mas me sinto acolhido. Com ele tão perto de mim, sei que estou seguro.
Eu amo meu pai tanto quanto amo minha mãe, os dois são tudo de importante que tenho nesse mundo.
— Dez.
Aperto o tecido fino da camisa com as duas mãos e puxo mais ar ao abrir a boca. Diferente das outras vezes, desta consigo sentir uma quantidade maior de oxigênio passar pela minha faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos até enfim chegar nos meus pulmões. É um processo lento, continuo contando mesmo depois do dez. Puxando ar a cada novo número, a cada nova memória feliz. Aos poucos, consigo findar a sensação horrível de sufoco.
Meu coração continua acelerado, minhas pernas ainda formigam. Minha boca está seca e a cabeça ainda doi. Também me sinto enjoado. E tonto. Mas eu consigo respirar melhor.
A presença do meu pai, tão perto e me envolvendo de zelo, me faz sentir melhor a cada segundo.
— Você fez um ótimo trabalho — ele sussurra contra a minha testa, sinto alívio no tom de voz. Quando tira a mão do meu peito, se afasta um pouco para conseguir me olhar no rosto. — Não precisa ter medo, está bem?
Apesar de hoje meu pai ser motorista de ônibus, ele é formado em enfermagem há alguns anos. Gosta e leva jeito para cuidar das pessoas, não tem como não se sentir seguro com ele por perto. Infelizmente, isso não é o suficiente para conseguir um emprego na sua área de formação.
Fecho os olhos e balanço a cabeça, soltando a camisa apenas para apertar o tronco alheio num abraço forte, não pretendendo sair de perto dele pelas próximas horas. E ele sabe, não tenta me afastar. Ele levanta do chão e, com um esforço sonoro engraçado, me pega no colo. Jungkook não é pequeno, tampouco leva, mas meu pai desce a escada comigo agarrado ao pescoço dele.
Eu me sinto mole e zonzo, desnorteado.
— Faz tempo que você não tem isso, não é? Ou teve e não falou? — pergunta quando me colocou no sofá. Nego devagar, pigarreando na tentativa de limpar a garganta para conseguir falar.
— Não tive, aquela foi a primeira. — Afundo junto ao encosto. — É horrível, pai.
— Sei que é. — Ele pede um copo d'água para a minha mãe antes de abaixar na minha frente. — O que aconteceu?
Suspiro e fecho os olhos. No fim, não respondendo. Ele sabe que acontece quando sinto medo, eu só não sei se quero falar sobre ainda.
É simples Jungkook acreditar que eu o odeio e que, pelo fato de só o magoar ao invés do contrário, ir embora. Não há motivo para ele continuar se machucando ao meu lado se pode ficar bem em qualquer outro lugar longe de mim.
Isso me amedronta.
Mas não posso dizer, foi o motivo pelo qual eu surtei, por isso não respondo meu pai.
— Você quer ir ao médico? — fez outra pergunta, mas desta eu respondo negando com a cabeça. — Então fala comigo.
Franzo o cenho, o coração voltando a ficar acelerado quando ameaço abrir a boca para falar.
— Aqui — minha mãe diz, abro os olhos no instante em que estende o copo de água.
Ela, diferente do meu pai, é apavorada. Ela não sabe o que fazer e nem lidar quando as coisas começam a ficar tensas. Neste momento, minha mãe sabe que algo aconteceu e, mesmo não fazendo ideia do que, dá para ver nos traços do rosto que já está apavorada.
Eu a olho antes de pegar o copo, ela sorri fraquinho. Minhas mãos ainda tremem e nunca achei que levar um copo até a boca seria uma tarefa tão complicada.
— Ele teve uma crise. De pânico — meu pai conta e eu vejo quando seus olhos sai da minha mãe para além de mim.
— Foi por minha causa. — Eu não vejo Jungkook, apenas ouço minha voz vir de trás de mim. Não o vejo, ele deve ter descido há pouco.
Ou já está há tempo.
Olhando nos olhos do meu pai, eu nego com a cabeça na tentativa de negar o que o garoto disse. Não foi culpa do Jungkook.
— A gente estava... discutindo e... — Nego de novo, apertando o copo nas mãos.— E aí...
— Tudo bem, não foi você — minha mãe diz a Jungkook, sumindo do meu campo de visão.
— Você quer ver a Milena? — meu pai volta a pergunta para mim
— Ah, pai... — Choramingo. — É mesmo necessário?
— Não sei, é você quem tem que me dizer.
Milena é minha psicóloga. Ela me acompanha desde os meus doze anos, que foi quando eu me aceitei. Perdi alguns meus amigos depois que me assumi e as piadinhas na escola me deixavam mal. Eu estava surtando na época e meus pais acharam que conversar com alguém que não fosse eles seria uma alternativa interessante.
E foi, de fato. Eu aprendi a lidar com os pesadelos que me atormentavam, o pânico e a ansiedade eram alguns deles. Eu gosto dela, mesmo indo apenas uma vez ao mês. Quando Minhyuk foi embora, as coisas começaram a foder para o meu lado e eu passei a vê-la com um intervalo menor, de uma semana.
Eu parei de ir no começo do ano, quando me auto-intitulei "bem".
Talvez eu não esteja tão bem assim.
— Eu não sei — murmuro. — Ela vai surtar quando me ver assim. — Eu, literalmente, sou o Jungkook. Ir até Milena significaria contar a ela que estou no corpo de outra pessoa, e isso não é uma coisa que acontece todos os dias.
Ela me daria o diagnóstico de esquizofrenia.
— No momento, isso não importa.
— Está tudo bem. Estou melhor — garanto.
Não era essa a resposta que ele queria, parece decepcionado.
— Eu não posso forçar você a fazer as coisas, Jimin. Você precisa falar quando não estiver bem. Eu vou confiar em você. — Assinto com a cabeça, bebendo. — Se isso acontecer de novo–
— Eu falo — garanto. — Não se preocupe, eu falo. Prometo.
Pedir para eles não se preocuparem é até mesmo idiota, mas não tinha nada melhor para dizer.
— Tá bom. — Ergue-se do chão. — Toma a água.
Bebo o restante da água com calma, olhando para o fundo do copo. Continuo sentado mesmo depois que termino, meu pai fica comigo. Pergunta sobre a escola, o ensaio e o treino. Pergunta se estou me sentindo sobrecarregado, se é o motivo do meu pânico.
— Também — digo, baixo mas o suficiente para que ele ouça. Em seguida, viro a cabeça para trás e olho por cima do encosto do sofá.
Minha mãe está na cozinha, assim como Jungkook. A expressão de ambos denuncia que estão tendo uma conversa séria. Apesar de não conseguir escutar, sei sobre o que deve ser. Eles olham para mim ao mesmo tempo, me faz crer que eu sou o assunto.
Minha mãe lançou um sorriso pequeno em minha direção e, no segundo seguinte, Jungkook também. Com um suspiro baixo, levanto um lado da boca num sorriso ladino sem jeito.
Quando volto a olhar para frente, vejo que meu pai fita os dois na cozinha. Ele me olha e eu mordisco o lábio inferior, a maneira como passa o braço sobre o meu ombro e me puxa para mais perto diz por si só que agora entende o motivo.
No jantar, uns minutos depois, meus pais tentam deixar o clima menos desagradável. E conseguem, eles são bons nisso.
São maluquinhos, é impossível não rir com as viagens deles.
E no meio do jantar, num relato do meu pai sobre uma viagem para fora do país que fizeram antes mesmo do meu nascimento, sinto a mão do Jungkook tocar a minha embaixo da mesa. Eu disfarço que engulo em seco e olho sorrateiramente para ele. O garoto ao meu lado sorri enquanto presta atenção no que minha mãe diz. Ao descer o olhar para sua mão direita sobre a minha esquerda, ambas estão entre minhas pernas.
Volto a olhar para os meus pais e levo um pouco mais de comida até a boca, virando a palma para cima e serpenteando meus dedos entre os deles, entrelaçando não só nossas mãos, mas nossos braços também.
Pelo canto dos olhos, vejo um sorriso pequeno aparecer no rosto dele.
— Mãe... — a chamo baixo. — Se eu te contar uma coisa, você cai pra trás.
Agora, toda a atenção da mesa está em mim. Não é um problema, gosto do carinho nos olhos deles.
— Acredita que o Jungkook nunca assistiu Meninas Malvadas? — digo e rio ao que ela arqueia uma das sobrancelhas na direção do garoto.
— Você está encrencado — meu pai comenta num tom falso de lamento.
— Ah, mas... Fofoqueiro — Aperta minha mão.
— Já arrumou suas coisas? — a pergunta da minha mãe me faz gargalhar, quase me engasgo com a comida.
— Jimin disse que vamos assistir juntos, então não é mais um problema.
— Ele vai dormir no sofá — falo.
— Você não teria coragem. — Arqueio a sobrancelha, olhando-o de soslaio. — Pior que tem sim, esquece.
A maneira como diz, tendo certeza da minha maldade, arranca risadas de todo mundo; inclusive dele próprio. Ao final, o jantar ficou com um clima estranho ou ruim.
★ི꙰͝★
E aí, anjos! Como vocês estão?
Pra variar, Jikook brigaram
E não vou mentir, essas brigas vão continuar até que os dois entendam como cada um se sente. Só vai resolver quando eles aprenderem a conversar
Jimin está numa situação bem complicada, tanto quanto o Jungkook. A confiança tem que acontecer para que as coisas comecem a dar certo entre eles
E vocês acharam que era o Kookie que iria ajudar o Jimin, né? Kakaka
O pai do Jimin vai aparecer mais vezes, assim como a mãe dele. Quero mostrar a relação dos três e do JK com eles também.
E não posso deixar de destacar que Jikook jantando de mãos dadas 🤧😔✊
Enfim, é isso por hoje
SPOILER: no próximo capítulo o JK vai levar o Ji num lugar que é importante, ele vai se abrir um pouco para o loirinho dele. Aguardem.
Se amem. Se cuidam. Se hidratem. Se protejam 💜
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