Arrependimento
Ella Johnson
Cruzo os braços ficando na frente da janela e respiro fundo percebendo que não tem nenhum jeito de abrir a bosta da janela em nenhum canto.
Ela parece ter sido feita para ficar sem tranca, como se aquilo lá fora fosse apenas um quadro de árvores que ficava de dia e de noite.
Dou alguns passos para trás e sento na cama, meu vestido azul sobe e eu mordo a bochecha começando a enjoar tanto daquela cor...
A porta abre e Mason entra com uma bandeja, ele coloca em cima da mesa redonda e sai sem dizer uma palavra para mim.
Olho para o meu almoço, para o suco e para a caixinha vermelha de veludo, levanto rapidamente e abro aquela caixa vendo brincos de diamante.
-Filho da puta.- fecho a caixa.
Jogo ela em cima da cama e sento na poltrona, pego o garfo e começo a comer um pouco de comida sem realmente ter vontade de comer.
Penso em Chris, no que ele está fazendo agora, pelas minhas contas fazia apenas três dias que eu estava aqui, não parecia muito, mas...
Eu não menti para G, não menti quando falei que amava Chris, não menti quando falei que estava apaixonada por ele. Queria ter dito antes...
Estava com medo e assustada, não sabia o que fazer e muito menos como escapar desse casamento maluco que meu pai tinha arranjado.
Assim que penso no casamento, olho para o anel, observo a pedra azul cintilante e afundo ainda mais na poltrona, odiava isso, odiava ter ele como pai.
Desejava que ele nunca tivesse me visto naquele aeroporto, queria que ele nunca tivesse me reconhecido e vindo atrás de mim.
A porta abre e logo G aparece.
-Está desanimada, querida?- ele fecha a porta atrás de si.
-Desanimada é pouco.- murmuro quando ele senta.
-Por isso não está comendo?- ele olha para o prato quase cheio.- Talvez devesse mesmo.
-Como?- levanto as sobrancelhas.
-Para emagrecer.- ele me observa.- Não gosto de muita pele...você tem coxas grossas e...
Me desligo completamente, olho para o lado e fico observando a janela enquanto faço sons com a boca para fingir que estou ouvindo.
Não sei onde estávamos, mas parecia um canto bem isolado, podíamos estar mais no norte dos Estados Unidos, já tinha ouvido falar que tinha muito mais natureza.
Logo sinto uma sombra me cobrir e G segura meu queixo com força, o encaro e gemo de dor quando ele aperta minha mandíbula em sua mão.
-Prestar atenção.- ele sussurra.- Outra coisa que precisa fazer.
-Desculpa.- sai de repente.- Tem razão. Vou prestar atenção.
-Boa garota.- ele se afasta.- Onde está os brincos que dei? Quero que use.
-Eu....- olho para a cama.
G suspira e pega a caixinha, então coloca nas minhas mãos e me observa, respiro fundo enquanto abro e começo a colocar os brincos.
-Você vai aprender. Com o tempo.- ele sorri acariciando meus cabelos.
-Vamos ficar aqui para sempre?- falo enquanto ele desce a mão até meu queixo.
-A casa é ótima. É grande e espaçosa. Dá para criar filhos aqui.- ele fala e eu evito tremer.
-Filhos.- repito pensando.- E a escola?
-Quando achar que você está pronta e que eles tem idade, mudaremos para uma cidade perto.- ele sorri.- Viu? Já está pensando no futuro.
-Claro.- mordo o lábio.
-Você vai se acostumar.- ele se aproxima.
-Eu quero ir para a biblioteca.- me levanto passando por ele.
☘︎
Chris Reed
Saio do carro e vou até o balcão ao ar livre, o vento passa por mim e balança os cabelos bagunçados do cara do balcão, John vem ao meu lado.
Não tenho tempos para brincadeiras. Puxo a arma e aponto para ele o segurando pelo colarinho e o colocando contra o balcão.
-Um jatinho partiu daqui. Foi pago em dinheiro.- murmuro.- Para onde foi.
-Eu....não...eu não...
-Está vendo a arma?- mostro para ele.- Uma bala vai sair dela e vai direto na sua cabeça. Ou pior, eu posso levar você e fazer você confessar.
-Ele disse que ia me matar se eu contasse...
-E eu vou se não me contar.- bato a cabeça dele contra o balcão.- Então. Prefere agora ou depois?
-Eles foram para Winsconsi!- fala rapidamente.
-Viu, não foi tão difícil.- solto ele e guardo a arma.
Começo a voltar para o carro, John corre atrás de mim por eu estar andando rápido demais, porém não posso perder tempo com besteira.
Entro no carro e fecho a porta, começo a ligar quando John segura meu pulso me impedindo de tocar a direção.
-Chris...
-Não fale nada...
-Você não dorme há dois dias.- ele fala calmo.- Talvez você precise descansar.
-Eu não posso.- o encaro.- Preciso achar Ella. Não posso deixar ela. Eu prometi que ia proteger ela.
-Ótimo, vai ser melhor se for descansado.- ele balança a cabeça.- Durma um pouco. Nem que seja uma hora. Volte para casa...
-Eu não posso, tenho que falar com o piloto...
-Eu falo, deixo tudo pronto para daqui há duas horas.- ele olha no relógio.- Só descanse, Chris.
-Eu não vou descansar até ter Ella sã e salva.- começo a dirigir.
-Acha uma boa ideia? Ir direto para o Winsconsi sem nenhum reforço?- ele fala pegando o celular.
-Quem disse que eu vou sem reforço?- pergunto.- Roger vai me ajudar.
-Mas você vai descansar?- ele pergunta.- Precisa disso...
-Eu não posso!- viro uma esquina.
Ele bufa com raiva enviando uma mensagem para alguém, passo a mão pelos cabelos, preciso voltar para casa apenas para arrumar a mala.
Acelero o carro para chegar mais rápido e já estaciono, percebo a última pessoa que queria ver agora. Na verdade, não queria ver muitas pessoas além de Ella agora.
-O que você fez com ela?- Daphne pergunta.
-Não tenho tempo.- começo a ir até a porta.
-Ela não me atende, não me responde...o que você fez com ela, seu doente?- ela grita com raiva.
-Ela também não me atende e nem me responde!- grito com raiva também.- Agora vá embora!
-Sabia que ela ia se dar mal com você...
-E eu sabia que você era uma amiga horrível!- abro a porta.- Você só colocou merda na cabeça dela! Só falava de como ela era uma puta!
-Ela é! Dormiu com você! Um homem casado!- ela começa a avançar e dois homens a seguram.- É tudo culpa sua.
Ignoro essa frase e entro, começo a subir as escadas e ouço alguém me chamando da cozinha, estou aflito demais para perceber quem é.
Então desço as escadas rapidamente e entro na cozinha vendo minha mãe, fico surpreso quando ela me dá um sorriso fraco e então termina de encher o copo com água.
-John me contou e decidi vir mais cedo.- ela suspira.- Você parece exausto.
-Vou ficar melhor quando achá-la.- informo ansioso demais.
-Claro.- ela assente e me oferece o copo d'água.- Água com açúcar, para acalmar antes de ir embora.
A observo e aceito o copo, bebo um pouco e percebo que não bebia ou comia nada há horas, depois eu resolvo isso, agora tenho que....
-O que tem nisso?- pergunto me sentindo tonto e burro.
-Um remédio para dormir.- ela sorri.- Precisa estar descansado, e só depois, ir atrás de Ella. Pode acabar ferido.
-Mãe...você não fez isso...
-Fiz.- ela sinaliza.- John vai levar você.
Ele me puxa, me carrega sem esforços até o meu quarto e me deita na cama, meus olhos vão ficando pesados e o sentimento de culpa vai aumentando.
O cheiro de Ella entra em minhas narinas, percebi que é por causa de eu estar deitado no travesseiro dela, fecho meus olhos e apenas sinto seu cheiro.
Aqueles desgraçados vão ver. Vão implorar para eu não matá-los. Vão pedir para nunca terem sequer me conhecido. Para nunca terem mexido comigo e com Ella.
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