Tive que aguentar risadinhas e cochichos de Haru e Nick, pelo resto do dia.

Eu deveria bater no Gabo, isso sim.

Tudo isso porque não o desmenti quando se apresentou como meu namorado, marcador de território nato.

Eu ainda não entendo ele, para quem me odeia gosta muito de ficar próximo de mim.

Será que o mesmo é sadomasoquista?

- O jantar foi uma delícia. - Escuto Nick dizer depois que terminamos de comer, no mesmo restaurante que almoçamos, mas dessa vez apenas nós quatro.

- Vou dormir satisfeita. - Haru completou, recebendo uma confirmação do namorado.

- Então podemos voltar ao hotel? Quero acordar cedo amanhã para ver meu avô antes de irmos ao sítio, vocês vão comigo ver ele? - Pergunto querendo muito que eles vá.

- Você acha mesmo que vamos perder a chance de te fazer vergonha na frente do seu avô? - Nick perguntou me fazendo revirar os olhos enquanto ele e Haru riem de sua fala.

Gabo se mantém estranhamente calado, parecendo pensativo com algo.

Nós saímos do restaurante depois de pagar, o casal do ano vai na frente rindo alto se eu não tivesse com eles diriam que estão bêbados, enquanto isso eu e o Gabo vamos mais atrás em silêncio.

- Por que não me apresentou como seu amigo a sua mãe? - Gabriel pergunta quebrando o silêncio entre nós.

- Pensei que você não iria gostar de ser chamado de meu amigo, Gabriel. - Falei dando ombros. - Aliás, não é você que me odeia?

- Você também ia fazer a mesma coisa com aquele garoto se eu não tivesse intervindo. - Ele constata ignorando a minha pergunta.

- Iria sim, mas você veio com essa história de namorado. - Digo exasperada.

Paz desconheço.

- Então por que você não me desmentiu?

- Você queria ser desmentido na frente dele? Não fiz isso porque não queria te constranger na frente de um desconhecido. - Respiro fundo para não falar alto, pois ainda estamos no meio da rua. - Eu falei com a mamãe sobre o nosso namoro falso. - Conto a ele.

- E o que ela disse? - Ele parece curioso.

- Nada, só ficou rindo, a minha mãe tem o humor quebrado, acho que se for algo que não vá me afetar tanto ela não vai se importar muito. - Digo vendo ele assentir.

Logo chegamos ao nosso destino, e antes de nos separamos, no caso eu e o Gabo, já que eu e Haru vamos dormir no mesmo quarto, o moreno segura meu pulso me impedindo momentaneamente de seguir a minha amiga.

- O que foi? - Pergunto quando me viro para olhá-lo.

- Eu não... - Ele parece engasgar com as próprias palavras. - Lola, eu...

- Gabo, vamos! Eu tô morto de cansaço e quero jogar uma partida daquele jogo contigo, antes de dormir. - Nick chama o mais alto que faz um gesto para que ele espere.

- Boa noite, Lola. - Tento perguntar o que ele estava tentando dizer antes do outro ter o interrompido, mas logo o mesmo sumiu pelo corredor junto ao nosso amigo.

🌻🌻🌻

Depois de tomar um banho, vestir um pijama e está devidamente deitada, em uma das camas de solteiro do quarto, Haru põe uma música razoavelmente baixa e se senta de pernas cruzadas olhando na direção que estou com um sorrisinho sugestivos no seu rosto arredondado.

- Pode ir falando o que essa sua cabecinha aí está pensando. - Digo vendo ela rir ao ponto dos olhos formarem dois riscos.

- Hoje o dia foi tão esquisito, né? - Ela parece pensar nele.

- Esquisito como? - Pergunto.

- O Gabo parecia um carrapato do seu lado, além de ter uma crise de ciúmes se apresentando como seu namorado para aquele garoto bonitinho. - É sério o que estou escutando?

- O Gabriel não estava com ciúmes de mim, pode ir parando com essas história. - Digo contrariada.

- Se aquilo não era ciúmes, então eu não sou coreana. - Ela tenta argumentar.

- Eu sempre achei que você tem cara de japonesa mesmo. - Haru abriu a boca com a minha fala jogando uma almofada em mim.

Onde já se viu pensar que o Gabo tem ciúmes de mim, só sendo muito cego para não ver que ele me odeia. Aliás, por que esse pensamento está me abalando? Eu deveria já ter entendido que o mesmo não gosta de mim, não é?

- Mas é sério, Lola! Até o Nick que é meio tapado já percebeu. - Me controlo para não chamá-los de malucos.

Completamente malucos.

- Vamos dormir, Haru, e vê se tira essas abobrinhas da sua cabeça. - A minha melhor amiga bufa irritada por eu não aceitar, ou melhor, acreditar no que ela está dizendo.

🌻🌻🌻

Pela manhã nós vamos para o hospital depois que tomamos um café reforçado.

- Para que essa sexta? - Pergunto ao Gabo que levava a mesma para o carro.

- Vamos fazer um piquenique, ideia do Nicolau se você quer saber. - Ele responde dando de ombros como se fosse nada.

A anos não faço um piquenique, o último que fiz minha vó estava viva ela junto ao vovô e a mamãe foram comigo até um campina próxima de casa, lá passamos a tarde juntos, rindo e conversando.

Sinto tanta falta daquele dia.

- Adorei a ideia. - Digo animada.

Chegamos ao hospital e mesmo depois de um pouco de relutância da equipe do mesmo conseguimos os quatro entrar no quarto onde o meu avô ocupa.

- Vovô, esse são os meus amigos, Haru, Nick e Gabo. - Apresento os mesmo assim que entramos, mesmo que o Gabriel reclame por eu ter lhe chamado de amigo não vou mais ouvir reclamações dele não ter sido incluído dessa vez.

- Que bom conhecê-los meus jovens, tão bonitos. - Meu avô diz cordialmente. - Qual dos dois é o seu namorado que a sua mãe falou? - O mais velho perguntou estreitando os olhos para os dois garotos.

- Nen... - Tento responder mas Gabo me interrompe.

- Sou eu, senhor Bernard. - Meu queixo quase caiu, não quero enganar o meu avô com um namoro falso, ele não tem o direito de dizer isso.

Eu vou acabar com Gabriel assim que sairmos desse hospital, quero dar a chance dele se recuperar já estando onde podem cuidar do estrago que vou fazer com ele.

- Pode me chamar de Vó Leôncio, meu querido. - O que? Alguém para o mundo que eu quero descer.

- Vovô, o senhor lembra da Judith? - Pergunto querendo rapidamente mudar de assunto.

O mais velho me olha com olhar estreito como se estivesse pensando.

- Claro que sim, ela era muito amiga da sua vó. - Ele fala depois de um tempo.

- Lembra do sobrinho dela? - Pergunto ainda achando uma loucura não saber quem é o garoto.

- O Arthurzinho? Aquele garoto era muito inteligente, vocês brincaram muito juntos, arrisco a dizer que ele foi sua primeira paixãozinha de infância. - Ele conta me deixando ainda mais confusa.

Como eu não consigo lembrar de nada relacionado ao garoto de cabelos compridos? Ele mudou tanto assim? Quer saber não vou enlouquecer por conta de um desconhecido que provavelmente nunca mais vou ver.