- Está perdida? - Levo um susto com a chegada de Gabo.

Ponho a mão no peito tentando me recuperar do quase ataque cardíaco que tive.

Custas avisar que tá chegando?

- Não, só estava dando uma volta. - Respondo virando em sua direção para fitá-lo.

Gabriel se encontra de braços cruzados, me observando como se eu fosse um animalzinho exótico de um zoológico.

- Sozinha? - Ele tá vendo mais alguém aqui?

- Agradeço todos os dias aos céus por não precisar de ajuda para andar. - Digo sarcasticamente.

- Que bom pra você. - Gabo diz sem humor algum. - Meu pai pediu para eu te ajudar com o seu celular novo.

- Antes que você diga alguma coisa, não foi eu que pedi, prometi que não vou quebrar nenhuma de suas regras e vou cumprir. - Aviso querendo evitar qualquer confusão. - E não precisa me ajudar, eu me viro sozinha. - Já deixo claro, mesmo que eu mal saiba como liga o aparelho.

- Não falei que ia te ajudar, só comentei o que meu pai falou. - O sorrisinho no rosto dele ao terminar de falar me deixa vermelha de vergonha.

Um buraco no estilo Alice no país das maravilhas seria perfeito agora, para eu me jogar dentro dele e sumir. Sentindo o meu rosto quente e a vontade de desaparecer aumentar a cada vez que pecebo o olhar presunçoso do Gabriel, resolvo que é hora de me retirar, vou arrumar minhas coisas antes do almoço, é isso.

Os girassóis foram jogados no lixo quando vim para essa casa, acredita?

- Para onde você vai? - Gabo pergunta segurando o meu pulso quando estou passando por ele.

Ele pensa o que? Que vou roubar por aí?

- O que?

- Para onde você vai, Lola? - Ele refaz a pergunta.

Me jogar da primeira ponte que eu ver, penso, mas não respondo.

- Para o quarto, por que, precisa de alguma coisa? - Pergunto confusa com o cenho franzido.

Gabo parece pensar no que dizer pois abre e fecha a boca algumas vezes, ainda sem me soltar. Ele coça nuca buscando as palavras em sua mente, e quando vem sinto o aperto no meu pulso se intensificar, claro que não ao ponto de me machucar.

- Qual perfume você usa? - Ele joga a pergunta do nada, acho que ele tem dessas.

- Como? - Meu tom aumenta uma oitavas.

- Quero saber qual o seu perfume para eu passar bem longe dele de quando for comprar um. - O sorrisinho não sai do rosto particularmente bonito dele.

- Primeiro se odeia tanto irá identificar quando for comprar algum, segundo eu não estou usando perfume e terceiro só era dizer que não precisava de nada. - Finalmente me solto dele e saio andando para dentro da casa.

Vou para o que posso considerar agora o meu quarto, faço como disse e  arrumo todas as minhas roupas e pertences antes do almoço. Gabo sai para ir ver uns amigos, depois do mesmo, assim como sua mãe, aproveito para bisbilhotar mais da casa e conhecer mais as pessoas que trabalham nela.

A mansão é enorme, tem uma biblioteca particular que se me deixarem passarei o dia inteiro lá, tem uma sala de cinema, ricos não é?

Depois da minha expedição de garota deslumbrada, fui até a cozinha onde três funcionários estão, sei que uma delas é a Gina governanta a outra a Karen que nos serve durante as refeições, a outra está mexendo alguma coisa na panela deve ser a cozinheira.

- Com licença. - Um pouco acanhada.

- O que faz aqui garota? Se a senhora Borges lhe ver aqui não só vai lhe dar uma bronca como em nós também. - Gina ralha comigo.

- Deixa disso, quer comer alguma coisa querida? - A cozinheira pergunta gentilmente.

- Nada disso Nina, ande vá para quarto o jantar será servido daqui a três horas. - A governanta insiste.

- Certo, desculpem. - E lá se vai a minha chance de pelo menos ter uma amizade com elas.

🌻🌻🌻

O jantar foi calmo, Gabo chegou atrasado, mas sua mãe não pareceu ligar. Durmo tranquilamente o resto da noite e logo o domingo chega, e eu já acordo com o barulho de risos que vem do lado de fora da casa.

Discretamente, vou até a varanda do quarto. Abro apenas um pouco a porta de vidro e me estico para ficar nas pontas dos pés, vejo ter algumas pessoas na área da piscina.

Minha cabeça briga entre me arrumar e descer para tomar café da manhã ou fingir que sou uma planta e passar o dia vivendo de sol e água, da garrafinha que eu trouxe para beber se sentisse sede durante a noite.

Alguém bate na porta enquanto decido o que faço, vou atender rapidamente, mas não antes de tropeçar em um puff azul, que fica perto da penteadeira. Ao abrir dou de cara com Karen que sorri gentil para mim.

- O café da manhã será servido em dez minutos, a senhora Borges pediu para não se atrasar. - Eu assinto e agradeço.

Bom já que não tem outro jeito, rumo a saga de escolher algo para vestir. Como o dia está razoavelmente mais quente, ponho uma blusa ciganinha, com mangas longas bufantes, de cor branca, um short amarelo cintura alta e a minha papete branca de tiras grossas, e como meu cabelo está um ninho de passarinho prendo metade dele com um scrunchies amarela de bolinhas brancas.

Vou até a sala de jantar onde fazemos as refeições, inclusive o café da manhã. Confesso que acho um pouco esquisito usar esses termos.

Ao chegar no local citado, vejo que Virginia não está sozinha, mas com algumas pessoas, que parece ser da mesma classe que ela apenas pela forma que me olham, Gabo não está aqui e o Doutor Miguel  já deve ter viajado não está presente.

- Bom dia. - Os comprimento sentando na cadeira mais próxima.

Pausa para o: ninguém me comprimetou de volta.

Depois de me sentar na primeira cadeira que vi a frente me mantendo quieta, enquanto eles conversam, até que o assunto vira eu.

- Não vai nos apresentar a sua nova hóspede, Virgínia? - A mulher ruiva vestida em um vestido solto longo de cor branca pergunta.

- Essa é a neta de um amigo do meu marido, Lorena Bernard, esses são o casal Albert, Marta e Natan, e essa é a sua filha mais velha Nicole. - Virgínia diz tão cordialmente que chego a me surpreender.

- É prazer conhecê-los. - Digo, os três devolvem o bom e velho, o prazer é todo nosso, mas o veneno nos olhares não deixou de ser imperceptível.

- Onde estão os meninos que não chegam nunca. - Marta reclama olhando na mesma direção que cheguei.

A filha dela é a sua versão mais nova, apesar de o ruivo da garota, que aparenta ser mais velha do que eu, ser um tom mais acobreado e não alaranjado como a progenitora, Nicole veste um conjunto de linho preto, uma calça e um cropped de manga longa, a mesma é o oposto de mim em sua elegância exacerbada.

- Lorena querida por que não vai chamar o Gabo e o... - Virgínia é interrompida por vozes masculinas adentrando a sala de jantar.

- Quem é Lorena? - A voz confusa de Gabo chega aos meus ouvidos me fazendo olhá-lo.

Ele veste um conjunto de moletom preto com um tênis branco, o mesmo não está sozinho, um garoto tão bonito quanto encara com um sorrisinho no rosto.