Capítulo 84: Frustrações
Por mais tentador que fosse passar o resto do dia deitada, eu sabia que não podia deixar o Bruno sozinho. Não em um evento como o que teria na mansão do pai dele. Era estranho voltar para aquele lugar. Um dia, tive medo de descobrirem que eu ficava com o Bruno, e agora, estávamos entrando pela porta da frente de mãos dadas.
- Você está linda. - ele sussurrou, assim que entramos em um salão que minha mãe usava para dar festas.
Eu sabia que ele estava sendo sincero, mas também estava tentando me distrair. Ele me conhecia e notou meu desconforto.
- Você não está tão ruim. - brinquei, quando paramos em um canto do salão.
Ele estava irresistível com aquele smoking que foi feito especialmente para ele.
Em volta, as pessoas conversavam e bebiam a vontade.
Eu reconheci algumas mulheres do chá da tarde, mas muitos rostos eram desconhecidos.
Bruno colocou a mão na minha cintura chamando minha atenção de volta para ele.
- E azul definitivamente combina com você. - disse, referente a cor do vestido que eu usava.
Eu sorri gostando da forma que ele estava me olhando.
- Você acha? - perguntei, e coloquei minha mão sobre a sua que estava na minha cintura. - Então você vai adorar o que eu estou usando por baixo.
Ele me puxou calmamente em sua direção para não chamar atenção das pessoas a nossa volta. Quando sua boca estava perto da minha orelha, eu apoiei minhas mãos em seu peito.
- Quando você pretende ceder e acabar com essa greve? - perguntou, e sua outra mão subiu para a parte de trás do meu pescoço. - Eu estou com saudades.
Depois da nossa noite na cachoeira, Bruno começou a me contar coisas do seu passado sempre que estávamos sozinhos. E, sem o sexo constante, a gente conversava mais.
Eu estava gostando.
No entanto, a vontade de voltar a ficar com ele era grande.
Grande demais.
- Se você prometer ser um bom garoto hoje. - exclamei.
Ele deu um beijo suave no meu pescoço e quando nos afastamos, um casal se aproximou para nos cumprimentar.
Eu falei um pouco com eles e me afastei para ir ao banheiro. Já conhecendo muito bem aquele lugar, eu não tinha porque pedir ajuda.
Quando vi minha mãe do outro lado do salão, passei rapidamente não querendo que ela notasse minha presença.
Entrei em um corredor e lembrei de quando ele me jogou na piscina depois de uma discussão idiota.
Essa mansão era cheia de lembranças boas de nós dois, e isso me relaxou um pouco.
Depois de usar o banheiro, eu ajeitei meu cabelo que estava solto e voltei para o corredor. Eu estava querendo voltar para perto do Bruno. Só que encontrar a Charlotte encostada na parede atrapalhou meus planos.
Óbvio que minha mãe tinha convidado ela.
Resolvendo ignorar sua presença, eu passei direto.
- Eu entendo um pouco você agora. - ouvi ela murmurar.
Uma voz gritou na minha cabeça que eu deveria continuar andando e voltar para o Bruno.
Porém, eu não dei ouvidos e me virei para encarar seus olhos.
- Você me entende? - perguntei, franzindo o cenho.
Ela se desencostou da parede e deu
alguns passos na minha direção.
Seus cabelos cacheados estavam presos em um perfeito coque no alta da sua cabeça. Seu vestido era verde combinando com seus olhos.
Tão bonita por fora...
- Você ser assim. Eu entendo agora. - voltou a falar. - Cresceu sem o amor da própria, mãe.
- Não fala da minha vida, Charlotte. Você não me conhece, e principalmente, não me entende. - exclamei.
Ela sorriu.
- Ah, vamos, Helena. Você estava tão faladeira naquele jantar. - lembrou. - Não é trágico sua mãe preferir apoiar uma pessoa que conheceu a pouco tempo do que a própria filha?
- Minha mãe nunca teve bom gosto para amizades mesmo. - falei.
- Sabe o que eu tenho? - ela ignorou minhas palavras e continuou. - O carinho dela. O braço, os conselhos. E você, Helena? O que você tem da sua própria, mãe?
Por mais que eu tentasse não me afetar com suas palavras, aquilo era um assunto delicado.
Minha relação com a minha mãe era uma tragédia e isso era óbvio para qualquer um que visse nós duas juntas.
- Fico feliz por você. - exclamei, e quando fui me afastar, ela andou até parar na minha frente bloqueando meu caminho.
Respirei fundo tentando me acalmar.
- Mas eu também entendo ela. - disse, com desprezo. - Quem iria querer chamar alguém como você de filha?
Mesmo aquele não sendo o momento, eu ri.
Dei risada por não acreditar no que aquela garota estava falando.
- Charlotte, eu nem consigo mais sentir raiva de você. - falei, depois de me acalmar. - Você é só uma garota rejeitada que vive jogando suas frustrações em cima de mim porque não tem uma vida própria.
Charlotte ficou quieta parecendo não acreditar que eu estava tendo aquela reação.
Ela realmente achou que eu fosse começar a chorar?
- Minha mãe não gosta de você. - continuei. - Ela não sente afeto por você, ou até gosta de te dar conselhos. Ela te acha conveniente com essa situação. No momento que ela não precisar mais de você, ela vai te descartar. Sabe por que? Porque é assim que as pessoas como ela agem. E é assim que as pessoas como você merecem ser tratadas.
Eu esperava que ela fosse gritar, ou falar que me odiava... mas não.
Seus olhos lacrimejam me surpreendendo.
Minhas palavras realmente afetaram ela.
- Já pensou que talvez você e sua mãe não se dão bem porque no fundo são parecidas? - deixando essa pergunta no ar, ela se afastou.
Encostei minhas costas na parede também sentindo o peso de suas palavras.
"Vocês são parecidas"
"Agimos da mesma forma quando algo atravessa nosso caminho"
Não, eu não era como ela.
Eu me negava a ser como ela.
Ser como ela era provavelmente ser uma mãe como ela, e isso era inaceitável.
Sentindo meu coração acelerado no peito, eu voltei para o salão e passei ao lado da minha mãe. Ela acabou percebendo meu estado e me seguiu.
Assim que entramos na cozinha eu me odiei quando percebi que estava chorando.
- Helena, tudo bem? - ela perguntou, quando parei ao lado da mesa.
Eu ri mais uma vez, mas com raiva.
- Você realmente se importa? - perguntei, e me virei para encarar seus olhos.
Ela franziu o cenho parecendo confusa.
- Como?
- Eu nunca fiz nada para você. Apesar de ser rebelde na adolescência, eu nunca te fiz nada. - falei, não me importando mais com as lágrimas - Que droga, eu sou sua filha.
- Aqui não é o momento...
- E quando vai ser? - perguntei, com amargura. - Eu estou passando pela melhor fase da minha vida e você em momento nenhum perguntou como eu estava. Preferiu ficar desfilando com uma desequilibrada que me odeia do que ficar comigo.
Naquele momento, coloquei a mão na minha barriga quando senti uma pontada tão forte que quase me colocou de joelhos.
- Helena. - ela tentou se aproximar, mas eu ergui minha mão ordenando que ela parasse.
- Não se aproxime... - pedi, ainda sentindo uma dor forte na barriga.
Mas que...
Apoiei minha mão na mesa enquanto tentava controlar minha respiração. Meu coração batia forte no peito e minha visão começou a embaçar.
Tudo que consegui pensar era que tinha alguma coisa errada com meu bebê.
Ele não...
- O que está acontecendo? - ouvi a voz do Bruno.
- Ela não está bem. - minha mãe contou.
Bruno se aproximou e assim que me tocou, eu deitei minha cabeça em seu peito.
- Meu amor, o que foi? - perguntou, preocupado.
- Eu não sei... - meus joelhos dobraram e ele passou o braço pelo meu corpo impedindo que eu caísse.
- Helena...
E foi a última coisa que eu ouvi antes de apagar em seus braços.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro