Capítulo 31: Agir Na Defensiva
Eu nasci para o desastre e as decisões que tomo na minha vida são a prova disso. Nós dois estávamos bem, bem mesmo.
Depois daqueles dias no acampamento foi como se tudo finalmente se encaixasse. Eu e o Bruno? Estava funcionando. Em segredo, sem promessas. Beijos escondidos e fugas no meio da madrugada onde podíamos nos tocar sem culpa.
Mas... como eu disse, nasci para o desastre.
Tudo começou a dar errado na noite da festa da Jennifer. A garota estava fazendo 18 anos e tinha tudo para ser uma noite boa.
- Essa cicatriz eu consegui aos 15 quando pulei na frente de um carro para salvar um cachorrinho. - Caio disse, me mostrando a "enorme" cicatriz que estava em seu braço.
Na verdade, mais parecia o arranhão de um gato que ele tocou sem permissão. Mas quem sou eu para estragar sua história.
- O dono do cachorro ficou tão agradecido que deu meu nome a um dos filhotes do animal. - completou.
Sentindo quando Bruno parou atrás de mim, me encostei em seu peito confortável com sua presença. Ele passou o braço em volta da minha cintura e deixou um beijo no meu ombro.
- Fica longe dela, porra. - ele disse para seu amigo.
Caio quase pareceu ofendido.
- O que? Eu só estava contando minha história mais traumatizante. - se defendeu me fazendo rir.
- Aquela do cachorrinho? Vai jogar esse papo em outra garota. - falou. - Ela é minha.
Caio suspirou e ergueu seus braços como se tivesse desistido.
- Esse negócio de monogamia acaba com a graça.
Ele passou por nós e foi até um grupo de garotos que pareciam tão bêbados quanto ele.
Me virando nos braços do Bruno, deixei um beijo em seu queixo sentindo seu cheiro. Ele conseguia facilmente me fazer esquecer todas essas pessoas em nossa volta e só focar nele.
- Você demorou. - reclamei.
Ainda me segurando, Bruno me mostrou um copo que estava em sua outra mão.
- Fui fazer pra você. Não é tão forte então pode beber sem medo. - falou, me entregando o copo.
Pegando o líquido, tomei um gole sentindo um gosto amargo e doce ao mesmo tempo. Tinha álcool, mas não de um jeito exagerado.
- É gostoso. - falei, sincera.
- Ótimo. Você só vai tomar o que eu te entregar. Sem aceitar nada de outras pessoas.
Sorrindo com sua expressão séria, puxei ele para um canto da casa e fiquei na ponta dos pés para beijar sua boca.
- Ficar alcoolizada me deixa animada, você vai ter que me aturar depois. - murmurei, em um tom baixo não escondendo a malícia.
- E qual a desculpa para quando você não está bêbada?
Poxa, mas quem podia me culpar? Ele era tão beijavel, sabia como me agarrar de um jeito tão gostoso que resistir era impossível. Sem falar que eu amava os sons que Bruno fazia no meu ouvido no auge do prazer.
Nasci para ouvir aqueles sons.
- Você parece estressado. O que foi? - perguntei, notando que ele não sorriu uma única vez.
Ele suspirou e me puxou para mais perto me fazendo encostar em seu peito.
- É só meu pai. É meu último ano na escola e ele já planejou minha próxima reencarnação. - contou.
Uma coisa que percebi é que o Bruno não tinha uma relação muito amigável com o Damon. Ele era seu único filho e Damon sempre exigia muito dele.
- Se você quiser nós dois podemos fugir para as montanhas e assim esquecer como nossos pais são horríveis. - brinquei.
Ele passou um dedo pelo meu lábio inferior antes de deixar um leve beijo naquela região.
- Eu faria isso com você. - disse, de forma séria.
- Você é doido? Eu só estou brincando. - exclamei.
- Então o jeito vai ser um sequestro. - disse, e comecou a beijar meu pescoço me fazendo rir.
O barulho de aplausos atraiu nossa atenção. Segurando minha mão, Bruno me levou para o centro da sala onde estavam cantando parabéns. Jennifer usava um vestido branco e cantava junto com seus convidados. Já eram meia noite e o parabéns demorou para sair.
No final, a morena começou a abraçar todo mundo na sua frente e caminhou na nossa direção.
- Me fala que não é água? - disse, e apontou para o copo na minha mão.
- Você vai gostar. - entreguei o copo para ela.
Jennifer bebeu o líquido e sorriu para o Bruno parecendo agradecida.
- Você é um gênio. Isso é perfeito. - exclamou, sorrindo.
Nesse momento, uma garota se aproximou de nós e deu um abraço apertado na Jennifer. Parecendo reconhecer a menina, Jenny abraçou ela de volta.
- Mentira que você veio. - Jenny quase gritou. - Você não estava na Sibéria ou coisa do tipo?
- Na verdade, estava no Egito. Mas não vou ficar muito não, minha mãe já quer viajar de novo.
A menina sorriu e reparei como era bonita. Alta, cabelos castanhos e olhos claros.
Soltei a mão do Bruno e ele tocou minhas costas quase que imediatamente. Ele se aproximou um pouco mais e falou perto do meu ouvido:
- Vou ter que te fazer outra. - se referiu a bebida que a Jennifer tomava agora sem vontade de devolver. - E por favor, não entrega ela para mais ninguém.
A garota nova olhou para o Bruno e de forma entusiasmada, deu um abraço nele.
- Meu Deus, que bom te ver. - falou, alegre. - Eu senti tanta falta de vocês.
Ah, então eles se conheciam.
Descobri que seu nome era Melissa e ela cresceu com a Jennifer e o Bruno. Parecia muito familiar com o espaço e a todo momento ela tocava no Bruno me incomodando.
Eu podia deixar passar se notasse que ela só estava com boas intenções, mas seus olhos diziam que ela queria ele.
Melissa foi simpática comigo e até tentava me enturmar na conversa. Isso foi legal da parte dela.
- Eu meio que esqueci onde fica o banheiro aqui. Você não quer me mostrar o lugar Bruno? - perguntou, e tocou novamente seu braço. - Faz tanto tempo.
Jennifer olhou na minha direção parecendo notar o mesmo que eu. Não querendo mostrar demais, desviei meus olhos.
- Eu vou levar a Helena na cozinha para pegar uma bebida, mas o banheiro não é longe não. - disse Bruno, e senti seus dedos se aproximarem da minha cintura.
Por mais que eu estivesse feliz com sua resposta, tudo em mim se revoltou com a ideia de que eu estava com ciúmes dele.
- Para com isso, leva ela até lá. - não consegui impedir as palavras de saírem.
Bruno me olhou como se eu fosse louca e eu me sentia um pouco agora.
Agi na defensiva e nem estava sendo atacada.
- O que está fazendo? - questionou, confuso.
- Eu só... não quero que deixe ela sozinha. - falei, forçando as palavras. - Não vai custar nada.
Melissa aproveitou e segurou o braço dele com mais confiança agora. Também, eu estava incentivando.
Parecendo incrédulo, Bruno deixou ela arrastar ele de perto da gente enquanto ainda me olhava.
- O que foi isso? - Jennifer perguntou, confusa. - Vocês não estão ficando?
Sentia vontade de bater minha cabeça na parede com meu arrependimento.
Idiota.
Idiota.
Idiota.
Horas depois, Bruno estacionou o carro na garagem da mansão e não fez nenhum movimento para sair do automóvel. Decidindo ficar com ele, virei meu rosto na sua direção para avaliar sua expressão.
Eu sei que fiz besteira e ele parecia magoado.
- Eu sei que já te machucaram antes, você me disse. - ele começou um tempo depois. - Mas você está projetando em mim...
- Não estou.
- Você está sim, Helena. Que merda. - disse, irritado. - É como se você estivesse esperando um movimento errado para me julgar. Você está esperando eu errar com você.
- Eu só fiquei nervosa. - falei.
- Nervosa? Você estava me jogando em cima daquela garota. Era isso que você queria? Que eu ficasse com ela?
- Claro que não.
- Então o que aconteceu? - quis saber. - Eu sinto muito pelo que te aconteceu no passado, mas eu não sou esse cara que te magoou.
Era até ofensa comparar o Bruno com ele. Mas isso não me impediu de fazer o que fiz.
Meu coração e meu cérebro pareciam estar travando uma batalha dentro de mim.
Um queria esquecer tudo e só me entregar para o que estava sentindo, enquanto o outro tentava assumir o controle e eliminar os riscos que eu podia correr.
Como me apaixonar de novo.
- Eu sei que não, Bruno. Eu só... - suspirei. - Desculpa, não sei o que aconteceu.
Ele encostou suas costas no banco parecendo cansado.
- Quando eu acho que estamos chegando a algum lugar, você me empurra e voltamos ao começo. - disse, chateado. - Você não está nem tentando.
Eu realmente queria acreditar nele, no fundo, sabia que ele estava sendo sincero. Porém, agir na defensiva parecia mais fácil.
- E como eu vou saber que está sendo sincero?
Ele me olhou e senti como se encarasse minha alma.
Essa era a coisa com o Bruno. Seus olhos sempre diziam mais que suas palavras.
- Você ainda não percebeu? Eu já deixei claro várias vezes e você não sacou? - disse, me fazendo engolir em seco. - Eu amo você.
Não, não, não.
Ele disse aquelas três palavras.
Sentindo como se tivesse levado um soco no estômago, desviei meus olhos dele e encarei minhas mãos. Fechei meus dedos quando começaram a tremer.
- Não devia falar esse tipo de coisa. - falei, sentindo minha garganta seca.
- Falar como me sinto? - disse, e tocou meu rosto me fazendo olhar em sua direção. - Não estou te pedindo para dizer o mesmo, mas por favor, não faça mais isso. Se eu quisesse outra pessoa não estaria com você.
- Já pedi desculpa. - falei, ainda reprisando suas palavras na minha cabeça.
Ele me ama.
Bruno me ama.
Mas como?
O que ele viu que minha mãe não conseguia enxergar?
E como ele conseguia falar aquilo com tanta naturalidade?
Quando entramos em casa, cada um foi para seu quarto no silêncio. Na verdade, eu não fazia ideia de como agir ou sobre o que falar.
Tomei um banho e depois de vestir meu pijama, deitei na cama. Sem sono, senti o Fofo subir no meu peito. Quando fiquei no acampamento, consegui convencer a Lúcia a ficar com meu gato, mas sabia que não podia mais ficar com ele.
Fofo vivia enfiado no quarto e ele merecia mais que isso.
Merecia mais assim como...
Tomando uma decisão, levantei da cama resolvendo seguir meu coração.
Ele me ama.
Na ponta dos pés, fui até o quarto do Bruno vendo que ele também já tinha se deitado. Fechei a porta e me aproximei da cama. Me vendo, ele levantou a coberta me convidando a ficar ao seu lado.
Deitei na cama e ele não demorou para me abraçar. Me sentindo acolhida, passsei a noite toda enrolada no seu cheiro enquanto três palavras martelavam na minha cabeça.
Ele me ama.
Jesus, tinha esquecido como é difícil revisar um capítulo. A fase deles adolescente está chegando ao fim. Ansiosa para soltar os capítulos.
Até.
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