Capítulo 29: Perder Tempo
Capítulo bônus ( modificado dia 13 de abril de 2021)
As coisas tinham mudado.
Percebi isso na manhã seguindo quando Bruno sentou ao meu lado no refeitório.
- Peguei para você. - ele disse, deixando uma maçã vermelhinha em cima da minha bandeja.
Sorri e peguei a maçã.
- Roubou de quem?
- Não roubei. Conversei com a mulher que está na cozinha e ela gentilmente me deu.
- Usou seu charme com ela? - perguntei, surpresa.
- Sim, ele não é exclusivamente seu. - disse, me provocando.
Eu mordi a maçã e segurei um gemido de satisfação quando senti como estava doce.
- Gostou? - perguntou, me olhando.
- Usou bem seu charme dessa vez. - murmurei.
Ele se aproximou um pouco mais, e quando colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, senti minha pulsação acelerar.
- Eu sempre invisto ele bem... - exclamou, e quase dei um pulo do banco quando senti a ponto do seu nariz se arrastar pelo meu pescoço. - Ainda mais naquilo que me interessa.
Me afastei um pouco dele e fiquei aliviada quando percebi que ninguém estava nos olhando.
Bruno estava agindo como se fossemos um casal. Um casal que tinha acabado de se reconciliar.
- Como você está? - perguntei, e vi que o lado esquerdo do seu rosto não estava tão vermelho.
Léo era fraco, ou não sabia socar.
- Bem. - respondeu. - E sobre a história que te contaram...
- Não se preocupa. Você não apoiou, é isso que importa. - falei, sincera.
Se ele tivesse aceitado fazer a tal aposta teria acabado comigo.
Pensar nisso já me fazia ter uma sensação ruim no peito.
- Está com frio? - perguntou, quando cruzei os braços tentando me aquecer.
- Sim. Eu esqueci minha blusa no quarto. - falei, escondendo a parte que eu saí rápido de perto da minha companheira de cela para não ceder ao meu lado agressivo.
- Eu pego para você. - se ofereceu e levantou. - A porta está aberta?
- Está.
Então, ele me deu um rápido beijo no topo da minha cabeça e caminhou em direção aos dormitórios.
Só que dessa vez, uma pessoa acabou percebendo a forma carinhosa que o Bruno estava me tratando.
E, essa pessoa caminhou na minha direção.
- Se eu soubesse que vocês estavam juntos eu nem tinha perdido meu tempo. - Hari, exclamou.
- Do que está falando? - questionei.
- Ah, por favor, eu não sou burra, percebi no momento que você saiu ontem da enfermaria. - falou. - Nem estou te julgando, até te acho corajosa. Ficar com o filho do marido da sua mãe? Não quero estar na sua pele quando a bomba estourar.
Então ela se afastou me deixando para processar suas palavras.
Bruno voltou minutos depois e sentou ao meu lado de novo.
- Obrigada. - falei, e vesti a blusa.
Passamos o resto do tempo no refeitório em silêncio. E, mesmo sem assunto, sua companhia foi boa.
Essa nossa trégua acabou me deixando com medo.
Medo porque não fazia ideia de onde essa relação iria nos levar.
Mas era egoista demais para me afastar dele.
Egoísta demais para encarar a realidade e deixar ele ficar com uma pessoa que estivesse disposta a lhe dar tudo que ele merecia.
E, mesmo sem admitir, sabia que ele gostava de mim.
Estava escrito na forma que ele falava, me tocava ou me olhava.
E meu medo por ele se machucar piorou.
Egoísta.
Egoísta.
Egoísta.
Horas mais tarde, estávamos todos caminhando pela trilha. Minha mochila estava pesada e eu estava a um passo de joga-la no chão.
- O lago ainda está muito longe? - uma garota perguntou para a professora.
- Só mais alguns minutos de caminhada.
Resumindo: uma hora e meia.
Olhei para trás e vi o momento que o Caio entrou no meio da mata. Quando a professora nos permitiu 5 minutos de descanso, fui atrás do meu colega.
Encontrei ele encostado em uma árvore mexendo no celular.
- O que está fazendo? - perguntei, e joguei finalmente minha mochila no chão. - Aqui tem sinal de celular?
- Na verdade, tem até wi-fi. - respondeu.
- Sério?
- Óbvio que não. - riu. - Estava tentando enviar uma mensagem para a minha mãe. Ela deve achar que morri ou coisa do tipo.
- Quando a gente voltar para o acampamento você liga para ela. - falei.
- Tem razão. - ele desistiu de tentar achar sinal e colocou o celular no bolso.
Agachei perto da minha mochila para pegar a garrafinha de água, mas lembrei que deixei ela no quarto.
Levantei e encarei o Caio.
- Me dá um pouco de água. - pedi.
- O que vou ganhar em troca?
- Um muito obrigado. - falei.
Ele sorriu.
- Vem pegar.
Notando o tom maldoso na sua voz, suspirei.
- Não cansa de sempre tentar ficar com alguém?
- Eu gosto de ter companhia, vai me culpar?
- E eu só quero a água, então... - falei.
Ele tirou a mochila das suas costas e colocou no chão. Com uma distância segura, me agachei novamente, só que dessa vez, na frente da mochila dele. Não achando a garrafa no lado de fora, abri a mochila, e a primeira coisa que vi foi dois pacotes de camisinha.
- Nem estou surpresa. - murmurei.
Achei a garrafa e levantei do chão. Depois de tomar a água, devolvi a garrafa para o lugar dela.
- Muito obrigado. - falei, como prometido.
Ouvindo passos, me virei para trás.
- Se ele não tivesse chegado primeiro a gente teria se divertido. - Caio comentou.
- Do que está falando? - voltei a encarar seu rosto.
- Ah, não sou idiota.
- Por que tem tanta certeza que eu ficaria com você?
- Por que não ficaria?
E mais ego masculino.
Agora entendia porque ele e o Bruno são amigos.
Pensando bem, ele era um belo de um talarico isso sim.
- Tchau, Caio. - peguei minha mochila e antes que eu pudesse coloca-la nas minhas costas, Bruno saiu do meio da mata.
Tentei a qualquer custo ignorar a forma que meu coração acelerou com sua presença
- O que estão fazendo? - ele perguntou, e encarou o Caio.
- Conversando. - Caio respondeu, e quando passou do meu lado, deixou um beijo na minha bochecha. - Até mais, Lena.
Talarico mil vezes.
Ficando sozinha com o Bruno, ele finalmente me olhou.
- Vamos? - perguntei, sabendo que os 5 minutos já tinham passado. - A professora vai acabar nos deixando aqui.
- Eu já vim aqui, sei aonde fica o lago. - contou.
- Tá falando isso por que? Quer ficar sozinho na mata comigo? - perguntei.
Deixando sua própria mochila no chão, ele caminhou na minha direção. Ficando na minha frente, não me afastei quando ele tocou meu rosto.
- Todo mundo já foi. - disse, e andou me obrigando a ir para trás.
- E o Caio? - perguntei, só parando de andar quando minhas costas bateram em uma árvore.
- Ele também sabe aonde fica o lago.
E, quando seus lábios tocaram os meus, não pensei em mais nada.
- Se nosso relacionamento tivesse em outro nível eu estaria te pressionando contra essa árvore nesse momento. - ele disse, como se tivesse pensando alto.
Imaginei a cena sentindo minha pulsação acelerar.
- O que te impede? - questionei, e arranhei suas costas como ele gostava.
- Nossa primeira vez merece mais que uma rapidinha no meio da floresta. - disse, ainda com os lábios próximos dos meus.
Senti meu coração amolecer com o fato dele se importar com aquilo. A barreira que criei em volta do meu coração também deu uma balançada e meu medo agora foi por mim.
Já no lago, sentei perto da minha mochila e fiquei observando meus colegas se divertindo.
- Sabe, eles rindo desse jeito até parecem gente normal. - minha colega de cela disse, depois de sentar do meu lado. - É até suportável.
Me virei na sua direção.
- Eu nunca te vi no colégio.
- Não estudo no seu colégio. - respondeu.
- Então o que faz aqui?
- Meu pai é dono de tudo isso, eu só gosto de ficar me enturmando. - contou.
- Não sou a melhor pessoa para você se enturmar. - falei.
Ela sorriu.
- Eu também não, então é perfeito. - exclamou.
Não falando mais nada, voltei a prestar atenção nos outros adolescentes. Bruno estava do outro lado do lago, e quando olhei na sua direção, ele sorriu.
- Ele parece diferente. - a garota falou. - Das outras vezes que veio aqui ficou perturbando todo mundo. Meu pai chegou a quase expulsa-lo.
- Diferente como? - quis entender.
- Mais calmo. - respondeu. - Na minha opinião um garoto só fica assim quando está tentando conquistar uma garota, ou quando está deprimido. E ele não parece deprimido.
- Acho que está enganada. - falei.
Deu de ombros.
- Talvez.
Passamos o resto do dia de forma tranquila e confesso que foi até divertido acampar.
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