Capitulo 27: Eu Não Me Importo
- Esses bichos estão deixando minha pele irritada. - Fanny, exclamou quando descemos do ônibus.
Tinhamos acabado de chegar no acampamento e ela já estava reclamando.
- Já vamos entrar. - a professora falou, e começou a andar. - Me sigam.
Eu estava quase fazendo isso quando um braço passou em volta dos meus ombros fazendo minhas costas bateram em um peito.
- Deseja companhia? - Caio perguntou, e sua voz estava perto da minha orelha.
- Você não acha que é muito ousado, não? - questionei, e me soltei do seu aperto.
- Relaxa, estou ensinando para o Bruno como chegar em uma garota. - ele disse, e quando olhei para trás, vi o loiro.
Bruno não me olhou de volta e isso fez um buraco crescer no meu peito.
- Obrigado pela aula. - ele debochou, e passou na nossa frente indo atrás da professora.
Assim que entramos no acampamento, nos levaram para o refeitório.
- Onde ficam os quartos? Preciso tomar banho. - Fanny, perguntou.
Ajeitei a mochila nas minhas costas enquanto esperava pela resposta da professora.
- Naquele corredor á esquerda. - contou, apontando.
- E vamos ter que dividir? - quem perguntou dessa vez foi um garoto, e ele parecia bem animado.
- Sim. - alguns alunos assobiaram me fazendo revirar os olhos. - Mas vamos ficar de olho em vocês.
Adolescentes sempre davam um jeito de enrolar os adultos, então esse "ficar de olho" não ia adiantar em nada.
Olhei em volta procurando o Bruno e vi que ele estava perto de uma das mesas. E ao seu lado estava aquela garota que tentou ficar com ele na festa da escola. Só que diferente daquele dia, Bruno agora estava respondendo ela como se estivesse gostando da sua companhia.
- Qual é o nome dela? - perguntei, para o Caio.
Eu sabia que ele era popular, e que conhecia quase todo mundo da escola.
- Quem? - questionou, e então viu para onde eu estava olhando. - É a Hari.
Era um nome bonito, tinha que admitir.
Tentei manter minha boca fechada porque o que eu queria perguntar não era da minha conta, mas não consegui ficar quieta.
- Já ficou com ela?
Caio franziu o cenho surpreso.
- Um vez. - respondeu.
- E ela beija bem?
Cala a boca, Helena.
Ele sorriu.
- Esse seu interesse pela Hari está começando a ficar estranho. - falou, e passou novamente o braço pelos meus ombros. - Deveria começar a me perguntar se está com ciúmes do Bruno? Ou da Hari?
Me afastei novamente do seu toque ficando sem graça.
- Não é isso.
Alguns minutos depois, cada um foi para seu quarto e eu acabei descobrindo que minha companheira de cela era bem irritante.
Péssimo para ela porque eu também era.
- Eu vou ficar com a cama perto da janela. - ela avisou, colocando suas coisas em cima do colchão.
- Aproveita e coloca ela na mochila quando for embora. - resmunguei, colocando minhas próprias coisas em cima da cama que ficava ao lado do banheiro.
- Disse alguma coisa? - a garota perguntou, me olhando.
Cansada daquela conversa, eu saí do quarto segurando meu celular.
"Como estão as coisas por aí?"
Era uma mensagem da Jennifer.
"Piores do que pensei que fossem."
Depois de responder ela, resolvi caminhar um pouco pela floresta para acalmar meus pensamentos. No entanto, encontrar a Fanny no meio do caminho acabou atrapalhando meus planos. Não querendo render assunto, passei na sua frente.
- Está um dia realmente bonito, não? - ela me seguiu e vi quando tentou bater em um mosquito que quase tocou seu rosto.
- Realmente. - exclamei, e tentei andar mais rápido.
Ela aumentou seus passos.
Cansada, me virei e isso fez ela quase bater no meu corpo.
- O que foi? - perguntei, sem paciência.
Sua falsa simpatia estava começando a me irritar. Que ela mostrasse sua verdadeira fase.
- Nada, só andando. - falou, sorrindo.
- A floresta é enorme. Pode andar em outra direção. - falei.
Ela me olhou por alguns segundos e suspirou.
- Eu nem sei porque estou preocupada... - me deu uma boa olhada. - Você não é bem o tipo dele. Sei lá, tem esses olhos incomuns e esse cabelo que sempre grita: "alguém me corta" mas não tem nada de especial.
Surpresa com sua sinceridade, demorei alguns segundos para reagir.
- Fico feliz que tenha reparado em mim. - exclamei.
Ela deu de ombros.
- Talvez ele só esteja entediado mesmo. - sorriu, falando como se tivesse chegado a uma conclusão. - A gente se vê por aí, querida.
Com isso, ela se afastou me deixando.
Imbecil?
Horas depois, todos estavam sentados em volta da fogueira cantando uma música que eu sinceramente não fiz questão de prestar atenção.
A minha colega de quarto estava ao meu lado comendo um marshmallow e pelas expressões que ela estava fazendo, estava uma delícia.
- Vamos jogar... - ouvi Hari perguntar, ao lado do Bruno.
Encarei os dois enquanto tentava prestar atenção na conversa.
- Não é uma boa ideia. - ele disse sem vontade nenhuma.
Hari levantou e estendeu o braço para ele.
- Vai ser divertido. - insistiu, e no final o loiro cedeu levantando do chão.
Vi os dois caminharem até outra roda que estava um pouco afastada, e isso me deixou curiosa.
- Vamos jogar... - resmunguei, imitando a voz dela.
Ouvi a garota ao meu lado rir.
- O que? - perguntei.
Ela terminou de mastigar seu marshmallow e me olhou.
- Está agindo como uma garota que foi rejeitada pelo seu amado. - debochou, rindo.
Levantei do chão não achando nenhuma graça.
- Quer saber? Vai se fuder. - falei, saindo de perto dela.
Me aproximei da outra roda de pessoas e vi que eles estavam jogando verdade ou desafio.
Por que não estou surpresa?
Me encostei em uma árvore e fiquei observando aquele jogo idiota.
Bruno estava ao lado da Hari e ela parecia bem animada enquanto esperava a garrafa parar de girar.
E, quando ela finalmente parou, senti meu estômago embrulhar.
- Verdade ou Desafio, Bruno? - um garoto perguntou.
Escolhe verdade.
Escolhe verdade.
Bruno me olhou naquele momento e eu sabia muito bem qual seria sua resposta.
- Desafio. - respondeu, ainda me olhando.
Droga.
Eu sabia o que ia acontecer, mas não consegui parar de olhar.
- Te desafio a beijar a Hari. - o garoto falou.
Bruno desviou seus olhos dos meus e quando encarou a Hari, eu sabia que não ia aguentar mais ficar vendo aquilo.
Me afastei deles e entrei um pouco mais na floresta enquanto tentava não pensar no Bruno beijando outra garota.
Tocando outra garota.
Me encostei em outra árvore e quando olhei para cima, fiquei maravilhada com a imagem da lua.
- Você disse que não se importava. - ouvi uma voz dizer, e eu estava tão distraída que nem percebi ele se aproximar.
Cruzei os braços me negando a encarar seus olhos.
- Não me importo. - respondi.
- Não mesmo? - então ele entrou na minha frente e a luz da lua deixou seus olhos mais bonitos. - Do que tem medo?
Engoli em seco quando ele chegou mais perto.
- Não tenho medo de nada.
- Tem sim. Você tem medo de gostar. - ele afirmou, e dessa vez, não consegui negar.
- Devia voltar para a Hari. Ela parece legal. - falei, mesmo que odiasse a ideia de ver ele com ela.
- E se eu quiser você? - disse, e senti sua respiração bater no meu rosto.
- Eu...
Então ouvimos passos se aproximar e ele se afastou um pouco para olhar em volta.
- Eu estava te procurando. - era a Hari, e ela não tinha me visto ainda. - Você saiu sem falar nada.
- Podemos conversar depois? - Bruno perguntou, ainda na minha frente.
- Claro... - percebi que seu tom mudou, e talvez tenha percebido que tinha mais alguém com ele. - A gente se vê.
Só que assim que ela se afastou, Bruno deu alguns passos para longe, e isso me incomodou.
- Agora você vai atrás dela? - perguntei, sem conseguir esconder o ciúmes na minha voz.
- Por que? Você vai tentar me impedir? - disse, parando de andar.
Bruno ficou me olhando esperando pela minha resposta, e como já era de costume, eu apenas fiquei parada sem responder, e isso irritou ele.
- Já percebeu que apesar de você ser quem mais corre atrás é a que tem menos para dizer? - exclamou.
O peso daquelas palavras me afetou tanto que senti meus olhos arderem.
- Acha que está sendo fácil? Pra começar foi você quem começou com toda essa confusão.
Os beijos, as brigas... tudo era culpa dele.
Ele andou novamente até parar na minha frente.
- Mas eu também estou aqui na sua frente doido para te beijar, e tudo que você precisa fazer é me dizer que se importa.
Mesmo que tudo que eu quisesse era que ele me tocasse, as palavras se negavam a sair dos meus lábios.
Era como um bloqueio, eu só não conseguia.
Depois de um tempo esperando, Bruno levou meu silêncio como uma resposta.
- Se a gente for continuar com esse jogo de gato e rato o melhor a se fazer é parar por aqui. - disse. - Afinal, é só algo que acontecia de vez em quando mesmo.
E, dessa vez, quando ele se afastou, eu não tentei impedir.
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