Capítulo 19: Como Um Convite
Comecei a amar a aula de educação física porque quanto mais cansada eu ficava fisicamente, menos eu pensava.
Não existia minha mãe, meu pai e sua esposa... muito menos o Bruno.
Eu me sentia em paz por uma hora inteira.
- Cadê todo mundo? - perguntei, vendo a quadra vazia.
A aula já tinha acabado e eu já estava de volta com meu uniforme escolar.
- Estão secando os meninos na outra quadra. - uma menina, a única que sobrou, disse enquanto lia um livro sentada nos degraus. - É meio que uma rotina depois das aulas.
Ficando curiosa, segui o caminho que ela me indicou. A quadra que os meninos ficavam era um pouco maior e ao ar livre.
- Fica quieta, Ava. - ouvi, uma voz feminina exclamar. - Eles podem nos ouvir.
Andei mais perto e encontrei dez garotas agachadas na frente de uma cerca de madeira. Me aproximei vendo que os meninos estavam no campo jogando bola.
- O que vocês... - tentei falar, mas fui puxada para baixo de forma desesperada. - Ei.
- Fica escondida. - Alexis disse, sussurrando.
- O que estão fazendo? - questionei, ainda agachada.
- Lily disse que o Maicon fez uma tatuagem, queremos saber se é verdade. - Ava, uma loira, disse.
- Deixa a namorada dele saber disso. - uma garota morena exclamou em um tom baixo. - Escutei que ela gosta de bater em quem se aproxima dele.
- Surpresa, Olivia, você também está aqui. - Ava, continuou, em um tom debochado. - E nem sei porque, você é tão sem graça.
- Fiquem quietas, eles vão começar. - Alexis pediu sem paciência.
Olhei pelo buraco da cerca e vi o tal do Maicon tirar a camisa. O garoto pingava suor e tinha um corpo bastante definido. Podia entender a namorada morrer de ciúmes dele.
- Um lobo? Esses meninos não tem criatividade nenhuma. - Ava, disse decepcionada.
Nesse momento, Bruno e Caio ficaram mais no centro da quadra e as meninas começaram a se cutucar de forma animada.
Os dois pareciam bem esgotados também por causa do jogo.
- Aurora foi a única da escola que ficou com o Bruno antes dele namorar a Fanny. - a garota mais afastada do grupo falou e me forcei para escutar. - Ela disse que ele é bom com as mãos.
Ouvi risadas abafadas.
- Mas que belas mãos ele tem também. - Alexis, disse.
Ignorei o aperto no peito pelo incômodo do Bruno estar sendo o centro das atenções delas.
Ele que vá para o inferno.
- E o Caio? É bom também? - perguntou, a mesma menina que falou da namorada do Maicon.
- Sim, já peguei.
- Eu também.
- Mentira, gente, vocês também? Aconteceu ontem depois da escola.
Segurei uma risada com o descaramento do Caio.
Ele realmente gosta de curtir a vida.
Ficando desconfortável com minha posição, levantei e comecei a me afastar. As meninas me seguiram parecendo que já tinham visto o bastante.
- Eu deixaria ele me pegar no carro dele e me fazer gritar. - Ava exclamou, em um tom de voz alto. - Ai, mais fundo, Maicon.
As meninas começaram a rir com mais liberdade porque não tinha mais risco dos meninos escutarem.
- Então a namorada dele aparece e te arranca do colo dele pelos cabelos.
Mais risadas.
- Eu posso saber o motivo da graça? - a professora de educação física perguntou, nos encontrando no meio do caminho.
Segurei um sorriso quando as meninas ficaram tão quietas como se um gato tivesse comido suas línguas.
Eu realmente gostava daquela aula.
Na hora da saída, fui atrás do Bruno para ele me levar para casa. Encontrei ele encostado em uma carteira enquanto passava um pano molhado em seus lábios. Lábios esses que tinha um corte com sangue seco.
- O que foi agora? - falei, ao entrar na sala.
- Machuquei no jogo. - respondeu, e fez uma careta ao pressionar o pano com mais força no corte.
- As vezes eu acho que você está tentando se matar quando joga. - exclamei.
Ele me olhou e estendeu o pano na minha direção.
- Seja útil e me ajuda aqui.
- Você realmente não consegue ser um pouco mais carinhoso? - falei, e arranquei o pano da sua mão. - Não vai matar não.
Mantendo uma distância segura, pressionei sem delicadeza nenhuma o pano em seus lábios fazendo o mesmo jogar a cabeça para trás.
- Porra...
- Ah, desculpa, machucou?
Ele não falou mais nada e eu continuei limpando seu machucado.
Senti meu sangue esquentar enquanto sua respiração batia em meus dedos quase fazendo cócegas.
- Você pode chegar mais perto, não vou te morder. - exclamou.
- Eu estou bem aqui. - falei.
- Para de graça. - sua mão tocou minha cintura e ele me puxou fazendo meu corpo tocar o seu. - Vai conseguir ver melhor assim.
Parei de mexer minha mão ficando afetada com sua proximidade.
Ainda segurando minha cintura, seus dedos se arrastaram por aquela região tirando minha concentração.
- Você não parecia muito bem quando voltou do clube com sua mãe semana passada. - disse, me pegando de surpresa. - Aconteceu alguma coisa?
Fiquei chocada com o fato dele ter notado isso.
- Só a mesma merda de sempre.
Seus dedos continuaram me tocando e então ele arrumou um jeito de se enfiar por baixo da minha blusa. Sua mão estava gelada e fez minha pulsação acelerar.
- Eu estar te ajudando não lhe dá direito de me apalpar. - consegui falar sem gaguejar.
- Eu só estou sendo carinhoso. - debochou, se referindo ao que falei minutos atrás.
Sentindo muitas coisas ao mesmo tempo, joguei o pano na carteira e me afastei dele.
- Só tenta não se matar na próxima vez. - falei, tentando não olhar seu rosto.
Meus olhos se fixaram em suas mãos e lembrei dos comentários das meninas mais cedo. Bruno só tinha me beijado, não chegou a me tocar de forma mais íntima, mas eu não duvidava dos boatos.
- Não devia ter esse olhar enquanto estamos sozinhos em uma sala. - ouvi ele exclamar. - Eu posso levar como um convite.
Balancei a cabeça para clarear meus pensamentos.
Quando ele fez menção de se aproximar, me afastei com medo de ceder.
- Eu vou te esperar no estacionamento. - decidi, sabendo que era mais seguro.
Me virei e sai da sala deixando ele sozinho.
Meu coração ainda batia de forma nervosa e minhas mãos estava suadas. Isso me mostrou que eu tenho que manter distância do Bruno.
Sem olhar por onde estava indo, acabei esbarrando em um garoto no meio do corredor. Quando me ajeitei, vi que era o Nathan.
- Ah, desculpa... - ele parecia envergonhado.
- Tudo bem, a culpa foi minha. - falei.
Ele assentiu e quando foi se afastar, chamei sua atenção.
- Sobre aquele dia na biblioteca...
- Eu realmente não sabia que você namorava o Bruno. - exclamou. - Foi mal se te ofendi.
- Ele não é meu namorado.
Ele franziu o cenho surpreso.
- Não? Mas o que ele disse na biblioteca.
- Bruno gosta de deixar as pessoas constrangidas. - falei, ainda sentindo seu toque na minha cintura. - É um hobby pra ele.
Nathan ficou me olhando como se esperasse que eu começasse a rir e dissesse que era brincadeira.
- É sério?
- Sim, eu não namoro com ele. - afirmei.
Nathan sorriu pela primeira vez parecendo aliviado.
- Se é assim, você não quer ir comigo assistir um filme na sexta? É de suspense, você vai gostar.
Encarei seus olhos castanhos pensando no que dizer. Eu realmente não estava interessada nele, mas Nathan parecia confortável para se ter uma amizade.
Bom, se ele tentasse algo mais, saberia dar um ponto final.
- Pode ser.
Seu sorriso aumentou.
O que podia dar errado?
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