Capítulo 06: Por Favor, Diz Que Sim
O exato momento que a bomba estourou no dia seguinte, eu já estava acordada. Na verdade, eu nem dormi. Esperei ansiosa meu padrasto abrir a porta do escritório e encontrar o que seu querido filho fez.
Indiretamente, foi ele quem fez aquela bagunça no escritório do Damon sim. Se ele não tivesse me provocado, nada disso teria acontecido.
Enquanto arrumava minha gravata que fazia parte do uniforme escolar, sorri ouvindo barulhos no andar de baixo.
- Bruno... - meu padrasto gritou pela sala. - Não acredito que você deixou isso acontecer de novo.
Pelo que Lúcia me contou, se o Bruno deixasse a casa arrumada depois de suas intermináveis festas, o pai dele não se intrometia.
- O que foi meu, amor? - ouvi, minha mãe perguntar parecendo apreensiva.
"Oh, não, quem perturbou o juízo do meu queridíssimo marido"
Senti vontade de revirar os olhos com esse pensamento.
- Bruno, desce agora. - ordenou, Damon.
Sem resistir, sai do quarto e esperei no corredor quando Bruno saiu do seu quarto. Não parecendo com medo da forma que seu pai estava chamando ele, o idiota me olhou parecendo curioso.
- Ele parece bravo. - murmurei, tentando parecer distraída. - Eu quase sinto pena de você.
Sabendo que ele só entenderia aquela frase quando visse o que eu tinha feito no escritório, notei que ficou confuso.
Não respondeu, Bruno passou direto e desceu às escadas.
Infelizmente, os dois se enfiaram em algum cômodo da casa e não me deixaram assistir ao show. Decepcionada, mas ainda muito feliz, fui até a cozinha vendo como Lúcia parecia nervosa.
- Odeio quando eles brigam. - a mulher mais velha murmurou. - Essa casa fica tão pesada.
- Verdade, Lúcia. Espero que se resolvam logo. - falei, e limpei uma lágrima imaginária. - Essa coisa familiar sempre me toca.
Lucia assentiu chateada.
- Toma seu café, criança. Não pode se atrasar.
Sentei na mesa ao mesmo tempo que minha mãe apareceu. Ela caminhou na minha direção e pareceu me avaliar.
- Você parece feliz. - disse, desconfiada.
- Feliz? Eu estava aqui comentando com a Lúcia como é horrível ver dois familiares se estranharem. - me defendi, e passei geleia no meu pão.
- Verdade, Sra. Renault. Helena tem um coração tão bom.
Ainda desconfiada, Katherine sentou na minha frente como se quisesse ler meus pensamentos.
Minutos depois, a porta da frente bateu e então Damon apareceu ainda muito irritado.
- Meu amor, toma seu café. - minha mãe disse mudando seu tom de voz.
Como Bruno não apareceu, presumi que a porta da frente ter batido significa que ele já saiu para o colégio. E, não estava de bom humor.
- Eu não sei o que faço com esse garoto. Ele estava se comportando tão bem nos últimos meses. - Damon, confessou. - Primeiro a polícia e agora isso?
Minha mãe me olhou como se eu tivesse culpa.
Meu Deus, eu nem abri minha boca.
Achei que ele fosse armar outro espetáculo no colégio para me humilhar. Talvez me empurrar ou gritar comigo na frente de todo mundo... mas não. Ele não fez nada o dia inteiro. Na realidade, me ignorou totalmente e isso me deixou mais preocupada.
Será que estava planejando alguma coisa?
Mesmo que tentasse negar, eu até gostava da nossa rivalidade. Me deixava com a pulsação acelerada e fazia um tempo que nada me fazia sentir assim.
Na verdade, nada já me fez sentir assim.
Quando voltei para casa, fiquei aliviada quando percebi que ele ainda não tinha chegado. Depois de tomar banho, passei horas mexendo no meu celular. Quando a fome bateu, desci às escadas encontrando a cozinha vazia.
Abri a geladeira e encontrei a janta enfiada em um pote pequeno. Aqueci a comida no microondas e sentei na mesa.
Odiava comida requentada, mas Lúcia estava se provando uma perfeita cozinheira.
Eu mal tinha começado a comer quando ele apareceu.
Me forcei a engolir a comida e encarei seus olhos claros.
Ele parecia... sereno.
Depois de se aproximar, Bruno jogou a chave do carro na mesa e sentou na minha frente. Percebi que ele não usava mais seu uniforme e estava de banho tomado. Sua blusa branca e calça de moletom deixavam ele com ar mais relaxado.
- Você está se divertindo, né? - questionou, em um tom de voz calmo.
- Eu só estou jantando.
- Sabe, eu cheguei a ficar irritado no começo... mas depois eu entendi. - ele se encostou na cadeira e cruzou os braços.
Deixei minha comida de lado lhe dando total atenção.
- Entendeu o que?
- Antes de você aparecer, sua mãe nenhuma vez chegou a comentar a seu respeito. Eu nem sabia que você existia. Então, você chegou e me mostrou que age do jeito que age, porque quer chamar atenção. - começou, parecendo pensativo. - Me deixa adivinhar, seu pai não pensou duas vezes antes de mandar você pra cá, e isso te deixou tão chateada que resolveu transformar seus dias aqui nos piores possíveis?
Sem conseguir respondeu, fechei minhas mãos sentindo cada uma de suas palavras.
- Eu acertei, Helena? Você é só uma garotinha assustada com o mundo real que acha que seus comportamentos raivosos fazem alguma diferença? - perguntou, e se inclinou na mesa ficando mais perto. - Eu confesso que pela primeira vez estou realmente interessado por sua resposta.
Agindo mais pela emoção do que pela razão, nem pensei duas vezes antes de jogar a água do meu copo nele. Ficando surpreso, Bruno levantou e passou a mão no rosto.
- Que porra, garota...
Meu ato não foi nada comparado com suas palavras, mas me senti um pouco melhor.
Me olhando com raiva, levantei quando o mesmo fez menção de ir na minha direção.
- Desculpa, eu não tenho uma coordenação motora muito boa. - falei, sem conseguir segurar o sorriso. - Tem vezes que as coisas voam das minhas mãos.
Ele deu a volta na mesa me fazendo ir para o outro lado da cozinha.
- Eu vou adorar arrancar esse sorrisinho do seu rosto. - disse, ainda tentando se aproximar.
- Você não pode tocar em mim.
Então, ele correu na minha direção.
Realmente correu e isso me assustou. Agindo rápido, corri na frente tentando ficar o mais longe possível dele.
- Você não está pensando logicamente. Era só água no copo. - gritei, ouvindo seus passos atrás de mim.
Eu não conhecia nada naquela mansão, então começei a fugir pelos corredores tentando achar um local seguro.
Com o coração acelerado, quase dei de cara com a Lucia no meio de algum canto da casa. Achando que ela era minha salvação, parei de correr e tentei acalmar minha respiração.
- Lúcia...
Parei de falar quando Bruno parou atrás de mim e circulou seu braço em volta da minha cintura. Sentindo seu peito nas minhas costas, engoli em seco com a emoção de tudo aquilo.
- Está tudo bem? - a cozinheira perguntou surpresa.
- Está tudo ótimo. Eu só estava mostrando a casa para nossa nova hóspede. - Bruno disse, de forma calma.
Porra, eu estava quase morrendo enquanto ele parecia que foi fazer um simples passeio no parque. Tenho que fazer mais exercícios.
- Tem certeza? - ela me olhou com atenção.
Bruno apertou um pouco mais seu corpo no meu e eu odiei perceber como ele era quente.
- Está tudo bem sim. - respondi, não querendo trazer problemas para ela.
Lúcia foi uma das poucas pessoas que me tratou bem aqui. Não é justo ela se ferrar por conta da nossa guerra.
Mesmo não totalmente convencida, ela voltou a entrar em seu quarto fechando a porta.
Ficando novamente sozinha com ele, Bruno começou a andar comigo ainda agarrada em seu corpo.
- O que você vai fazer? - perguntei.
- Devolver o favor.
Ele me girou em seus braços e quando ficamos um de frente para o outro, Bruno se agachou para me jogar em seus ombros.
- Ah, seu imbecil. - exclamei, batendo nas suas costas.
Ficar de ponta cabeça era uma sensação horrível, mas ele parecia se divertir em me ver nessa situação.
Voltou a andar e sem dar qualquer aviso, me jogou dentro de uma piscina que ficava em um dos cômodos. Era uma versão menor da que tinha do lado de fora, mas era tão gelada quanto.
Muito gelada.
Querendo a superfície, nadei para cima, mas só para ser puxada de novo para baixo quando algo, ou alguém, segurou meu tornozelo.
Me mantendo no fundo, abri os olhos quando Bruno se aproximou e colou seus lábios com o objetivo claro de me fazer perder o fôlego. Quando não cedi, ele enfiou a língua na minha boca me pegando de surpresa. Quando a água entrou na minha boca por causa do seu gesto, o medo de morrer afogada começou a me dominar. Ai sim ele me libertou.
Nadei de forma desesperada para a superfície e andei até a parte rasa para conseguir colocar meus pés no funda da piscina.
Encostei minhas costas na beira e tossi três vezes ainda sentindo a sensação da água na minha garganta.
Eu sei que sua intenção não foi me beijar, ele só queria me aterrorizar e conseguiu perfeitamente.
- Você... - passei a mão no rosto para clarear minha visão. - Está tentando me matar?
Peguei pesado sim com o negócio das penas no escritório do Damon, mas não achei que ele fosse fazer algo assim.
Bruno nadou até ficar na minha frente e parecia tão sem fôlego quanto eu. Ele mantinha aquele sorriso de quem estava achando tudo muito... interessante.
Tentei chutar sua perna por baixo da água, mas ele foi mais rápido e segurou meu joelho para enrolar o mesmo em volta da sua cintura. Essa posição fez com que ele ficasse perto demais. Não só isso... partes do meu corpo encaixaram tão bem nele que eu conseguia sentir o que sua calça de moletom estava escondendo.
- Por que está tão irritada? Foi seu primeiro beijo? - quis saber e se inclinou na minha direção.
Ele apertou meu joelho com mais força e então seu quadril se esfregou no meu enquanto parecia avaliar minha reação.
- O que... está fazendo? - consegui, perguntar.
- É a primeira vez que um cara faz isso com você também? - voltou a questionar, e sua respiração bateu no meu rosto. - Por favor, me diz que sim.
Ele continuou fazendo seu quadril ir de encontro ao meu e eu odiei meu corpo por corresponder aos seus movimentos. Não parecendo satisfeito, Bruno colocou seu rosto na curva do meu pescoço e senti seus lábios gelados tocarem minha pele.
- E isso, alguém já fez com você? Aposto que sim, você tem muito fogo para ter passado tanto tempo sem alguém pra te tocar. - sussurrou, e pela proximidade em que estávamos, não precisei me esforçar para ouvir.
Sem conseguir agir direito por conta das sensaçãos que ele estava me fazendo ter, aproximei meu rosto do seu pescoço e mordi com força aquela região.
Com força mesmo.
Como se tivesse tomado um choque, Bruno me soltou e se afastou.
- Se não queria que eu continuasse te tocando, era só ter me falado para parar. - disse, parecendo irritado com seu mais novo machucado. - Qual seu problema?
Eu não respondi e ele saiu me deixando sozinha na piscina. Quando também saiu daquela sala, coloquei meu corpo no fundo da água sentindo o silêncio à minha volta.
Que porra acabou de acontecer?
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