Capitulo 01: Medo de Altura
~ Helena ON ~
Vamos lá, não é como se eu realmente estivesse chateada por mudar de país. Seria muita idiotice da minha parte reclamar disso. Mas nada me impedia de ficar irritada porque tudo isso só estava acontecendo por conta da minha madrasta.
Camila sempre arrumava um jeito de tentar se livrar de mim. E, agora, ela vai conseguir me enviar para outro país com o pretexto de passar mais tempo com meu pai.
O custo disso seria eu ter que conviver com o ex amante da minha mãe, que agora é seu novo marido.
Vale tudo para se mudar para a França, né, mamãe?
- Muda essa cara, filha - meu pai exclamou depois de sentar na minha cama - Vai ser legal. Uma aventura.
Olhei para seu rosto tentando atender se o mesmo estava falando sério. Legal onde? Se Camila não me suportava, minha mãe não ficava muito atrás.
Tenho quase certeza que ela traiu meu pai e mudou de país com seu novo marido só para fugir de mim.
Fidelidade é algo que Katherine não conhece.
Legal? - eu pergunto, sorrindo forçado. - Minha mãe nem gosta de mim.
- Por que você acha isso? - perguntou, tentando me entender.
- Ela nem me liga para perguntar como eu estou, a única coisa que ela faz por mim, é me mandar dinheiro todo santo mês. - digo indignada.
Eu era boa nesse negócio de drama e meu pai tinha que entender como eu estava magoada com ele. Camila só disse algumas palavras e pronto, ele aceitou me manter afastada.
- E isso não é bom?
- Querido, papai, eu sou uma adolescente em crise, preciso de mais do que 500 reais para sobreviver. - falei. - E eu não sei porque o senhor está aqui no meu quarto tentando me convencer a ir se serei obrigada. - me levantei - Então, não gaste seu tempo comigo. Me deixa aqui sozinha enquanto arrumo minhas malas.
Viu? Drama.
- Hoje você está insuportável. - ele fala se levantando e indo em direção a porta.
- Eu sou insuportável. - eu falei entrando no banheiro e batendo a porta com força.
Encarei minha imagem no espelho e reparei em como o meu cabelo estava bagunçado. Além do embaraço, tenho certeza que cortar seria mais facil que pentear.
Não que eu me achasse feia ou coisa do tipo, eu até era aceitável no quesito aparência. Mas tinha plena consciência que existiam garotas muito mais interessantes que eu.
Sorri me sentindo uma imbecil.
- Que porra de auto piedade garota. - exclamei, me repreendendo.
Dane-se essas outras garotas, eu realmente nem pedi para nascer.
No dia seguinte, meu pai veio me acordar delicadamente.
- Vamos levantar ou você vai perder o vôo. - ele fala me sacudindo.
- Eu pego o próximo. - eu digo ainda com os olhos fechados.
- Para de ser mimada, Helena. Levanta daí logo. - ordena, irritado.
Difícil meu pai perder a paciência, isso significa que eu estava passando do limite.
Abri os olhos e sentei na cama ainda sonolenta.
- Quero você lá em baixo em cinco minutos. - avisa.
- Ok, como você quiser, capitão.
Ele deu de ombros parecendo cansado e saiu do meu quarto.
Levantei da cama e fui para o banheiro tomar banho.
Depois do banho, vesti um vestido preto, passei um absurdo de maquiagem e coloquei uma touca preta. E, para finalizar, eu calcei um sapato da mesma cor.
Desci as escadas e vi que meu pai me olhou confuso.
- Quem morreu? - ele perguntou encarando minha roupa.
Suspirei impaciente.
- O direito de fazer o que eu quero com a minha vida, já que estou sendo obrigada a ir para um lugar que eu nem quero. - falei.
- Eu não vou discutir com você, agora vamos que já estamos atrasados. - exclamou.
- Você quer dizer: "eu estou atrasada" Quem vai viajar vai ser eu. - falei saindo de casa.
Se continuar assim, minha temporada de ferias vão se tornar permanentes. Já que nem me pai vai me querer de volta.
O caminho até o aeroporto foi feito em silêncio e eu agradeci por isso. Se eu continuasse falando, tenho certeza que ele me jogaria pela janela.
- Cadê a vadia... Quer dizer, cadê a sua mulher? - perguntei segurando o riso.
- Olha como fala dela, Helena. A Camila é uma mulher maravilhosa.
- Ela gasta seu dinheiro como se não houvesse amanhã. - falei. - E só pra não falar que eu estou falando demais. Onde ela está agora?
Ele respirou fundo antes de falar.
- No shopping. - ele respondeu.
- Ela não rouba seu dinheiro, você que dá pra ela. Assim você vai falir, pai. Aquela mulher já gastou milhões em plásticas.
- Ela só fez uma plástica, e foi no nariz, não mudou muita coisa, continua linda.
Que bom que beleza era algo relativo, né.
Fomos até o ponto de embarques, mas antes de entrar no avião eu tinha que me despedir do meu pai.
- Olha pai... desculpa por ser uma filha insuportável. - eu falei sendo sincera.
Ele arregalou os olhos.
- Quem é você? E o que fez com minha filha? - ele perguntou sorrindo.
- Quer saber? Tchau. - falei.
- Eu te amo. - ele me puxa para um abraço - Mas por que você está me falando essas coisas? - ele parecia curioso.
- Se o avião cair, eu não quero ir para o inferno por maltratar meu pai.
Ele me olhou assustado.
- Vira essa boca pra lá, garota. - ele sorriu - Vai com Deus, querida.
- Sempre. - digo.
Ele me abraçou e algumas lágrimas caíram dos meus olhos.
- Ela chora. - ele falou se afastando. - Viu meu amor? Você não é tão durona.
- Eu não estou chorando. - falei. - Meus olhos que estão irritados.
Ele assentiu com um sorriso nos lábios.
Ao entrar no avião, respirei fundo sentindo vontade de vomitar. Eu sempre tive medo de altura e passar horas dentro dessa coisa vai me fazer surtar.
Um garoto loiro dos olhos castanhos e bem gordinho sentou do meu lado.
- Oi, meu nome é Gustavo. - ele sorri se apresentando.
Pronto, ele agora quer fazer amizade.
- Me chamo, Helena. - digo rapidamente.
- Pelo jeito que você está, já percebi que tem medo de altura. - ele puxa assunto.
- Tenho medo sim. - assenti.
Ficamos conversando durante a viagem e percebi que ele até que é legal. Legal do tipo que vou esquecer no segundo que descer do avião porque sua presença não foi memorável o suficiente.
Posso dizer o mesmo em relação a minha pessoa.
Quando o avião pousou eu senti um alívio.
Desci e fiquei procurando minha mãe. Encontrei a mesma parada com uma placa na mão que dizia:
"EU ESTOU AQUI HELENA"
Chamativa, exagerada. Ela podia ao menos tentar ser menos falsa.
- Mãe, abaixa isso. - eu falei me aproximando.
- Que bom ver você também, Helena. - seu sorriso era puro deboche. - Como foi a viagem?
- Eu não tentei fumar maconha no banheiro, então... diria que ocorreu tudo bem.
Como esperado, seu sorriso morreu tão rápido quanto nasceu.
- Se comporta. - pediu em um sussuro e olhou para o homem ao seu lado. - Esse é meu marido, querida. Damon, essa é minha filha.
Damon, um homem alto de olhos claros e cabelos pretos, me olhou dos pés a cabeça como se avaliasse se eu era digna de sua atenção.
Katherine realmente achou sua cara metade.
- É um prazer te conhecer. - ele estendeu a mão na minha direção. - Você acabou de sair de alguma apresentação?
Sorri sabendo que exagerei na minha roupa.
- Eu diria que foi mais uma seita.
Minha mãe segurou meus ombros e começou a me forçar a andar.
- Essa minha filha... Tão engraçada.
O carro estacionado no lado de fora do aeroporto quase me fez arregalar os olhos em surpresa. Parecia aqueles automóveis que você só vê uma vez na vida, e quando acontece, é algo inesquecível que você vai contar até o final da vida.
Não sabia a marca, mas a cor era tão branca que ofuscava qualquer outro carro perto.
Puta merda.
Minha mãe talvez não seja tão inútil assim.
- Acho que você e meu filho vão se dar bem. - Damon, exclamou assim que entramos no carro. - Ele é mais velho, mas vocês vão estudar na mesma escola.
- Tomara. - falei sem vontade.
Minha mãe virou o rosto na minha direção parecendo desapontada.
O que ela não entendeu ainda é que eu estava planejando transformar minha estadia aqui nos piores meses da sua vida.
Aguarde, mamãe.
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