Capítulo 5
(...)"Amargo como,
Todas as contas não pagas e decepção,
Como, todos os feitos errados que traz solidão,
Como um limão,
Como um limão."(...)
(Kamaitachi - Café das seis)
Aspiral
Amê se afundou de uma forma que ninguém imaginava que fosse acontecer.
Os dias começaram a ficar idênticos, fluidos, mas não de um jeito bom, tudo muito rápido:
as crises,
os choros,
os vinhos,
os cortes,
os telefonemas acumulados,
as milhares de embalagens dos diversos deliverys que a mantinham viva,
as várias garrafas dos mais diversos tipos de bebidas que a trancaram em um vício,
as baratas e ratos que começaram a se embolar em seus pensamentos e cabelos sujos.
Passaram-se assim três meses.
Em um dia como qualquer outro, ela ouve alguém bater, levanta-se praticamente se arrastando e vai até a porta.
Quando vê o outro lado, pelo olho mágico, fica surpresa ao ver todos os seus funcionários esperando que ela abrisse.
Olivia, o seu braço direito e sua melhor amiga.
Dona Jane, a senhora mentora de todos que fazia ótimos bolos e dava conselhos melhores ainda.
Washington, um rapaz que intercalava o horário do trabalho com o da faculdade de contabilidade, e além disso intercalava mesas como ninguém, sendo ele o melhor dos garçons da torteria.
E o caixa, Jonilson, um menino extremamente amável que vivia dizendo como amava seu país, seu estado, sua cidade e sua favela.
- Amê, abre a porta, sabemos que você está aí... - Olivia enfiando o rosto no olho mágico.
- O que vocês querem?
- Como assim o que queremos? - Diz Washington - Amê não te vemos têm três meses, nós não podemos tomar conta da loja por você, afinal você é a dona... Não estamos dando conta sem você...
- Os investidores amor, querem uma posição sua, disseram que se não te verem vão parar de apoiar o seu negócio, mana! - Agora quem fala é Jonilson.
- Vocês dão um jeito, tirem o pagamento de vocês, fiquem com a loja, com tudo...
- Amê, não queremos a loja... Queremos você de volta, nenhum de nós fazemos o que você faz mulher! - Diz Olivia aflita.
Amê, ainda do lado de dentro, chora.
- Nada mais importa agora...
Jane finaliza - Amê, querida, tudo importa... Vamos embora gente...
- Mas ela nem abriu a porta... - diz Jonilson.
- Ela precisa pôr a cabeça no lugar, não vai resolver nada agora. - Afirma Jane.
Todos vão andando pelo corredor do prédio. Olivia continou parada na porta.
- Amê, quero que saiba que sempre te achei incrível, uma mulher grande e inspiradora, você não precisa se remoer por causa dele... Você é bem mais que isso... É bem mais...
- Vá embora Olívia! - Amê berrou de dentro do apartamento.
Olívia se calou, Amê jamais havia gritado com ela antes. Ela se assustou, não sabia o que seria de sua amiga e patroa Amê. Ela foi embora mas, não iria desistir.
Amê ficou ali chorando, no mesmo lugar até adormecer.
Quando amanheceu, no dia seguinte, ela se viu obrigada a levantar do chão.
Arrastou-se até o centro da sala, chutando as embalagens espalhadas pelo chão, passou a mão no sofá derrubando as diversas garrafas de vinho que ali estavam depositadas e praticamente despencou no móvel que parecia estar mais vivo que ela. Pegou o controle remoto e ligou a televisão de plasma que estava acoplada à parede.
Começou a ver o jornal que estava apenas repetindo qualquer desgraça que havia acontecido no dia anterior, de repente a TV desligou, e todo o resto também.
- Cortaram a luz? Eu deveria imaginar...
Ela levantou do sofá e, se arrastando novamente, foi até a janela do apartamento, começou a olhar a rua, os diversos carros, e no prédio que ficava de frente para o seu, as janelas abertas, as pessoas vivendo, fazendo várias coisas diferentes dentro de cada apartamento.
Observava os detalhes, enquanto estava ali, presa naquele inferno que parecia eterno.
- O que vamos fazer Amê? - Disse para si mesma - O que faremos agora?
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