Primeiro
Kate Reed
Passo a geleia pela torrada enquanto ouço meus irmãos correndo pela casa. Cody está correndo atrás de Liam com uma lagarta que ele achou perto da janela.
Meus pais ainda estão lá em cima e estou terminando de preparar as coisas para o lanche deles, coloco tudo dentro das sacolas com os nomes deles.
Cody tem dez anos de idade e Liam tem oito, os dois são calmos na maioria do tempo quando não estão implicando um com o outro.
-Ok! Os dois quietos!- minha mãe vai até a geladeira.
-Já fiz.- levanto os dados.- Posso ir deixar eles...
-Ah, querida, iria ajudar muito.- ela parece aliviada.
-Ok, vamos lá.- pego as mochilas deles.- Pra escola!
-Não!- os dois falam triste.
-Kate vai levar hoje?- meu pai desce arrumando a camisa.
-Sim, sou uma filha perfeita.- sorrio entregando as mochilas e os casacos.
-Não podíamos estar mais agradecidos.- minha mãe sorri para mim.- Te encontro na loja?
-Claro.- abro a porta.- Tchau!
Nos despedimos e os meninos vão na frente enquanto eu vou mais atrás observando as pessoas, vivi minha vida inteira aqui e conhecia todas as pessoas. Por isso sempre cumprimentava todos.
A escola era há alguns quarteirões e sempre saíamos na mesma hora para pegar o carrinho de café do Louis, as crianças não tomavam, mas eu adorava.
Coloco as mãos dentro do casaco e vejo meus irmãos brincando um com o outro, respiro fundo olhando para o lado e percebendo que tinha um carro novo na praça principal.
-Kate.- Anna aparece.- E aí, dupla maluca?
-Oi, Anna!- os dois falam na mesma hora.
-Já vai tocar.- bagunçou os cabelos de Cody.- Cuidado com a rua!
Grito quando eles correm para a entrada do colégio, os dois parecem dois malucos enquanto gritam correndo para lá e para cá, meus pais deram sorte em eu ser tão quietinha.
-Desconfiaram de algo?- Anna pergunta baixinho.
-Não, nada.- respiro fundo.
-Ótimo!- ela me sacode.- Quando podemos fazer isso de novo?
-Anna!- arregalo os olhos.- Eu vi caras com armas...
-Kate, é a Itália, Salerno é um centro de drogas...
-Por isso mesmo que vamos passar longe de Salerno.- começo a andar na direção da loja da minha mãe.
-Ah, você é tão entendiante.- ela bufa.- Eu estava me divertindo antes de você me puxar de lá.
-Para a sua segurança.- pego as chaves dentro da bolsa.- Acredite, você não ia querer ficar lá se começasse a rolar um tiroteio.
-Kate, A Chata.- ela mexe as mãos como se apresentasse o título de um filme.
-Estou ignorando.- abro as portas.
-Que seja.- ela suspira passando a mão pelos tecidos.- Já escolheu alguma faculdade?
-Ainda tenho mais quatro meses e já que fui aceita em todas....
-Acho legal você querer fazer moda igual sua mãe.- ela se apoia no balcão enquanto abro o caixa.
-Eu ainda nem sei se vou fazer, estava pensando em fazer Designer.- começo a arrumar as coisas.
-Contanto que você saia dessa cidadezinha de merda.- ela suspira afastando os cabelos.- Meus pais arrumaram o marido perfeito para mim.
-Quem?- acho engraçado e ela revira os olhos.
-O Francesco.- ela fala e arregalo os olhos.
-O que trabalha no mercadinho e tem vinte e cinco anos?- levanto as sobrancelhas e ela assente.- O cara não sabe nem passar uma blusa, Anna.
-Aparentemente a família dele e a minha tem laços fortes.- ela suspira.- Bem, vou trabalhar um pouco e depois te vejo.
-Ok.- observo ela ir.
Tenho muita sorte de meu pai não ser igual o de Anna e querer ela casada o quanto antes, para meu pai eu poderia continuar solteira por toda a minha vida. Ele devia ter tentado até me levar para um colégio de freiras se pudesse.
Aqui as mulheres casam bem cedo, tem umas amigas de colégio minhas que já tem casa e filhos, eu realmente não queria isso para a minha vida.
Começo a desenhar em uma folha totalmente distraída, talvez devesse escolher uma das faculdades dos Estados Unidos, mudar um pouco de ar.
♧︎︎︎
Dante Bernadi
"-Não tem ninguém aqui.- falo para meu pai.
-Claro que tem, é uma cidade.- ele bufa.- Você não está procurando direito.
-Não tem nada pra procurar, eu dei dois passos e já conheci a cidade inteira!- falo andando pela praça.
-Ótimo, então vai ser fácil você achá-la, deve estar em algum lugar.- ele parece contente.
-Claro, vou sair batendo em todas as casas procurando por uma Kate.- bufo olhando em volta.- Vão achar estranho.
-Então faça do jeito mais discreto, tenho que ir, Sara está escalando uma árvore."
E é assim que minha falha total em achar aquela garota deve terminar, guardo o celular e coloco as mãos dentro dos bolsos da calça enquanto estou quase desistindo.
Está quase na hora do almoço e não encontrei nenhuma pista dessa garota e não posso ir perguntando por alguma Kate por aí, vão achar estranho.
Olho para o lado e é como se tudo parasse, Kate está caminhando distraída pela calçada e seu vestido azul claro parece combinar muito bem com ela.
Os cabelos escuros estão arrumados em belas ondas pelas costas e ela vai na direção de uma loja de tecidos e roupas, começo a andar na direção dela lentamente.
Ela entra na loja e percebo que não tenho nada para dizer, respiro fundo e entro sem mais nem menos, ela está atrás do balcão e logo olha para mim.
-Posso ajudar?- pergunta.
Ela não lembra de mim, acho que nem lembra da noite do bar, parece não me conhecer e acho que de certa forma isso pode ser bom.
-Veio comprar tecido ou mandar fazer alguma roupa?- ela pergunta sorrindo enquanto eu fico calado.
-Um vestido.- falo e ela me observa.
-Tem as medidas?- pega um lápis.- Ou quer começar pelo tecido?
-Tecido.- observo os olhos azuis claros.
-Ok.- ela sai de trás do balcão.- É para que ocasião?- pergunta.
-Um jantar.- invento.
-Ela gosta de seda?- Kate mostra os tecidos.- São bastante chiques, e esses são importados da Escócia.- ela pega uma seda azul escura.
Enquanto está arrumando os tecidos seus cabelos caem por seus ombros e ela sopra uma mecha para longe, me aproximo lentamente e ela morde o lábio ainda concentrada.
-Sabe qual é a cor preferida?- ela olha para mim.
-Não...
-Bom...- Kate se apoia no balcão do centro da loja.- Se ela tiver cabelos loiros, seria melhor um vermelho. Mas se for castanho ou preto, um azul cairia muito bem.
-Pretos.- falo e ela assente.
-Kate, você sabe o que aconteceu com o vestido da senhora....- uma mulher sai de uma portinha e me observa.
Seus olhos são quase da mesma cor que os de Kate, ela parece um pouco mais velha, mas não tão mais velha. Chutaria que poderia ser irmã mais velha de Kate.
-Nunca vi você por aqui.- ela fala séria.
-Ele veio fazer um vestido para...
-Uma amiga.- termino.
-De onde?- ela me observa.
-Salerno.- falo e Kate fica tensa enquanto me observa mais atentamente.
-Bem longe, não?- ela franze as sobrancelhas.- Não temos propagandas em Salerno.
-Eu ouvi falar por alguns amigos.- explico.
-Kate, acho que já deu a hora de pegar seus irmãos na escola.- a mulher fala bem séria.
-Mas....
-Agora, Kate.- ela interrompe.
Respiro fundo quando vejo Kate ir e a porta se fecha me deixando a sós com aquela mulher, ela começa a arrumar os tecidos e a colocar em seus cantos.
-O que quer aqui?- ela pergunta.
-Nada demais...
-Você é de fora, nunca veio na cidade, espera acreditar que está aqui apenas para fazer um vestido?- ela cruza os braços.- O que quer com minha filha?
Filha? Uau.
-Eu a vi em uma boate em Salerno.- explico e ela parece surpresa.- Só quero conversar com ela.
-Caras estranhos com armas não chegam perto da minha filha.- ela aponta para a arma embaixo do meu blazer.- Pode dar meia volta e esquecer ela.
-Não é tão simples.- sorrio com raiva.- Eu quero conversar com Kate.
-Sobre o que?- ela pergunta.
-Espere.- franzo as sobrancelhas.- Como sabe que tenho uma arma e por que não está surtando?
As bochechas da mulher ficam vermelhas e percebo que tem algo a mais que não estou percebendo, ouço uma buzina fraca e um cara começa a sair de um carro.
-Acho melhor você ir embora antes que a situação se complique para você.- ela aponta para a porta.
-Eu quero...
-Ela não vai se envolver com pessoas como você.- a mulher sorri com raiva.- Vá embora e não volte nunca mais.
-Você não sabe com quem está mexendo.- começo a me aproximar.
-Você que não sabe com quem está mexendo.- ouço uma voz masculina e olho para a porta.- Não sei o que quer, garoto, mas você vai embora agora!
-Papai?- dois garotos entram na loja.- Podemos ir agora?
-O que tá acontecendo?- Kate surge também.
-Kate...- dou um passo na direção dela.
-Ella, as crianças.- o cara olha para a mulher, Ella.
Ella começa a levar os meninos para fora e tenta levar Kate, mas ela insiste em ficar e o cara toca uma gaveta da bancada central da loja.
-Para o carro, Kate.- ele pede.
-Isso tem haver com as ameaças?- ela pergunta com as sobrancelhas franzidas.
-Ameaças?- pergunto.
-Não se mete, garoto.- ele fala com raiva.- Não tem nada haver com as ameaças, agora vá para o carro...
Ella segura o braço de Kate e a puxa, observo ela ir até o carro e o cara aponta uma arma para mim, sou rápido o bastante para apontar a minha para ele.
-O que vocês são?- pergunto.
-O que você é?- ele faz a mesma pergunta.
-Eu quero conhecer Kate.- explico e ele ri.- Posso oferecer dinheiro em troca.
-Não preciso do seu dinheiro.- ele balança a cabeça.
-Posso oferecer proteção.- levanto as sobrancelhas e ele fica mais tenso.- Tem problemas com a máfia de fora, não?
-A avó de Kate.- ele fala sério.- Tem gente atrás dela.
-Eu posso protegê-la.- toco meu peito.- Se ela ficar comigo....
-Sem chance.- ele balança a cabeça.
-Que tal ela ficar um final de semana comigo?- pergunto.- Se ela gostar, eu passo a visitar vocês semanalmente.
-Não vejo como isso me beneficia.- ele semicerra os olhos.
-Meus caras são bons no que fazem.- explico.- Eles podem não só proteger como acabar com a ameaça.
-Se Kate não aceitar...
-Ela vai.- sorrio.
-Você vem na sexta de novo.- ele guarda a arma e eu abaixo a minha.- Se ela não quiser ir, você vai embora.
-Combinado.- guardo minha arma.- Posso perguntar algo?
-O que?- ele parece de mau-humor.
-Se você tem condições, por que não a protege?- pergunto.
-Sabe quanto tempo demora para a alfândega deixar um cara meu passar mesmo que eu pague?- ele franze as sobrancelhas.- Você tem gente de dentro.
-Então temos um acordo.- estendo a mão.
-Se Kate disser não, você ainda vai ter que ajudar.- ele fala e eu assinto.- Se ela disser não...
-Se ela disser não, eu vou embora.- falo com certeza.
Ele aperta minha mão e eu sorrio, agora tenho uma chance real de conhecer aquela garota, por mais que eu não esperasse ser isso tudo. A ameaça, os pais....
-Chris.- ele se apresenta e eu sorrio.
-Dante.
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