Passatempo
Kate Bernadi
Estou sentada em uma das poltronas e anotando uma série de números que Dante pediu para eu fazer o balanço. Ou pelo menos era para eu estar fazendo isso, mas depois comecei a desenhar.
Ele continua concentrado e o observo, Dante passa os dedos pela testa em forma de massagem e lê aquele papel com tanta concentração que me pergunto o que está escrito ali.
Coloco a cabeça para o lado e ele levanta os olhos me encarando, um sorriso lento corre seus lábios e ele abaixa o papel para me observar também.
-O que está pensando?- pergunta.
-Nada demais.- balanço a cabeça.- Só estou curiosa.
-Com o que?- ele cruza os braços.
-Com você.- passo meus dedos pelos lábios.- Você e eu não nos conhecemos muito.
-O que você quer saber?- ele parece aberto para conversar.
-O que aconteceu com você?- franzo as sobrancelhas.- Duvido que tenha sido assim desde o começo...
Ele fica sério e então volta a olhar para os papéis, me levanto e ele ignora meus movimentos até eu estar afastando a cadeira dele.
-Você perguntou.- sento na frente dele.
-Não quero falar sobre isso.- ele suspira.
-Ok.- olho envolta.- Eu só aprendi a andar de bicicleta com treze anos e não sei nadar muito bem.- informo e ele me encara.- Eu também não gosto de sapos.
-Algum problema com sapos?- ele sorri.
-Quando eu era pequena um deles pulou em mim e fiquei sem sair por uma semana.- sorrio lentamente e ele ri.- Está rindo de mim?
-Não.- as mãos dele tocam minhas coxas.- Nunca iria rir de você.
-Então?- saio da escrivaninha e sento no colo dele.- Só uma coisinha, Dante.
-Quando eu tinha quinze anos estava andando pela rua quando levei um tiro.- ele desabotoa a camisa.- Quase morri.
Vejo a cicatriz e me pergunto como não vi antes, quer dizer, eu já tinha visto antes e não tinha me importado muito. Mas agora sabendo da história.
Passo meus dedos pela cicatriz e ele acaricia a parte exposta da minha cintura por causa da blusa ter subido. Desço meus dedos por seu abdômen e o encaro.
-E Lara?- pergunto.
-Não, sobre Lara não.- ele fica rígido.
-Você ainda ama ela?- pergunto e ele desvia o olhar.- Dante...
-Eu a perdi por que não soube protegê-la, por que era novo e burro.- ele segura meu rosto.- Não vou deixar isso acontecer de novo.
-Sei que não.- acaricio a mão dele.
-Não pergunte sobre ela.- ele pede e o observo.- Ainda não estou pronto para isso, ainda não estou pronto para falar sobre ela.
-Ok.- mexo a cabeça.- Ok.
Levanto voltando ao meu canto e ele abotoa a blusa de novo, pego o bloco que estava escrevendo e continuo escrevendo os números.
Coloco os cabelos atrás da orelha e me espreguiço encostando as costas em um dos braços da cadeira e passando as pernas pelo outro.
-Não sabe nadar, é?- ele pergunta.
-Não tinham muitas piscinas na minha cidade.- falo sorrindo e ele ri.- Dante!
-Se quiser eu ensino você.- ele me observa.- Ensinei minhas irmãs.
-Você tá me zoando, não?- franzo as sobrancelhas.
-Não, você precisa saber...
-Dante!- alguém bate na porta e abre logo em seguida, Bruno.- Um cara chegou no hotel e viram ele com uma arma. Não avisaram na hora e ele está por aí.
-Mande a equipe de segurança procurar pelas câmeras.- Dante levanta.- Leve Kate para o quarto.
-Não.- falo séria.- Eu vou ajudar...
-Você pode ajudar indo para o quarto.- Dante levanta e me tira da cadeira.- É só por segurança.
-Mas...
-Só até acharmos o cara.- ele beija minha testa.- Bruno.
-Vamos.- Bruno toca meu ombro.
Olho para Dante ele está abrindo um armário cheio de armas, sigo Bruno pela recepção e sorrio para algumas crianças que passam indo para a piscina.
Bruno aperta o botão do elevador e entra comigo logo em seguida, ele está com a mão na arma o tempo todo como se eu fosse uma carga preciosa.
O ele adora abre no nosso andar e caminhamos calmamente até o quarto, ele pega o cartão e abre a porta entrando primeiro. Entro atrás dele e o vejo revistando o quarto.
-Acho que não tem ninguém, Bruno.- ele entra no banheiro.
-Não podemos arriscar...
Algo bate contra minha nuca e eu caio no chão, fecho meus olhos com força e ouço alguma coisa quebrar. Toco minha cabeça e viro de barriga para cima.
Abro os olhos e vejo uma arma do meu lado enquanto Bruno está sendo sufocado por um cara de terno e com uma cicatriz enorme no rosto.
Pego a arma e destravo, me sento de costas para a cama e miro na cabeça do cara, estou quase apertando o gatilho quando minha cabeça lateja e tudo acontece bem rápido.
Puxo o gatilho e levo as mãos para minha cabeça, tento me levantar e alguém agarra meus braços. Já estou pronta para lutar quando Bruno segura meu queixo e me faz encará-lo.
-Kate?- ele franze as sobrancelhas.- Você me... O que você tem?
-Minha cabeça dói.- falo enquanto ele me senta na cama.
-Ah, merda.- ele se afasta indo até a porta.
Ele grita alguma coisa e eu olho para aquele corpo deitado no chão do quarto, respiro fundo várias vezes e vejo o sangue sujando o tapete.
Eu tinha matado ele. Eu matei alguém.
♧︎︎︎
Dante Bernadi
Estou de braços cruzados enquanto o médico que achamos examina Kate, ele está com uma lanterna pequena apontada para o olho dela e parece bem sério.
Não consigo parar de bater o pé e ele se afasta, ela volta a colocar o gelo na cabeça e ele guarda as coisas na maleta que trouxe do quarto.
-Então?- pergunto.
-Ela está bem, foi uma leve batida e não parece grave.- ele explica.- Só deixe ela acordada por mais alguma horas e fique de olho.
-Certo.- Bruno abre a porta para ele.- Obrigado.
-De nada, qualquer coisa é só me chamar.- ele passa pela porta.- Continue com o gelo.
Mexo a cabeça e Bruno sai junto com o médico, me agacho na frente de Kate e ela parece bem calada. Não sei se é por causa da batida ou por causa do homem que matou.
Pedi para os homens tirarem ele e cobrirem o sangue o mais rápido possível para o médico checar Kate. Eles iam limpar amanhã e quando voltássemos estaria tudo brilhando.
-Tudo bem?- pergunto.
-Eu matei um cara.- ela fala séria.
-Você salvou Bruno.- falo com um sorriso calmo.- Matou por bem...
-Eu sei.- ela respira fundo e abaixa o gelo.- Mas mesmo assim eu matei.
-É isso que é participar de uma máfia, fiore.- acaricio sua bochecha.- Você vai ter que matar alguma hora.
-Eu sei.- ela repete e me encara.- Onde ele está agora?
-Vamos queimar ele.- falo baixo.- E desaparecer com seus restos.
-Ah.- ela olha para o gelo.
-Que tal só se concentrar no agora?- coloco o gelo na sua cabeça de novo.- Descanse um pouco, mas sem dormir.
-Eu consigo fazer isso.- ela relaxa.
-Bom.- beijo os lábios dela.- Vou falar com Bruno e volto em cinco minutos, ok?
-Ok.- ela se ajeita na cama.
Me afasto dela ainda a observando preocupado, abro a porta e quando chego do lado de fora Bruno está falando com um dia caras da segurança do andar.
Ele me vê e fala algo antes de se virar e começar a andar na minha direção, passo a mão pelo cabelo e apenas o encaro esperando.
-Ele não entrou pela porta.- Bruno fala baixo.- Ele escalou e entrou pela varanda.
-Puta merda.- bufo.
-A segurança está concertando...
-Quero pessoal nas varandas envolta do quarto.- aponto para a porta.- Vinte e quatro horas por dia.
-Claro, vou falar com eles agora.- ele começa a se afastar.
-Bruno.- o chamo e ele me encara.- Como está?
-Bem.- ele toca o pescoço e vejo as marcas.- Kate me livrou.
-Que bom que está bem.- mexo a cabeça e toco a maçaneta.- Cuide do negócio da segurança.
-Claro, agora mesmo.
Entro no quarto novamente e Kate está ajeitando o gelo com uma careta, sorrio lentamente e me sinto aliviado por ela estar realmente bem.
Não sei o que aconteceria comigo se Kate tivesse se machucado mais, não consigo pensar no que faria se ela tivesse ferido algo mais importante.
É por isso que tomo todo esse cuidado, para ela não parar morta em algum canto. Minha proteção funciona para alguma coisa e sei que funciona.
Kate está segura. E ela sabe disso.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro