Dante Bernadi

-Eu quero que sejam educadas, ok?- pergunto enquanto coloco o blazer.- É pra ela gostar da gente.

-A gente é legal.- Sara arruma os cabelos no rabo de cavalo.

-É, pode ir.- Liana me empurra.

-Certo.- vejo meu pai abrir a porta.

-Sejam legais.- ele pede.

-Eu vou lá em cima.- informo.

Subo as escadas rapidamente e abro a porta do quarto de Kate, vejo ela sentada na frente da penteadeira enquanto coloca uma mecha atrás da orelha.

-Eu vou precisar sair.- falo fechando a porta.- Vai ficar com as meninas.

-Sozinha?- ela franze as sobrancelhas.

-A babá vai estar na cozinha, qualquer coisa peça a ela.- falo enquanto ela levanta.

-Ok.- Kate me encara.- Posso sair agora?

-Pode.- abro a porta para ela.

Kate passa por mim e eu vou mais atrás dela, ouço a risada das meninas e vejo que estão bem animadas em ficar com Kate. Além de Bianca e a babá, elas não brincavam com mais ninguém.

Não iam para a escola e nem tinham amigos, meu pai não quis arriscar e eu também não achava inteligente quando podíamos dar uma educação bem melhor em casa.

-Kate, você gosta de brincar de pega pega?- Sara agarra a mão de Kate e a puxa.

-Claro.- ela sorri.- Sou bem rápida.

Abro a porta de casa e ouço elas conversando enquanto vou embora, vou até o carro e meu pai está sorrindo bem animado.

-Depois da reunião podemos ir beber.- ele fala calmo e Bruno começa a dirigir.- E depois passar em uma joalheria.

-O que?- franzo as sobrancelhas.

-Dante, você vai ter que casar com essa menina agora.- ele explica.- Estará mais segura com o nome da família.

-Eu sei.- passo a mão pela barba por fazer.

-Então, decidiu o que vai ser? Podemos fazer diamante e ouro...

-Não sei, pai, ela nem me deixa chegar perto.- suspiro frustrado e Bruno sorri.- O que é?

-Está perdendo sua habilidade com as mulheres.- ele ri.- Era mais galanteador.

-Eu vou te jogar do carro, Bruno.- falo sério.

-Você só precisa de paciência.- meu pai dá tapinhas em meus ombros.

-Você já me viu ter paciência?- pergunto.- Sou a pessoa mais impaciente.

-Vai ter que aprender.- meu pai explica.- Sei lá, manda a Bianca ficar amiga dela. Pietro falou que ela anda muito desanimada.

-Ótimo, duas mulheres desanimadas conversando.- balanço a cabeça.- Eu vou dar um jeito.

♧︎︎︎

Kate Reed

-Uno...due...tre- começo a contar na nova rodada.

Acho que já tínhamos jogado isso várias vezes e elas sempre tinham mais cantos para se esconder, já estava começando a perder o jeito de procurar.

Mas chegar perto dessas meninas podia ser bom, elas podiam me mostrar onde tinha um telefone. Talvez pudesse falar com meu pai se achasse um telefone aqui.

-Lá vou eu!- grito andando pela casa.

Aproveito essas brincadeiras para conhecer a casa, é enorme e no estilo bem antigo mesmo. Tem pertences de guerra no nome Bernardi e vários títulos...

Me aproximo de um baú e abro lentamente, ninguém está ali e continuo andando pelos corredores até chegar na cozinha e encontrar a babá junto com a cozinheira.

-Srta.Reed.- a babá parece surpresa.- Precisa de alguma coisa?

-Não.- balanço a cabeça rapidamente.- Achei que uma das meninas tinha vindo aqui, estamos brincando de esconde esconde.

-Nenhuma delas passou por aqui.- a cozinheira sorri.- Elas adoram se esconder nos quartos.

-Obrigada pela dica.- sorrio saindo.

Assim que me viro vejo um telefone ao lado da porta, arregalo os olhos e saio da cozinha antes que percebam que eu vi. Já tenho meu objetivo.

Enquanto subo as escadas planejo algo. Posso chamar a babá para deixar elas ocupadas enquanto peço para a cozinheira pegar um biscoito na dispensa ou algo assim.

Abro a porta de um quarto e percebo que tem uma parede cheia de fotos, me aproximo lentamente e percebo que são fotos tiradas com uma câmera que está em cima da escrivaninha.

Pego uma das fotos e vejo o céu estrelado e a lua cheia brilhante, franzo as sobrancelhas e deixo ela no mesmo lugar. Olho para a ponta e vejo a foto de uma mulher sorrindo e deitada na cama.

Pego essa e observo os cabelos castanhos dela bagunçados e espalhados pelo lençol enquanto ela cobre o corpo com o lençol branco. Aquele sorriso é o mais bonito que eu já vi e os olhos dela são incrivelmente castanhos.

Minha garganta fica seca quando percebo que aquele quarto é o de Dante e que aquela mulher é importante para ele. Viro a foto e está escrito: Lara.

-Kate!- Sara grita.- Cadê você?

Largo a foto e fecho a porta do quarto enquanto vou na direção do grito, Liana está brincando em cima da sacada e não parece muito seguro.

-Ei!- começo a me aproximar.

-Eu sou uma borboleta!- Liana fala rindo.

-Venha aqui.- pego ela nos braços e a coloco no chão.- Não pode subir aí.

-Por que?- as duas perguntam.

-Porque....- penso em algo.- Borboletas e pássaros tem asas, entendem? É isso que faz eles poderem voar, não é?

-É.- as duas assentem.

-Mas nós, humanos, não temos asas.- explico.- A gente tem que andar e fazer as coisas com os pés ou mãos, né?

-Sim.- as suas sorrirem.

-Então o que vocês acham que acontece quando a gente tenta imitar um pássaro?- pergunto.

-A gente se machuca?- Sara pergunta.

-Isso.- assinto.- Então vamos ficar afastadas da sacada e só ficar aqui se tiver um adulto, ok?

-Ok.- as duas parecem entender.

-Que tal vocês chamarem a babá e pedirem um lanche?- levanto as sobrancelhas.

-Ótima ideia, Kate!- Liana puxa a irmã.- Vamos pedir bolo, biscoitos, chocolate....

As duas entram na cozinha e eu fico parada na sala, se acontecesse algo com aquelas meninas enquanto eu estava aqui....Acho que elas tinham entendido, então não devia me preocupar.

A babá começa a vir com elas e a arrumar a mesa, eu engulo em seco estralando os dedos e olho para o corredor que dá para a cozinha.

-Onde é o banheiro?- pergunto.

-Por ali, no final do corredor.- ela aponta exatamente para onde eu quero.

Era muita coisa para pensar enquanto eu andava. Dante já tinha uma garota de quem gostava, essa tal Lara, então ele podia me deixar em paz e eu voltava para minha família.

Entro no corredor e passo pela porta da cozinha, sorrio quando não vejo a cozinheira e não perco meu tempo. Pego o telefone e começo a discar os números de casa.

Alguém limpa a garganta atrás de mim e olho por cima do ombro para ver um cara de cabelos castanhos claros e olhos pretos. Ele olha para o telefone na minha mão e depois para mim.

-Que tal soltar esse telefone e eu não conto para Dante.- ele fala lentamente.

-Você vai contar de toda forma.- afasto o telefone do meu ouvido.

-Meu nome é Pietro.- ele estende a mão.- Amigo de Dante.

-Kate.- comprimo os lábios.

-Largue o telefone.- ele aponta com o queixo.

"-Alô?- minha mãe atende.- Kate? É você?- olho para Pietro e ele sorri.

-Mãe, eu..."

Ele toma o telefone da minha mão e tira a ligação dele, travo o maxilar e percebo que ele está distraído enquanto tira o telefone do fio. Rapidamente pego a arma que está bem visível.

Ele congela na hora em que aponto para sua cabeça, olho para o lado e vejo a porta para a garagem da casa. Pietro me observa enquanto vou até a porta com a arma apontada para ele.

-Está fazendo burrice...

Abro a porta e entro na garagem, tem vários carros e eu não tenho a chave de nenhum, então abro a porta ao lado do portão e assim que saio sinto o sol bater no meu rosto.

Quando dou dois passos para longe da casa quem sai do carro me faz parar. Dante me observa atentamente e logo olha para a arma em minha mão.

-Não!- aponto a arma para ele, o pai dele e o motorista saem rapidamente.- Não se aproxime!

-Kate, pare com isso.- ele dá um passo na minha direção.- Você nem sabe atirar...

Abaixo a arma e dou um tiro perto dos pés dele, Dante para na hora e volto a apontar para sua cara. Ouço a risada do pai dele e o motorista esconde seu sorriso.

-Me dá a arma, Kate.- ele estende a mão.

-Me dá as chaves.- aponto com a arma para as chaves na mão do motorista.

-Kate...

-As chaves!- falo com raiva.

Dante pega as chaves do motorista e começa a se aproximar lentamente, estendo a mão esperando ele colocar as chaves nela.

-Está mais segura aqui, sabe disso.- ele fala baixo.

-As chaves.- mexo os dedos.

Ele suspira e coloca as chaves na minha mão ao mesmo tempo que bate o braço no meu e faz a arma cair no chão enquanto me vira e prendendo meu braço.

-Kate, por favor, não posso perder alguém de novo...

Começo a me debater tentando escapar dos braços dele e Dante coloca algo contra o meu rosto, o cheiro forte me faz parar de me debater.

Ele continua com aquele pano na minha cara, quando percebe que eu vou desmaiar ele me coloca no colo e começa a me levar para dentro da casa.

Ótimo, de novo.