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Chegada

Kate Bernadi

Tivemos que ficar bem abaixados depois de o helicóptero nos deixar no barco de carga, sentamos contra um container e esperamos para dar a hora.

Dante estava brincando com meus dedos enquanto eu olhava para o céu, parecia muito menos poluído quando se estava aqui. Tinham até estrelas mais brilhantes.

Sorrio quando Dante beija meu pescoço e afasta a trança que eu fiz para beijar atrás da minha orelha. Levo minha mão até a coxa dele e acaricio com os dedos.

-Agora que eu percebi que...- ele sussurra.- Não tem nenhuma foto do nosso casamento.

-Verdade.- percebo.- Mas acho que as fotos de pessoas correndo e gente gritando não ia ficar bom.

-Você merecia um casamento melhor.- o nariz dele toca minha orelha.

-Eu tô bem feliz com o casamento que eu tenho.- viro o rosto e o encaro.- Além disso, você vai me dar um presente de desculpas depois.

-Vou sim.- ele sorri e beija meus lábios.

-Gente.- Bruno chega.- Chegamos.

Nos levantamos e Dante segura minha mão enquanto vamos até a ponta do barco, um cara aparece e abre uma portinha até uma plataforma sem sacada.

Olho para baixo e vejo que nessa escuridão não dá para ver nada, meu coração começa a bater mais rápido e minha garganta fica completamente seca.

-Vai ficar tudo bem, ok?- Dante segura meu rosto e me faz encará-lo.- É só nadar para frente.

-Tá muito escuro.- olho para o lado e ele força meu rosto de novo.

-Olha para mim, Kate.- ele fica sério.- Você consegue. Ouviu?

-Dante...

-Não vou conseguir nadar até a costa se você não me falar que consegue.- ele explica.- Então respire fundo e pense.

-Ok.- assinto tomando coragem.- Ok, eu consigo.

-Ótimo.- ele sorri fraco.- Você consegue.

Assinto levemente e ele beija meus lábios, seguro os quadris dele e deixo que ele me beije pelo tempo que eu preciso para tomar mais coragem.

Dante se afasta e ficamos ao lado de Pietro e Bruno, eles olham um para o outro e então para nós. Volto a olhar para a água escura e acho que não vou conseguir pular...

Alguém me empurra e grito antes de atingir a água, meu corpo parece atingir uma pedra de gelo e afundo por um tempo antes de começar a bater as pernas.

A água está fria e parecem agulhas em meu corpo enquanto me mexo, vou nadando para frente e para cima até conseguir respirar de novo.

Puxo uma lufada de ar e paro por um momento para ver que não tem ninguém aqui. Meu coração começa a disparar e logo relaxa quando Pietro surge mais na minha frente e continua nadando.

Dou braçadas largas e minhas bochechas ardem de frio, a água vai esquentando e sei que vou sofrer mais para sair por que vai estar ainda mais quente.

Minhas respirações se condensam no ar e continuo nadando o máximo que eu posso até minhas pernas estarem doendo com o esforço.

A costa vai se aproximando e vejo que já tem gente ali, respiro fundo e paro de nadar por um instante para recuperar meu fôlego ou apenas parar.

A água está ficando mais quentinha e sei que quando sair vou parecer um cubo de gelo. Mexo minhas pernas e braços e engulo aquela água idiota.

Volto a nadar e logo chego perto de umas escadas, toco o metal gelado e isso me faz gemer. Tento me impulsionar para cima e meus braços tremem.

Antes de eu cair na água de novo, mãos agarram minha cintura e me colocam para cima, me agarro no próximo cano e começo a subir as escadas sem parar.

Chego na plataforma e me arrasto até a borda, jogo meu corpo e minhas pernas ficam balançando para fora da plataforma enquanto eu olho para o céu estrelado.

-Kate?- Dante aparece depois de subir as escadas.

-Estou bem.- falo rouca.

-Claro que está.- ele fica de joelhos.

Olho para Dante e água pinga dos cabelos dele e do queixo, as roupas estão coladas no corpo e a respiração dele está ofegante fazendo seu peito descer e subir com rapidez.

Ele olha para mim e aqueles olhos castanhos estão da mesma forma que os meus, sei o que ele está pensando por que também estou pensando a mesma coisa.

Ergo a mão e ele segura com força me puxando para ficar em pé, ainda estou tremendo quando começamos a andar ensopados até um canto mais escuro.

Pietro joga no chão a bolsa com as roupas e armas e vejo que não está molhada, sorrio percebendo que meu plano está dando certo e Dante tira a camisa molhada.

Pietro e Bruno estão de costas para mim e logo tiro minha blusa também jogando no chão, quando tiro todas as roupas Dante me joga as quentes e secas e eu quase choro.

Termino de vestir a blusa e me abraço tentando guardar calor corporal, Dante se aproxima e vejo que está com um coldre e a arma do meu pai.

Ele segura minha cintura e levanta minha camisa apenas um pouco para prender o coldre e colocar a arma presa nele. Então cobre com a camisa e me encara.

-Não hesite em usar.- sussurra.

-Não vou.- o observo.

Ele afasta algumas mechas molhadas do meu cabelo e então segura minha mão para me puxar. Bruno e Pietro cumprem o plano indo até o estacionamento e eu e Dante vamos até uma torre.

É lá onde guardam as chaves, então não precisamos arrombar nenhum carro e chamar atenção nesse exato momento. Quando descobrirem, já vamos estar longe.

Subimos as escadas de ferro em silêncio e sinto a mão dele quente contra a minha dando o conforto que quero. Ele toca a arma quando nos aproximamos da porta e fico alerta.

Assim que abrimos a porta percebo que está tudo vazio, devem ter saído ou algo assim. Vejo depois em um quadro que é hora do lanche.

Sorrio quando Dante beija minha bochecha animado e ri indo até onde guardam as chaves, me aproximo com ele e vejo ele passando por algumas.

-BMW.- ele pega as chaves.

-Não achava que ia dar certo.- falo enquanto descemos.

-Você criou um plano perfeito.- ele fala atrás de mim.

-Não fique bajulando.- murmuro e encontramos os outros.

Entramos no carro e eu sento ao lado de Bruno, ele esfrega as mãos com frio e me sento mais perto deitando a cabeça em seu ombro.

Bruno segura minha mão e sei que está tão animado que não deve estar sentindo tanto frio, Dante liga o aquecedor e logo estamos confortáveis de novo.

-Quanto tempo até o começo da cidade?- pergunto.

-Daqui? Umas três, quatro horas.- Pietro explica.

-Temos que esperar até amanhecer.- Dante explica.- O bar tem que estar vazio. Então se chegarmos lá ainda de noite, esperamos.

-Ok.- assinto.

-Estamos de volta, porra.- Bruno me sacode e rio.

Vejo pelo retrovisor Dante sorrir e Pietro até exibe um sorriso também. Mas ainda somos só quatro, vamos precisar de muito para estarmos de volta realmente.

Pelos menos estamos aqui, já é um começo.

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