🌺 Capítulo 8 - Harém 🌺
__ Me desculpe por invadir seu escritório. __ Paro em frente a porta de meu quarto e viro para observar Khan que fez questão de me acompanhar.
Na certa, receia que eu espione outras dependências do palácio.
Acena a cabeça. Permaneceu em silêncio por todo o trajeto.
__ Boa noite, então. __ Toco a maçaneta para entrar, mas Khan me surpreende com um movimento rápido.
Estica o braço. Agora com a mão sobre a minha puxa a porta de volta. Com essa ação ficamos com os rostos muito próximos. Minha respiração acelera imediatamente. Ainda tenho dificuldade em lidar com o toque das pessoas, principalmente de homens.
__ Gostaria muito que aceitasse minha proposta. Não será vantajoso somente para os negócios de meu país, você também sairá lucrando muito.
O observo em silêncio ganhando tempo para pensar.
Khan é um homem astuto e de poucas palavras. Não quero falar besteiras e demonstrar inexperiência.
__ Acontece que existe coisas mais importantes que vantagens financeiras, senhor Sultão. __ Ele une as sobrancelhas.__ Minha dignidade é uma delas.__ Ergo os olhos.__Fui trazida até seu palácio de forma desrespeitosa e contra minha vontade.
A fisionomia de Khan muda. Noto um arquear de sobrancelhas e talvez um leve suspiro. De alguma forma o afetei. Resta saber se isso me prejudicou ainda mais.
__ Permita-me desfazer toda a má impressão que o irresponsável do meu irmão causou.__ Apoia um dos braços na porta. Dou um passo para trás. Ele nota que sinto-me desconfortável. __ Perdão.__ Volta à posição inicial.
__ A única forma de consertar o erro de seu irmão é permitindo que eu parta.
Khan acena a cabeça em negativa.
__ Nunca foi uma prisioneira. A mantive aqui até averiguar o que aconteceu.
__ Agora já sabe que não sou uma espiã.
__ Mas até agora Kaled não deu notícias. O fato de deixá-la aqui e sumir se tornou um mistério.
__ Escute aqui...__ Ergo o rosto para encará-lo, pois é muito mais alto que eu. __ Sou a vítima dessa situação e a única prejudicada em tudo isso.__ Gesticulo com o dedo prendendo a atenção de Khan.__ Só não contei o que aconteceu de verdade para minha irmã porque não quero envolvê-la em problemas. Mas ela já sabe onde estou e se eu não voltar a ligar, acionará a embaixada brasileira e num piscar de olhos seu país estará envolvido em um escândalo internacional.
Os olhos de Khan vão se estreitando aos poucos.
__ Você tem uma língua muito ardilosa, Adrielle. É um tipo de mulher indomável. Parece um cavalo selvagem. __ Tomba a cabeça de lado. Começo a me acostumar com essa mania.
__ Se sou indomável porque não aceito ser subjugada, nem mantida nesse palácio para me tornar mais uma das concubinas de seu harém, está certo então.
__ Concubinas?__ Khan dá um passo em minha direção.
Droga! Falei demais!
__ Do que está falando mulher?
__ Não se faça de desentendido. No dia em que cheguei me disseram que fui trazida para o harém do Sultão.
__ Porque é aqui que ficam os quartos dos hóspedes. No harém desativado do palácio. A edificação é antiga e essa ala funciona assim há anos.
__ E as concubinas?
__Não existe concubinas! __ Khan se irrita com minha insistência. __Isso foi abolido há anos nesse país. E se não fosse, eu teria feito.__ Desliza uma das mãos pelos cabelos negros agora secos.
__ Talvez tenha entendido errado.__ Tento desculpar-me de uma forma falha pelo julgamento.
__ Use esse tempo para pensar em minha proposta. Se aceitar representar meu país na campanha, assinaremos um contrato bastante vantajoso para ambas as partes.
__ E se não aceitar? __ Ergo o queixo em desafio.
__ Solicitarei um avião para levá-la de volta aos Emirados. __ Khan me encara com intensidade. __ Dou a minha palavra.
Aceno a cabeça e dou um passo para dentro do quarto ainda mantendo o contato visual com Khan. Sinto-me como se estivesse presa por uma força maior.
__ Masa' alkhayr. Boa noite, Adrielle...
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__ Fiquei muito contente quando soube que resolveu ficar. __ Ouço Aiyra comentar através do véu que cobre boa parte do rosto deixando à mostra apenas os grandes olhos amendoados.
__ Foi uma decisão temporária, Aiyra. Minha agência assinou um contrato de prestação serviços com seu Sultão. Ficarei enquanto durar a campanha.__ Corrijo a garota enquanto caminhamos de braços dados por uma das ruas estreitas de pedra que compõem a capital de Durab fi Alsahra.
Dois soldados do palácio nos acompanham a uma distância discreta.
__ Ainda que seja por pouco tempo sinto-me feliz. __ Ela me puxa até uma loja de essências e perfumaria.
__ 'Ahlan bik' Sejam bem-vindas!__ Um senhor de meia-idade usando um colete bordado por cima de uma longa túnica e um turbante na cabeça nos recepciona.
__ Gostaríamos que nos mostrasse suas essências.__ Aiyra solicita com segurança.
__ Como quiser, fatayat.
O comerciante dispõe sobre o balcão uma espécie de bandeja de madeira com vários vidrinhos encaixados. Cada embalagem contém um rótulo com o nome da essência.
__ Para mim, o de sempre. E você Adrielle? Prefere um perfume com um toque adocicado ou mais cítrico?
__ Não estou precisando de perfume.
Noto a expressão de decepção do vendedor.
__ Se não escolher nada, o Sultão entenderá isso como desfeita. Além de me culpar por não comprar os itens que nossa hóspede precisa.
__ Seu Sultão é bastante temperamental para o meu gosto.__ Bufo impaciente.
__ Devia se sentir honrada por ser mimada por ele.
__ Somos muito diferentes, Aiyra. __ Sinto que não vale a pena discutir. Além da questão cultural, Aiyra sente uma devoção cega por Khan. Mas não a julgo sabendo sua história.
__ Só escolha algo, por favor...__ O vendedor quase me suplica exibindo um dente de ouro.
__ Certo.__ Suspiro. __ Acho que prefiro floral.__ Respondo incerta.
__ Ah, acho que tenho algo que irá gostar! __ O homem se afasta do balcão vai em busca de algo na parte dos fundos da loja.__Veja!__ Volta com um vidrinho marrom.
__ Do que se trata?__ Aiyra está mais interessada do que eu.
__ A mistura das mais finas rosas orientais.__ O homem ergue o vidrinho como se carregasse algo muito valioso.
__ Sei.__ Aiyra me olha de lado como quem duvida. __ E quanto custa esse perfume raro? Aviso de antemão que não pretendemos deixar nossos rins em pagamento.
Os dois iniciam uma negociação acalorada, enquanto observo de boca aberta.
__ Sinta fatayat!__ O homem me estende o vidro. __ Além do jasmim, do âmbar e do almíscar, que dão um toque floral adocicado e amadeirado, esse perfume possui especiarias secretas que nosso boticário guarda "a sete chaves".
Inalo a fragrância. A princípio, sinto o mesmo aroma que invadiu minhas narinas há três dias quando estive no escritório de Khan, porém ao final sinto algo mais. Um fio floral se prolonga fazendo-me fechar os olhos. O cheiro remete à noites de verão em jardins tropicais.
__ Realmente é muito bom.__ Abro os olhos encantada.
__ Não disse!__ O homem abre um sorriso orgulhoso.
__ Quanto custa?__ Aiyra vai direto ao ponto. Apesar de jovem a garota é sagaz nas negociações.
__ Esse perfume foi feito para uma mulher muito especial. É edição exclusiva, latayat.
__ Lá vem ele!__ Aiyra gesticula.
Fico impressionada com o modo como esse povo barganha. Observo ao redor outras negociações estressantes. Fazer compras nesse país é quase um evento.
Me distraio enquanto Aiyra e o homem continuam discutindo pelo vidro de perfume. O calor é intenso do lado de fora do palácio. As ruas de Rahat Almusafir, capital de Durab fi Alsahra, são basicamente cobertas de pedra e ladeadas por prédios antigos. A maioria da arquitetura em estilo marroquino é em tons de marrom e bege no exterior e muito colorida nos interiores.
Um vapor quente atinge meu rosto. Sinto gotas de suor se formarem em minha testa e escorrer pelo rosto. Retiro o hijabe, um tipo de lenço que as mulheres islâmicas costumam usar. Aiyra me emprestou para sair do palácio. Disse que isso me manteria anônima e longe de olhares curiosos.
Estou na porta da pequena loja quando sinto a sensação de estar sendo observada. Olho de um lado para o outro. Há um tráfego intenso de pessoas na rua. Apenas um homem parece perdido na multidão. Permanece parado de braços cruzados do outro lado da rua. Sob a proteção de uma barraca e o rosto escondido por grandes óculos se mantém olhando em minha direção.
Desço até a calçada. Sinto o lenço escorrer por meus dedos e cair no chão. Mas estou tão concentrada na figura que me encara insistentemente do outro lado da rua que não me dou ao trabalho de voltar para pegar.
Dou alguns passos em direção à rua. O homem toca no chapéu Panamá que trás na cabeça como em um cumprimento. Decido ir ao seu encontro e confrontá-lo, mas levo uma trombada no ombro nesse momento. Giro e quase caio. A pessoa nem se desculpa, segue seu destino como se nada tivesse acontecido.
__ Sem educação!
Volto em direção ao homem do outro lado da calçada, porém ele não está mais lá. Desapareceu como num passe de mágica! Sinto-me atordoada com o episódio. Volto para a loja onde deixei Aiyra. No momento em que ponho os pés na loja, o comerciante que estava nos atendendo para de falar e me encara como se visse uma assombração.
__ O que houve?__ Olho dele para Aiyra sem entender a reação.
O comerciante começa a falar muito rápido em uma língua que desconheço. Aiyra revida as palavras em seu idioma. Ele sai de trás do balcão e acena os braços como que nos enxotando.
Aiyra recolhe nossas compras e caminha para fora. O homem ainda me alcança. Avança proferindo palavras incompreensíveis. Seus olhos estão arregalados e estranhamente temerosos.
Assustada, dou alguns passos para trás. Meu tornozelo doente vacila em um dos degraus. Escorrego e me preparo para cair na calçada do lado de fora, porém antes que sinta as pedras ferirem minha pele, sinto mãos enlaçarem minha cintura. Sinto-me erguida no ar por braços morenos e fortes.
Ainda de frente para o comerciante alucinado, posso ver sua reação ao encarar o rosto daquele que me livrou do tombo doloroso. O homem arregala ainda mais os olhos e começa a andar para trás curvando o corpo em seguidas reverências.
Giro entre os braços que me seguram firmes. Apoio as mãos em seu peito para me equilibrar. Ergo a cabeça e encaro o par de olhos azuis vidrados. Ele tem um tecido cobrindo parte do rosto.
__ O que faz aqui? Não é arriscado o Sultão andar assim pelas ruas?
Ele me encara por mais algum tempo. Quando começo a me sentir constrangida com o excesso de proximidade. Ele ergue discretamente um canto dos lábios.
__ Não se preocupe. Sei me defender sozinho.__ Suas mãos deslizam devagar por minha cintura até caírem. __ Além do mais, imaginei que algo poderia acontecer com você à solta.
__ Hei! A culpa não foi minha! Aquele homem neurótico que começou a esbravejar sem parar.__ Dou um passo para trás mancando um pouco.
Khan franze as sobrancelhas. Disfarço me apoiando no tornozelo bom. Não quero que note meu defeito físico e sinta pena de mim.
__ Senhor, precisamos voltar.__ Um dos soldados anunciam tirando o foco dele de mim para meu alívio.
__ Certo. Sigam na frente com Aiyra. Irei depois com Adrielle. Não se preocupem.
__ Sim, senhor. __ Os dois seguem em direção ao palácio escoltando Aiyra.
__ Venha.__ Fico surpresa quando Khan segura minha mão e me puxa em direção oposta.
Ele caminha rápido entre a multidão. Me esforço ao máximo para não mancar. Entra por seguidas ruelas e becos, até que o movimento de pessoas diminui consideravelmente.
Finalmente, paramos em uma espécie de restaurante ou taberna. Khan puxa a porta adornada com vários sininhos que anunciam nossa entrada. O interior é rústico, porém aconchegante. Tudo imita o ambiente de uma caverna. É úmido e fresco, diferente do clima seco e quente de fora.
Somos guiados por um atendente até uma mesa de canto. Khan pede algo em árabe e o rapaz se afasta. Evito encará-lo. Observo ao redor. Como a decoração do palácio, há muita cor, plantas e tapeçaria. Através de uma parede de vidro, um pequeno jardim com uma cascatinha artificial se revela.
Logo, dois copos de uma bebida gelada e rosada são colocados a nossa frente.
__ Beba, isso irá te hidratar. __ Khan dá um gole no dele primeiro.
Abaixa o copo e me observa. Ainda o encaro por alguns segundos.
__ O que tem aqui?
__ Basicamente suco de limão siciliano, framboesa, água e gelo.__ Arqueia os ombros.
__ Sem álcool?
__ Sem álcool. __ Khan bebe mais um gole e encosta no sofá.__ É sempre assim desconfiada?
__ Sempre.__ Pego o copo e dou o primeiro gole. O líquido desce refrescante por minha garganta seca.
__ Agora conte o que aconteceu.
Relato todo o episódio com o boticário. Desde a escolha do perfume, do homem do lado de fora da loja até o escândalo do comerciante.
As feições de Khan variam entre divertida, surpresa e intrigada.
__ Onde está seu hijabe?
__ Acho que perdi na confusão.
__ É importante que use quando estiver fora do palácio, principalmente quando eu não estiver por perto. Nosso povo é bastante supersticioso. Já se sentem ofendidos por ver uma estrangeira que não respeita seus costumes e quando viu seus olhos o pobre deve ter se assustado.
__ Por que? Qual o problema com meus olhos?__ Ergo o copo para ver meu reflexo.
__ São verdes e expressivos...__ Fala pausadamente.
__ E o que há demais nisso?
__ Existe uma lenda entre nosso povo que diz que uma estrangeira de olhos verdes como esmeraldas um dia surgirá no deserto feito uma tempestade. Sua beleza, ao mesmo tempo que arrebatadora, também será destrutiva. Capaz de levar uma nação a ruína, porque homens seriam seduzidos por seus olhos e se matariam para tê-la.
Ficamos os dois em silêncio após ele encerrar a história. Bebo o restante da bebida.
__ Que ridículo. __ Me remexo no sofá e olho para fora.
__ Como disse, é só uma lenda...
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Nota da autora:
Olá minhas Rosas do deserto!
Como estão?
Venho mostrar a primeira música escolhida para fazer parte da trilha sonora de "Ela é indomável".
Está será a música do nosso casal!
Aproveitando, gostaria de saber o que estão achando da história.
Estou curiosa! Respondam nos comentários.
Se quiserem saber mais novidades sobre meus livros deem uma olhada em meu IG literário @escritorasarasantos
Me sigam lá!
Agora ouçam a música de Khan e Adrielle!
Beijos!
SLSPrincess👑
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