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🌺 Capítulo 26 - Sultana - Parte III 🌺

Assim que o sol se põe, um som envolvente e ritmado alcança meus ouvidos. Na tenda onde termino de me arrumar, dona Soraia faz os últimos ajustes no traje branco com bordados em fios dourados.

__ Está quase na hora!__ Raja anuncia.

O traje é composto por duas peças. Um corpete bem acentuado na cintura e uma saia longa com várias camadas de tecidos transparentes que flutuam conforme me movimento e duas fendas na parte da frente deixando a mostra partes das pernas.

Um hijabe branco foi colocado em minha cabeça e um buquê feito de flores do deserto vermelhas em minhas mãos.

Fecho os olhos e respiro fundo para me acalmar.

Gostaria muito que meus familiares estivessem presentes nesse momento, principalmente Abi, apesar de ter certeza de que nenhum deles aprovariam minha decisão repentina.

__ Fique tranquila. Vai ser perfeito. Você está linda.__ Raja segura minhas mãos pintadas com tatuagens de henna. Em um dos pulsos, a pulseira de jade que Khan me presenteou.

__ Receio esquecer tudo o que aprendi.

__ Não se preocupe. Estarei ao seu lado caso tenha alguma dúvida com nossa língua.

Nesse momento, alguns rapazes se aproximam da entrada da tenda trazendo a mesma cadeira dourada usada por Samira há alguns dias. Me ajudam a sentar e me suspendem na altura de seus ombros.

Um constrangimento indescritível se apossa de mim enquanto sou carregada e vários rostos curiosos me observam.

Acordes acompanhados por uma voz feminina harmoniosa transferem encanto a minha entrada.

Conforme me aproximo do altar, toda insegurança e receio se dissolvem com a visão da figura de Khan parada ao lado do celebrante. A postura de um verdadeiro nobre. Sinto um frio na barriga de expectativa.

Estou prestes a me tornar a esposa de um Sultão, porém só o enxergo como o único homem capaz de quebrar a barreira de gelo que se ergueu há alguns anos dentro de mim.

Seu traje parece ter sido feito do mesmo tecido que o meu. Branco com fios dourados. As mãos unidas em frente ao corpo e os olhos muito azuis vidrados parecem apreensivos.

Assim que os homens me abaixam, Khan vem ao meu encontro e me ajuda a sair do pequeno trono. Apoio as mãos em seus ombros e deslizo para o chão. Me observa com admiração, beija minha testa e me direciona ao altar de madeira decorado com véus e flores e posicionado em uma parte alta de destaque no acampamento.

Uma corrente de vento agita o tecido fino de meu traje, assim como alguns fios de cabelos. Sinto-me observada. Giro o rosto e encontro Khan me analisando.

Nunca imaginei ser capaz de ler sentimentos nos olhos de um homem.

Respondo todas as perguntas e cito as falas decoradas. Metade do que é dito não consigo assimilar. A cerimônia longa e cheia de simbolismos representa muito para Khan que mantém uma postura solene, porém eu me reservo a ser respeitosa com a cultura do povo que me acolheu.

Ao fim, o ancião faz as últimas considerações e nos declara casados. Um misto de euforia e temor me invade. Khan e eu nos viramos juntos e nos encaramos. Um sorriso cheio de promessas estampa seu rosto. Se aproxima e beija meus lábios com suavidade.

Gritos, assobios e palmas nos alcançam. As pessoas nos rodeiam e começam a comemorar com danças.

__ Você está bem?__ Une as sobrancelhas e sussurra.__ Por que está chorando?

Só quando fala que me dou conta de que há lágrimas nos cantos de meus olhos.

__ Acho que de emoção. Imaginei que nunca casaria.

__ Está arrependida?__ Novamente vejo apreensão em seus olhos.

__ Não! __ Apoio as mãos em seu peito.__ Acho que estou com uma sensação de irrealidade. Vou precisar de um tempo para me acostumar.

__ Pois pode acreditar que está mesmo acontecendo, Adrielle. A partir de agora você é minha e eu sou seu...

Khan me beija com mais intimidade agora que as pessoas estão distraídas com a comemoração. Mas logo um grupo de mulheres surge e me arranca de seus braços.

Ele se junta aos outros homens que comem e bebem ao redor de uma mesa. Mas não perdemos um ao outro de visão. Nos encaramos de longe.

As mulheres se preparam para uma espécie de apresentação de dança e tentam me encaixar na coreografia.

__ Acho que prefiro sentar e somente assistir.__ Começo a me desvencilhar de uma delas que insiste.

__ É tradição a esposa apresentar uma dança para o marido.__ Raja me explica baixo.

__ Por que não me contou isso antes? Além de não saber a coreografia, eu não costumo dançar. Tenho um problema no pé que me impossibilita.

__ Achei que lembrasse. Você assistiu o casamento de minha prima. Mas não se preocupe. É muito fácil. Basta imitar as outras.

__ Raja, não! Vou passar vergonha! __ O desespero me domina.

Uma das mulheres segura meus quadris e fala algo. Acho que tenta me ensinar a dançar.

Fecho os olhos e bufo.

Deus, no quê me meti!

Palmas por todos os lados estimulam o início da dança que parece ser o momento mais aguardado da festa. Me misturo com as outras e me posiciono com o grupo. Procuro Khan por uma brecha entre as jovens que estão à frente. Nossos olhos se encontram. Ele está rindo! Sabe que estou apavorada. Sinalizo uma negativa com a cabeça. Ele sorri e acena afirmando.

Acho que está tentando me encorajar.

Todas erguem um braço e flexionam uma perna em posição inicial. Respiro fundo e imito. Minha face queima de vergonha. Logo uma batida sensual e envolvente preenche o ambiente. As garotas começam a mexer os quadris suavemente. Tento imitá-las e não olhar para Khan, porque se vê-lo rindo, na certa fugirei antes que a música termine.

A dança é bem vagarosa. Se concentra mais nos quadris e em movimentos braçais. Quase não movimento os pés, então não tenho tanta dificuldade. Para minha surpresa, logo pego o ritmo. Fecho os olhos e me imagino como uma embarcação navegando sob o oceano. Sigo a sequência e tombo o corpo para trás. Quando volto, abro os olhos e percebo que estou no centro de um círculo formado pelas garotas. Khan me observa interessado. Não está sorrindo como esperado, muito pelo contrário. Está sério com uma expressão predadora.

Sinto-me tão desejada e segura nesse momento. Lanço um sorriso desafiador para ele e continuo a flutuar com as outras. O que era para ser uma dança se transforma em três apresentações.

Estou quente, sedenta e eufórica. Sorrio e me divirto com as outras enquanto bebo uma bebida deliciosa e refrescante que me ofereceram.

__ Não sabia que dançava tão bem.__ Khan se aproxima por trás. Desliza a mão grande por minha cintura descansando em meu ventre.

Uma descarga elétrica atinge meu corpo. A dança parece ter me deixado toda sensível. Tombo a cabeça para trás em seu ombro.

__ Nem eu sabia!__ Giro em seu abraço e o encaro.__ O quê eu estava fazendo que não aprendi dança do ventre antes?__ Sorrio estridente e empolgada.

__ Vá com calma. Essa bebida tem muito álcool. __ Tira a taça de minha mão.

__ Mas estou com sede! Preciso me hidratar!__ Tento pegar a taça de volta.

__ Tenho certeza que sim, mas não será com isso. Venha, vou cuidar de você.

__ Mas as meninas ainda querem fazer outra apresentação. __ Seguro sua mão.

__ Elas podem fazer sem você. Nossa festa continua só com nós dois.

O encaro e começo a rir de um jeito meio histérico. Khan me ergue em seus braços e caminha entre as pessoas que acham super normal e começam a aplaudir.

Me leva para a tenda mais distante reservada para os noivos. Há tapetes forrando o chão, uma ceia preparada com muitas frutas, bebidas e iguarias. O aroma almiscarado e a iluminação âmbar dão um toque misterioso e convidativo ao ambiente.

__ Essa bebida é melhor para você. É feita só de frutas.__ Khan coloca outra taça em minha mão.

__ A outra é mais gostosa. __ Reclamo após um gole fazendo careta.

__ Acontece que não quero você embriagada justamente essa noite.__ A voz de Khan sai rouca.

__ Acho que não seria uma má ideia.__ Murmuro.

__ O que disse?__ Khan cerra os olhos e se aproxima como um leopardo.__ Estava tentando se embebedar, Adrielle?__ Segura em meus ombros.__ Pensei que já tinha se acostumado comigo e perdido todo o medo.__ Seus olhos percorrem meu rosto.__ Desconfiei que havia algo errado quando vi aquelas lágrimas.

__ Te avisei que era quebrada, Khan.__ Abaixo a cabeça.__ Talvez nunca seja uma mulher normal. Devia ter pensado melhor. Devia ter escolhido uma das garotas de seu povo. Desculpe.__ Dou um passo para trás.

Tenho medo de sua reação. Não quero ver a decepção em seus olhos.

__ Não...__ Me puxa para seus braços. __ Quem disse que quero uma mulher "normal". Quero você Adrielle. E pouco me importa que tem traumas. Nós vamos superar isso, juntos.

__ Mas Khan, eu não sei se consigo...__ Khan me cala com um beijo longo e íntimo.

__ Venha. Vou colocar você para descansar e curar essa bebedeira. __ Khan me ergue nos braços e me carrega. Me deposita entre as almofadas com um cuidado e carinho que me emocionam.

Deita ao meu lado e passa um braço por cima de minha cabeça. Ergo o rosto e o encaro sentindo-me impotente e infantil.

__ Khan, sinto muito por estragar nossa noite de núpcias. __ Me aconchego em seu peito

Ele sorri.

__ Não estragou nada, Adrielle. Teremos muitas noites pela frente. Descanse, porque amanhã viajaremos de volta ao palácio...

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