Capítulo Único
EL ATAÚD | ϐοα ℓєιτυяα
𔘓 ‧₊˚ Capítulo Único
NA DENSA ESCURIDÃO, JUNGKOOK NÃO consegue sentir ou ouvir nada.
É como se ele estivesse flutuando em um grande vazio.
Ele se questiona vagamente se isso é tudo que existe após a morte. Mas o pensamento não toma forma, porque realmente não consegue se concentrar em nada.
Ele também não consegue se mexer, mas sabe que está começando a despertar.
Tudo o que existe é uma imensa escuridão. Mas ele não está com medo, pelo menos não ainda. Talvez esteja um pouco ansioso, mas o medo ainda não tem de fato um lugar em si.
Porque ele ama Yoongi e confia que ele virá em breve. Logo estarão juntos, de uma vez por todas.
|°•° ⚰️°•°|
— Seu marido não te ama, menina. Seu marido ama outro homem; com tanta paixão e com tanta intensidade, que esse amor o levará à morte.
As palavras da feiticeira foram cruas, sombrias. Sana sentiu um arrepio ao ouvi-la, mas mesmo assim não acreditou.
Foi uma previsão absurda, totalmente insana. E embora Sana possa ter se ofendido com a suposição de que seu marido era homossexual, ela só sabia rir de uma piada tão estranha.
Ela havia visitado a costa com o pai, vagando pelo grande mercado do porto em busca de perfumes importados, tecidos preciosos e jóias. Mas enquanto seu pai conversava com um vendedor de peixe sobre o mau tempo e as tempestades no mar, Sana caminhava sozinha pela noite fria e escura do litoral. Foi assim que, atraída pelo aroma do incenso, chegou à modesta tenda cigana.
Sana não acreditava no destino ou em prever o futuro. Ela só acreditava na Bíblia e em Deus. Seu pai a havia educado para ser uma mulher de cultura, negócios e ciência. Ela vinha de uma família de comerciantes importantes e era uma das poucas mulheres de sua cidade que sabia ler e escrever.
Ela havia dado aquela moeda para a mulher exótica apenas por curiosidade. Pedir para que o futuro fosse lido para ela parecia interessante, como uma experiência divertida. A feiticeira era cativante, linda, mística. Parecia um personagem de uma história com suas roupas estranhas, sua pele morena e seus grandes olhos negros; Sana imaginou que ela era definitivamente uma golpista, mas das boas: uma atriz comprometida com seu papel. E depois de ouvir sua previsão, se convenceu de que realmente era assim.
Então ela agradeceu, levantou-se da almofada em que estava sentada e se despediu da cigana, acreditando firmemente que a mulher havia lhe contado a primeira coisa que lhe veio à mente.
Sana não pensou mais na feiticeira pelo resto da viagem. O pai cuidava dos negócios, jantavam numa pousada e dormiam com a janela aberta para ouvir o embalo da maré ao longe. No amanhecer seguinte, eles voltaram para casa.
Os dois estavam de volta à cidade e agora, ali na sala de sua casa, vendo a sogra em lágrimas e cheia de olheiras, Sana desejou nunca ter entrado naquela maldita tenda.
— Jungkook... J-Jungkook está m-morto, querido. — Sra. Jeon gaguejou, antes de começar a chorar novamente.
Sana sentiu que todo o seu mundo havia sido destruído, que seu corpo não estava respondendo a ela e que o tempo havia parado.
— N-não. Não está certo. Não é... não é possível. C-como...?
— Ele ficou doente. — respondeu o Sr. Jeon. — Não sabemos o porquê. Ele adoeceu, e tudo aconteceu muito rápido. O médico não podia fazer nada. Ainda esta manhã, seu coração parou de bater.
Duas noites atrás, Jungkook estava bem. Quando se despediram e Sana anunciou que estava viajando para o litoral com o pai, ele ainda estava bem. Ele a beijou na bochecha e eles conversaram perto da lareira. Como ele poderia ter ficado mortalmente doente em questão de dois dias? Como ele poderia estar morto agora, tão jovem, com apenas 19 anos e toda uma vida pela frente?
Eles tinham acabado de se casar há dois meses. Seus pais concordaram com o casamento de conveniência, é claro, mas Sana realmente se apaixonou e estava cheia de ilusões. A cerimônia foi linda, tudo perfeito, e Sana se sentiu pronta para construir um futuro com Jungkook; uma família.
Mas agora era impossível. Tudo foi destruído.
Jungkook estava morto.
E Sana estava com tanta dor que queria morrer também.
Ela não queria ver isso. Ela não queria enfrentar isso. Ela não quis abrir o caixão que estava no centro da sala, rodeado de flores e velas e dentro do qual repousava seu amado.
Não queria. Mas ela o fez. E aí, ela finalmente desabou, quando viu Jungkook imóvel, com a mortalha dobrada até o peito, um lenço amarrado em volta do queixo e as mãos cruzadas sobre as clavículas. Ele estava pálido, mas não rígido. Seus olhos estavam suavemente fechados e ele parecia em paz, como se estivesse apenas dormindo.
Naquela mesma tarde, quando o crepúsculo decorava os céus, o cortejo fúnebre chegou ao cemitério e Jungkook foi sepultado com as devidas cerimônias.
O caixão foi depositado em uma profundidade rasa. Quando a terra finalmente o cobriu, Sana desabou no chão e abraçou a lápide recém-colocada. A dor a consumia, uma dor avassaladora, devastadora e incontrolável.
A dor cega e envenena. Ela se espalha como uma praga por todo o corpo e toma conta da vontade, levando muitas pessoas a perderem a razão.
Justamente isso aconteceu com Sana, que desolada, enlouquecida de dor e incertezas, partiu para investigar, convencida de que a previsão da feiticeira e a morte de seu marido não poderiam ser eventos ocorridos por coincidência.
Sana se trancou no escritório de Jungkook. Ela vasculhou cada gaveta e leu cuidadosamente cada nota, cada agenda, cada documento.
"...Suas palavras na última carta me lisonjeiam imensamente, jovem Jeon. O tempo que compartilhamos foi maravilhoso para mim, e sua pessoa, assim como a de seu pai, são figuras que têm todo o meu respeito e estima.
No entanto, insisto mais uma vez que não devemos nos encontrar novamente. Não é bom para você passar o tempo comigo. Não é bom que eu alimente minhas fantasias distorcidas. Eu sou um pecador, meu jovem senhor; Saia de perto de mim..."
O que Sana descobriu a deixou chocada.
"...Eu sei muito bem que essa paixão que cresce dentro de mim é errada, mas não posso mais evitar. Passei muitas noites tentando parar de pensar em você: na sua risada cantante, no jeito do seu cabelo, no toque quente de sua mão entre as minhas e nas milhões de estrelas que seus olhos me refletem.
Mas eu não posso. Não posso..."
A cada palavra que lia, o coração de Sana sangrava um pouco mais. A dura verdade era pungente, como uma adaga fria.
"Acho que te amo, meu querido jovem Jeon.
Sim, conforme você lê. Eu te amo, um homem.
E agora que você conhece minha natureza imunda, tenho certeza que vai parar de sair comigo para sempre.
Bem, então, faça isso. Saía de perto de mim.
Afaste-se deste infeliz solitário que encontrou um refúgio em sua conversa e uma obsessão em sua companhia. Vá embora, eu imploro, para que eu possa me esquecer de você e o pecado parar de crescer.
Vá embora. Liberte-me desta agonia."
Todas as cartas sempre tinham a mesma assinatura: Min Yoongi. Sana o conhecia, ele era sócio de seu pai e de seus sogros, tinha o dobro da idade dela e de Jungkook. Ele possuía cinco navios e era um estudioso que lidava especialmente com obras de arte, relíquias e artesanato de todo o mundo.
As datas eram variadas, mas aparentemente, a troca epistolar entre Jungkook e Yoongi havia começado desde o ano anterior. Sana leu e leu, descobrindo aos poucos aquela história de dois amantes impossíveis que permaneceram nas sombras.
"Nosso último encontro ainda me parece irreal; quase como se tivesse sido um sonho.
Não acredito no que fizemos. Não acredito que você me retribui e que concordou em começar essa loucura comigo.
Meu jovem amor, estou animado. Não tenho mais medo, nem das consequências, nem de Deus, nem de nada. O que eu mais temia era que você me desprezasse, mas agora vejo que não é assim. Se você decidir correr os riscos comigo, nós o faremos.
Agora posso dormir em paz, porque meus sentimentos não me atormentam. Agora a lembrança de seus lábios me relaxa e eu posso..."
Sana não queria continuar lendo; cada frase a machucava mais do que a anterior. Mas ela não conseguia parar. Precisava descobrir cada detalhe, desvendar cada segredo.
As datas das cartas estavam ficando cada vez mais recentes.
"...Eu sei que já falamos sobre fugir várias vezes. E eu sei que você ainda não quer ficar longe de sua família, eu entendo.
Mas o tempo está se esgotando e o dia do seu casamento está chegando.
Meu querido amor, por favor, vamos depressa. Já conheci aquela mulher que seus pais escolheram e ela é linda. Eu não quero compartilhar você com ela, ou que ela te toque, ou que te veja, ou que acredite que você pode pertencer a ela..."
Sana percebeu com o coração pesado que, na data do casamento, Jungkook não a amava. Ele nunca a amou.
Jungkook se casou com ela enquanto estava perdidamente apaixonado por Min Yoongi.
A morte não havia tirado Jungkook de seus braços. Jungkook simplesmente nunca foi dela. E isso foi ainda mais doloroso.
E desonroso.
Então as palavras da feiticeira retornaram a mente Sana. A maldita previsão. O que parecia tão absurdo acabou sendo completamente verdade.
"Seu marido não te ama, menina. Seu marido ama outro homem..."
Sana se sentiu humilhada, ridícula. Porque seu grande amor tinha sido uma farsa, um conto de fadas que só ela acreditava.
Sana parou de chorar ao perceber algo importante: se a feiticeira estava certa, isso significava que... a outra parte da previsão também deveria ser verdadeira.
"... Esse amor o levará à morte."
Sana não entendia como. Mas ela tinha certeza de que Jungkook havia morrido por causa de Min Yoongi.
Talvez o homem, em seu ciúme dela, e as negações de Jungkook sobre fugir com ele, talvez e apenas talvez, tenha matado seu amante.
Ele poderia tê-lo envenenado. Poderia tê-lo infectado pessoalmente com aquela doença misteriosa que havia tirado sua vida. Poderia ter dado a ele comida contaminada, ou poderia até mesmo amaldiçoá-lo.
Ou talvez tivesse sido Deus. Sim, isso soou razoável para Sana também.
O amor pecaminoso entre esses dois homens poderia ter irritado Deus, e ele puniu Jungkook com aquela doença mortal.
Sana não estava mais pensando racionalmente. Ela estava triste, com raiva e confusa. Sentia o desejo urgente de se vingar, pois por dentro tinha um ódio imenso por Min Yoongi.
Foi culpa dele — pensou — ele o matou. Ele disse que o amava, o amava mais do que a mim. Mas não é verdade, ele não o amava. Ao invés disso tirou sua vida.
Sana realizou suas próximas ações enquanto estava meio inconsciente de seu corpo.
Ela não percebeu quando pegou uma faca afiada da cozinha; nem em que momento saiu de casa e subiu em uma carruagem. Ela nem se lembrava das instruções que deu ao cocheiro.
Devia passar da meia-noite quando chegou na casa de Min Yoongi.
Ainda em um estranho estado de sonambulismo, Sana bateu na porta abruptamente.
— Quem é? — um grito foi ouvido do outro lado. Yoongi parecia apressado e certamente irritado por ser perturbado àquela hora.
Sana não respondeu. Somente voltou a bater violentamente na porta.
— Ei, ei. Não faça isso. Já vou.
Sana ouviu passos se aproximando por trás da porta. Então a maçaneta girou um pouco e...
— Precisa de alguma coisa, senhorita? É muito tarde-...
— Ele era apenas uma criança. Um menino que tinha toda a vida pela frente. Uma criança tola e apaixonada, assim como eu.
— O que? — perguntou Yoongi, confuso. — Do que você está falando?
Sana riu amargamente.
— Você... você persuadiu um garoto com metade da sua idade. Manipulou-o e trouxe-o para a morte.
Yoongi estava apenas começando a reconhecer o rosto de Sana, mas não teve tempo de fazer mais perguntas. Ela mergulhou a faca em seu peito antes mesmo de deixá-lo refletir sobre sua presença.
Ela o esfaqueou uma, duas, três vezes. Uma e outra, e outra, e outra. Até que Yoongi caiu no tapete do corredor, mole, e Sana soube que ele estava morto.
O sangue estava por toda parte. O piso e parte da porta estavam praticamente encharcados. O rosto, as roupas e as mãos da garota pingavam do mesmo líquido carmesim.
Sana arrastou o corpo de Yoongi para dentro da casa e fechou a porta. Felizmente, Yoongi não havia gritado. Ele somente deixou escapar alguns suspiros de dor, mas nada ultrajante que alertasse os vizinhos ou qualquer outra pessoa dentro da casa.
De qualquer maneira, aparentemente não havia ninguém. Yoongi morava sozinho, não tinha nem criados. Sua casa estava vazia e parcialmente escura, exceto por uma lamparina tremeluzente acima da mesa da sala de jantar.
Enquanto Sana inspecionava, ela notou aquela única luz. Ela imaginou que Yoongi estava ali, sentado à mesa, quando ela chegou.
Sem poder evitar, avançou com passos desajeitados para aquele lugar. Sobre a mesa havia documentos: O mais marcante era um monte de cartas que Sana soube imediatamente serem enviadas por Jungkook, ela as pegou e guardou, prendendo-as no espartilho sob o vestido para não manchá-las de sangue. Queria lê-las assim que chegasse em casa, talvez por curiosidade, ou talvez por outro motivo; Ela não sabia, mas como havia lido todas as cartas de Yoongi para Jungkook, sentia a necessidade de ler também a contraparte da correspondência.
Havia também um passaporte, cheques e transferências bancárias sobre a mesa. Aparentemente, Yoongi estava planejando ir para longe, talvez deixar o país.
Foi então que a menina percebeu que havia malas já arrumadas de um lado, junto à parede. Sana graciosamente pensou que Yoongi não poderia ir a lugar nenhum além do túmulo, porque afinal, ela acabara de matá-lo.
Sim, ela o matou.
Matou ele. Ela matou um homem.
E estava cheia de seu sangue.
Eu sou uma assassina.
Consciente desse fato, Sana conseguiu recuperar a consciência e o comando de suas ações. Acordara daquele estranho sonambulismo em que mergulhara, quase dissociado, pela dor e pela raiva.
Ela gritou de horror, olhando para as mãos; olhando para o rastro de sangue que ia deixando a cada passo e olhando, por fim, para o cadáver de Yoongi caído no corredor.
Sana saiu daquela casa onde era intrusa, correu para a noite gelada, sem acreditar no que acabara de fazer.
Ela havia cometido o pior e mais cruel de todos os pecados.
A culpa substituiu a dor e inundou seu coração. Agora ela só podia sentir arrependimento.
Ela chorava incontrolavelmente, com medo do que aconteceria na madrugada quando seu crime fosse descoberto. Ela tinha medo de ser condenada pelas leis dos homens e de ser punida pelo julgamento de Deus. Mas acima de tudo, ela tinha medo de si mesma, da escuridão de sua alma, de sua própria maldade.
As lágrimas secaram com o sopro gelado do vento em seu rosto. O ar cortava sua face e sua respiração também era dolorosa. Ela continuou correndo, imparável, embora suas pernas estivessem ficando dormentes e seus pés estivessem se debatendo cada vez mais.
Seus joelhos queimaram quando ela caiu no túmulo de Jungkook. Ela não sabia como foi parar no cemitério, mas lá estava. Ela chorou e chorou. Repetidamente pediu perdão a seu marido e a Deus pelo terrível pecado que acabara de cometer.
Ela se batia, se repreendia e puxava os cabelos.
Ela estava em um ataque de pânico. Estava fora de controle.
Dizia: "Sinto muito, meu amor. Sinto muito, sinto muito."
Porque ela havia matado o amor de seu amor. E ela tinha certeza que Jungkook, onde quer que estivesse, jamais a perdoaria por isso.
O céu tremeu quando o primeiro raio brilhou no céu escuro e terrível. Começou a chover violentamente, e Sana só podia ficar com mais medo, acreditando que isso era um sinal de que tanto Jungkook quanto Deus estavam chateados.
Sana estava louca. Estava um desastre. Seu rosto cheio de lágrimas soluçou e estremeceu. Gotas de chuva escorriam por suas bochechas, desenhando sulcos entre as manchas de sangue e sujeira.
O túmulo de Jungkook.
Em seu delírio, Sana pensou ter sentido aquela terra, sob seu corpo, se mexer. Ela pensou ter sentido o túmulo de seu marido tremer, oscilar.
Ela estava completamente apavorada.
Ela resolveu ficar ali mesmo. Abraçou seu próprio corpo e se aconchegou, fechando os olhos.
Estava se sentindo esgotada, desejava dormir.
Mas o terror não deixou sua mente, mesmo quando ela caiu exausta.
Entre os sonhos, ela continuou vendo o corpo ensanguentado de Yoongi. Aquele olhar de puro terror que o homem teve quando percebeu que havia recebido a primeira facada. A faca. O caixão de Jungkook. A terra se mexendo na sepultura. A cigana, a previsão. As cartas e todas aquelas palavras de amor que não eram dirigidas a ela.
Sana ouviu o trovão e estremeceu na chuva forte.
Assim ela passou a noite, vagando, meio adormecida, meio acordada, na escuridão de seu arrependimento.
Naquela escuridão, vagamente, ela podia ouvir a voz do marido.
Jungkook estava gritando desesperadamente, pedindo ajuda. Seus gritos eram abafados, como se Jungkook estivesse afundando nas profundezas de um mar negro sem fim.
Sana sonhou que o viu, enquanto ele afundava lentamente na água; muito lentamente, lutando para nadar até a superfície, até se afogar.
|°•° ⚰️°•°|
Quando Sana acordou, ainda era de manhã cedo. O sol não havia nascido, mas havia parado de chover. A lua espreitava por entre as nuvens quase timidamente e as estrelas brilhavam como alfinetes cravados no espesso cinza escuro que era o céu.
A terra úmida não se transformou em lama graças ao cascalho; e o resultado foi quase liso, como areia. Sana achou confortável deitar a bochecha diretamente no chão poroso e, por um breve momento, pensou que estava sobre um travesseiro fofo.
Teve a impressão de que tudo não passara de um pesadelo.
Infelizmente, ao perceber que não estava em sua cama, mas sim no cemitério, a ilusão se desvaneceu e todo o peso da realidade caiu sobre seus ombros.
Cada detalhe horrível do dia anterior tinha sido real: Jungkook apaixonado por outro homem. Jungkook morto. E ela mesma, Sana, se transformou em uma assassina.
Sana chorou de novo, mas desta vez não havia histeria ou terror em sua dor.
A dor era só dor.
E foi tão devastador que Sana pensou que seu coração fosse explodir.
Suas mãos sujas tocaram a lápide de Jungkook, acariciando cada letra de seu nome. Ela ficava repetindo as palavras: me desculpe, me desculpe, me desculpe.
E ao amanhecer, Sana de repente lembrou que havia roubado algo da casa de Yoongi.
Ela tirou de seu espartilho as cartas de amor de Jungkook para Min. Sana queria lê-las, em parte para se punir, em parte para ansiar por seu amante.
As cartas estavam sujas de sangue na superfície. Mas elas foram salvas da chuva e não se desfizeram.
Sana continuou, então, letra por letra. Ela leu da mais antiga para a mais nova. Com cada uma, sua culpa continuou a crescer. Mas ela não parou, não importava o quanto seu peito doesse.
"...Meu querido Sr. Min, eu também te amo..."
"...Eu poderia passar minha vida inteira conversando com você, hyung. Só você realmente me entende e me ouve. Quando estamos juntos, sinto que sou livre..."
"...Nós vamos fugir, meu amor, eu prometo que vamos fugir. É apenas uma questão de tempo e então podemos ir embora. Seremos apenas você e eu, para sempre..."
Oh, que grande lástima, por que o amor é tão injusto? Por que o destino zomba dos mortais com tanta crueldade?
Sana sabia que estava prestes a descobrir algo terrível quando desdobrou a última carta. Tinha a data em que ela havia começado a viagem com o pai, então provavelmente seria a última coisa que Jungkook havia escrito antes de morrer.
E ela sentiu um calafrio.
Ela não estava pronta para enfrentar o que aquele papel dizia. Nunca em mil vidas estaria pronta.
"...Você não entende. Eu não posso ir embora assim, hyung. Eu não posso simplesmente abandonar minha esposa."
Sana me ama, eu percebo. Ela é tão nobre, tão afetuosa e me ama com toda a sua alma. Eu não posso virar as costas. Se um dia eu simplesmente sair de casa e nunca mais voltar, sei que vou destruí-la. Não quero isso. Não poderei ser feliz com você se assumir a culpa por tê-la abandonado e desgraçado.
E não se confunda. Estou cansado de você fazer cenas de ciúmes com ela quando você sabe que não é culpa dela que a família a casou comigo. Ela nunca teve voz em nada em sua vida, e se eu for embora, não só vou quebrar seu coração, mas ela será rejeitada por seus próprios pais, nunca podendo se casar novamente. Ela será vista apenas como um “lixo”, como uma mulher “usada e descartada”. Você não percebe? Ela nunca poderá se casar novamente e será miserável pelo resto de sua vida.
Mas tenho pensado muito nisso ultimamente. E acho que tenho a solução..."
O peito de Sana batia freneticamente. Ela estava com medo de continuar, mas continuou lendo:
"...Me ajude a fingir minha morte, Yoongi.
Uma viúva é sempre mais bem vista do que uma "esquerda". E se eu morrer, minha memória será enterrada, assim como nossa história, e nem Sana nem ninguém jamais terá que descobrir isso.
Falei com um amigo meu sobre uma erva das Índias que, se consumida, causa uma paralisia muito longa (é o Jimin, lembra dele? O biólogo que te deu valeriana). A droga é preparada como se fosse uma infusão e causa muita sonolência. Quando uma pessoa sob seus efeitos tira uma soneca, todos os seus processos metabólicos desaceleram: a respiração fica praticamente imperceptível e a pulsação pode ser reduzida para até duas batidas por minuto (não é incrível?) pela circulação reduzida, até a pele perde a cor. Se eu tomar isso, nenhum médico daqui vai conseguir tirar meus sinais vitais: vão me deixar para morrer.
Podemos construir a mentira perfeita, meu amor. Eu posso até tomar outro remédio uns dias antes: um desses que dá febre e vômito, então acharam que eu passei mal. No último dia tomo o remédio paralisante, e voilà! Serei enterrado.
Você vai me tirar daqui, é claro. À noite, quando não há ninguém no cemitério. Espero que você me tire daqui antes que os efeitos da droga desapareçam (dura cerca de vinte horas). Espero que você realmente o faça, porque a última coisa que quero é acordar em um caixão. Vai me dar claustrofobia, estou avisando. Além disso, enquanto estiver paralisado, respirarei muito pouco, mas quando acordar vou precisar de muito de ar e não sei quanto tempo posso aguentar lá embaixo antes que seja realmente perigoso.
Depois disso, podemos ir muito, muito longe. Vamos viajar para..."
Sana não conseguia mais ler através de suas lágrimas. Ela pulou, quase tropeçando no processo, e correu para encontrar algo que pudesse ser útil.
Encontrou, a poucos metros de distância, uma pá. Ela a agarrou com pressa e correu ansiosamente colina acima de volta ao túmulo de Jungkook, esperando que fosse o suficiente para desenterrá-lo e ajudá-la a quebrar as fechaduras do caixão.
Sana cavou como uma louca até que o caixão fosse visível através da terra. Então bateu nas laterais do objeto usando a pá. No meio do processo, ela foi capaz de se livrar dos parafusos.
Com as mãos trêmulas, ela levantou rapidamente a tampa.
Mas um grito agudo foi tudo o que ela conseguiu soltar quando viu o que havia dentro.
O corpo de Jungkook estava rígido, sua pele cinza. Seus olhos e boca estavam abertos, numa expressão de horror que Sana jamais poderia esquecer. Suas mãos estavam machucadas, os dedos como garras, manchados de sangue. Ele lascou todas as unhas em sua luta desesperada para abrir o caixão.
Jungkook estava, agora, verdadeiramente morto.
Ele havia sufocado, pois seu amante nunca veio para desenterrá-lo.
THE END !
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E chegamos ao fim dessa pequena
história. Eu realmente agradeço a
todos que leram até aqui. E obrigada
pelo apoio na conta, eu realmente
sou muito grata por isso.
E sim, sei que deve ser estranho eu
estar postando uma tradução nova,
quando tenho outras para atualizar.
Mas, é que eu realmente me apaixonei
por essa obra, e queria muito
compartilhar ela com vocês, ela é
tão curto, mas tão preciosa.
Bom, é isso. Vejo vocês na próxima.
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