Rio de Janeiro, 20 de Agosto de 2019

00h54

Não sei bem como começar a falar com você mas, posso afirmar que você é bem famosa. Acredite, ninguém quer ser como você. O seu sucesso não é daqueles de dar inveja. Dona morte, você pode até ficar um pouco ofendida agora mas, na realidade poucos querem te conhecer de perto. Desculpa.  

Na realidade, conhecemos pouco sobre a sua origem. Dizem que todos nós vamos conhece-la de perto um dia...  Bom, os que foram ao seu encontro não retornaram pra dizer como você é, não sabemos se é  uma mulher ou homem, se é bonita ou feia. Não sei se você sabe mas,  somos interessados por coisas bonitas...

Porém, mais interessante de saber como você  é ou com o que se parece, é entender o que você causa dentro da gente. Às vezes é um frio na barriga mas, pode ser também ataque cardíaco. Você é o tipo de coisa que tira a gente do eixo e ao mesmo tempo dá um soco no estômago.  Como é possível ? 

Desculpe dona morte se te ofendi mas, confesso que gostaria que sentisse um pouco do que a gente sente. Não somos preparados para falar sobre você - culpa nossa talvez - Existem algumas culturas que falar sobre você é totalmente comum, mas sei lá... Temos tantas coisas legais para falar ... Podemos falar sobre isso outro dia, quem sabe...

A verdade, é que me lembro da primeira vez que percebi que você era real. Foi estranho. Não sei ao certo, mas acho que tinha oito anos. No alto do segundo andar de uma determinada igreja, eu não queria olhar aquele corpo sem vida, por que a dona morte intrometida tomava conta. Te achei fria, ofensiva, cinza e amarga.

Angustiante, já ouvi isso de algumas pessoas quando falaram sobre você. É porque na verdade, a gente não sabe quando você vai chegar, essa coisa de chegar de surpresa e invadir a nossa paz não é legal. 

Bom, espero que você entenda que não é bem -vinda. Desculpa, mas é verdade! Mas sei que você é bem intrometida e pode aparecer a qualquer hora.  Mas honestamente, nos últimos anos falar sobre você tem sido tão normal, que tenho medo de não te temer mais... Hoje já sinto paz em relação as pessoas que você levou embora. 

Concordo ? Não! 

O que me resta por hora é te escrever e pedir para dar uma segurada.  

Honestamente, espero que entenda o nossa lado.

take it easy!

Débora  Gomes.

PS: No dia 21/08 recebi a notícia de um falecimento!