Hotel
Erik segura a tesoura firmemente nas mãos, apavorado e petrificado. Ainda não saiu do lado de Dani e não pretende fazê-lo.
Sam se levanta, chorando de pânico pela primeira vez. Põe-se ao lado das outras três garotas. Se vê em um impasse - fugir com as duas e salvar-lhes as vidas, ou investir com o taco para cima do mascarado sombrio com a faca ensanguentada em mãos.
O homem forte vestido de preto dos pés à cabeça deixa o corpo sem vida de Alice tombar para o chão.
Erik sente o peito arfar de raiva. Só se vê com uma alternativa. Está há poucos metros do homem. Ele empurra o chão e se levanta, ficando na frente de Dani com a tesoura em mãos. Dá um passo de investida contra o homem, que não retorna. Pelo contrário. Deixa a faca cair no chão, fincada na terra, e da bainha da calça tira um revólver.
O mascarado aponta a arma para o peito de Erik, que congela ao olhar o cano da arma em seu peito, o crânio desfigurado o olhando cara a cara. A mão que segura a arma está firme como uma rocha, diferente de Erik.
O mascarado não dispara, entretanto. Parece gostar de jogos.
Levanta a mão livre com os dedos espalmados. Abaixa o polegar. É uma contagem regressiva.
Erik está para tomar a decisão mais difícil de sua vida.
- Erik, vamos! Por favor! - O grito de Gabrieli quase sobressai-se aos de Dani.
Outro dedo se abaixa. Restam quatro.
Erik se afasta e para ao lado de Dani. Ele pode se salvar, ou ficar para morrer com ela. Não há salvação para Dani. O sangue que escorre de sua perna para a mata é excessivo. O tempo é escasso.
Ele dá um beijo molhado e salgado pelas lágrimas nos lábios da garota.
Dani não quer morrer. Não daquele jeito, mas sabe que não pode pedir para que ele fique.
Erik se despede, sentindo-se um covarde. Vê os dedos abaixarem-se um por um. Quando resta apenas um, os quatro sobreviventes estão longe. Escutam o tiro que acaba com a vida de Dani.
Erik se sente desolado. Ele corre mais rápido do que as três garotas, como se desesperadamente precisasse deixar tudo aquilo para trás.
Estava com Dani há meses. Ainda nem haviam dito que se amavam. Ele não sabe se se amavam, mas sentia o maior afeto e carinho pela garota. E deixou-a lá, para morrer. Como pôde? Mesmo que sobreviva àquela noite, jamais se perdoará.
Liz tenta manter a sanidade. Agiliza as pernas para chegar ao lado de Erik. Não diz nada, apenas guia o caminho. Segue as placas que os guiam para o hotel, resistindo ao desejo de correr para a praia e entrar na lancha. Sabe que sem a chave é tão inútil quanto ficar parada ao lado do casarão em chamas.
Quando os quatro finalmente enxergam o hotel camuflado à escuridão da ilha, suspiram aliviados.
Sam corre na frente, para a porta de entrada. Gabrieli pega o celular, não sabendo bem o que esperar ao desbloqueá-lo. Não há nenhuma mensagem. Pelo contrário, não há nenhum sinal.
Samantha lembra das palavras de Alice. Levanta o carpete e encontra a chave, aliviada. Coloca-a na fechadura e a vira com cuidado e desespero. Adentra a escuridão do hotel com os outros atrás de si, fechando a porta atrás deles.
Gabrieli acende a lanterna do celular, que já está com a bateria quase zerada.
Os quatro se veem em um saguão extenso com cheiro de praia. Sentem a areia granulada por baixo dos tênis a cada passo que dão.
Instintivamente, afastam-se da porta.
- E agora? - Liz pergunta. Precisa de um direcionamento.
- Eu voto por nos trancarmos em algum quarto até essa noite acabar. Depois, com a luz do dia, vamos ver o que fazer quanto ao maníaco.
Sam não sabe porque, mas eles a escutam. Desde que saíram do casarão, parecem deixar que ela tome as decisões. Ela não gosta disso. Qualquer deslize que venha a ocorrer a fará se sentir culpada.
Os outros três balançam a cabeça em concordância.
Gabrieli segue na frente com a lanterna do celular acesa em mãos. Ilumina os degraus para que os outros a sigam.
No segundo andar do hotel, não há quartos. Apenas um extenso salão de refeições, uma academia e várias outras salas que estão fora do campo de visão dos quatro.
Rumam para o terceiro andar. Os extensos corredores com portas fechadas bifurcam-se em três direções - frente, direita e esquerda.
- Alguma pedida? - Gabrieli indaga.
- Esquerda. - Liz se pronuncia. Não há motivo, só não quer mais ficar parada aos pés da escada. Adentra o corredor à esquerda deles e aleatoriamente escolhe uma porta. Duzentos e doze.
Ela empurra a porta do quarto e entra, sentindo o cheiro de lençóis limpos e produtos de limpeza.
Pega o próprio celular do bolso e acende a lanterna.
- Cacete. - Sam exclama, visivelmente frustrada.
- O que foi? - Liz pergunta e a ilumina. Sam empurra a porta.
- Não tem chave.
- Como assim?
Gabrieli sente vontade de chutar a cama ao seu lado.
- Parece que... ele sabia que viríamos exatamente pra cá.
Ela sai para o corredor e entra em outro quarto, comprovando sua teoria. Nenhum tem tranca.
- Quem quer que seja, está nos torturando antes de nos matar. - Ela diz isso com tanta naturalidade que chega a ser aterrador.
Para comprovar sua teoria, o som de uma janela estilhaçando-se nos andares de baixo faz com que as espinhas dos quatro congelem. Não estão mais sozinhos.
Eles se entreolham como se em silêncio se perguntassem o que fazer.
- Vamos nos dividir. - Erik sugere, falando pela primeira vez desde que ouvira o tiro que matou sua namorada.
- Essa é uma ideia estúpida! Nunca viu filmes de terror? - Gabrieli sussurra.
Erik revira os olhos.
- Ele não vai conseguir ir atrás dos quatro ao mesmo tempo. Vamos nos dar cobertura.
- Dois e dois. - Sam sugere. Ela pega a mão de Liz antes que eles concordem com a ideia. Corre em direção às escadas novamente, sem olhar para trás.
Mas Liz olha, pensando se será a última vez que verá algum dos dois. Ela força o pensamento a se afastar assim que escuta os passos na escada.
Samantha faz questão de subir mais um andar e Liz não se sente em posição de contradizê-la.
As duas chegam no quarto andar com os corações na boca, ofegantes. Sam ainda empunha o taco que não teve a oportunidade de usar. Não sabe se ao menos será útil, mas gosta de sentir a falsa segurança que ele lhe passa. Liz e Samantha seguram as mãos uma da outra com força, sentindo o suor da palma uma da outra, como se fossem crianças apavoradas, um certo ar pueril de infantilidade.
Paradas no quarto andar, ainda escutam o som dos passos que insistem em subir as escadas.
Elas trocam olhares. Sam aponta com o queixo para os quartos. Talvez seja mesmo a melhor opção que elas têm.
As duas adentram o quarto mais distante que conseguem.
Como esperado, não há nem vestígio de chave.
Liz tem uma ideia, mas não sabe se é das mais brilhantes.
Abre o closet do quarto e vê espaço suficiente para as duas se esconderem. Sam concorda. É ali que ficarão pelas próximas horas.
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