xiii. debts
Atualmente, Meridian.
𝓐urora Dauphin.
O dia estava cinzento, as nuvens pesadas pairavam no céu, refletindo a tempestade que parecia se formar dentro de mim. Eu decidi sair para o mercado, uma tentativa de fugir temporariamente da atmosfera abafada da minha casa. A porta se abriu com um rangido suave, e eu estava do lado de fora depois de um fim de semana trancado no quarto, respirando fundo o ar fresco, desejando que ele pudesse limpar a confusão que se acumulava dentro de mim.
Meus passos ecoavam no caminho de entrada enquanto eu me dirigia para o carro. O telefone começou a tocar, interrompendo o silêncio. Olhei para a tela, vendo o nome da minha mãe piscando. Suspirei, hesitante. Ela sabia como arruinar o meu dia com uma única ligação. O toque persistente cortava o ar, mas eu recusei a chamada com um gesto rápido e coloquei o telefone no bolso.
No mercado, eu caminhei pelos corredores, me perdendo por um momento nos tons vibrantes das frutas e vegetais. Mas a fuga era temporária. As lembranças da noite anterior ainda ecoavam na minha mente, a presença deles, o toque dele, tudo era demais para absorver. E eu precisava de um instante de alívio, mas sabia que, eventualmente, teria que voltar para casa, e em algum momento veria eles outra vez.
Ao dobrar um corredor, meu olhar cruzou com o de Kai. Ele estava apoiado casualmente em uma prateleira, o sorriso sarcástico dançando em seus lábios. Era como se ele soubesse que encontraria um raio de sol na minha nuvem escura. Revirei os olhos, determinada a não permitir que ele roubasse minha paz.
──── Olá, Aurora. ── A voz de Kai era suave, carregada de insolência. Ele se aproximou, bloqueando meu caminho.
──── Kai. ── Respondi, tentando manter a calma. A última coisa que eu precisava era de um confronto no meio do mercado.
Ele se apoiou na prateleira ao meu lado, olhando-me de cima a baixo com um olhar perspicaz.
──── Você sempre foi difícil, não é? ── Um sorriso sarcástico brincava em seus lábios, fazendo um comentário que ele fez naquela noite.
Respirei fundo, focando em ignorar o comentário provocador, amava esse lado do Mori a alguns anos, mas agora ele me irritava. Continuei andando, buscando os itens em minha lista, mas ele persistia em seguir-me pelos corredores como uma sombra incômoda.
──── Aurora, Aurora, Aurora... ── Kai cantarolou meu nome, me provocando. ──── Não vai me dar nem um olá?
──── Não tenho tempo para suas brincadeiras, Kai. ── Respondi, mantendo meu olhar firme em frente.
Ele riu, uma risada que enviava arrepios pela minha espinha. ──── Sempre tão séria. Eu estava com saudades de brincar com você, sabia?
──── Não me faça perder a paciência, Kai. Vá brincar em outro lugar. ── Bufei, parando para pagar minhas compras no caixa.
Ele me seguiu até o estacionamento, ignorando minha tentativa clara de afastá-lo. Com um suspiro frustrado, me virei para encará-lo.
──── O que você quer, Kai? ── Perguntei, meu tom um misto de irritação e exaustão.
──── Apenas queria matar as saudades. ── Seu sorriso era um desafio, como se ele soubesse que podia mexer comigo. ──── As coisas ficaram tão chatas desde que fomos presos. Eu só estou tentando trazer um pouco da diversão que tínhamos naquela época.
──── Diversão? ── Arqueei uma sobrancelha, cética. ──── Se a sua ideia de diversão é me perseguir, invadir a minha casa e deixar a porra daquele patins na minha porta, então você precisa de mais ajuda do que eu achava.
──── Ver você perder a compostura sempre foi uma das minhas atividades favoritas... e você gostava de quando nós te perseguíamos. ── Kai deu de ombros, mas seu olhar nunca deixou o meu.
──── Cala a boca. ── Murmurei, tentando manter a minha postura.
──── Tão doce. ── Kai sorriu, como se tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo. ── Vamos adorar te colocar na linha novamente.
Me afastei dele, voltando para o carro. Kai permaneceu onde estava, seus olhos fixos em mim enquanto eu saía do estacionamento. Eu sabia que aquilo não era o fim das provocações, mas algo dentro de mim tinha mudado. Eu estava determinada a não deixar que as sombras do passado dominassem meu presente.
As gotas de chuva batiam contra o para-brisa do meu carro, criando um espetáculo hipnotizante de sombras e luzes. O céu estava carregado, prometendo uma tempestade que combinava com o turbilhão de pensamentos na minha mente. Eu estava parada na rampa da garagem, a hesitação pairando sobre mim como uma nuvem escura. Era hora de fazer a ligação que eu vinha adiando.
Inspirei fundo e peguei o celular, discando o número que estava gravado na minha memória. Cada toque parecia um passo mais próximo do desconhecido, do arriscado, mas eu não tinha escolha.
A ligação foi atendida, e a voz do outro lado da linha ecoou no carro. ─── O que você quer, Aurora?
──── Preciso de um favor. ── Minha voz soou mais firme do que eu esperava, mesmo com a incerteza que se escondia por trás dela.
──── Eu não devo nada a você, lembra? ── Houve um breve silêncio antes da resposta.
Senti o peso da verdade naquelas palavras, mas eu tinha uma carta na manga, uma proposta que poderia mudar as coisas.
──── Se você fizer isso por mim, esqueço todas as dívidas da sua esposa. Vocês estarão livres.
Uma risada sarcástica veio do outro lado. ──── Esquecer as dívidas? Isso é algo novo vindo de você. O que é tão importante a ponto de me fazer considerar isso?
──── Não é da sua conta. ── Retruquei tentando manter a voz firme . Eu não podia me dar ao luxo de revelar os detalhes. Não ainda.
Um suspiro cansado foi ouvido. ──── Você sempre soube como apimentar as coisas. Está bem, Aurora. Eu faço isso. Mas, quando terminar, quero um documento assinado confirmando que as dívidas estão zeradas.
──── Pode apostar que terá. ── Minha resposta foi rápida, sabendo que estava selando um pacto que poderia ter consequências imprevisíveis.
Desliguei o telefone e sentei ali por um momento, observando as gotas de chuva escorregarem pelo vidro. O que eu estava prestes a fazer não era algo que eu planejava, mas era a única saída que eu via.
Saí do carro e corri pela chuva até a entrada da casa. O cheiro de terra molhada misturado com a sensação de gotas frias na minha pele criavam uma atmosfera única. Ao entrar na sala, meus passos ecoaram no silêncio, e eu me deparei com o Ryan adormecido no sofá. O cenário estava mais calmo agora, mas a tempestade dentro de mim ainda rugia.
──── Liam? ── Chamei, subindo as escadas até o quarto dele.
──── Achei que ia demorar mais para voltar, a janta esta pronta. ── Ele estava sentado à escrivaninha, os livros abertos diante dele, mas o olhar estava perdido.
──── Vou fazer uma viagem amanhã. ── Anunciei, sabendo que isso poderia fazer ele recitar uma lista de perguntas.
Ele arqueou uma sobrancelha. ──── Uma viagem? Para onde?
──── Não posso te dizer agora, mas preciso ir. É importante.
──── Aurora, o que está acontecendo? ── A preocupação enrugou sua testa.
Suspirei, me sentei ao lado dele. ──── Vamos apenas dizer que estou tentando consertar algumas coisas.
As horas que se seguiram foram um frenesi de preparativos. Respondi todas as perguntas do meu irmão, mentindo algumas vezes e fiz uma pequena mala com algumas coisas que eu iria precisar. A chuva lá fora refletia a tempestade interior que eu estava enfrentando.
Finalmente, deitei na cama, minha cabeça estava uma bagunça mas eu precisava fazer isso. Eu queria protegê-los, mas a verdade era que, no momento, eu nem mesmo sabia como proteger a mim mesma.
⛸️ ᝰ 01﹕❛ Novamente, mil desculpas pela demora, realmente não é proposital, estou fazendo minhas provas finais e resolvendo uns problemas pessoais, assim que o Natal passar prometo que não vou demorar tanto para postar.
⛸️ ㅤ Espero que tenham gostado! ❜
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