vii. could never forget
4 anos atrás, Thunder Bay.
𝓐urora Dauphin.
A casa em Thunder Bay parecia menor do que eu me lembrava, as paredes, antes altas e imponentes para meus olhos a nove anos atrás, agora pareciam encolhidas, como se tivessem encolhido nos anos em que estivemos fora. Voltar para essa cidade, e principalmente para essa casa era uma mistura estranha de nostalgia e expectativa enquanto eu me preparava para o que viria a seguir. Voltar para Thunder Bay representava mais do que simplesmente retornar à cidade; era reviver uma "vida" que eu deixei para trás, confrontar uma história que não estava completa e trazendo à tona lembranças de uma infância que eu nunca poderia esquecer.
Não que eu seja dramática, mas minha vida era melhor quando eu morava aqui. E levando em conta tudo que aconteceu nos últimos anos voltar para Thunder Bay era uma boa escolha.
Eu estava no meu quarto, um lugar que costumava ser repleto de brinquedos e desenhos nas paredes, o meu refúgio, mas que agora estava quase sem vida, precisava desempacotar minhas coisas urgentemente.
Ao olhar para o espelho, meus olhos azuis encontraram meu próprio reflexo, a emoção e o nervosismo me invadiram, me fazendo puxar o ar com força enquanto repassava os últimos acontecimentos para tentar me distrair.
"Você consegue, Aurora" murmurei para mim mesma, tentando conter os sentimentos que ameaçavam transbordar. Voltar para casa significava reviver uma parte de mim que estava adormecida, algo que eu deveria enfrentar mais cedo ou mais tarde, significava encarar minha antiga vida e, acima de tudo, ele.
No momento em que arrumei meu cabelo, meu irmão entrou no quarto. Alto e com cabelos escuros, Liam tinha um ar sério e protetor, mas sabia que era apenas uma máscara. Seus olhos encontraram os meus, e um sorriso leve surgiu em seus lábios.
──── O café está na mesa, Aurora. Vamos, precisamos sair logo. ── Ele disse, com seu tom de voz que misturava cuidado e descontração.
──── Obrigada, já estou indo Liam. ── Respondi com um sorriso, e ele retribuiu antes de sair do quarto. Fiquei sozinha novamente, dei uma última olhada no espelho, respirando fundo antes de seguir em direção à cozinha.
Descendo para a cozinha, o aroma do café recém-passado envolveu o ar quando cheguei à cozinha. Sentei-me à mesa e peguei uma fatia do bolo que havíamos comprado no mercado local no dia anterior. O doce sabor caseiro trouxe lembranças de dias mais simples, e eu me permiti sorrir diante delas.
──── Onde está a mamãe? ── Perguntei, curiosa sobre onde ela poderia estar.
Liam hesitou antes de responder, seus olhos evitando os meus por um momento. ──── Ela está dormindo. Bebeu bastante ontem à noite, então acho que é melhor não fazermos muito barulho.
Assenti, não era nenhuma novidade, mas ainda doía. Nossa mãe tinha começado a beber quase todos os dias desde que ela e papai se separaram e ele nos deixou sem nada, e a nossa ida para New Haven com um dinheiro que ela conseguiu misteriosamente foi a nossa única saída para tentarmos nos reerger
Entendia que tudo que ela teve que fazer por nós teve um preço, não a odiava, longe disso. Meu ódio estava totalmente concentrado no meu pai, que teve a coragem de tirar tudo dela, e consequentemente de nós. Ainda me lembro dele indo embora sem se despedir de mim ou de Liam, um babaca do caralho.
Quando terminei o bolo, me levantei e foi em direção ao carro do Liam, onde nós iríamos em direção à escola. A excitação de retornar a Thunder Bay estava mesclada com ansiedade, e eu não conseguia evitar compartilhar meus pensamentos com meu irmão.
──── Sinto que vou vomitar todo o meu café da manhã a qualquer segundo. ── Murmurei brincando com os meus anéis. ──── Estou animada em estar de volta, Liam, senti tanta falta daqui... e, você sabe, dele também.
Liam assentiu com um leve sorriso, concentrado na rua enquanto dirigia. ──── Consigo imaginar perfeitamente você com nove anos fugindo de casa só para voltar aqui e rever ele. Será bom se reencontrarem.
As palavras de Liam me fizeram rir e só aumentaram minha ansiedade. Acabei me perdendo em pensamentos, lembrando dos dias que estávamos juntos, quem diria que nem nove anos foram capaz de me fazer esquecer ele. Aquelas memórias eram como tesouros guardados em um baú, esperando para serem redescobertos.
O percurso até a escola foi preenchido por uma mistura de nostalgia e expectativa. Liam e eu conversamos sobre alguns assuntos, tentando aliviar a tensão do momento. A proximidade da escola trouxe um nó ao meu estômago outra vez, mas eu estava determinada a enfrentar o que estava por vir.
Ao chegarmos, respirei fundo e olhei para a escola, parecia maior quando eu a via da janela no carro a anos atrás, uma estrutura que agora parecia carregar tanto peso e significado.
Olhei para meu irmão e sorri levemente, tinha a sensação de que tudo tinha mudado, mas ao mesmo tempo continuava igual. E mesmo assim eu sabia que tudo ficaria bem, se consegui me adaptar a New Haven, voltar a Thunder Bay seria como roubar doce de criança.
Divertido, doce e com um pouco de adrenalina.
E por mais que meu estômago estivesse se revirando de ansiedade e medo eu estava pronta para abraçar essa oportunidade com toda a minha força.
Só torcia para que nada tivesse mudado demais, ou melhor, que ele não tivesse mudado demais.
A tensão no ar da sala de espera da diretoria era palpável, como se o tempo estivesse passando mais lentamente enquanto eu esperava ansiosamente a aluna que iria me apresentar a escola, Liam já tinha ido, e eu estava cogitando sair correndo. As paredes, cobertas de avisos e fotografias de ex-alunos, me observavam silenciosamente enquanto eu me sentava em uma das cadeiras desconfortáveis, tentando conter a ansiedade que borbulhava dentro de mim. O motivo da minha visita era simples: uma aluna do segundo ano se ofereceu para me mostrar a escola, me apresentar a alguns professores e me ajudar a me adaptar a Thunder Bay. Enquanto esperava, minha mente divagava por entre pensamentos de como seria a nova escola e como seria rever as pessoas que não via há tanto tempo.
Meu olhar vagueava pela sala, perdido em pensamentos, até que durante esse momento de tensão e expectativa que a porta da diretoria se abriu, e um garoto entrou com passos desinteressados. Ele parecia ter a minha idade, e sua expressão entediada contrastava com meu próprio nervosismo. Ele caminhou até as cadeiras de espera e escolheu o lugar vago ao meu lado. Como se fosse uma coreografia ensaiada, nossos olhos se encontraram brevemente antes de ele se acomodar.
──── Entediante, não é mesmo? ── Ele soltou um suspiro teatral, se referindo à espera, ele lançou um olhar preguiçoso na minha direção e deu um sorriso de canto de boca.
──── É, parece que sim. ── Respondi, esboçando um sorriso leve enquanto ele se ajeitava na cadeira.
Ele virou a cabeça na minha direção, me estudando por um momento. ──── Ei, você é nova aqui, certo? Eu me lembraria de ter visto alguém como você pelos corredores
Engoli em seco, surpresa pelo súbito interesse dele e ignorando o comentário. Seus olhos, escuros e misteriosos, me observavam com curiosidade, e eu me perguntei se ele fazia isso com todas as alunas novas.
──── Sim, sou nova. ── Respondi, tentando parecer tranquila, embora meu coração martelasse no peito. ──── Acabei de voltar para Thunder Bay depois de alguns anos em New Haven.
──── Quantos anos, especificamente, olhos bonitos? ── Ele perguntou olhando para os meus olhos, brinquei com os meus anéis nervosamente e sorri levemente.
──── Nove anos. ── Murmurei, ignorando o nervosismo que corria pelas minhas veias, percebendo que ele estava tentando puxar conversa.
──── Nove anos, hein? Deve ter muitas histórias para contar. ── Ele parecia intrigado com a minha resposta, como se tivesse acabado de descobrir um enigma.
──── Algumas, talvez. E você? Estuda aqui há muito tempo? ── Eu dei de ombros, me sentindo um pouco mais à vontade com a conversa.
────Já faz alguns anos, mas sempre tem espaço para conhecer pessoas novas, não é? ── Ele sorriu, um sorriso que continha uma pitada de malícia.
Seu tom sugestivo me pegou de surpresa, e uma risada nervosa escapou dos meus lábios. ──── Aparentemente, sim.
──── Aliás, sou William Grayson, mas pode me chamar de Will. É mais fácil de lembrar e eu não me sinto um velho. ── Ele estendeu a mão para mim enquanto ria.
──── É um prazer, Will. ── Dei ênfase ao nome dele e sorri apertando sua mão ──── Aurora Dauphin.
Não sei se foi paranoia minha, mas no momento em que disse meu nome os olhos dele arregalaram levemente e o sorriso triplicou de uma forma assustadora.
──── É um belo nome, Aurora. ── Ele disse ainda com o sorriso nos lábios.
Will, como ele havia se apresentado, era um enigma. Seu jeito descontraído e brincalhão contrastava com a atmosfera tensa da diretoria. Ele parecia à vontade em sua própria pele, e isso me intrigou.
Conforme a conversa continuava, percebi que ele tinha uma personalidade cativante e, mesmo que seus comentários fossem carregados de humor, havia algo genuíno em sua maneira de falar, mesmo com as perguntas um pouco pessoais demais, como se não fosse apenas a curiosidade de me conhecer.
Conversamos sobre tudo e nada ao mesmo tempo, ele me contou histórias engraçadas como se tivesse tentando me destrair e compartilhando opiniões sobre a escola e a cidade. A cada palavra, eu me sentia um pouco menos nervosa com o retorno a Thunder Bay. Ele me fez rir com histórias hilárias sobre seus amigos e travessuras escolares.
No entanto, a atmosfera descontraída da nossa conversa foi interrompida quando a diretora da escola, uma mulher de postura rígida, chamou meu nome. Levantei-me com relutância, despedindo-me de Will com um aceno de cabeça.
──── Boa sorte com o tour pela escola. ── Ele disse com um sorriso travesso. ──── Talvez a gente se esbarre por aí, olhos bonitos.
Concordei com um sorriso e segui a diretora até sua sala, deixando para trás a presença enigmática de Will Grayson. Enquanto caminhava, não pude deixar de pensar que, apesar dos nove anos de distância, Thunder Bay já começava a parecer um pouco mais familiar, graças a um garoto de olhos curiosos e um sorriso cheio de mistério.
Antes de abrir a porta, tomei uma respiração profunda, tentando dissipar os nervos que dançavam em meu estômago. Uma mulher de presença imponente estava sentada atrás de uma escrivaninha, seu olhar penetrante encontrando o meu quando entrei na sala. Seu cabelo escuro e olhos intensos combinavam com a aura de autoridade que ela exalava.
──── Aurora, é um prazer tê-la de volta em nossa escola. ── Ela disse, se levantando para me cumprimentar. ──── Sou a Sra. Harris, a diretora da escola. Bem-vinda.
Retribuí o cumprimento, tentando manter minha postura. ──── Obrigada, Sra. Harris. É bom estar de volta.
Ela sorriu para mim e pude observar melhor seu rosto, mesmo com as marcas de expressões marcadas ela tinha uma ar tão jovem, o que era esquisito para uma diretora que tem que lidar com alunos todos os dias.
──── Aurora, esta é a senhorita Erika Fane, ela está no segundo ano e é uma das nossas melhores alunas. ── A diretora anunciou, e eu não pude deixar de notar um brilho de admiração em seus olhos enquanto ela olhava para Rika.
Rika se levantou, revelando um sorriso que era ao mesmo tempo enigmático e gentil. ──── Prazer em conhecê-la, Aurora.
──── O prazer é meu. ── Respondi, tentando não demonstrar o quanto eu estava nervosa.
Acho que o bolo não me fez muito bem.
A diretora explicou rapidamente que Rika seria a responsável por me mostrar a escola e me ajudar a me adaptar à rotina nos meus primeiros dias aqui. Eu concordei, um pouco ansiosa. Saímos da sala da diretora, e Rika começou a me guiar pelos corredores movimentados da escola..
──── Então, Aurora, como é estar de volta a Thunder Bay? Deve ser uma verdadeira aventura ou um pesadelo. ── Rika começou a falar enquanto caminhávamos, sua voz flutuando por sobre o barulho das aulas enquanto sorria levemente.
──── Acho que eu descreveria isso como esquisito. ── Falei tentando não rir. ──── É tão estranho estar nessa cidade, tudo mudou e eu não sei se isso é bom ou ruim
──── Acho que é bom, em partes. ── Ela murmurou olhando para mim. ──── Eles finalmente abriram uma nova lanchonete, sabe o quão ridículo é ficar animada por uma nova lanchonete? ── Ela pergunta entre risos e eu acabo rindo também.
──── Como vocês se divertem? ── Perguntei tentando parar de rir. ──── Em New Haven meus amigos ficavam malucos quando algum lugar estava lotado, mas sempre tínhamos outras opções.
──── Bom, você vai descobrir. ── Ela fala enquanto passamos pela porta do laboratório de química. ──── Morar em Thunder Bay tem algumas vantagens.
Enquanto continuávamos a caminhar, Rika começou a me contar sobre alguns dos professores e alunos que eu encontraria na escola. Sua descrição não era exatamente convencional.
──── Aquele é o Sr. Turner, o professor de História. Ele é um pouco chato, mas se você tirar notas boas, ele vai gostar de você.
──── Ah, e veja aquele ali. ── Ela apontou para um grupo de estudantes que se reuniam em um canto. ──── São os aspirantes a bad boys, tipo aqueles de livros? Mas eles são tão medrosos que se Michael olhar para eles tenho certeza que todos vão borrar as calças.
Coloquei a mão na boca tentando abafar a gargalhada que queria escapar dos meus lábios, olhei para ela com diversão e neguei com a cabeça, mas fiz uma nota mental: ficar longe desse tal Michael, não quero arrumar confusão esse ano.
Rika não poupou detalhes ao falar sobre a vida na escola. Ela mencionou os professores favoritos, os lugares secretos que os alunos frequentavam e até mesmo os boatos mais recentes sobre a cidade.
──── Então, o que você acha até agora? ── Ela perguntou enquanto continuávamos nossa jornada.
──── É tudo um pouco esmagador. ── Admiti. ──── Mas estou ansiosa para começar e conhecer novas pessoas.
Rika assentiu, seu olhar sério por um momento. ──── Pode ser um lugar estranho, mas você vai se acostumar. E se precisar de alguma coisa, pode contar comigo.
──── Isso significa muito para mim. Obrigada, Rika. ── Eu sorri, agradecida por sua oferta de ajuda.
Ela apenas deu de ombros, como se não fosse grande coisa. ──── Bom, sua segunda aula vai começar, te vejo no almoço? E nem pense em negar, quero te apresentar meu namorado e alguns amigos.
Sorri concordando e acenei vendo ela sair andando pelo corredor e entrando em uma sala quando o sinal tocou.
Respirei fundo e toquei na maçaneta da porta repetindo na minha cabeça que tudo estava bem.
Abri a porta e quase chorei de tristeza ao ver que a sala estava cheia, merda de dois horários seguidos de literatura. Sorri envergonhada para o professor que acenou com a cabeça para que eu me aproximasse dele.
Conseguia sentir todos os olhos dos alunos em mim, e eu estava a um passo de amaldiçoar todas as gerações do filho da puta que colocou as duas aulas juntas. Parei ao lado do professor sentindo minhas bochechas queimarem, não sei de era de vergonha ou de raiva.
Senti o professor colocar uma mão no meu ombro e me virar para a turma.
Mal ouvi quando ele disse seu nome para mim, e sinceramente, mal ouço qualquer outra coisa além do meu coração martelando nos meus ouvidos.
Porra, acho que vou ter um ataque cardíaco, odeio ser o centro das atenções, a única exceção é quando estou patinando.
──── Atenção, essa é a nova colega de vocês.. pode dizer seu nome a eles? ── O professor perguntou e eu desejei com toda a minha força socar a cara dele.
Dei um sorriso forçado e confirmei, olhei para os alunos das primeiras fileiras e fixei meu olhar em um caderno em uma das mesas.
──── Meu nome é Aurora Dauphin.. vim de New Haven. ── Murmurei tentando a todo custo não fazer uma careta.
Ouvi um coro de "bem vinda" e sorri levemente, a última vez que ouvi isso eu estava prestes a chorar de raiva por ter me mudado daqui.
──── Vá se sentar, senhorita Dauphin. ── O professor disse se afastando de mim e indo pegar as folhas que ele estava lendo, acenei com a cabeça e passei meus olhos pelos alunos, procurando um lugar vago.
Mas todo o ar dos meus pulmões sumirão quando eu vi os olhos que eu nunca poderia esquecer olhando para mim, com um sorriso malicioso nos lábios.
Porra, ele definitivamente não era mais aquele garoto envergonhado de anos atrás.
⛸️ ᝰ 01﹕❛ Sei que vocês queria o reencontro deles no tempo atual, mas tenho um planejamento e juro que no final vai ficar bom. Antes que venham falar que a Aurora está sendo "dramática" como já tive que ler em alguns comentários sobre outras oc's minha, vim frisar que ela não se sente confortável com mudanças bruscas e odeia ser o centro das atenções fora do ringue de patinação.
⛸️ ㅤ Nesse capítulo a Aurora tem dezesseis anos e o Damon tem dezessete.
⛸️ ㅤ São literalmente 17:05 de sexta, sim, eu deixei pra escrever o capítulo em cima da hora e estou morrendo de dor de cabeça por conta disso.
⛸️ ㅤ Espero que tenham gostado! ❜
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