𝟎𝟔. Lembranças Felizes
𝟎𝟔. Lembranças Felizes
▋Cela/Corredor do MACUSA ── Dia
OS QUATRO AINDA ESTAVAM submersos em seus pensamentos de como todos os ataques a Nova York se assemelhavam com o que Newt havia descrito sobre o Obscurus, sobre como possivelmente havia uma criança matando pessoas por aí, até que, passos puderam ser ouvidos no longo corredor escuro.
O grupo olhou em alerta na direção dos passos e logo perceberam duas mulheres, bruxas, vestidas em casacos brancos, virem até a cela e destrancarem a mesma, retirando Newt, Margot e Tina dali, sem dizer nenhuma palavra, enquanto os mantinha presos magicamente novamente.
— Foi bom conhecê-lo, Jacob, e espero que consiga abrir sua padaria — Newt diz para um Jacob agora sozinha na cela.
As duas bruxas começam a os guiar pelo longo e escuro corredor no porão, mas Margot olha para trás, se deparando com Jacob assustado e agarrado às grades da cela.
Aquilo fez o coração dela doer.
— Foi um enorme prazer conhecê-lo, Jacob! — ela gritou por cima do ombro e ganhou um aceno desamparado de Jacob, que foi ficando cada vez mais e mais para trás, até que não podia mais ser visto na escuridão do longo corredor.
As duas bruxas guiaram Newt, Margot e Tina escada acima e, depois de andar por mais um tempo e virar alguns corredores, eles foram parar na sala de interrogatório, onde Percival Graves já os esperava.
Era uma sala pequena, de paredes escuras e sem janelas.
Graves estava sentado em uma mesa e logo, Newt foi posto sentado em sua frente também.
Havia uma pasta aberta em frente a Graves, ao qual ele lia atentamente.
Margot e Tina estavam de pé logo atrás, sendo flanqueadas pelas duas bruxas.
— É um homem interessante, senhor Scamander — Graves murmura, com os olhos ainda na pasta e em seu conteúdo.
Tina dá um passo à frente.
— Senhor Graves...-
Mas é impedida por Graves, que ergue os olhos e olha intimidadoramente para ela, levando um dedo aos lábios, sinalizando para Tina manter-se em silêncio.
Tina obedece, abaixando a cabeça e recuando para onde estava antes.
Margot semicerrou os olhos na direção de Percival Graves.
Ela o conhecia. Ele realmente era um bruxo poderoso e cheio de autoridade ali, com um cargo alto e às vezes um tanto rude e duro com as palavras... mas Percival Graves sempre ia atrás da verdade.
O homem mais inteligente e o bruxo mais forte que Margot já havia conhecido.
Um grande Auror de respeito, ao qual, quando Margot ainda trabalhava para o MACUSA, teve a honra de trabalhar ao lado do mesmo em circunstâncias diversas.
E ele havia a ajudado quanto ao seu problema com o MACUSA que a fez ser suspensa para sempre de suas tarefas como Auror.
Ela o admirava por isso, mas aquele olhar...
— Você foi expulso de Hogwarts por colocar vida humana em perigo... — ele murmurou, olhando para a pasta e depois para Newt à sua frente.
— Aquilo foi um acidente! — Newt respondeu, atordoado com aquilo.
— ... com um animal. Entretanto, um de seus professores argumentou fortemente contra sua expulsão. Pois bem, por que Alvo Dumbledore gosta tanto de você?
Newt suspirou e olhou para a luz acima de sua cabeça, no teto.
— Sinceramente, não sei dizer.
— Então, colocar um bando de criaturas perigosas à solta aqui foi apenas outro acidente, não é verdade? — Graves perguntou, fechando a pasta cheia de documentos sobre Newt Scamander.
— Por que eu faria isso de propósito?
— Para expor a brunxandade. Para provocar a guerra entre os mundos bruxo e não-bruxo — Graves falou enquanto dava de ombros.
— Um assasinato em massa pelo bem maior, é isso o que quer dizer? — Newt perguntou com desgosto e Graves respondeu com um arquear de sobrancelha. — Não sou um dos fanáticos seguidores de Grindelwald, senhor Graves — Newt diz com convicção, marcando seu ponto ali naquela conversa.
Percival Graves franzi a testa, tomando um ar mais ameaçador, olhar esse que não passou despercebido por Margot.
— O que será que pode me dizer a respeito disso, senhor Scamander?
E, com um movimento lento de mão, Graves suspende o Obscurus que antes estava na maleta de Newt.
Margot olha espantada para aquilo.
Ele coloca a criatura sobre a mesa e ela pulsa, gira e sibila.
Graves estende a mão para o Obscurus, parecendo inteiramente fascinado. Com a súbita proximidade, o Obscurus gira com mais rapidez, borbulhando e se retraindo para trás.
— Isto é um Obscurus... — Margot falou de repente, o que chamou a atenção de todos na sala para ela, inclusive a de Graves. — Newt o separou de uma garotinha depois de morta, ele estava o estudando.
Newt olhava admirado na direção de Margot, não acreditando que ela estava mesmo entrando naquilo para o defender.
Graves olhou para Margot com curiosidade, o que a fez fazer uma careta.
— É impossível para ele sobreviver fora dessa caixa — Newt se pôs a explicar também, agora se virando novamente na direção de Graves. — Não pode machucar ninguém!
— Então ele é inútil sem um hospedeiro? — Graves pergunta e curiosidade pinga em cada palavra dita por ele.
— "Inútil?!" — Newt pergunta transtornado. — Está é uma força mágica parasitária que matou uma criança. Que utilidade você teria para isso?
Newt, fervendo em raiva, encara Graves.
Margot dá um passo a frente, encarando o homem também.
— É engraçado, senhor Graves — ela diz o olhando nos olhos —, que desde que me viu, não me perguntou sobre nada.
As sobrancelhas escuras na testa de Percival Graves se ergueram, olhando surpresas para Margot e para seu tom de voz.
Ele se levanta, ignorando as falas da mulher e voltando a fazer de Newt o centro das atenções.
— Você não engana ninguém, senhor Scamander! Trouxe este Obscurus para a cidade de Nova York na esperança de provocar uma desordem mágica, infringindo o Estatuto de Sigilo e revelando o mundo bruxo...
— Sabe que ele não pode machucar ninguém! — Margot falou apontando para o Obscurus ainda na mesa. — O senhor sabe!
Graves dá as costas a Margot, como se a mesma não existisse e ele fosse incapaz de a escutar.
— ... assim, você é culpado por uma perfídia traiçoeira a seus companheiros bruxos e é sentenciado à morte. As senhoritas Goldstein e Murray, que o auxiliaram e foram cúmplices...
— Não, elas não fizeram nada! — Newt exclama, assustado com aquilo.
— ... recebem a mesma sentença — Graves termina seu veredito.
As duas bruxas vestidas em casacos brancos, que estavam quietas até agora, avançam e pressionam a ponta de suas varinhas no pescoço dos detentos, principalmente de Margot, que estava prestes a terminar sua caminhada até onde Graves estava.
— Façam isso imediatamente — Graves diz para as duas mulheres. — Informarei a presidente Picquery eu mesmo.
— Não pode fazer iss...-
— Shh... — Graves coloca os dedos nos lábios, finalmente se virando em direção a Margot. — Façam isso rápido, por favor — ele volta a dizer para as duas bruxas que acenam positivamente com a cabeça, acatando ao que lhes foi ordenado.
As duas mulheres os levam por um longo corredor preto e metálico, eles chegam a uma cela que se destaca do corredor, sendo de um branco puro, que consiste em uma cadeira suspensa por magia sobre um tanque quadrado de poção ondulante.
Os três são forçados a entrar nesta sala pelas bruxas e, um homem, também bruxo, fica de guarda na porta.
Margot tremia, eles estavam na cela de execução... ela sabia o que aquilo queria dizer.
Ela piscou os olhos várias vezes, afastando as lágrimas para longe, ou ao menos tentando.
Margot estava dominada pelo choque e pelo medo, ela nem ao menos conseguia dizer nada naquele momento.
— Não faça isso... — Tina pede entre lágrimas para a mulher que a guia. — Bernadete... por favor...
— Não vai doer — foi o que a bruxa respondeu, calmamente, como se nada de mais ou terrível estivesse prestes a acontecer.
Tina é levada para a beira do tanque e Margot tenta ir até lá, vendo o que está prestes a acontecer com Tina, mas é impedida pela outra mulher, que pressiona com ainda mais força a varinha no pescoço de Margot.
Tina entra em pânico, sua respiração fica difícil e errática enquanto observa a poção ondulante logo abaixo.
A mulher ao lado dela sorri alegremente, erguendo sua varinha e a levando até a têmpora de Tina, extraindo com cuidado as lembranças felizes da cabeça dela e, de repente, o rosto em pânico e coberto em lágrimas de Tina se acalma, sua expressão agora era vazia.
A bruxa lança as lembranças em sua varinha em direção ao tanque, que ondula, começando a se animar com trechos de cenas felizes da vida de Tina.
Uma pequena e jovem Tina sorri quando sua mãe chama, no reflexo do tanque.
— Mamãe... — Tina murmura.
— Não parece bom? Quer entrar lá, hein? — a bruxa indaga, cheia de malícia em sua voz e Tina assente, com uma expressão vazia.
Tina anda sozinha até a cadeira de execução e senta-se nela por vontade própria, ela olha para baixo, hipnotizada pelo turbilhão de imagens felizes que vão aparecendo.
Margot olha para o tanque e vê o dia em que Tina protegeu o garoto na Igreja da Segunda Salem.
Ela se lembrava bem daquele dia e, apesar de não se darem bem, Margot admirava aquela atitude dela.
Tina sorria com melancolia para o tanque.
— Muito bem, vamos tirar as coisas boas de você... — a bruxa ao lado de Margot disse, erguendo a varinha até a têmpora da mesma, o que a fez fechar os olhos e soltar uma respiração trêmula.
Ela se perguntava que tipo de coisas veria ali.
Com certeza veria sua tia falecida na maioria das cenas, pois ela havia sido sua única família... não iria haver muito a ser mostrado no tanque, mas ela gostaria de rever sua tia.
Sua família.
De repente, um estrondo se faz presente e Margot abre os olhos de imediato, se deparando com um Newt armado e um réptil gigantesco, espectral, mas estranhamente bonito como uma borboleta, com asas de esqueleto — um Rapinomônio — voando pela sala acertando a bruxa que estava prestes a retirar suas lembranças, a fazendo cair desacordada no chão.
Newt se vira e esmurra o guarda às suas costas, o nocauteando.
O Rapinomônio voa com força e rapidez e então acerta a outra bruxa, a derrubando dentro do tanque, que a faz virar cinzas por completo.
Newt chega próximo a Margot e a agarra pelos ombros, Pickett, o tronquilho, logo pula em direção a ela, descendo pelos seus braços e indo em direção a algema.
— Você está bem? — ele pergunta alarmado, ao qual Margot concorda rapidamente e ainda em choque, ela não havia entendido muito bem ainda o que havia acontecido ali.
— Nós iríamos morrer...
— Nós ainda não resgatamos todas as minhas criaturas... — Newt murmurou. — Você prometeu me ajudar... não podemos morrer antes disso.
Apesar do nervosismo, Margot soltou uma pequena risada e sorriu entre lágrimas, concordando com a cabeça e, logo, um "crak" pôde ser ouvido às suas costas — Pickett havia conseguido abrir sua algema também.
Margot termina de se livrar de suas algemas enquanto Newt corre até Tina, que grita em pé na cadeira sobre o tanque, já não mais perdida nas lembranças e devaneios.
— Não entre em pânico! — Newt grita em direção a Tina, que o olha incrédula.
— O que sugere que eu faça, então?! — ela grita de volta.
Margot pega seu guarda-chuva ao chão, que antes estava sendo carregado pelo guarda — assim como a varinha de Newt e Tina — e corre em direção ao tanque.
— Segure, Tina! — ela grita, estendendo o guarda-chuva em direção de Tina e a cadeira que flutuava sobre o tanque.
— Ficou maluca?! — Tina grita desesperada, encarando o guarda-chuva azul de Margot.
— Vamos lá, segure! — Margot insistiu. — Nós vamos te segurar!
Newt se coloca na beira do tanque, junto a Margot e observa Tina enquanto ajuda Margot com o guarda-chuva.
— Tina, preste bastante atenção... nós vamos pegar você, Tina!
Newt olha para Tina tentando a tranquilizar, enquanto Margot dá um pequeno e rápido sorriso em direção a ela, lhe passando confiança.
O líquido ia subindo ainda mais rápido, em ondas e quase alcançando a cadeira onde Tina estava.
— Vai! — Margot grita de repente, tirando Tina de seu desespero e a dando coragem.
Tina se joga, agarrando no guarda-chuva e sendo puxada e agarrada pelos braços, tudo muito rapidamente, Newt e Margot a trazem com segurança para fora do tanque, longe do perigo.
Tina suspira, mal acreditando que havia escapado daquela.
Ela olha para Newt e sorri, em agradecimento e, depois, encara Margot logo ao lado.
As duas se olham e ambas sorriem uma para a outra e, deixando a rivalidade de lado, no fundo, Tina e Margot sabiam que tinham muito em comum uma com a outra. Juntas elas eram mais fortes e, talvez fosse impossível evitar que no fim as duas não acabassem se tornando grandes amigas.
Margot saca de dentro de seu casaco as duas outras varinhas — de Newt e Tina — e as entrega para seus donos.
— Por aqui! — Tina diz, indo na frente e abrindo a porta.
Fazendo um pequeno muxoxo estranho, o Rapinomônio que rondava pela sala, agora os segue para fora dela.
Newt e Margot se olham por um segundo e, erguendo o braço em direção a Newt, querendo lhe passar e devolver o pequeno Pickett que estava ainda em seu ombro, Margot se surpreendeu com a mão quente de Newt apertando a sua.
Era confortável e familiar... como se os dois sempre fizessem aquilo.
Eles sorriram um para o outro e correram para fora da sala, seguindo Tina que ia na frente.
Os três correm pelo corredor escuro, escutando um alarme soar mais acima, o que os fez correrem ainda mais rápido.
De repente, os três são abordados por um grupo de Aurores, eles se viram, se protegendo onde podem e disparando com suas varinhas entre as pilastras, escapando por pouco de maldições e feitiços.
Mais uma vez, o Rapinomônio gira no alto, voando entre as pilastras, bloqueando maldições e derrubando Aurores no chão.
— Deixe o cérebro dele! — Newt gritou em direção ao Rapinomônio, que estava prestes a perfurar os ouvidos de um Auror, atrás de seu cérebro. — Venha!
Os três voltam a correr, Margot e Newt ainda de mãos dadas.
— Eu gostei dele — Margot disse, apontando com o queixo em direção ao Rapinomônio. — Qual o nome?
— Não dei um nome — Newt respondeu rindo.
— Bom, nós podemos pensar nisso mais tarde então — Margot disse e Newt concordou alegremente com a cabeça.
Eles continuam correndo pelo corredor escuro e que parece não ter fim, até que, de repente, param surpresos em seus lugares.
Queenie e Jacob estavam ali, tão ofegantes quanto eles, parecendo terem corrido uma longa maratona para chegar até ali.
Os quatro se entreolham, há pânico no rosto de todos.
— Entrem! — Queenie grita, gesticulando para a maleta de Newt que estava em suas mãos.
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