XI - Uma nova jornada
Aos poucos a criatura se revelou. Era linda. Era demoníaca.
— Merda, o demônio tomou conta! — Maltael gritou sacando a espada.
Me escondi, estava apavorado e atraído. Então aquele era o demônio que Elliot prendia no próprio corpo.
Uma succubus.
Peguei meu arco, mas vi o olhar da criatura sobre mim. Serrei os dentes percebendo que não conseguiria enganá-la. Corri na direção dela enquanto sacava minhas espadas.
Eu e Maltael começamos a atacar desenfreadamente.
Ferrões saíram do corpo dela. Vi assustado quando um veio na minha direção e me atingiu no peito.
Uma dor insuportável tomou meu corpo senti as memorias se esvaindo, tudo o que aprendi com a vida foi me deixando, sobrando apenas o instinto, o reflexo.
Comecei a bater sem parar, sem saber se estava acertando ou não. Até que a criatura começou a mudar.
Ouvi a voz de Elliot. Mais grossa, rasgada. Mas era a voz dele.
Parei de atacar, a forma da criatura mudou. Agora masculina, ainda com traços abissais.
E apesar de perceber tudo isso, eu não compreendia o que significava.
Fiquei completamente perdido, cai no chão.
Comecei a balbuciar.
— Opa, é mesmo. — Linkas correu até mim e enfiou algumas ervas na minha boca.
Mastiguei por um tempo, me senti melhor, mas ainda confuso. Não entendi o que tinha que fazer, ou para onde estava indo. Apenas olhei ao redor, vendo meus companheiros, sei que devia segui-los.
Maltael se aproximou e me tocou. Senti um pouco da noção de mundo voltar, mas tudo era tão precário.
Me senti agoniado, é como se por mais que eu tentasse pensar, não conseguisse planejar nada.
Resolvi que deveria apenas seguir o grupo.
Acampamos e eu dormi. Um tempo depois ouvi a voz de Morgan no meu ouvido. Como um eco distante me dizendo para acordar.
Abri os olhos, mas ele não estava lá, o grupo estava acordado. Tinha barulho vindo de longe.
O barulho se aproximava, drows apareceram. Eles começam a conversar com o grupo, mas as palavras vieram soltas aos meus ouvidos.
Olhei de um lado para o outro sem entender.
Maltael se aproximou de mim.
— Eariel, preciso do passe.
Confuso, sem sentido.
— O papel que você mostrou, enrolado na sua cintura. Por favor.
Papel... minha cintura. Olhei para baixo, peguei um pergaminho e entreguei a ele.
Conversa...
O nome dos meus pais.
Olhei para a drow que disse o nome deles.
Ela diz mais, já não faz sentido de novo. Meus amigos pareciam discutir. Aquilo é bom ou ruim?
Pus as mãos na cabeça, segurei meus cabelos.
Oguway me tocou.
— Vamos.
Me levantei, ele pegou minhas armas e entregou aos drows.
Andamos.
Nos vendaram.
Andamos mais. Dias? Horas? Eu não saberia dizer. Não conseguia reconhecer os sinais do tempo passando.
Entramos em um barco e seguimos. Aos poucos adentramos uma cidade subterrânea. Era tudo muito escuro.
Algo me dizia que eu estava no caminho certo, mas eu não entendia o que era. Para onde eu estava indo? Até quando andaríamos? O lugar era grande demais.
Entramos em um castelo. Um tempo depois entramos em um salão com uma drow de aparência incrivelmente poderosa, cabelos e pele muito branca, olhos negros e vazios.
Um grande tigre branco estava ao lado dela.
Ela tocou a minha mão, disse algo.
Olhei para ela confuso. Eu sabia quem ela era, sabia que era algo importante. Rangi os dentes, agoniado.
— Eariel. Precisamos conversar.
Concordei, tentando forçar as palavras.
— Quer falar comigo sozinho? Ou confia neles.
Eu entendi as palavras, olhei em volta.
— Con-confio.
Um clérigo se aproximou de mim e me tocou.
Tudo ficou limpo. Minha mente clareou.
Arregalei os olhos, abri a boca.... E me ajoelhei, chorando de alivio. Cena vergonhosa? Provavelmente. Não me importei com isso.
— Está bem agora? — Alhandra sorriu para mim.
— Sim! Muito bem. — Funguei e enxuguei as lagrimas.
Pude olhar a rainha de verdade. Ela era linda, toda vestida de branco, com uma armadura e armas que parecia usar em todas as ocasiões. Tinha uma tiara branca na cabeça e seus longos cabelos loiros desciam, ondulados, pelas costas.
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Devo ter passado uma hora ou mais contando tudo que havia descoberto e tudo que havia passado. A trama dos clérigos de pelor para ajudar a rebelião drow em troca de metal negro. Os magos que estavam estudando Mitra.
As aventuras que eu e meus companheiros passamos.
Maltael me cutucou quando eu estava chegando na parte da cidade celestial e eu resolvi pular essa parte. Apesar de Alhandra ter percebido ela não fez nenhum comentário. Agradeci por isso.
— E por fim, precisamos da sua ajuda. Precisamos de metal negro. — Cocei a cabeça — Ainda não entendo bem o que está acontecendo, mas Mitra está em perigo.
Olhei para meus companheiros, eles me incentivaram a continuar.
— Achamos que um litch entrou nas raízes de Mitra e quer destruí-la, mas ele parece estar perdido. Nós precisamos de metal negro para entrar nas raízes e impedi-lo.
— Eu recebi informações sobre forasteiros adentrando os subterrâneos para pegar metal negro. — Ela sorriu para mim. — As informações que você me passou agora explicam muita coisa. Agradeço muito por isso.
Ela abriu a boca, então suspirou e abaixou os olhos.
—Tenho algo mais para lhe contar. Não tive notícias de seus pais desde que eles entraram nas minas para se infiltrar com os forasteiros.
Arregalei os olhos, eu esperava ver meus pais comendo com a rainha.
Esperava ver meu pai tocando seu alaúde, cantando e rindo. Esperava ver minha mãe dançando, linda como sempre.
No entanto eles estavam sumidos a mais de um mês, sem nenhuma notícia até agora. Olhei fundo nos olhos dela e entendi o que ela queria passar ali. Para ela, eles estavam mortos.
Não, isso era impossível. Nada poderia matar meus pais ou separá-los.
Nada!
Em algum momento percebi que Linkas e Maltael conversavam com a rainha, parecia que eu tinha ficado algum tempo atônito.
Maltael e Alhandra entraram em uma conversa sobre o passado, acontecimentos distantes que eu não entendi como nos afetava. Já tinha muita informação na cabeça.
Saber que meus pais não estavam ali foi um choque. Pensei que eles voltariam de sua missão antes de mim. As palavras da rainha, a expressão dela, ainda tentava me arrastar para o choro, para o isolamento.
Me recusei a ser arrastado. Respirei fundo. Eles estavam bem.
Algo devia ter dado errado, mas eles resolveriam e voltariam. Meu pai riria da minha cara de choro e pediria cerveja. Minha mãe sorriria para mim e limparia minhas lagrimas.
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Fui até o resto do grupo que estava sendo tratado. Um ser meio-abissal acenou para mim.
Andei até ele confuso. Olhei fundo nos seus olhos e arregalei os meus.
— Elliot?
— Isso que dá depender do Linkas pra ser ressuscitado. — Ele riu.
— Agora você dá medo. — Cruzei os braços e levantei uma sobrancelha.
— Talvez isso tenha um lado bom. — Deu de ombros e riu ainda mais.
Ri com ele dessa vez.
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Mais tarde nos reunimos para jantar. Foi um belo banquete e conseguimos renovar as forças. Todos estavam sentados na grande mesa do salão. Um grupo grande de aventureiros. Todos juntos dessa vez, já que a garrafa de Aira pareceu libera-los.
Eu nunca tinha entrado e não sabia como era. Diziam que era como um quarto da meio-gênia. Onde tinha lugar para comer e descansar. Ninguém sabia dizer como funcionava, e nem mesmo Aira conseguia controla-la direito.
Então sim, eu estava feliz. Comi muito e observei muito. Aira, Darius, Elliot, Linkas, Maltael, Maglor, Morgan, Oguway, Samhaime. Todos comendo e conversando... finalmente se conhecendo de verdade.
Maltael e Aira estavam cada vez mais próximos. Eu não podia dar certeza, mas apostaria um dedo que eles estavam juntos. (Achou um dedo pouco? É porque não é da sua mão!)
Bem, ao fim do jantar Alhandra se levantou, então tirou sua tiara branca da cabeça e olhou para todos, que ficaram imediatamente em silencio.
— Essa tiara foi feita com metal branco. É algo muito precioso para mim, mas irei emprestá-la a vocês. Não posso acompanha-los nessa empreitada para pegar o metal negro nas minas e tentar salvar Mitra. Tenho um reino para cuidar e como já perceberam, as coisas não vão muito bem. Então esse é o meu gesto de agradecimento.
Linkas e eu estávamos mais próximos dela, olhamos de um para o outro e eu fiz um leve meneio com a cabeça, indicando que ele se levantasse. Ele então, pegou o objeto das mãos de Alhandra e voltou a se sentar enquanto a expressão dela se tornou mais séria e ela começou a explicar:
— O metal negro corrompe qualquer um que o toca e essa tiara evitará isso. No entanto, cuidado. O poder do metal negro é grande, e a tiara não irá segurar a corrupção por muito tempo. E assim como o metal negro, a tiara também pode afetá-los. Por isso sugiro que se revezem, e usem pessoas sabias o bastante para não serem afetadas facilmente. — Ela, então, se virou para mim. — O metal negro ainda pode ser encontrado em uma região das minas. E foi lá que seus pais foram vistos pela última vez.
Arregalei os olhos, e então sorri.
Eu iria com meus companheiros achar o metal negro, e mais importante...
Achar meus pais.
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