17h30 do dia 31 de Dezembro de 2015
Você já ouviu falar da garota de apenas dezesseis anos que foi vereadora? Pois então, tenho essa pessoa de frente para mim, agora com vinte, desesperada por não encontrar uma roupa "adequada". Conheçam a minha prima Luísa.
— Cacá, você está me ouvindo? Eu não vou nessa festa. — Ela sacode sua mão em frente ao meu rosto.
— Claro que vai — tento parecer adorável — tia Magda vai ficar muito chateada se não formos. E, se você não for, eu não posso ir também — faço bico.
— Caio Vilella. Você, por acaso, está vendo alguma roupa que seja condizente com Ano Novo aqui?
Olho para a cama soterrada de terninhos, tailleurs e camisas. Realmente.
— Luluzinha da minha vida, você dorme usando essas coisas? — levanto um jeans escuro, de corte reto, com a ponta dos dedos — vai comprar pão vestida desse jeito?
— Não são coisas — ela põe as mãos na cintura — foram meses trabalhando na loja para pagar isso aí.
— Hm.
— Que cara é essa, Caio? Pelo amor de deus — Luísa se desespera enquanto vou em direção ao armário — não tem nada aí. Tira esse sorrisinho do rosto.
— Não? — tiro do cabide um vestido branco, muito cobiçado pela maioria das garotas da minha turma, tenho certeza — Pelo que eu saiba, esse vestido está ótimo.
***
— Eu sabia! Depois do momento em que você me chamou de Luluzinha da sua vida, as coisas só poderiam piorar. — Rio baixo, tentando disfarçar para evitar a fúria de minha prima — E não tente disfarçar, que eu sei perfeitamente que você está rindo. Tenho de conversar com tia Matilde sobre essas coisas. Ninguém mais respeita minha reclusão social! — ela joga as mãos para o alto, parecendo não se importar com a possibilidade de nos matar em um acidente.
Sinto um solavanco, seguido de um baque e um barulho alto, percebendo depois que o carro à nossa frente no congestionamento parece mais próximo. Demais.
Ok. Nós não morremos, mas um acidente aconteceu por aqui.
— Ai meu deus! Droga — minha prima abafa um grito no volante — O carro de trás é sempre quem arca com o prejuízo. E batemos bem em um Corsa.
— Percebi — digo, me lembrando de que não posso ter um pingo de ironia na voz; eu que insisti para que fôssemos.
— Belo Ano Novo, esse. Vou lá me desculpar e passar meu telefone, não vai ser agora que resolveremos isso.
***
Luísa estava errada. Era exatamente naquela hora que iríamos resolver a batida e seu descontrole. Parece que o motorista, um tal de Edu, faz psicologia, e acabou com uma ex-vereadora choramingando pedidos de desculpas no banco do passageiro, enquanto o carro do tal era rebocado.
Para quem não queria ir à casa de tia Gertrudes para a festa, estamos bem, levando mais uma boca para alimentar a tiracolo.
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