Final. De volta ao Paraíso
Setembro de 2010
A vida rapidamente foi se ajeitando aos poucos. Claro! Houve um enterro para Paulo e só. Após aqueles eventos intensos e fatídicos do mês de junho, Ana Beatriz, que vendeu todos os bens que estavam no nome do falecido marido (incluindo aquele sobrado no Grajaú), retornou para o prédio, de onde nunca deveria ter saído. Ao menos por enquanto, reside com a sua mãe, tendo o querido avô como vizinho de andar.
Ana Clara permaneceu com o mesmo padrão de outrora. Ser já formada e ter um emprego estável permite essas regalias. A diferença é que, tanto por conta da amiga mooquense quanto pelo próprio pai, ela passou a visitar com mais frequência o edifício onde viveu na adolescência.
Uma grande mudança também girou em torno de Ana Flávia que, em um raio de três meses depois, já se encontrava... devidamente casada com Raquel. Lógico que elas não oficializaram a união no Brasil, tendo que viajar até o exterior e levando suas fiéis escudeiras (Beatriz e Clara) como testemunhas. Contudo, estavam para sempre ligadas, seja pela lei, seja – e principalmente – pelos laços de amor.
O quarteto retornou logo para o país. Não ter levado a todos no casamento não significava que não haveria uma festa ou que esta não seria grande. Desse modo, um salão, situado na Mooca, foi alugado e as pessoas, desde as noivas até os convidados, se encontravam ali. Tratava-se de um local espaçoso, com várias mesas dispostas, garçons indo e vindo com os comes e bebes e uma iluminação digna de danceteria – inclusive, uma pista de dança estava também montada.
Em uma das mesas, estavam duas das "Anas", justamente as que ainda se encontravam solteiras. Beatriz trajava um longo vestido vermelho, sem alças e elegantemente complementado com uma echarpe da mesma cor e que, por sua vez, enfeitava seu pescoço e caía-lhe às costas. Clara usava uma peça amarela, igualmente comprida e em conjunto com um casaco peludo de cor escura e uma pequena bolsa que combinava com o look. Ambas conversavam animadamente, entre risos e olhadas para o que os outros convidados faziam naquela comemoração:
— Olha o nonno! Nem parece que fez uma cirurgia há meses... — gracejou Beatriz.
O senhorzinho simplesmente estava sacolejando com outra mulher, uma tia de Raquel, que aparentava também certa idade. O importante é que parecia que o homem mais velho nunca fora infeliz e, naquelas alturas, sua neta, tão estimada, já sabia o porquê.
— Ele está rivalizando com os nossos pais. Olha só! — Clara maneou com a cabeça na direção onde Maria das Dores e Xavier dançavam juntos.
Um pensamento, meio cômico e meio perturbador, dominou a mente das duas moças. Foi a afrodescendente que verbalizou isso:
— Já pensou nós duas? Irmãs?
— Mas já somos irmãs — rebateu a ítalo-paulista —... de alma.
Clara sorriu. Mais um pensamento veio à sua cabeça. Em seguida, tomou uma das mãos, que jazia sobre a mesa, da outra e indagou:
— E está mesmo tudo bem com você?
Beatriz compreendeu o teor daquela pergunta e deu a sua resposta:
— Melhor impossível! Estou tranquila e, especialmente, feliz.
— Eu nem acredito que você pensou em tudo aquilo naquele dia, pôs em ação e ainda conseguiu se dar bem! — disparou a outra sem nem conseguir controlar a própria língua. Percebendo a gafe, ainda mais em um dia como aquele, desculpou-se: — Perdão! Não foi minha intenção reviver eventos tão traumáticos...
— Está tudo bem! Nem eu acredito que fiz tudo aquilo..., mas também não é como se não tivéssemos aprontado antes... Fabrício que o diga...
Ana Clara gargalhou com as palavras que ouviu. Depois, sendo uma boa biomédica, tratou de falar:
— É incrível como o Paulo, com pouco mais de vinte anos de idade, foi vítima de um ataque cardíaco... Tipo: olha aí o nonno Francesco – sobreviveu a um infarto, é safenado e está aí todo inteiro hoje.
Elas tiveram mais um vislumbre do homem dançando coladinho com a senhorinha. Sorriram. Assumindo uma feição enigmática e com um quê de maquiavélico, Ana Beatriz respondeu:
— Eu disse para ele se cuidar... Ele não me ouviu...
— E ninguém mais, além de mim e de Flávia, precisa saber dessa informação... — completou Clara, também estampando um quê maldoso em seu semblante.
— Será nosso segredinho... — Sorriu Beatriz.
As duas ficaram sérias por um segundo, para, no outro, desatarem em uma gargalhada contagiante. Para todos os efeitos, Ana Beatriz – que agora só é Fontana, e não mais Fontana Machado – apenas havia usado as armas que tinha dentro daquelas circunstâncias que não lhe eram, nem de longe, favoráveis. A ironia, e como bem tinha apontado a sua amiga àquela mesa, é que as evidências mais apontaram contra Paulo do que contra ela mesma. Menos mal que tudo terminou assim.
Depois disso tudo, a não mais dona de casa pôde ver que havia certas facilidades na vida. Foi tão bom a mãe tê-la acolhido de volta. Foi tão satisfatória a compreensão do nonno quando ela mesma lhe relatou sobre todo o histórico que amargou nas mãos de quem foi o seu esposo. Enfim, tudo se encaixou para si. Estava tão satisfeita que até mesmo uma imensa vontade de cursar uma faculdade se apossou de seu ser. Para isso, estava estudando em um cursinho pré-vestibular. A herança que recebeu conseguia, com conforto, custear isso.
Beatriz e Clara ainda conversavam algumas amenidades. Eis que chegou Ana Flávia na companhia de sua esposa. O mais novo casal combinava em um legítimo vestido de noiva, todo branco, embora ambos os modelos fossem relativamente curtos, denotando o quão estilosas e modernas elas eram. A nipo-brasileira deu um abraço de puro agradecimento em cada uma das amigas, sendo imitada pela sua noiva em seguida, e ainda declarou:
— Nem acredito que estamos aqui: sãs, salvas e eu casada!
Nesse instante, ela deu um selinho em Raquel, que ruborizou um pouco. Beatriz ainda fez uma observação:
— E quem diria que até seus pais estão aqui...
O quarteto lançou uma breve fitada na mesa onde se situavam Hiroshi e Sayuri, que... incrivelmente sorriam. Claro! Sorriam de uma maneira contida, porém dava para constatar um ar de alegria no casal mais velho. Em nenhum minuto, as quatro mulheres deixaram de surpreender com esse lado, até então oculto e adormecido, vindo dos pais de Flávia.
— Que bom que vocês não precisaram ficar em uma constante guerra fria por tão pouco ou nada, não é minha querida? — apaziguou Raquel.
As outras concordaram. Talvez querendo reviver os velhos tempos, as noivas cessaram um pouco aquela coisa de ficar recepcionando e cumprimentando os convidados, tirar fotos, entre outras "chatices e burocracias" de uma festa de casamento. Elas permaneceram ali, proseando e rindo com as suas grandes e melhores amigas e fiéis escudeiras.
Em dado momento, alguém chegou naquele salão e isso foi captado pela visão das recém-casadas. Raquel, com isso, se levantou e, segundos depois, trouxe a nova convidada para a companhia das outras mulheres. Ela trajava um conjunto mais simples, os cabelos estavam presos em um singelo coque e tudo isso contrastava com o seu jeito vaidoso pregresso.
— Sei que todas aqui se conhecem — a moça de ascendência indígena começou —, mas vou apresentar mesmo assim: Beatriz, Clara e amor — deu uma risadinha —, esta aqui é a Juliana. Ela atua na Delegacia da Mulher e... estava conosco naquele dia...
Ana Beatriz se espantou com o que para ela era novidade. Sabia que, quando quase estava desmaiando, havia reconhecido aquela cabeleira loira e aqueles olhos verdes como o mar. Só não imaginava que aquela garota, antes tão insuportável e intolerante, pudesse, de certa forma, tê-la ajudado em circunstâncias tão caóticas. Parecendo ler seus pensamentos, Juliana emendou:
— Sei que não nos bicávamos nos tempos de escola, mas... eu mudei. Vi que, no fim das contas, estava errada e veio muito a calhar um pagamento de favor que eu estava devendo para a advogada aqui... — Apontou para Raquel. — Por isso que fiz questão de ter auxiliado naquele dia tão fatídico — terminou lançando um olhar significativo para Beatriz.
Com isso, a loira passou a tratar de assuntos mais triviais com as demais. Era inacreditável como, de fato, ela havia mudado da água para o vinho: até mesmo seu jeito de se expressar e a fala mais mansa e polida, e não mais repleta de agressividade, marcava a sua nova personalidade.
Então, ela se retirou da mesa. As moças que ficaram iniciaram um curto diálogo sobre o que acabaram de presenciar:
— Tinha me esquecido dela... — afirmou Clara em um tom casual. Beatriz notou isso, portanto, a mulher negra foi se explicando: — Como a própria Juliana disse, ela estava conosco naquele dia e foi ela quem viu o Paulo... naquele estado... Depois, ela teve que ir embora, enquanto você estava inconsciente. Os dias foram passando e as nossas vidas foram correndo, com você voltando para o prédio e a gente se ocupando com os preparativos do casamento. Falha nossa...
— Tudo bem — respondeu Beatriz. — Ela, além de ter sido de grande ajuda, também parece ser outra pessoa... — Fez uma pausa, sorriu e disse: — Quem sabe ela também não se torne uma de nós, não?
As demais sorriram, mostrando que até mesmo elas haviam superado qualquer ressentimento em torno da mulher pauta daquele breve conversa. O que era irônico era que, naquela historinha inventada para que Beatriz ganhasse a atenção de Paulo, Juliana fora citada em um momento crucial daquela narração, sendo que, na verdade, tornou-se uma preciosa aliada do grupinho. Quem diria?
Aquele raciocínio conflitante na mente de Ana Beatriz foi interrompido com o que ela ouviu da boca de Ana Flávia:
— Será que ela vem?
De início, ninguém entendeu o questionamento. Entretanto, o que veio a seguir, ainda da nipo-latina, eliminou qualquer resquício de dúvida naquela mesa:
— Sabem... Juliana, que era da nossa turma no colégio, deu seu jeito e conseguiu vir... Agora fico me perguntando se ela vai vir...
As outas finalmente entenderam a mensagem proferida por Flávia. Raquel ainda tentou uma intervenção:
— Amor, você mandou o convite, não?
— Mandei, mas... nem tive tempo de checar se ela recebeu. Como a Clara aqui disse, foi tudo tão corrido de uns tempos para cá... — finalizou com a entonação taciturna.
Um silêncio quase sepulcral dominou ali. Tentando dissipar essa atmosfera que não combinava com a ocasião, Beatriz deu a palavra final:
— Pode ser que ela venha, pode ser que não. Querem saber? Se Maomé não vai à montanha, que a montanha vá a Maomé. — Piscou.
Sorriram, com direito a Raquel lançar um olhar de pura gratidão à ítalo-brasileira por aquelas palavras de incentivo. A última coisa que queria era ver sua amada esposa triste por algo que poderia acontecer ou não. Assim, o clima ali voltou à alegria e leveza de antes.
A festa foi seguindo com mais convidados chegando. Em certa altura, Raquel mais uma vez se ergueu, de modo a recepcionar mais recém-chegados. Foi aí que as "Anas" viram uma garotinha com um vestido rosado e um rapaz, aparentemente da idade delas, que trajava elegantemente um terno. Ambos tinham alguma semelhança e... eram ruivos.
Raquel os apresentou logo como os irmãos Antunes – Edgar e Isabela –, ao que Clara e Flávia não esconderam a surpresa. A moça de ascendência japonesa que traduziu o seu espanto em palavras:
— Oh meu Deus! É o detetive que nos ajudou a te encontrar, Beatriz!
— É mesmo? — perguntou a mulher de cabelos castanhos.
Em seu íntimo, tinha confessado que achou aquela informação, que para si era também nova, como deveras interessante. Só não sabia se isso tinha a ver com o fato de, por causa daquele rapaz, ter se reconectado com as suas amigas e, consequentemente, com a sua família ou... se era por causa dos olhares que ele lhe dirigia... Também não podia negar para si mesma que achara o tal Edgar um charme...
— E não só isso — manifestou-se Ana Clara, tirando-a de seus pensamentos —, Edgar também nos ajudou naquele dia...
Foi a vez de Ana Beatriz não conter a surpresa. O ruivo deu a sua justificativa como réplica:
— Quem diria que eu ajudaria uma antiga colega de escola, a Raquel, com algo relacionado a outras pessoas que também estudaram no mesmo lugar, não? Quem diria que a própria Raquel iria me indicar para a sua, na época, namorada e para a sua outra amiga — maneou com a cabeça para Clara — e eu acabaria me envolvendo no seu caso, Ana Beatriz?
Fora o charme do homem à sua frente, até mesmo a voz de Edgar foi julgada como muito sexy por parte de Beatriz. Era real e oficial: ela estava encantada em conhecer o investigador e, sendo tão transparente em suas emoções, isso não passou despercebido pelas outras mulheres ao seu redor, que logo esboçaram sorrisos de pura malícia.
Ele se juntou às outras àquela mesa. Isabela não demorou muito para se bandear com outras crianças presentes naquela festa, logo se enturmando. A conversa com o detetive simplesmente foi fluindo de maneira natural. Descobriu-se que ele também residia na Mooca e, em uma parte mais intimista do diálogo, foi revelado que o rapaz morou fora do Brasil por um tempo, mas que teve que retornar para cuidar de sua irmã caçula, devido à morte dos pais – o que despertou os sentimentos de empatia e admiração das moças, principalmente da ítalo-paulista. Em nenhum momento, os dois deixaram de se fitar...
As músicas iam sendo tocadas com os casais ainda dominando a pista de dança. Quando tocou uma melodia mais lenta e romântica, Flávia e Raquel não pestanejaram em se embalar naquela canção. Provavelmente, isso foi a deixa para que Edgar também se erguesse, se direcionasse à Beatriz e fizesse um convite:
— Quer dançar?
Ela ficou simplesmente sem reação. Queria sim dançar com ele: que mal faria? Porém, faltou-lhe coragem. Foi Clara, mais empenhada naquela operação cupido, que respondeu por si:
— Ah! Ela vai! — E olhou para a amiga, praticamente ordenando: — Vamos, Beatriz! Não faça essa desfeita com o moço aqui!
Sem escapatória, a ítalo-brasileira deixou que o ruivo a pegasse pela mão e a conduzisse até onde as duplas balançavam seus corpos ao ritmo da música. Já de frente um para o outro e dançando a dois, ela percebeu que ele não tirava um sorrisinho do rosto. Não resistiu ao começar uma insinuação:
— Bela ocasião para um casamento, não? Parece até que a alegria da Flávia e da Raquel, sendo as noivas, contagia os outros ao seu redor, visto o seu sorriso...
Edgar alargou ainda mais a curvatura de seus lábios. Novamente, Beatriz admitiu algo para si: achou ele mais lindo assim.
— É verdade... — o rapaz retrucou.
Suas palavras, em seguida, morreram, como se ele quisesse dizer algo a mais e isso foi captado pela sua parceira naquela dança. Finalmente, tomou coragem e falou:
— Mas se eu te dissesse que há certas coincidências na vida, que podem deixar as pessoas alegres de vez em quando, qual seria a sua reação?
— Tipo o fato de você ter sido da nossa escola, ter estudado na mesma sala que uma das recém-casadas e, anos depois, ter participado, de algum modo, daquele episódio lá no Grajaú?
— Também conta o fato de você ter desmaiado nos meus braços naquele mesmo dia...
Ela iria se desculpar, mas o que foi sussurrado em seu ouvido pegou-a desprevenida:
—... sendo que você foi a minha, digamos, paixonite escolar...
Ana travou. Não estava assustada, contudo, a informação que acabara de receber era, em algum grau, chocante. Desse modo, Edgar foi contando que não foi o menino mais atraente e brilhante na adolescência, portanto, foram poucas as vezes em que cogitou querer se aproximar e conversar com quem foi "a menina de seus sonhos". Em uma dessas, que foi a última, uma versão mais jovem de Paulo – o inconveniente – o repeliu, matando qualquer possibilidade de interação entre eles dois. Quem poderia dizer que, anos depois, estariam numa mesma festa e bailando juntos?
No fundo, Beatriz achou aquela história fofa. Não era de ferro e, inclusive, sentiu-se lisonjeada e chegou a amaldiçoar mentalmente a figura de seu finado marido. Tudo isso fez com que ela sorrisse para o seu parceiro naquela dança e aproximasse mais a sua face à dele. Instantes depois, permitiu-se descansar sua cabeça no ombro largo de Edgar, aspirando, com isso, aquele mesmo perfume que havia lhe chamado a atenção meses atrás.
A música terminou. Antes que se desvencilhasse do homem, sua bochecha sentiu o que identificou ter sido um cálido beijo, mas que, mesmo assim, arrepiou os pelos de seu corpo.
— Acho que a gente se cruza por aí — declarou Edgar. — Foi um prazer essa dança. Espero que possamos repetir essa cena em outras oportunidades e quem sabe nós nos conheçamos melhor.
Estando tão inebriada, restou à Ana Beatriz sorrir e anuir em concordância. Ficou um tempo ainda parada naquela pista, apenas observando ele se afastar. Ainda recebeu mais um aceno e uma piscada. Suspirou.
Óbvio que era cedo para se falar em paixão ou amor, mas Beatriz não podia negar que ficara balançada com Edgar. Concluiu que, apesar do trauma e dos anos tristes que configuraram o seu casamento, isso não queria dizer que seu coração estava fechado para novas oportunidades.
Ainda bem.
Aquela comemoração estava longe de acabar. Incrivelmente, mais pessoas iam chegando e sendo apresentadas para Ana Beatriz e Ana Clara. O destaque foi um colega de faculdade de Ana Flávia vindo do Rio de Janeiro e que, assim que se juntou à mesa das amigas das noivas, não desgrudou os olhos de... Clara.
Houve mais um momento pertinente a uma dança dois. Não era música romântica, mas sim uma boa e autêntica gafieira.
— É sua hora de brilhar, amiga! — Beatriz deu um tapinha nas costas da afrodescendente.
— Que coincidência! Mateus aqui samba como ninguém também. — Era a nipo-brasileira fingindo um tom casual.
As duas amigas se olharam cúmplices e, por livre e espontânea pressão, Clara e Mateus se dirigiram à pista de dança e começaram a embalar ao ritmo daquela canção animada.
Na mesa, Beatriz, Flávia e até Raquel faziam muxoxos de deboche para Clara, de modo a incentivarem algum encanto amoroso entre a dupla de dançarinos da vez.
— Vingança é um prato que se come frio mesmo... — a mulher de cabelos castanhos deixou escapar entre risinhos. Sem que quisesse, acabou encontrando com o olhar a expressão atenta e sedutora de Edgar. Corou.
E depois de mais música, mais risos e mais alfinetadas entre as amigas, eis que chegou o grande momento da festa:
— Hora da dança principal! — gritou Flávia já posicionada no centro do salão. Ao seu lado, estavam alinhadas as outras "Anas", suas irmãs de alma.
— Temos que fazer isso mesmo? — cochichou Clara.
— Claro que sim! Ensaiamos para isso! — respondeu Beatriz.
Sentada em uma cadeira e em frente a elas estava Raquel contemplando o que sairia daquela coreografia. Os convidados permaneceram em pé e ao redor do espaço onde estavam situadas as mulheres.
Após um sinal dado por Ana Flávia, começou a tocar Stronger de Britney Spears – canção que simbolizava a força e a resiliência de cada uma daquelas meninas, mas sobretudo, representava a amizade que tanto as unia desde quase sempre.
A dança efetuada, apesar de ter sido ensaiada pelo trio nas últimas semanas, não era lá complexa, embora contasse com certos artifícios, como o uso de cadeiras, tal qual no videoclipe da música que ali ecoava.
Havia sim um quê de nervosismo nas três, mas nem por isso elas deixaram de entregar algo repleto de graciosidade e naturalidade. Óbvio que os olhares admirados de Raquel – que via aquilo de camarote –, de Mateus e de Edgar provocavam uma mistura de sentimentos naquelas dançarinas amadoras, só que bastava uma sorrir para a outra para que focassem no que se esforçaram tanto e entregassem um resultado digno e à altura daquele casamento de uma delas.
Com o fim daquilo, aplausos e mais aplausos inundaram o ambiente. Em resposta, elas tornaram a sorrir – uma delas até quase deixou uma lágrima teimosa cair de tão emocionada que estava.
No entanto, Beatriz, Clara e Flávia se entregariam de vez às suas mais profundas emoções quando perceberam algo: uma salva de palmas, inicialmente tímida e que depois foi ficando mais audível, vinda de alguém que se aproximava delas. As outras pessoas simplesmente foram dando passagem àquela nova figura presente. Dava até a impressão de que geral havia sido contagiado com a magia daquele... reencontro.
De início, as três amigas nada disseram ou fizeram, tamanha surpresa sentida e compartilhada diante daquela pessoa que lhes presenteava com o seu mais belo sorriso. Todavia, assim que aquelas batidas de palmas cessaram, exclamaram em uníssono:
— Professora... Rosa!
Sorriram. Choraram. Abraçaram-se.
FIM
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Notas do autor: E termina aqui esse spin-off gostosinho que amei ter redigido. Com certo pesar, também me despeço dessas personagens maravilhosas que amei ter construído nesses últimos tempos. Real e oficial: as "Anas" me marcaram de uma maneira muito profunda e, por conta da história delas, até meu estilo de escrita se tornou mais refinado. Assim, despeço-me aqui delas. Não pretendo parar de escrever, mas é bom expandirmos nosso universo como autores, não é? Bom! É isso! Espero que tenham gostado dessa obra tal como a trama original. Abraços! o/
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