Amor, anjos como você não podem voar para o inferno comigo
"Quem precisa de cocaína quando as emoções humanas podem te ferrar do mesmo jeito."
── Autor desconhecido
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1
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19:54
"Onde foi?" JJ mal tinha entrado em casa antes que a perguntasse fosse feita.
"No supermercado, o cereal que você gosta acabou e..." Rafe o rejeitou, ele tinha raiva nos olhos e o maxilar tenso enquanto apertava os punhos.
"E por que caralhos não levou a merda do celular?!" a voz alta fez JJ se encolher.
"Esqueci, era pra ser rápido, mas encontrei a Carrington no corredor e ficamos conversando. Desculpa."
"Carrington? A vadia que deu em cima de você naquele dia no ginásio?"
Rafe não queria que JJ ensinasse alunos mais velhos a surfar, que foi a ideia original, uma vez que isso o deixaria muito exposto. Por isso professor de natação de crianças, o que não era de todo ruim. Pelo menos ele não o tinha proibido de surfar, já que essa era a coisa que JJ mais amava no mundo, além de Rafe, claro.
Naty era a última criança e Rafe tinha passado para buscá-lo, aparecendo no momento que a mãe dela, Giullie Carrington, o abraçou, já que Naty tinha pavor de entrar na água desde um afogamento há dois anos e essa foi a primeira vez que não tentou sair imediatamente.
JJ a abraçou de volta, emocionado, mas uma clareza se estabeleceu na cabeça ferrada de Rafe, ela queria o que era dele, somente dele.
"Ela não deu em cima de mim." JJ repetiu, talvez pela vigésima vez.
"E como diabos saberia? Você é um idiota que não percebe o que tá na sua cara! Tive que te beijar pra você perceber meu interesse."
"Sim, é verdade, mas..." Rafe o cortou.
"Não quero que saia sem minha permissão de novo, ok?"
JJ mordeu o lábio inferior, meio relutante. "Ok."
"Isso é pro seu próprio bem, querido." a voz de Rafe saiu amorosa, muito diferente da do começo da conversa. "Há pessoas que podem te fazer mal. Você não quer isso, quer?" ele andou até o marido.
"Claro que não."
"Então vamos juntos na próxima vez." Rafe aproximou seus rostos e JJ se perdeu naqueles olhos, confiando livremente naquele que prometeu amar pelo resto da eternidade.
"Tudo bem."
"O que comprou?" ele sorriu, tirando as sacolas das mãos de JJ antes de entrar na cozinha.
"Azeite, aquele molho de tomate que você adora, biscoitos, o cereal do tigre, aveia porque usei o resto essa manhã, iorgute grego, pão de forma e água com gás. Também trouxe filé de tilapia." ele disse a última parte com animação e Rafe parou de tirar os produtos das sacolas.
"Esqueceu que sou alérgico a peixe?"
JJ balançou a cabeça. "Não, é que ontem fiquei morrendo de vontade de comer."
"JJ, você não sabe temperar porra nenhuma, como espera fazer isso?"
"Você me ensina." ele deixou o sorriso morrer com o olhar de Rafe, como se ele fosse burro, como se ele não fizesse nada direito. "Desculpa."
"Tudo bem. Você não tem culpa."
Rafe sabia que ele tinha e JJ também.
Por que ele era horrível em tudo?
"Vêm cá." JJ contornou a ilha da cozinha e Rafe passou o braço por seu quadril, beijando sua bochecha. "Você tem sorte de eu te amar."
"Eu sei." ele realmente o fazia.
"Outro no meu lugar já teria ido embora."
"Eu sei." Rafe era tudo pra ele. Ele não sobreviveria sozinho.
"E o que diz?"
"Eu te amo."
Rafe sorriu e JJ fez o mesmo, porque não importava o quanto ele errasse, o marido dele estava sempre lá para ensina-ló. "Bom garoto, agora mão na massa, baby."
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2
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11:17
"Você não vai usar isso." Rafe avisou, olhando para o jeans apertado que JJ usava.
Eles estavam no quarto, se arrumando para almoçar fora com Cleo e Pope. Não era a ideia perfeita para Rafe em pleno sábado, mas ele tinha um fraco pelos olhos de cachorrinho do marido.
"O quê?" JJ perguntou, confuso.
"Pode tirar."
"Por quê?"
"Tá colado pra caralho."
O Cameron mais novo revirou os olhos. "Sim, a merda da máquina encolheu, mas ainda da pra usar."
"Não, não dá. Ou você tira, ou eu tiro por você." JJ riu enquanto terminava de calçar os tênis, ele queria ir de chinelo, mas Rafe disse que era muito pobre.
"Deixa de besteira, Rafe."
Um minuto depois ele foi empurrado violentamente contra o colchão, o que o chocou. "Eu avisei." a peça foi parar do outro lado do quarto.
Uma raiva fora do comum brilhou no peito de JJ. "Mas que porra, Rafe, nem tava tão colada assim!"
"É mais fácil andar pelado se quer que todo mundo fique olhando pra sua bunda." JJ fechou a boca, perplexo.
"Vá se foder."
"Mas é isso que você quer, não é?" uma escuridão aterrorizantemente familiar apareceu nos olhos de Rafe e JJ tremeu. "O que, eu não te satisfaço? Vamos, me diga, planeja dar pra algum urubu lá?"
JJ mal podia acreditar no que raios escutava. Que porra era essa? "Nós dois sabemos que não é isso."
"Você fica choramingando por uma maldita calça, quer que eu espere que merda?" rosnou.
"Que confie em mim!" essa não era a primeira e provavelmente não seria a última vez que eles teriam esse papo.
"Oh, baby." ele subiu em cima do marido, que desviou o olhar, mas Rafe o capturou do mesmo jeito. "Eu confio em você. É nos outros que não confio."
Uma lágrima perdida e solitária desceu pela bochecha de JJ, ressaltando suas sardas.
Ele estava errado? Por que ele sempre estava errado?
Rafe queria devorá-lo.
"Deus, você fica tão gostoso quando chora."
"Rafe..." soou como um apelo tanto quanto uma prece.
"Vamos, ainda temos tempo."
"Eu não quero." Rafe não deu atenção, mordendo o maxilar de JJ e descendo para o pescoço, deixando marcas óbvias.
Merda, JJ não queria que hoje fosse um desses dias.
Ele não parou de se contorcer, o que fez Rafe prender suas mãos acima da cabeça, exceto que ele continuou.
"Mas que porra, para de se mexer!" o Cameron mais velho explodiu, os cabelos menos alinhados e a ereção entre as pernas nuas do marido.
"Eu não quero transar, Rafe." seus olhos estavam ainda mais molhados.
"Você quer! É só pra isso que você serve." o lábio inferior de JJ tremeu. "Eu já teria dado o fora se não fosse essa bunda que aceita meu pau tão bem e esses lábios macios."
Isso fez JJ manter-se imóvel. Espera. Dado o fora? Isso seria abandoná-lo. JJ parou de respirar e um alerta em repetição ficou cada vez mais alto em seu cérebro.
"Não, espera. Eu posso ser bom, por favor, Rafe. Não me deixa, por favor. Eu posso ser bom, eu prometo."
"Eu não vou te deixar, baby. Eu nunca vou te deixar." um desagradável arrepio que JJ não entendeu o percorreu, mas ele estava mais focado no alívio que as palavras trouxeram. "Agora seja bom e me deixe fazer o que quiser."
JJ o fez, embora uma estranha parte dele quisesse dar um chute no marido e correr até não parar mais. Ele trancou essa parte igual todas as vezes.
Rafe era bom.
Rafe era sempre muito bom pra ele.
Mas então por que ele se sentia tão sujo?
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3
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16:00
JJ entrou na caminhonete quieto, deixando a mochila entre as pernas e colocando o cinto. Ele tinha terminado as últimas aulas do dia e seus cabelos ainda estavam úmidos pelo banho rápido no vestiário.
"Ei." Rafe não recebeu resposta. "Olha, eu sei que fui um babaca com você hoje de manhã e sinto muito, realmente sinto, baby."
Foi no café da manhã, Rafe começava no escritório somente mais tarde e eles assistiam Patrulha Canina enquanto comiam, exceto que JJ ficou com vontade de suco de maracujá e tropeçou na volta, manchando o tapete que tinha voltado ontem da manutenção.
"Puta merda, JJ, você não sabe fazer nada direito? Mas que droga!" ele jogou a tigela de iorgute com banana e morango contra a parede, fazendo uma sujeira ainda maior.
JJ piscou, lutando para não tremer. "V-V-Vou pagar o conserto, eu juro, não se preocupe."
"Não, não vai, sabe porquê? Porque o salariozinho de merda que recebe jamais poderia pagar nem por meio centímetro desse tecido."
"Eu..."
"Cala a porra da boca, não quero ouvir suas desculpas esfarrapadas. Sente-se e fique bonito, parece que é a única coisa que você sabe fazer."
JJ obedeceu, ele continuou quieto durante o resto da manhã, a carona até o trabalho e na caminhonete, onde ele realmente não queria conversar, onde ele queria dormir e sonhar, sonhar tanto que pudesse pensar em outra vida onde as coisas fossem diferentes.
Onde Rafe o amava, mas não o forçava.
Onde Rafe o amava, mas não queria que JJ pedisse permissão para sair.
Onde Rafe o amava, mas confiava nele.
Onde Rafe o amava, mas também os animais e eles teriam um cachorro chamado Chase.
Onde o amor deles era colorido, não preto e branco.
"Aqui." ele pegou uma caixa de chocolates do banco de trás e estendeu para JJ. "São os seus favoritos."
Era esse o momento.
O momento que JJ o perdoava, não pelos chocolates ou qualquer presente que Rafe escolhesse depois de uma briga feia deles, mas porque a mera ideia de uma vida sem ele era apavorante.
"Eu te amo." Rafe se inclinou contra o console. JJ já tinha virado o corpo, embora seus olhos não pousassem no marido. "Mais do que tudo. Sou louco por você."
Louco você sempre foi, JJ sorriu ao pensar, embora talvez não devesse.
"Aí está, meu sorriso favorito."
"Eu também te amo."
O coração de JJ, ou o que restou dele, estava doendo.
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4
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23:33
"E se adotassemos uma criança?"
Eles estavam deitados na cama de frente um para o outro enquanto tinham uma conversa de travesseiro, exceto que a pergunta provocou um ataque de tosse em JJ, fazendo-o se sentar abruptamente. Durou tempo o sufiente para ele pensar que seus órgãos sairiam pela garganta.
"O quê?! De onde saiu isso?" Rafe apoiou as costas contra a cabeceira. O quarto era banhado pela luz do céu e da lua através da varanda com as cortinas abertas.
"Fiquei pensando, não quero que Madelyn nasça antes do nosso filhote."
Os dois sabiam que isso era improvável, já que a filha de John B e Sarah estava programada pra nascer no próximo mês.
JJ mal podia esperar.
Ele e Rafe já tinham conversado sobre crianças, não era uma ideia absurda, mas isso foi no começo, antes que o relacionamento deles fosse refém da tempestade.
"Adoção leva tempo pra caralho."
"Podemos sempre roubar." ele piscou e JJ tinha suas dúvidas se era inteiramente brincadeira.
"Não acho uma boa ideia." disse a verdade.
Ele queria filhos? Com certeza, mas talvez... Talvez não com Rafe.
Porra, mas que merda. Que tipo de marido era ele? JJ queria vomitar apenas por considerar isso.
"E por quê?" Rafe parecia genuinamente confuso, o que JJ achou meio irônico da parte dele.
"Não acho que seremos bons pais." outra verdade.
"Bobagem. Nosso filhote será rico, isso já é felicidade na certa." JJ abriu a boca para argumentar, mas Rafe continuou. "E eu não quero a porra de um favelado, quero um com meu DNA."
"Barriga de aluguel?"
"Não, JJ, vou foder a primeira que aparecer na minha frente, é cada pergunta idiota."
JJ fixou o olhar no lençol, os ombros tensos enquanto tinha um sabor metálico na boca. Ele já tinha visto Rafe desse jeito antes, como se não quisesse discutir a ideia com ele, como se estivesse apenas informando JJ de uma decisão que tomou sozinho, embora afetasse os dois.
"Espero que ele tenha seus olhos e o meu jeito." Rafe sorriu.
JJ temia o que estava por vir.
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Notas da autora: Haverá um bônus onde eles são não abusivamente apaixonados e Rafe ainda é louco, mas isso é universal.
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