Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo I


Ela abriu os olhos ainda pesados de sono das oito horas recém dormidas. Este "voltar-a-si" quase sempre lhe era meio esquerdo, confuso, cheio de lembranças nebulosas de sonhos, imagens indefinidas e sentimentos gerados por fatos que nunca aconteceram, mas sim foram simulados por seu cérebro, e que na maioria das vezes ela já tinha esquecido. Mas assim que ouviu a respiração pausada do homem ao seu lado sentiu-se bem, pois soube onde estava. O ritmo bem conhecido da respiração dele a trouxe à realidade mais rapidamente, apagando maus agouros de sonhos maus e também as boas lembranças de sonhos bons. Olhou para ele que dormia. Admirou-se com a simetria daquele rosto que ela tão bem conhecia e sentiu-se feliz. Estava feliz. Era feliz. Mal sabia que a morte, rindo com ironia, olhava para ela quase que com pena.

Estavam juntos há quase um ano e ela sabia que ele era realmente o homem da sua vida. Reformulou rapidamente o pensamento. A expressão "homem de sua vida" desagradou-a. Era um pensamento pronto, presente em cada novela, em cada romance adocicado que nada tinha a ver com a vida. Admirou-se que lhe tivesse vindo espontaneamente à cabeça, uma vez que não gostava de expressões sentimentalóides, de jargões, de frases estereotipadas, prontas, colocadas na boca de cada menina-mulher como se fosse uma lei, um sacramento, sem pensar, sem refletir, simplesmente ... "pronto": o homem de sua vida. Como se fosse um boneco pré-fabricado, como se ele nascesse com um logotipo impresso na testa: "O homem da sua vida". Como se fosse fácil reconhecê-lo e como se fosse fácil adotar alguma coisa pro resto da vida, pela vida inteira.

Sabia que ele era alguém que combinava com ela, que prometia um relacionamento que fazia sentido. Achou que a reformulação tinha valido a pena. E por que fazia sentido? Porque eles tinham os mesmos interesses, condições financeiras similares, quase a mesma profissão e quase a mesma idade e também porque ela o queria e o desejava. E para ela era estranho pensar que ambos se queriam. Ela estava certa disso. Ela o queria muito. Queria dividir com ele seu bocejo cansado à noite depois do trabalho. Queria dividir com ele sua respiração ofegante na hora do orgasmo. E o melhor de tudo, sabia que este querer era uma coisa lógica e plausível, que o queria conscientemente. Sabia por que o queria. Sabia que ele era o companheiro ideal que ela poderia querer para a sua vida, ou melhor, sendo realista e prática para enquanto durasse. Ótimo se durasse a vida inteira, e mesmo que não soasse provável, ela tinha que admitir que era possível.

Gostava do cheiro dele, do beijo. Interessava-se pelas coisas que ele contava. Achava-o inteligente, educado, ponderado, elegante e interessante. Enfim, podia se imaginar muito tempo ao lado dele. Nunca tinha conseguido entender a expressão "o amor é cego". Sempre buscamos alguma coisa, ponderava. Nunca estranhava se, de repente, identificava um relacionamento que parecia não fazer sentido, por exemplo, no caso de pessoas completamente diferentes, ou relacionamentos repletos de desarmonia onde sentimentos tais como humilhação, desespero, desrespeito eram rotina. Sabia que, por detrás da impunidade implícita que a fachada nobre do amor lhe concedia, havia algum sentimento que não se assemelhava em nada com amor, talvez certa tendência à autopunição, certo masoquismo, senão até uma aversão à solidão. Quem sabia...

Tinha tido alguns relacionamentos sérios nos últimos anos, e alguns menos sérios. Já tinha algumas vezes encontrado aquele, o qual acreditara ser o homem que escolheria para dividir a vida e não tinha sido correspondida. Como conseuquência, talvez como a raposa na fábula de Esopo, deixou de desejar as uvas. Estavam verdes. Isto porque não tinha mais acreditado que aconteceria com ela. Na verdade não tinha acreditado que acontecia com quase ninguém. Defendia a teoria da improbabilidade do amor. Seria muito improvável que exatamente aquele ser que você escolheu para amar, conviver, dividir, também te escolhesse. É difícil encontrar alguém que nos ofereça exatamente o que queremos. É difícil encontrar alguém por quem você se sinta inclinado a abdicar de um pouco de sua liberdade, de forma que a convivência seja possível. É difícil encontrar alguém, cujo cheiro você sempre deseje, ansie.

Claro que se encontra muita gente interessante com as quais gostaríamos de dividir, quem sabe uma noite, talvez uma semana, ou até alguns anos. Mas ela estava falando de uma vida inteira. Até que a morte os separe. E a morte deu um sorriso infame.

"E como ela explicaria as tantas famílias, os tantos casais que diariamente dividem os seus bocejos dentro pontinhos amarelos que se via nos edifícios através de sua janela?" nós poderíamos perguntar. E ela te listaria milhões de motivos que levam duas pessoas a viverem juntas, os quais não têm nenhuma relação com amor. E não vivem necessariamente mal, argumentaria, vivem apenas juntas em um relacionamento fundamentado em outra base que ela não considerava amor. A idéia que, sempre que escolhemos alguém para amar, este alguém escolhe um outro alguém parecia cheia de sentido para a sua formação técnica. Tinha feito engenharia. Além disso, nunca fora romântica. Começou a abominar a idéia aos dezessete, enquanto observava as primas se desmanchando em suspiros por meninos com os quais jamais haviam conversado. Como poderiam se julgar apaixonadas por um estranho? Não lhe parecia fazer sentido. Talvez por ser um pouco tímida a idéia de amar um estranho lhe aterrorizasse. E beijá-lo, cheirá-lo parecia-lhe ainda mais ilógico e abominável.

Sempre tentara racionalizar. Imaginava quais as razões concretas que a levariam a escolher alguém. Refletia sobre os argumentos pelos quais abriria seu mundo e deixaria um estranho entrar, deixaria este alguém fazer parte de sua vida, dormir na sua cama. "Meu Deus, ele se tornaria parte da família", pensava. "Iria conviver com seus pais, com suas primas". Parecia-lhe algo decisivo, irreversível. Assim sempre que conhecia um menino e o conhecia mais profundamente, imaginava-se o vendo por 30 anos, o cheirando por 30 anos.

Procurou ler teorias que lhe explicassem o que levava dois seres humanos a unir suas vidas. O que levava um ser humano a desejar um outro. Alguma substância química? Uma forma de preservação da espécie? A necessidade de uma estrutura, de uma família, onde um cuidasse do outro? Talvez tivesse sido bem importante na época que vivemos ao ar livre, num mundo bem mais hostil e selvagem, mas ela reconhecia que ainda hoje os homens sentiam necessidade uns dos outros, precisavam de carinho, de atenção, de sociedade. "E depois, existem muitos animais que organizam a vida aos pares", refletia. "Deve fazer sentido. Deve ser lógico e natural". Assim, era compreensível que os humanos fossem dotados de algum mecanismo que os levasse a procurar um companheiro, ou companheira.

Desta forma, se permitiu e apaixonou-se. Não só uma, mas diversas vezes. Pelo menino bonito na universidade, o que não foi difícil, uma vez que a população masculina no seu curso era significante, ou seja, mais de noventa e cinco por cento. Depois pelo carinha cheiroso com o qual dançou na praia numa festa e do qual nunca chegou a saber o nome. Mesmo assim foi bom observá-lo surfando e ficar imaginando quem ele seria, o que faria. E achou que o amor platônico era maravilhoso, pois podia imaginá-lo como quisesse. Podia fazê-lo perfeito, com aquele físico maravilhoso e todas as qualidades que lhe pareciam fundamentais. Talvez se tivesse conversado com ele mais uma vez o encanto tivesse se quebrado. Era praticamente certo que teria acontecido. Mas ela não se aproximou dele novamente. Apenas se divertiu imaginando-o como quis. E o fez, em sua imaginação, ouvir as mesmas músicas e ler os mesmos livros e pensar da mesma forma que ela. E teve um verão inteiro para fazer isto.

Depois teve relacionamentos mais palpáveis, com beijos, amassos e outras coisas mais. E depois de muitos fracassos, formulou a tal teoria da improbabilidade do amor. E, além disso, até o poeta parecia concordar com sua teoria. Mas que petulância! Corrigiu-se. Sua teoria ia, inclusive, de encontro à famosa formulação do poeta, na qual João ama Maria, que ama Pedro (ou seria um outro), enfim que ama X, que ama Y, que não ama ninguém. Fazia sentido. Era plausível e fácil de provar. E como é que existem tantos casais no mundo? A gente já falou nisso.

Esta explicação era a que usava para todos os seus fracassos no passado. Não tinha problemas de relacionamento. E nem seus ex-namorados. Era tudo culpa da improbabilidade. Tinha amado muitas vezes e não fora amada. Tinha sido amada e não amara. Mas isto fazia tanto sentido na sua teoria. Quando tinha amado e não fora amada, ela tinha feito a escolha e o outro, talvez por não ter sido correspondido pela pessoa de sua escolha, ou talvez por nem ter tido uma outra escolha (ou seja, o que não ama ninguém na cadeia do poeta), tinha apenas "aceitado" a sua escolha. Mas isto para ela não era amor, era concessão. Mas talvez fosse a única chance, uma vez que aquela situação que ela consideraria ideal, a de amar e ser amado, era utópica, ou melhor dizendo, extraordinariamente improvável. Assim sendo, existiram muitas vezes onde foi amada e resolveu fazer a concessão. Nestes momentos, ou não estava amando, ou sabia que nunca seria correspondida e, por um destes milhões de motivos dos quais já falamos antes embora não os tenhamos citado (deixo ao leitor o exercício J de imaginá-los), fez a tal concessão.

Nunca tinha conseguido definir em sua teoria qual era o papel mais cômodo, ou mesmo mais desejável. Amar podia ser doído, tinha sido muitas vezes. Especialmente quando tinha sido "correspondida" em termos de concessão. Ser amada obrigava-a a viver em concessão e mesmo dentre estes mil motivos, dos quais já falamos reiteradamente neste texto (caro leitor, gostaria de ter conhecido os teus), nunca tinha encontrado um que a levasse a "conceder" o resto da vida. Talvez um filho. Mas não tinha tido filhos. Achava que no passado, quando as pessoas tinham mais convicção deste outros mil motivos, os relacionamentos tinham sido mais estáveis. Teria sido vantagem? Hoje temos outros valores, pensava. Mesmo não sabendo bem quais. Tinha achado algum dia que sabia. Mas morou fora. Passou alguns anos no exterior fazendo uma especialização e lá descobriu não saber nada sobre valores. Generalizar só se pode num nível de abstração extremamente alto. Todos precisam comer. Todos precisam dormir. Todos precisam de sexo. Ops, já neste ponto poderíamos encontrar opiniões divergentes. Sempre pensava no horror que sentiu ao saber que as européias, ou melhor, que muitas européias não depilavam as pernas. E só entendeu bem o quanto tudo era relativo, quando algumas japonesas se horrorizaram com os pêlos de seu braço.

Ainda estava em sua cama. O homem ao seu lado virou-se, ainda dormindo. Olhou para ele mais uma vez. Tocou-lhe a mão e sentiu-o retribuir, mesmo não sendo consciente. Estaria mesmo vivendo a tal situação ideal? Ou estaria só vivenciando uma situação criada pelo desespero, pela necessidade? Estaria vendo um oásis por estar prestes a definhar de sede? Talvez quisesse tanto que fosse verdade que acabara acreditando. Estava agora com trinta anos. Será que a necessidade de estabilidade a estaria enganando? Fazendo-a ver pérolas no colar barato de plástico do camelô? Não sabia. Fechou os olhos e tentou espantar a idéia mais que depressa. Não queria saber. Nunca se sentira tão feliz.

O homem apertou-lhe a mão agora consciente. Estava acordando. Pensou porque o amava. E dentre milhões de motivos que lhe vieram à cabeça, sobressaiu-lhe a sensação de que quando se olhavam, sabiam tudo. O que o outro pensava, o que o outro queria. Era como se lessem os pensamentos um do outro. Seria porque eram parecidos? Sorriu. Era estranho que imaginasse que eles eram parecidos. Na verdade tinham os mesmos interesses. Ele também tinha estudado engenharia elétrica e era fascinado por computadores e técnica. Um sempre correspondia exatamente ao que o outro esperava e queria numa harmonia até assustadora. Teria feito muitas pessoas acostumadas com a turbulência pensarem que era tédio. Mas ela achava ideal.

Ela vivera alguns relacionamentos turbulentos no passado. Nada extraordinário, apenas as velhas incansáveis discussões que nós todos conhecemos. Aqueles problemas que sabemos sem solução, mas que discutimos repetidamente, como numa prece, numa novena. As mesmas dez ave-marias, uma atrás da outra. Em geral são discussões envolvendo preceitos básicos, princípios de vida. Coisas das quais ninguém abriria mão a longo prazo. Neste caso o relacionamento está morto, mas na maioria das vezes teimamos em não reconhecer. É melhor ver de outro modo, senão seria quase como reconhecer que é você que vive na concessão. Ou seria você concedendo porque é você que ama e não porque é amado? Ou talvez ambos?

Mas contrariando todas as suas teorias ela estava vivendo agora um relacionamento onde ela tinha realmente a impressão de ser um amor mútuo. Quem estaria se enganando? E o sorriso da morte foi nefasto.

--------------------------------------

Este foi o meu primeiro exercício de escrita. Escrevi há uns 10 anos atrás, se não mais.

Ele começa com alguém acordando o que neste meio tempo ser um grande erro :) Mas eu não quis mexer por questões históricas.

O amor visto por uma nerd seca e estranha, com racionalidade demais.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro